Valores estão em crise no Brasil

Os valores da sociedade brasileira estão em crise. Foram divulgadas (agosto/2006) duas pesquisas que mostram a contradição em que vive o nosso país. Um censo do Instituto Datafolha publicado em 13 de agosto de 2006 no jornal Folha de São Paulo afirma que a maioria do povo brasileiro é de direita (47%) e contra a liberalização da maconha (79%) e do aborto (63%). Porém, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), divulgada poucos dias depois, aponta que a maioria do país é condescendente com a homossexualidade. Além disso, pesquisas particulares também têm provado que o brasileiro já aceita no dia-a-dia a filosofia maquiavelista que declara que “o fim justifica os meios”.

A pesquisa do Instituto Datafolha foi feita nos primeiros dias de agosto e ouviu 6.969 pessoas em todo o país. Comparados aos resultados de levantamentos semelhantes realizados nos últimos anos, os dados mostram que o perfil conservador do brasileiro permanece forte desde a década dos 90. Segundo eles, 23% da população se diz de “centro” e 30% de “esquerda”. Todavia, o resultado da pesquisa do IBPS revela que esse conservadorismo é dúbio.

Se, de acordo com o Datafolha, a maioria esmagadora dos brasileiros é contra a descriminalização da maconha e do aborto, 51% desejam a instituição da pena de morte (o que de certa forma, pode-se argumentar, se coaduna a linhas conservadoras como a dos Estados Unidos). Mas o que dizer da pesquisa do IBPS, alardeada pelo programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, no dia 27 de agosto? Ela foi encomendada pelo grupo pró-homossexualidade Arco-Íris e é o maior sintoma na incoerência do conservadorismo brasileiro.

Segundo os dados, 82% dos entrevistados disseram que não há problemas em se relacionar com homossexuais e 94% afirmam que se um filho ou filha se declarasse homossexual aceitariam “numa boa”. Só 2% responderam que não aceitariam, enquanto 3% disseram que não saberiam reagir à situação. E mais: 54% não só aceitariam a opção sexual do(a) filho(a) como também apoiariam plenamente a decisão dele(a).

Outros dados igualmente preocupantes: 80% dos entrevistados acham que assumir a homossexualidade é um ato saudável, que deve ser visto tão somente como um exercício da liberda­de, enquanto só 14% afirmam ser um desvio de conduta 54% afirmam que a discriminação em relação aos homossexuais deve ser considerada crime, assim como o é o racismo. Essas informações preocupam, não porque as pessoas não tenham o direito de serem homossexuais se quise­rem, mas porque nos levam às seguintes per­guntas: Até onde uma atitude pode ser considerada discriminação à homossexualidade? Pregar que Jesus transforma homossexuais em heterossexuais seria um caso de discriminação? Pregar que homossexualidade é pecado diante de Deus, como afirma a Bíblia, é discriminação? Não aceitar alguém que vive na prática da homossexualidade como membro de uma igreja seria discriminação? Países como a Suécia têm vivido com casos de perseguição a pastores e crentes por causa desses pontos.

O apoio da mídia brasileira ao resultado da pesquisa foi quase que totalmente incondicional. A reportagem do Fantástico, por exemplo, exaltou em todo tempo os resultados da pesquisa como uma grande conquista: “Os números trazem uma boa notícia contra a intolerância. O índice de preconceito do brasileiro contra a homossexualidade diminiu” afirma a matéria. Aliás, a Rede Globo com certeza faz parte desse “sucesso”, já que durante anos fez apologia à homossexualidade em seus programas, principalmente novelas. E já está fazendo escola, como a revista Veja de 13 de setembro comprova, analisando o liberalismo da novela Cidadão Brasileiro, da Rede Record de Televisão. Aliás, como prova de que as épocas são outras mesmo, a capa de Veja de 20 de setembro apresentou o deputado federal Fernando Gabeira, defensor intransigente da liberalização da maconha, do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, como “exemplo de ética e lucidez”.

Explicações Absurdas dos Liberais

Para mostrar como existe uma onda liberal forte em nossa sociedade, enquanto os dados pró-liberalismo foram exaltados pela mídia, os pró-conservadorismo foram apresentados como sinônimo de “atraso”. Nem todos gostaram do resultado do levantamento do Datafolha em relação ao aborto e às drogas. Walter Maierovitch, ex-secretário nacional anti-drogas, manifestou-se, curiosamente, a favor da liberação da maconha. Por isso, afirmou à imprensa que a culpa do resultado da pesquisa foi do “imperialismo cultural”. Ou seja, a razão de o brasileiro ser contra as drogas e o aborto viria dos Estados Unidos. “O brasileiro é muito mal informado sobre esses temas polêmicos e geralmente acaba se alinhando com posições que emanam dos EUA, onde essas discussões são mais profundas e conservadoras”, declarou. O cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, corroborou as palavras de Maierovitch: “A televisão é a grande fonte de informação do brasileiro. O imperialismo cultural e de costumes norte-americano, que ficou muito conservador nos últimos 20 anos, é uma forte referência”. Porém, o problema dessas afirmações é que a maioria esmagadora dos valores que nos são passados pela mídia brasileira advindos dos Estados Unidos não diz respeito à ala conservadora norte-americana, mas à liberal. A maioria dos filmes exibidos é da área liberal e a própria mídia brasileira critica claramente, em jornais, revistas, livros e televisão, a ala conservadora dos EUA.

