Vinho Novo em Odres Velhos (Final)

Uma resposta a Leandro Quadros sobre Colossenses 2.16

Enfim, chegamos ao último dos posicionamentos[1] sobre o sábado levantado por Leandro Quadros que, diga-se de passagem, não traz nenhuma novidade para a discussão, sendo apenas o repisar dos velhos e surrados argumentos da teologia tradicional adventista que todos conhecem. Algo curioso foi a ausência dos argumentos do Dr. Ron Du Preez sobre a passagem, tendo em vista que, depois de Bacchiocchi, parece que foi da pena dele que saiu a última tentativa acadêmica de remendo para os rotos argumentos da velha heresia sabatista em Colossenses 2.16. Na verdade, pode-se encarar como um retrocesso, levando em consideração a pesquisa de Bacchiocchi. Mas deixemos Du Preez de lado, pelo menos por enquanto, até a análise do artigo “Novo Estudo sobre Colossenses 2:16 prova que Paulo não era contra o sábado”, onde voltaremos nossa atenção aos seus argumentos.

Aqui Quadros se contenta apenas em reproduzir o livro “Respostas a Objeções – Uma defesa bíblica da doutrina adventista” de Francis D. Nichol, que segue o mesmo diapasão do “Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia” e de Ellen G. White.

Afirma: Assim como o Dr. Bacchiocchi, o grande apologista e pastor Francis D. Nichol também admite que a palavra Sábado aparece 60 vezes no Novo Testamento. Mas, para ele, as 59 vezes em que aparece se tratam do Sábado semanal e na sexagésima (Colossenses 2:16), é um Sábado cerimonial que está em questão.”

Salta aos olhos a inconsistência de tal disparate. Nem é preciso apelar para a Bíblia para dar uma resposta coerente; trata-se puramente de uma questão de lógica e bom senso. Ora, a matemática é simples, e como diz o pastor Natanael Rinaldi Se dermos à palavra ‘sábados’  o sentido de sábado semanal teremos em apoio da nossa interpretação 59 casos, reconhecidos pelos próprios ASD como sábados semanais. Se os ASD derem o sentido de sábado anual ou cerimonial  à palavra ‘sábados’  de Cl 2.16, só terão  em apoio de sua interpretação um único caso. Logo, a nossa interpretação é a correta. E por quê? Porque é regra de hermenêutica que a Bíblia com a própria Bíblia se interpreta.  Se duas pessoas se candidatam a um cargo eletivo  e um deles alcançar  59 votos e outro só  um, quem é o vencedor?”

Se todas as vezes que a palavra “sábado” ou “sábados” ocorre no NT, tem o sentido normal de sábado semanal, o sétimo dia da semana, por que cargas d’água, justamente quando ela é apontada como sombra, tem de ter o sentido de “sábado cerimonial”? Em NENHUMA parte do Novo Testamento, os escritores lidaram com o tal sábado cerimonial, aliás, expressão essa totalmente desconhecida por eles. Apesar de o Novo Testamento mencionar as “festas anuais”, em nenhum lugar, porém, os apóstolos as chamam de “sábados”.

Além de configurar um ato de violência ao padrão normal do termo nos escritos neotestamentários, é uma interrupção brusca e desnecessária no fluxo do pensamento do apóstolo naquele versículo.

Quando os fatos se mostram desfavoráveis, a artimanha de escolher dentre os melhores termos, o menos provável para um texto, é um recurso desesperador e reflete desonestidade intelectual. Esse procedimento foi usado pelas Testemunhas de Jeová com a seleção capciosa da expressão “um deus”[2] e a inserção do nome Jeová no Novo Testamento.

