Geralmente o que deixa arrepiados os defensores do último ponto da TULIP é a questão da apostasia. Como ter um apóstata sem ter um perdido da verdadeira fé e da real conversão? E o termo “Apostasia” parece mesmo indicar um real cataclismo na vida de um salvo. Segundo alguns pesquisadores (Confira Dicionário Bíblico, Williams – Vida Nova), a palavra era usada no contexto político grego. Para alguém apostatar era preciso ser membro de um partido da sociedade helênica. Quando a pessoa, de livre vontade e escolha, decidia sair do seguimento partidário que frequentava e procurava outro partido de cosmovisão antagônica, este indivíduo cometia a apostasia e se tornava um apóstata renegado. O contexto cultural e etimológico da palavra mostra que era impossível alguém apostatar sem ter sido membro de um partido. Assim, como veremos nos comentários abaixo, tudo indica que a palavra “apostasia” dentro da ótica teológica adverte para a possibilidade da queda soteriológica do crente.
A Wikipédia traz uma definição bastante relevante para o nosso debate:
“Apostasia (em grego antigo απόστασις [apóstasis], “estar longe de”) tem o sentido de um afastamento definitivo e deliberado de alguma coisa, uma renúncia de sua anterior fé ou doutrinação. Ao contrário da crença popular, não se refere a um mero desvio ou um afastamento em relação à sua fé e à prática religiosa. Pode manifestar-se abertamente ou de modo oculto.” (Em: < http://ww.pt.wikipedia.org/wiki/Apostasia>. Acesso em 02 junho 2014)
A enciclopédia “International Standard Bible” e a “Pequena Enciclopédia Bíblica” de Boyer corroboram no seguinte sobre a temática:
“Apostasia: (η αποστασια, he apostasía, ‘um desvio de’): ou seja, uma queda, uma retirada, uma deserção. Não encontrado nas versões da Bíblia em Inglês, mas utilizado duas vezes no Novo Testamento, no grego original, para exprimir o abandono da fé. Paulo foi falsamente acusado de ensinar os judeus uma apostasia contra Moisés (Atos 21.21), ele previu a grande apostasia do cristianismo, anunciada por Jesus (Mateus 24.10-12), o que precederia o ‘dia do Senhor’ (2 Tessalonicenses 2.2). Apostasia, não no nome, mas na verdade, possui uma reprovarão mordaz na epístola de Judas, por exemplo, a apostasia dos anjos (Judas 1.6). Anunciada, com advertências, como certeza de que abundam nos últimos dias (1 Timóteo 4.1-3; 2 Tessalonicenses 2.3; 2 Pedro 3.17). Causas da: perseguição (Mateus 24.9, 10); falsos professores (Mateus 24.11); tentação (Lucas 8.13); secularismo mundano (2Timóteo 4.4); defeituoso conhecimento de Cristo (1 João 2.19); colapso moral (Hebreus 6:4-6); abandono da adoração e vida espiritual (Hebreus 10.25-31); incredulidade (Hebreus 3.12). Exemplos Bíblicos: Saul (1 Samuel 15.11); Amazias (2 Crônicas 25.14, 27); muitos discípulos (João 6:66); Himeneus e Alexandre (1 Timóteo 1.19, 1Timóteo 1.20); Demas (2 Timóteo 4.10). Para ver mais ilustrações nesse caso: Deuteronômio 13.13; Zacarias 1.4-6; Gálatas 5.4; 2 Pedro 2.20, 21.