É incrível quando Maierovitch insiste que o brasileiro é “muito mal informado”. Como se as drogas e o aborto não fossem realidades do cotidiano de boa parte das famílias brasileiras. E o que dizer da declaração de Fleischer? Como afirma o crítico, articulista e escritor Felix Maier, do site é uma contradição dizer que a televisão “é a grande fonte de informação do brasileiro” e ao mesmo tempo afirmar que “o imperialismo cultural e de costumes norte-americano, que ficou muito conservador nos últimos 20 anos, é uma forte referência”.

Ora, ou é uma coisa ou é outra. Que a televisão seja uma grande fonte de informação, não há dúvida. Porém, Fleischer não diz como se processa ‘o imperialismo cultural’ dos norte-americanos na vida do brasileiro. Não custa lembrar que a televisão brasileira não traz nada de positivo para o conservadorismo do brasileiro, pelo contrário, ao menos em novelas como Belíssima, que foi uma aula magna da ‘ética da malandragem’. Por outro lado, não consta que pastores norte-ame­ricanos do Bible belt (cinturão da Bíblia), que são contra o evolucionismo e a favor do criacionismo, tenham algum tipo de influência na vida dos brasileiros.

Não são as poucas intervenções de pastores norte-americanos em programas evangélicos que irão definir o conservadorismo dos brasileiros como faz crer David Fleischer, mas o caráter do brasileiro em si, a educação que ele recebeu em casa, fruto de sua cultura e religiosidade cristãs. Existe efetivamente imperialismo cultural no Brasil, porém ele não vem dos EUA, mas de nossas universidades e meios culturais. Trata-se da onda “politicamente correta” de pensar uma singular ‘língua de pau’, de origem esquerdista, que inverte a noção das coisas, tornando o certo errado, o nefando justificável, declara Maier.

Maier refere-se ainda à contradição dos intelectuais esquerdistas, que defendem sistematicamente reivindicações contraditórias, como a repressão ao assédio sexual ao mesmo tempo que a liberação do aborto; moralismo político e imoralismo erótico; liberação das drogas e proibição dos cigarros; destruição das religiões tradicionais e defesa das culturas pré-modernas; liberdade irrestrita para o cidadão e maior intervenção do Estado na conduta privada.

O Que fazer?

Diante desse quadro cinzento que toma conta da sociedade brasileira, o que fazer? Jesus falou que a Igreja deve ser “sal da terra” e “luz do mundo” (Mateus 5.13-16). Isso significa que não devemos ficar passivos diante do avanço do liberalismo. Devemos insistir em remar contra a maré, sermos uma agência de contra-cultura em relação ao liberalismo e nunca nos rendermos ao discurso da maioria. Lembremo-nos que o caminho e a porta para o Céu são estreitos, e poucos são os que entram por eles. Asseguremo-nos sempre de que estamos no caminho certo.

O Pastor José Wellington, líder da CGADB, destaca a importância da mensagem transformadora do Evangelho para a sociedade. “Nossa igreja vem obtendo até agora sempre um resultado bom. Temos visto um número crescente de membros, porém não podemos esquecer que a sociedade está um tanto mutilada e tem mudado os seus comportamentos. Mas, a nossa postura diante de Deus e diante dos pecadores não pode mudar. Nós temos que chegar em todos os lugares com a Palavra de Deus” afirma o líder.

“Urge reagir, e essa reação bem pode começar, para valer, pelo Legislativo. Todos os brasileiros, sobretudo os que exercem liderança e desaprovam a deplorável realidade aqui exposta, deveriam estimular os legisladores nessa elogiável tomada de posição”, afirma o Pastor Joanyr de Oliveira.

Os evangélicos já são mais de 30 milhões nesta nação. Não podemos nos render à onda liberal, mas fazer frente a ela, até a Volta do Senhor Jesus. Usemos todos os meios a nosso alcance para que os valores da sociedade não sejam sublevado. Enquanto o mundo segue sua sequência natural, a Igreja prossegue remando contra a correnteza, proporcionando uma alternativa concreta a todos aqueles que desejam mudar, serevir a Deus, serem santos, em toda sua maneira de viver, a todos que reconhecem a importância das Sagradas Escrituras para a saúde espiritual das pessoas e de toda uma nação. Essa é a missão da Igreja do Senhor.

Artigo Publicado no Jornal Mensageiro da Paz – outubro de 2006.

Sair da versão mobile