Mesmo sabendo que TODAS as outras vezes que a palavra “Deus” tem ausência de artigo, não verteram o termo “Deus” por “um deus”. Aqui nós temos um exemplo clássico de como os pressupostos teológicos interferem na interpretação de um texto. Outro exemplo é a inserção do nome “Jeová” sem a autorização de NENHUM manuscrito do Novo Testamento.[3]

O já falecido pastor adventista Arnaldo B. Christianini em seu livro “Radiografia do Jeovismo” (CPB, 1975), dedicou várias páginas (pp. 29-38) para refutar esse erro que ele considerou como “contrassenso”, “sacrilégio”, “sem base linguística e nem lógica”, “pura invencionice”. Mas em “Subtilezas do Erro” (CPB, 1965), a partir da página 130, quando vai analisar os sábados de Colossenses 2.16, o pobre paladino utilizou praticamente a mesma artimanha que ele tanto condenou nas TJ. Para ele cai muito bem a advertência de Mateus 7.3.

Resguardadas as devidas proporções, é exatamente a mesma coisa que os adventistas estão fazendo com Cl 2.16: selecionando o significado menos provável para o texto para encaixá-lo em suas premissas teológicas.

Por que escolher o adjetivo cerimonial para o sábado, sendo que em NENHUM texto do Novo Testamento ele aparece? Podem procurar de Mateus a Apocalipse, não encontrarão! E por que não? Pela simples razão de ser algo completamente alheio à mentalidade dos apóstolos.

Mas prossigamos lendo a justificativa que Quadros dá para seus “sábados cerimoniais”: “A argumentação é que “o sábado jamais poderia ser uma sombra, como afirma Colossenses 2:17, de um evento futuro – a salvação em Cristo – sendo que foi criado no passado, no Éden”. Também, que o termo “ordenanças”, usado em Colossenses 2:14, se refere às ordenanças e leis cerimoniais do Antigo Testamento, e a expressão “escrito de dívida” poderia ser “uma referência à lei mosaica, especialmente tal como a interpretavam os judeus. A semelhança da linguagem com Ef. 2: 15 e a proximidade entre as duas epístolas, fez pensar que o “escrito de dívida” e a “lei dos mandamentos em forma de ordenanças” são uma mesma coisa…”. (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia).”

Há vários termos que precisam ser observados com mais cuidado aqui: sombra, ordenanças e  escrito de dívida. Não há como não notar a flagrante contradição entre os quatro adventistas: Nichol, Christianini, Ellen White e Bacchiocchi no que diz respeito aos elementos de Cl 2.14-16. O senhor Quadros deve saber que neste caso “a lei do terceiro excluído” é inquestionável.[4]

Começaremos pelo termo “sombra”. Enquanto Christianini e Nichol rezam pela cartilha de Ellen White de que o sábado não pode ser sombra, pois o termo de fato traz conotações negativas com sérias implicações para os elementos do v.16, Bacchiocchi vê a “sombra do v. 17 como algo positivo.

“ ‘sombra’ é usado, não em sentido pejorativo, como rótulo para observâncias sem valor que perderam sua função, mas para qualificar o seu papel num relacionamento com o ‘corpo de Cristo’.” (Do sábado para o domingo, p. 214)

 A fraudulenta Bíblia “The Clear Word”, de fabricação própria da Igreja Adventista, induz o versículo de maneira enviesada a refletir a interpretação adventista da seguinte maneira: “Não permita que ninguém controle a sua vida lhe dando uma série de regras cerimoniais acerca do que comer, beber ou qual festa mensal ou sábados especiais a guardar. Todas essas regras, acerca dos dias cerimoniais, foram dadas como sombra da realidade a vir, e a realidade é Jesus Cristo.”  

As contradições não param por aí.  O “escrito de dívida” para Nichol e Christianini fala da “lei cerimonial”; foi ela que Cristo pregou na cruz, ao passo que Bacchiocchi nega que o “escrito de dívida” fale de algum tipo de lei, pois, para ele, o termo nomos, nem ao menos aparece no contexto, antes, “escrito de dívida” significa simplesmente a “dívida de nossos pecados”. Algo completamente diferente é ensinado por Ellen White, observe:

“Então cessariam todas as ofertas sacrificiais. Foi esta a lei que Cristo ‘tirou do meio de nós, cravando-a na cruz’. Colossenses 2:14.” [5]