‘Abandono de Yahweh’ era a característica do retorno ao pecado do povo eleito, sobretudo no seu contato com as idólatras nações. É constituído seu supremo perigo nacional. A tendência apareceu em seus primeiros dias na história, como visto em abundância de avisos e proibições das leis de Moisés (Êxodo 20.3, 4, 23; 6.14; Deuteronômio 11.16). As consequências da temerosa apostasia religiosa e moral aparecem nas maldições pronunciadas contra este pecado, no monte Ebal, pelos representantes de seis das tribos de Israel, eleitos por Moisés (Deuteronômio 27.13-26; 28.15-68). Então, exausto estava o coração de Israel, mesmo nos anos imediatamente seguintes à emancipação nacional, no deserto, que Josué achou necessário voltar a promessa de toda a nação para um novo voto de fidelidade a Yahweh e à sua aliança original antes de serem autorizados a entrar na Terra Prometida (Josué 24.1-28). Infidelidade a este pacto eliminaria as perspectivas da nação do crescimento durante a época dos juízes (Juízes 2.11-15; 10.6; 10.10; 10.13; 1 Samuel 12.10). Foi a causa prolífica e cada vez mais má, cívica e moral, desde os dias de Salomão até o cativeiro Assírio e Babilônico. Muitos dos reis do reino apóstata dividido, levando as pessoas, como no caso de Roboão, para as formas asquerosas de idolatria e imoralidade (1 Reis 14.22-24; 2 Crônicas 12.1).
Conspícuos exemplos de tais apostasias régias são de Jeroboão (1 Reis 12.28-32); Acabe (1 Reis 16.30-33); Acazias (1 Reis 22.51-53); Jeorão (2 Crônicas 21.6, 10, 21.12-15); Acaz (2 Crônicas 28.1-4); Manassés (2 Crônicas 33.1-9); Amom (2 Crônicas 33.22). A profecia surgiu como um imperativo Divino para protestar contra esta tendência histórica de deserção da religião de Yahweh.
No grego clássico, apostasia significava revolta de um comandante militar. Na Igreja Católica Romana, denota abandono das ordens religiosas; renúncia da autoridade eclesiástica; defecção da fé […]. Um apóstata da defecção da fé pode ser intelectual, como no caso de Ernst Haeckel, que, devido à sua filosofia materialista, publica e formalmente renunciou o Cristianismo e a Igreja, ou ele pode ser moral e espiritual, como aconteceu com Judas, que, pela imunda ganância traiu seu Senhor.”
O Novo Dicionário da Bíblia das Edições Vida Nova, volume 1, edição de 1979, coloca a questão da seguinte perspectiva:
“A apostasia é um perigo contínuo para a Igreja e o Novo Testamento contém advertências repetidas contra a mesma (Cf. I Tm. 4.1-3; II Ts. 2.3; II Pe. 3.17). Sua natureza é deixada clara: é decair da fé (I Tm. 4.1) e desviar-se do Deus vivo (Hb. 3.12). Aumenta em períodos de crise especial (Mt. 24.9-10, Lc. 8.13) e é encorajada pelos mestres (Mt. 24.11, Gl. 2.4), que seduzem os crentes para pureza da palavra com outro evangelho (Gl. 1.6-8, II Tm. 4.3-4, II Pe. 2.1-2; Jd. 3,4). A impossibilidade de restauração após a apostasia é solenemente frisada (Hb. 6.3-6, 10.26).”
O escritor Orton H. Wiley engrossa o caldo sobre o assunto ao conjecturar que o texto de Hebreus 6.4-6 declara, exegeticamente, a real possibilidade de um cristão perder sua salvação. Ele cita um erudito calvinista chamado Adam Clark que explanou o seguinte da escritura:
“É evidente, pois, em vista da estrutura gramatical do texto, que o autor (de Hebreus) pretende dizer ser possível que os cristãos, mesmo após altas realizações espirituais, caiam da graça de Deus para a apostasia total […].” (WILEY, Orton H. A Excelência da Nova Aliança em Cristo. 2008, p. 293).
Você já reparou quantas advertências temos no Novo Testamento acerca da necessidade de vigiarmos pela nossa vida espiritual? O próprio Senhor deu muita ênfase a esta necessidade. Por exemplo, em Marcos 13.32-37, em somente seis versículos, Ele ressalta seis vezes que devemos “ficar atentos”, “não sermos encontrados dormindo” e “vigiarmos”. Vigiar significa cuidar atentamente, zelar, observar com cuidado, proteger contra perigos, ser prudente, antecipar perigos e ameaças. Portanto, vigie e não descuide da sua salvação.