Vidas em riscos em nome da fé em Jeová

Vivemos na época dos absurdos em todos os campos da atividade humana. A própria religião, que tem por objetivo aproximar o homem de Deus, não tem fugido à regra. Cumprem-se as palavras de Jesus: “Tenho-vos dito estas coisas para que vos não escandalizeis. Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus”, Jo 16.1,2.

Assim é que, de vez em quando, se lê pelos jornais notícias como, “Pais proíbem transfusão de sangue, filho morre” (O Globo), “Mulher morre porque testemunhas não cedem e atrasam transfusão” (Jornal do Brasil), “Morte causa punição à seita” (O Estado de São Paulo), “Transfusão feita em criança contra a vontade da mãe” (O Globo). “Testemunha de Jeová morre por não poder receber sangue” (O Globo).

Estas são as menos recentes, mas notícias semelhantes continuam a circular nos grandes jornais.

O verdadeiro amor

Enquanto isso acontece no mundo inteiro onde as Testemunhas de Jeová estão em atividade, seus livros ensinam para os eventuais membros dessa sociedade o seguinte: “Uma maneira importantíssima por meio da qual os verdadeiros discípulos de Cristo podem ser identificados é o amor que têm entre si”. (Poderá viver para sempre no Paraíso na Terra, pág. 189, §16°).

É verdade que o amor identifica os verdadeiros cristãos e esse amor está baseado no amor (ágape) de Deus para conosco quando Jesus se fez homem e por nós deu a sua vida, derramando seu sangue no Calvário. “Dou a minha vida pelas ovelhas”. “… Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou”, Jo 10.15-18.

E o amor entre os cristãos como deve ser demonstrado? João nos diz, “Conhecemos o amor nisto; que ele deu a sua vida por nós, e nós deve­mos dar a vida pelos irmãos”, lJo 3.16.

É isto que as Testemunhas de Jeová vêm fazendo para demonstrar o amor entre si? A resposta só pode ser uma: Não! Quando está em jogo uma vida humana preciosa, se essa pessoa for associada com as Testemu­nhas de Jeová e precisar de uma transfusão de sangue, morrerá impiedo­samente porque lhe será recusada a transfusão de sangue se a sua sobre­vivência depender desse recurso médico. E o motivo que alegam as “Tes­temunhas de Jeová” para recusar transfusão de sangue é que estão obe­decendo à lei de Deus, citando como apoio escriturístico Atos 15.28-29: “Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo, e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificada aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação; das quais coisas fazeis bem se vos guardardes”.

Abster-se do sangue

Com base nesse texto argumentam que abster-se de sangue envolve não receber transfusão. Algumas considerações devem ser feitas sobre o texto: o problema teve início quando alguns judeus vieram ter com os cristãos gentios e insistiam que era mister observar a Lei para alguém se salvar (At 15.1-5), o que provocou certa inquietação entre os cristãos de algumas regiões do mundo romano, obrigando Paulo e Barnabé, como representantes da Igreja, a subirem a Jerusalém para discutir o assunto com os demais apóstolos (At 14.2-4).

Desde o primeiro momento Pedro defendeu que era inconcebível estar­mos debaixo da Lei, uma vez que a salvação é tão somente pela graça de Deus (At 15.7-11).

O que ensinavam as Testemunhas de Jeová sobre o problema de trans­fusão de sangue e outros recursos médicos? Leiamos sua revista Consola­ção (hoje Despertai!). “Deus nunca tem justificado determinações que proíbem o uso de medicinas, injeções ou transfusões de sangue. É uma invenção de homens, que, igual aos fariseus, deixam fora de considera­ção a misericórdia e o amor de Jeová. Servir a Jeová com toda a nossa mente significa não excluir nosso entendimento, especialmente se se tra­ta de uma vida humana que está dedicada a Jeová e, por isso, é santa (Consolação, setembro de 1945, pág. 29).”

A partir de quando as Testemunhas de Jeová passaram a proibir transfusões de sangue com suposto apoio bíblico? A partir de 1945.

A propósito, WJ. Schnell, que foi Testemunha de Jeová por trinta anos e autor dos livros Trinta Anos Escravizado, A Torre de Vigia e A Luz do Cristianismo, declara que o Corpo Governante das Testemunhas de Je passou a adotar essa medida contra transfusão de sangue, depois que alemães recusavam receber transfusão quando os aviadores eram ab; dos sobre Londres e levados aos hospitais ainda com vida. Eles preferi; a morte a receber transfusões, com medo de receber em suas veias s; gue de judeu e de negros, dado que eram adeptos de uma ideia de r. superior apregoada pelo nazismo (The ConvertedJehovah’s WitnessEx sitor, n° 7 – 1969).

Costumam as Testemunhas de Jeová declarar que receber transfusà: de sangue é o mesmo que cometer o pecado de adultério. Ora, se é a mesma transgressão, como admitem, por que os médicos que são Teste­munhas de Jeová administram transfusão em pessoas que não são associadas com elas? É o que se lê em A Sentinela de 1/6/1965, pág. 3: “Alguns médicos que são Testemunhas de Jeová têm administrado trans­fusões de sangue a pessoas do mundo, a pedidos destas. No entanto, ni fazem isso no caso de uma Testemunha de Jeová. Em harmonia com Deuteronômio 14.21, a administração de sangue a pedido das pessoas dc mundo fica a critério da própria consciência do médico cristão”.

Se ministrar transfusão de sangue fica a critério do próprio médico e transfusão se equipara ao adultério, é o caso de se perguntar se os médi­cos podem cometer adultério com as pessoas do mundo?

Participando do sangue

Ademais, diz a Bíblia ainda em Hebreus 2.14: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue…”. Como os filhos participam da cai: e do sangue dos pais? O sémen masculino contém porção de sangue com a qual a criança irá ser gerada no ventre materno e há então uma mistura de sangue do homem e da mulher. Só assim é que os filhos podem participar do sangue dos pais. Indo um pouco mais adiante, lemos em Atos 17.26: “De um só ele faz toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra (Tradução Bíblia de Jerusalém). No rodapé dessa passa­gem se lê: “de um mesmo sangue”. Logo, Deus criou Adão e Eva e po­nteio deles veio a existir todos os seres humanos (Gn 1.26-27).

Todos partindo de um só sangue. Se é assim, porque esse mesmo Deus iria fazer constar em sua Palavra uma proibição sobre a transfusão? Só os deuses pagãos exigiam sacrifícios humanos. E as Testemunhas de Jeová sabem disso, pois no seu livro já citado Poderá Viver para sempre no Paraíso na Terra, pág.27, parágrafo 6, dizem: ”Aquelas pessoas sacri­ficavam os filhos aos seus deuses…”. E as pessoas que assim faziam eram adeptas de uma religião falsa; daí a advertência divina de os israelitas se manterem separados deles (Dt 7.25). Não deveriam os crentes tomar a mesma cautela hoje? É o que ensina João: “Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis”, 2Jo 10.

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Fonte: Natanael Rinaldi – Novembro/1991 (Artigos Históricos – Mensageiros da Paz /Vol.3)

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