Mas não acabou, não. Ainda o termo ordenança é outro motivo de conflito entre eles. Para Nichol “o termo “ordenanças”, usado em Colossenses 2:14, se refere às ordenanças e leis cerimoniais do Antigo Testamento”, assim como para Christianini:

Nem a palavra ‘lei’ também sequer é mencionada nos textos, mas apenas uma cédula de ordenanças. Sabemos que o preceituário cerimonial consistia de extensas instruções ritualísticas a que os judeus ficavam obrigados. Um autêntico ‘escrito de dívida.”[6]

Mas observe como Ellen White chama o sábado semanal:

 “Desta maneira indica o profeta a ordenança que tem estado esquecida: — ‘Levantarás os fundamentos de geração em gera­ção: e chamar-te-ão reparador das roturas, e restaurador de vere­das para morar. Se desviares o teu pé do sábado, de fazer a tua vontade no Meu santo dia, e se chamares ao sábado deleitoso, e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares, não seguin­do os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falar as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor.” Isaías 58:12-14. Esta profecia também se aplica a nosso tempo. A rotura foi feita na lei de Deus, quando o sábado foi mudado pelo poder romano.”[7]

A relação de Efésios 2.15 com Colossenses 2.14 também está na berlinda. Enquanto Bacchiocchi refuta essa relação dizendo que “a semelhança entre as duas é apenas aparente” e mais “a frase ‘lei de mandamentos’ que ocorre em Efésios não se encontra em Colossenses” (Do sábado para o domingo, pp. 222,223), para Nichol e Christianini ambos estão tratando da mesma lei.

Já a revista da Escola Sabatina parece não fechar a questão quanto ao significa exato de Efésios 2.15. Observe:

“Segundo, Cristo ‘aboliu na sua carne , a lei dos mandamentos na forma de ordenanças’ (Efés. 2:15). Embora tenha havido um grande debate sobre a que lei Paulo está se referindo aqui (moral ou cerimonial), o argumento dele é que por meio de Cristo tudo o que dividia judeus e gentios foi abolido em Jesus.” (Lição da Escola Sabatina: Efésios o evangelho dos relacionamentos.  Adultos/Professor, 4ª Trimestre – outubro/dezembro, 2005, p. 72)

E quanto ao sábado, o pivô de toda a discussão? Para Nichol, Christianini e Ellen White trata-se do sábado cerimonial, mas não para Bacchiocchi: “[..]Colossenses 2:16 não pode referir-se a quaisquer dos sábados anuais cerimoniais.” (Ibidem, p.214)

O senhor Leandro Quadros tenta contornar a situação dizendo que eles usaram “caminhos diferentes” para chegar ao mesmo destino. Que belo eufemismo! Ocorre que não se trata de caminhos diferentes, mas de contradições escancaradas como bem demonstra a lei do terceiro excluído.

Já que Leandro Quadros se torna recalcitrante em explicar esse balaio de gatos, sugerimos então algumas perguntas para encorajá-lo:

1) A sombra do verso 17 possui ou não um tom pejorativo para os sábados?

2) O “escrito de dívida” fala da lei cerimonial ou da dívida de pecados?

3) Os sábados do v. 16 são cerimoniais ou é o sábado do decálogo?

4) “Ordenança” é um termo que diz respeito apenas à lei cerimonial ou pode ser aplicado ao sábado semanal?

5) Efésios 2.15 e Colossenses 2.14 têm, ou não, relação um com o outro?

Como se pode notar, não são meros “caminhos diferentes”, mas caminhos opostos e tortuosos que, para o nosso caso, fazem toda a diferença. Nichol estava tão convencido da força do versículo que confessou “Portanto, se o Novo Testamento ensina a abolição do Sábado, este ensino deve ser encontrado nessa única sexagésima referência”.

