Uma Observação Sobre a Transubstanciação

A doutrina da transubstanciação é um dos pontos controversos entre os católi­cos romanos e os cristãos evangélicos. A diferença está em que os primeiros afirmam que se efetua uma mudança de substância do pão e do vinho na do corpo e do sangue de Jesus Cristo, na Eucaristia. É o dogma definido no Concilio de Trento, o qual se realizou nos anos do 1545 a 1563. Quanto aos evangélicos, os mesmos conservam a simpli­cidade do culto de comu­nhão, tal como está escrito nos Evangelhos segundo S. Mateus. S Marcos. S. Lucas, e na I Epístola de S. Paulo aos Coríntios (Mt 26.26-30; Mc 14.22-26; Lc 22.19,20; 1 Co 11.23-32). Estes interpre­tam os textos sacros no sen­tido figurado, pois Jesus ins­tituiu a Ceia do Senhor para comemoração ou lembrança da Sua morte na cruz.

Quando Jesus afirmou: “Eu sou a videira“, ou: “Eu sou a porta“, é claro que não quis dizer que se tinha transfor­mado nessas comparações. As expressões do Senhor eram simbólicas.

Jesus Cristo não deu ao clero o poder de converter o pão e o vinho no corpo, san­gue, alma e divindade de Nosso Senhor. No ato da missa, segundo o Romanismo, o ministro pode mudar um pedaço de farinha, ou seja, a hóstia, em Deus Filho.

Os católicos usam como base para a sua teoria da transubstanciação o que está escrito no Evangelho de S. João: “Em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não te­reis vida em vós mesmos” ( Jo 6.53).  Tal explicação é um grande absurdo jamais proferido em linguagem humana. A filoso­fia, a lógica, a razão, a própria fé repelem com irresistível veemência tai significado. Tudo isso é mera fantasia. Esse rito da igreja Romana é uma grave deturpação do Cristianismo, uma grande heresia e a maior apostasia implantada na doutrina de Jesus Cristo.

No versículo bíblico de S João 6.53, os romanistas dão uma interpretação bastante destorcida do sentido dessas palavras tomadas literal­mente. Semelhante texto nada tem a ver com a insti­tuição da Ceia, e apropriar-se dele para o efeito é sacrilégio!

A carne e o sangue de Cristo, como está escrito no Evangelho, representam o sacrifício do Seu próprio corpo. O comer e o beber significam a aceitação da oferta que o Senhor fez de Si mesmo, o que se dá quando as pessoas aceitam e confiam em Cristo imolado na Gólgota por nós. Toda a vez que, sen­tindo a nossa própria culpa­bilidade e pecado, nos aco­lhemos a Jesus e aceitamos a expiação que Ele fez, por esse mesmo ato nutrimo-nos espiritualmente da carne do Filho do homem (isto é, Cristo), e bebemos em figura o Seu sangue.

Se as passagens já men­cionadas do Evangelho se re­ferissem à Eucaristia, ficariam excluídos da vida eterna os que não participassem da comunhão, como seria o caso do malfeitor arrependido lá no Calvário, bem assim todos quantos morrem na infância.

O partir do pão, na Ceia do Senhor, deverá ser para o cristão uma lembrança, e não uma repetição ou renovação do sacrifício efetuado por Cristo uma única vez, e que foi suficiente: “assim também Cristo, oferecendo- se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação”. Heb 9.28

Quando Jesus e os Seus apóstolos comiam juntos du­rante a instituição da Ceia na Páscoa, era com a finalidade de manterem uma santa co­munhão confirmativa do seu amor e fraternidade, con­forme o Novo Pacto ou Novo Testamento, isto porque a Ceia do Senhor atrai bênçãos aos comungantes, quando usados devidamente os sím­bolos do pão e do vinho, o que implica um exame de consciência: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste cálice”. 1 Co 11.28

O bendito Senhor conhecia bem a inclinação dos nossos corações para nos afastarmos d’Ele e uns dos outros. Im­pedir essa tendência foi um dos fins que teve em vista com a instituição da Ceia. O desejo de Jesus era que os crentes salvos se re­unissem em volta da Sua pessoa. Por isso Cristo colocou uma mesa para eles, onde na visão do Seu corpo ferido e do Seu sangue derramado pudessem lembrar-se d’Ele e do Seu Infinito amor.

A Cela é, pois, uma festa de ação de graças e louvor a Deus devendo ser esta a linguagem dos que participam na comunhão. Os cristãos, quando se reuniam na Ceia do Senhor, deviam sentir-se bem-aventurados.

Voltando à transubstanciação, acontece que pela forma como é ministrada a comu­nhão na igreja Católica Ro­mana, tal participação não passa duma meia comunhão – é que o celebrante participa de ambas as espécies, mas quando administra o sacra­mento ao povo, dá-lhe so­mente a hóstia e não o vinho. Portanto, semelhante prática está em plena contradição com as palavras do Senhor, quando faz referência ao cá­lice: “Bebei dele todos” (Mt 26.27).

Tal alteração está funda­mentada pelos seus teólogos no dogma da transubstanciação, o qual estabelece que, na consagração, esta atinge tanto o corpo como o sangue, concluindo assim que basta participar numa só espécie.

Esta inovação veio alterar abusivamente a forma como os crentes da Igreja Primitiva celebravam a Ceia do Senhor. Como se sabe, apenas no Concilio de Latrão, no ano de 1215, foi imposta esta dou­trina errônea.

A Igreja Evangélica restau­rou a comunhão completa, com base nas Escrituras Sa­gradas, pois estas confirmam ser assim que se deve cele­brar: “e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim”. 1 Co 11.24

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RIBEIRO FERNANDES, REVISTA: NOVAS DE ALEGRIAS – ABRIL 1994

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