O Unicismo é uma heresia ou uma questão secundária? Quais são as igrejas ou movimentos que adotam esse ensino no Brasil?
Seita ou movimento evangélico com crenças aberrantes? Seja como for, o certo é que os unicistas destoam do Cristianismo histórico-ortodoxo. Eles são monoteístas e creem na deidade absoluta do Senhor Jesus. Até aí estamos de acordo. Porém, a identidade de Jesus Cristo que eles defendem contradiz o ensino do próprio Senhor Jesus e de todo o Novo Testamento.
O número deles é grande no Brasil e no sul dos Estados Unidos. Sua origem retrocede ao bispo Sabélio, entre o final do segundo século e o início do terceiro. O unicismo é conhecido também como modalismo. Essa crença desapareceu aos poucos da História, mas John G. Scheppe, fundador da seita “Só Jesus” em 1913, a trouxe de volta, ainda que com algumas modificações.
No Brasil, os movimentos unicistas mais conhecidos são Igreja Voz da Verdade, do conjunto de mesmo nome; Igreja Apostólica do Brasil; Assembleia de Deus do Nome; Assembleia de Deus Renovada; Assembleia de Deus Unicista de Usasco; Igreja Cristã Apostólica; Igreja Evangélica de Jesus Cristo; Igreja de Deus no Brasil; Igreja Pentecostal dos Apóstolos; Igreja; Igreja Pentecostal Unida do Brasil; Igreja Pentecostal Unida Internacional; o Tabernáculo da Fé e o movimento as Maravilhas de Jesus.
Os movimentos unicistas são pentecostais e creem na autoridade da Bíblia. A maioria de seus membros vive uma vida pietista e de bom testemunho. Esses são os pontos comuns entre eles e nós, mas divergimos no que diz respeito à doutrina da Santíssima Trindade e ao batismo nas águas.
Cremos em um só Deus, que subsiste eternamente em três Pessoas distintas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Eles entendem que Deus seria uma mônada estéril, pois defendem a ideia de que Pai é Filho e Filho é Pai, e da mesma forma o Espírito Santo é Pai e Filho, e vice-versa. Trata-se de um monoteísmo absoluto. Ser Jesus o mesmo Deus com o Pai e com o Espírito Santo não significa que os três sejam uma só Pessoa.
Cremos que o batismo é uma das ordenanças dadas pelo Senhor Jesus para os que se convertem a Ele. Logo, é algo para quem já é salvo, e não para salvar alguém. Eles, porém, crêem no batismo como condição para salvação e o praticam em nome de Jesus, e não em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como determinou o Senhor em Mateus 28.19.
Até que ponto o unicismo afeta a salvação é muito discutível. O livro Teologia Sistemática – Uma Perspectiva Pentecostal mostra as duas faces da questão. O capítulo onze, de autoria de Mark D. McLean, diz “Embora a sã doutrina seja indispensável ao processo da santificação, o Espírito Santo parece estar mais interessado no que a pessoa tem no coração do que em seu sistema teológico” (pág. 396). E verdade que os unicistas são pentecostais, mas também é verdade que o batismo no Espírito Santo não é salvação (1Coríntios 13.1-3).
Kerry D. McRoberts, na mesma obra, apresenta fortes argumentos bíblicos mostrando que o unicismo compromete a salvação. Reconhece que o conceito unicista da natureza de Deus “deixa totalmente abolida a obra mediadora entre Deus e as pessoas (…). No modalismo, o conceito da morte de Cristo como uma satisfação infinita está perdido (…). Semelhante modalismo é deficiente no que diz respeito à salvação” (pág. 179-180).
Se um unicista ou trinitarianista falar de Jesus para o pecador, sem mencionar a questão teológica, e ele se converter, será salvo? Sim, pois a salvação está no nome de Jesus. Ninguém precisa conhecer a doutrina da Trindade ou qualquer ramo da Teologia para ser salvo. Muitos milhões já estão na glória eterna sem ouvir falar na Trindade. O problema pode residir na continuidade e no discipulado, naquilo que ele vai crer depois, se ele deixar o Jesus do Novo Testamento que recebeu no princípio.
Muitos desses movimentos são agressivos e há os que ousam chamar os evangélicos de diabólicos. O estatuto da Igreja Voz da Verdade defende o batismo em nome de Jesus e o unicismo de Deus.
No manual de batismo, apostila escrita pelo próprio fundador, a Instrução Inicial Pró-batismo, na pergunta da questão 10, diz: “Qual é o significado da palavra trindade? a) Associação de três pessoas com pensamentos iguais; b) Teoria religiosa de intenção carnal e diabólica com o sentido de alimentar uma ilusão de Satanás, que teve a pretensão de pluralizar a plenitude da divindade; e c) decreto religioso por parte do clero no Conselho de Nicéia no ano de 325 d.C. Com essa resposta falsa afirmam que seguimos uma teoria diabólica.
A Bíblia ensina que Jesus é o Filho do Pai (2João 3) e não o próprio Pai. Basta uma leitura simples da Palavra de Deus, principalmente nos quatro evangelhos, para se descobrir o absurdo da doutrina unicista. No batismo de Jesus são manifestas as três Pessoas distintas: o Pai falando do céu, o Filho saindo das águas do Jordão e o Espírito Santo repousando sobre Ele (Mateus 3.16-17). Como os três podem ser uma só Pessoa? Nos Evangelhos encontramos com frequência Jesus fazendo menção do seu Pai como outra Pessoa. Muitas vezes Ele se dirigia ao Pai em oração (João 17). Afirmar que Pai e Filho são uma mesma Pessoa é um disparate.
Jesus disse: “E na vossa lei também está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de mim testifica também o Pai, que me enviou” (João 8.17-18). Jesus está falando de duas pessoas e não de uma. Ele afirmou que veio do Pai e que voltava para o Pai (João 8.42; 16.5; 17.3,8). Mais de 80 vezes Jesus afirmou que não era o Pai.
O unicismo é contrário à nossa doutrina. O nosso Cremos, publicado em cada edição do jornal Mensageiro da Paz, órgão oficial da Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil (CGADB), diz em seu primeiro artigo de fé: “Cremos em um só Deus, eternamente subsistente em três pessoas o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Deuteronômio 6.4; Mateus 28.19 e Marcos 12.29)”.
A doutrina de Deus é o primeiro de todos os mandamentos (Marcos 12.29-30) e é uma questão de vida ou morte (João 17.3) e não uma alternativa. A Bíblia diz que negar o Pai e o Filho traz a condenação (1João 2.22-23). Os unicistas mutilam a personalidade do Pai e do Filho com a doutrina das ‘manifestações’, que é uma maneira camufalda de negar Jesus como o Filho de Deus (1João 5.5,9). O ‘Jesus’ dos unicistas não é o Jesus da Bíblia (1Coríntios 11.4). Seguir um Jesus errado leva tal pessoa a adorar um deus errado e vai fazê-lo terminar também num céu errado, logo não se trata de ‘questões secundárias’.
Pr. Esequias Soares
Teólogo Apologista
Assembleia de Deus – Jundiaí/SP