O apresentador do “Na Mira na Verdade” escolhe outro argumento que julga ser fulminante contra nós; mira e solta o seguinte disparate: “O mesmo escritor tem um comentário importante sobre a abolição da lei:“… a alegação de que o Decálogo (Dez Mandamentos) foi abolido na cruz assume um caráter monstruoso e sacrílego.  Quando Cristo morreu na cruz, foi mudada a natureza moral de Deus? É um sacrilégio fazer essa pergunta. Enquanto Deus for de natureza imutável, os princípios morais que irradiam de Sua natureza permanecem imutáveis. Enquanto a natureza de Deus abominar a mentira, o furto, o homicídio, o adultério, a cobiça e os falsos deuses, o Universo, até as suas extremidades mais remotas, será controlado por leis morais contra esses maus atos”. (Ibidem, pág. 141.)

Entretanto, o tiro saiu pela culatra mais uma vez. Tem toda razão: é um sacrilégio fazer essa pergunta pela estupidez que ela demonstra. Sacrilégio? Concordo, mas à nossa inteligência!

Os adventistas acreditam que se o decálogo for abolido os princípios morais da lei também o serão. Absurdo! Antes que o decálogo fosse dado no monte Sinai, os princípios morais da lei natural já estavam agindo no mundo, prova disso é Romanos 2.14,15.

Elementos da filosofia política oferecem situações analógicas neste pormenor: a Constituição brasileira reflete em muitos pontos os direitos naturais que vêm da natureza das coisas postas por Deus. Mas, será que, se porventura, abolíssemos a lei objetiva da nossa Constituição, os direitos naturais deixariam de existir? Pense nisso!

Outra: os adventistas gostam de falar que o decálogo reflete a “natureza de Deus”, mas ironicamente o princípio moral não exige um dia de descanso justamente por causa da própria natureza divina. Não se cansar é inerente à natureza de Deus (Is 40.28)!

Ele prossegue dizendo: “Outros estudiosos também afirmam que os Sábados mencionados são os cerimoniais, e isso com base em Levítico 23:3, 27 e 38, que fazem distinção entre os aspectos moral e o cerimonial do Sábado […] “Além dos sábados do Senhor…” Levítico 23:38 – segundo essa linha de estudiosos, aqui é feita uma separação entre os Sábados cerimoniais e morais.”

Aqui ele atinge em cheio o âmago da teoria: distinguir entre dois sábados e escolher o menos provável para Cl 2.16.  Entretanto, há um princípio filosófico que derruba todo o edifício construído por ele: é o princípio que pode ser denominado de economia filosófica que assim preceitua: “o que se explica por menos dispensa o mais”, isto é, o que um sistema explica de modo satisfatório e lógico dispensa outro sistema.”

Acontece que Colossenses 2.16 nunca poderia conter os chamados sábados cerimoniais pelas seguintes razões:

  1. As “solenidades do Senhor” (ACR) ou festas (NVI,ARA,NTLH) moed (Heb) é um termo inclusivo para o sistema judaico inteiro que inclui o sábado do sétimo dia (Lev. 23: 3). Christianini contesta afirmando com base na Vulgata de Jerônimo que reza: “Exceptio sabbatis Domino…” que o sábado semanal era totalmente distinto das festas. Mas, exceptio essa versão, nenhuma outra (e principalmente o original) faz exceção ao sábado como se o distinguisse do resto das festas.
  2. Sempre que o Antigo Testamento junta a festa da Lua Nova com o sábado, como em Colossenses 2.16, está se referindo ao sábado semanal (2 Rs 4.23; 1 Cr 23.31; 2 Cr 2.4; Ne 10.33 ; Is 1.13, 66.23; Ez 45.17, 46.1; Os 2.11; Am 8.5).
  3. Quando o Antigo Testamento menciona os sábados anuais como, por exemplo, o Dia da Expiação (Lv 23.32), ele chama-lhes “um sábado de descanso”, que a Septuaginta consistentemente traduz com a expressão grega Sabbata sabbaton. Colossenses 2.16 simplesmente tem Sabbaton, a mesma palavra que Mateus 28.1 usa para o sábado semanal.[8] Aliás, essa é a única vez que literalmente sabbaton está associado a um dos sete dias de festas do Antigo Testamento, sem dúvida uma exceção.Portanto, não é correto falar de “sábados anuais”, muito menos dizer que havia sete deles. Houve apenas um e não mais que isso.
  4. Paulo não faz distinção entre a lei moral e cerimonial em seus escritos muito menos em Cl 2.14-16.
  1. O jeito que Paulo coloca a sequência de Cl 2.16 com dias de festas, luas novas e sábados reflete exatamente a fórmula do Antigo Testamento. Bacchiocchi chega a dizer que este é “o consenso unânime dos comentaristas”.

