“E o Senhor será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o seu nome” (Zc 14.9)
Monarquianismo, patripassionismo ou sabelianismo são todos conceitos que expressam o intenso desejo e objetivo, ainda nos primeiros séculos da igreja cristã, de combater o que seus defensores chamavam de triteísmo, referência ao reconhecimento de três deuses. Na tentativa de defender o monoteísmo, alguns apologistas da igreja primitiva acabaram abandonando a doutrina da Trindade Divina: Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas que subsistem eternamente numa única divindade (unidade composta).
Foi Teodoto de Bizâncio (cerca de 190 AD) quem primeiro ensinou que Jesus era apenas um ser humano movido e impulsionado pelo Espírito Santo. Em outras palavras, para ele, Jesus não era essencialmente e substancialmente Deus ou sequer conjugava as duas naturezas (humana e divina) em si (união hipostática). Este ensino é denominado “monarquianismo dinâmico”.
Outros preferiram reconhecer a divindade de Jesus, mas o identificaram (o Filho) com o próprio Pai. Esta doutrina é conhecida ainda hoje como “monarquianismo modal” ou patripassionismo. A Enciclopédia Histórico e Teológica nos informa que “patripassionismo é a doutrina segundo a qual o Pai se encarnou, sendo ele quem nasceu de uma virgem e quem sofreu e morreu na cruz”.
Sabélio, bispo de Roma (séc. III), promoveu avanços no sistema modal ao ensinar um Deus “processado”. No caso de sua doutrina, Deus teria se apresentado à humanidade de três formas: como Pai (Antigo Testamento), como Filho (Novo Testamento) e como o Espírito Santo (Período da Graça), mas, estes “três seres” não estão separados em personalidades. Didaticamente, é como se um único e mesmo ator de teatro entrasse no palco por três vezes e em cada oportunidade trocasse apenas a máscara.
Considerando este brevíssimo panorama histórico, podemos pensar no texto de Zacarias: “naquele dia, um será o Senhor”. No idioma hebraico, existem duas palavras para exprimir a noção de “um” ou “único”. Quando as expressões bíblicas do Antigo Testamento apresentam “um” “único” no sentido absoluto, fazem uso do termo yachid : “E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque…” (Gn 22.2). Note que Isaque tinha um irmão – Ismael – mas é chamado de único devido à promessa conter e estar apenas entre Abraão e Sara. Contudo, há uma unidade que chamamos de composta, expressa pelo termo hebraico echad: “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne” (Gn 2.24). Pois bem, o que os unicistas têm de considerar antes de advogarem sua doutrina a partir de Zacarias é justamente isso: o profeta faz emprego da palavra echad, unidade composta, e não de yachid, unidade absoluta.
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