Quadros, no esteio de Nichol, Haynes e Christianini,[9] invoca alguns eruditos evangélicos (Albert Barnes, Adam Clarke, Jamieson, Fausset e Brown)  como “testemunhas” para os seus “sábados cerimoniais” em Cl 2.16.

O apelo à autoridade como recurso heurístico é válido, mas devemos usá-lo com certa cautela a favor dos nossos argumentos, principalmente quando as “autoridades” selecionadas são numericamente inferiores às que são contra elas. Caso isso aconteça, estaremos cometendo uma falácia por ignorância ou por deliberada desonestidade. Por amor aos nossos leitores, não irei contrapor oferecendo uma lista de outras autoridades do mesmo gabarito que concordam com nosso argumento.

Conclusão

Após recapitular os três posicionamentos quanto ao significado de Cl 2.16, ele conclui da seguinte maneira “Repetindo: a primeira tese que diz ter sido o Sábado abolido não tem base bíblica. As outras duas podem ser aceitas, pois, apesar de usarem “caminhos” diferentes, chegam ao mesmo destino: o Sábado foi e sempre será um memorial da criação e um dia separado para a comunhão com o Criador […] Espero que os amigos que não observam o sétimo dia escolham um dos dois últimos posicionamentos e jamais o primeiro, por ser uma heresia.

A maneira tendenciosa com que Leandro Quadros termina seu artigo já era esperada.

É compreensível o desespero dele em desqualificar o primeiro posicionamento, em que pese não refutá-lo consistentemente, pois é um golpe fatal na heresia sabatista além de ser a interpretação mais sóbria a se extrair do texto, tanto é assim, que a Igreja Cristã em toda sua história a defendeu.

Mas o caro adventista precisa explicar também como as duas últimas posições defendidas por ele podem estar certas ao mesmo tempo sendo que ambas estão em colisão direta como já demonstrado neste artigo.

E por fim, heresia é querer manter o sábado da lei mosaica como regra para os cristãos como faz a igreja adventista, colocando-o como condição de salvação e critério para o batismo. É justamente esse procedimento que é alvo da condenação do apóstolo em Cl 2.16. Isso sim é heresia.

A ginástica exegética praticada pelo senhor Leandro Quadros é prova incontestável da flagrante contradição que enfrenta sua teoria dos “sábados cerimoniais” em torno de Cl 2.16.

Exemplos desse estica-encolhe não faltam na teologia adventista, e o senhor Quadros nos brinda com mais algumas pérolas exegéticas por meio de três versículos, dos quais comentarei apenas o primeiro. Não é que o nosso amigo imagina que o contexto de Ezequiel 20.12,20 (vejam só!) apoia a ideia de sábado como sinal para toda a humanidade?!

Sério, senhor Leandro? Sabe o que eu acho? De duas, uma: ou sua teologia é muito ingênua, capenga e superficial ou então é deliberadamente mentirosa, um verdadeiro logro para afirmar tal coisa, pois o contexto fala exatamente o contrário. A miopia exegética que o faz confundir Israel com TODA a humanidade vira poeira ante o insofismável testemunho do contexto bíblico que usa expressões inequívocas para identificar Israel e com isso especificar o povo da Aliança por meio de termos evidentes tais como “anciãos de Israel”, “Israel”, “casa de Jacó”, “me dei a conhecer a eles na terra do Egito” e “tirar da terra do Egito”. Poderia continuar repetindo ad nauseam. Mas por enquanto, basta. Somente a vesguice teológica ou falta de boa vontade pode levar alguém a confundir Israel com TODA a humanidade na perícope supracitada. Esse é um verdadeiro exemplo de absurdo em grau superlativo.

Principalmente os versos 10 e 11 falam muito alto sobre a identidade daqueles a quem Deus deu o sábado. Observe e aprenda, senhor Leandro: “E os tirei da terra do Egito, e os levei ao deserto. E dei-lhes os meus estatutos e lhes mostrei os meus juízos, os quais, cumprindo-os o homem, viverá por eles.” E no mesmo fôlego: “E também lhes dei os meus sábados...”

Algumas perguntinhas básicas são oportunas aqui: Quem foi tirado do Egito: toda a humanidade ou apenas Israel? Deus levou toda a humanidade ao deserto? Os estatutos e juízos foram dados a toda a humanidade ou só para Israel?

Se, porventura, o senhor Leandro ainda continua nutrindo dúvidas sobre a identidade do povo a quem Deus deu o sábado como sinal, o versículo seguinte elimina por completo a confusão: “Mas a casa de Israel se rebelou contra mim no deserto” v.13.

Aí está de modo insofismável o lugar, o povo e a época em que o sábado foi dado. Nem de longe o contexto dá margem para a má interpretação do senhor Leandro Quadros. Antes, depõe contra ele.

Não, senhor Leandro, o Novo Testamento não permite colocar vinho novo em odres velhos.

A mensagem de Paulo continua claríssima: NINGUÉM VOS JULGUE… PELOS SÁBADOS!

 

[1] Pode ser acessado aqui: http://novotempo.com/namiradaverdade/os-sabados-de-colossenses-216-parte-4/

[2] Para sustentar a doutrina unitarista de Jeová como único Deus elas verteram a expressão de Jo 1.1 “e o verbo era Deus” tón   theón,  kai  theós  én  hó logos em “um deus era a palavra”, alegando para isso, a presença do artigo definido na primeira oração tón theón e a omissão dele na terceira oração junto de Theós. Para elas o artigo qualifica o Deus verdadeiro (que seria Jeová), e a ausência qualificaria apenas um ser de segunda categoria. E dizem mais: a tradução “um deus” é correta porque “toda a doutrina das Escrituras Sagradas confirma esta tradução”. A pergunta é simples: por que eles escolheram justamente Jo 1.1, que é um texto-prova evidencial e esmagador da divindade de Cristo, para inserir a tradução menos provável, sendo que todas as outras vezes que uma construção semelhante aparece em outros versículos a TNM verteu corretamente para “Deus” e não “um deus” (Cf. Mateus 4:3 e 4; 12:28; 5:9; Mar. 12:26 e 27;  Lucas 1:3.5; 20:37; João 1:6, 112, 13 e 18; 13.3, etc)?

[3] A justificação para a inserção do tetragrama hebraico em textos gregos do Novo Testamento é a presença dele em três traduções: uma Septuaginta, o Hexapla de Orígenes e a de Áquila. O problema é que NENHUM manuscrito grego do Novo Testamento existente traz o tetragrama.

[4] É a terceira de três clássicas Leis do Pensamento. Ela afirma que para qualquer proposição, ou esta proposição é verdadeira, ou sua negação é verdadeira.

[5] White, Ellen G. Patriarcas e profetas. CPB, 2007, p.323.

[6] Christianini, Arnaldo B. Subtilezas do Erro. CPB, 1965, p. 120.

[7] White, Ellen G. O grande conflito. CPB, 2006, p. 452.

[8] Sabbaton é uma das muitas palavras gregas que são plurais em sua forma, mas singular em seu significado.

[9] Veja Carlyle B. Haynes. Do sábado para o domingo. 8.ª ed., CPB, 1999, p. 31. Christianini, Arnaldo B. Subtilezas do erro. CPB, 1965.

 

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