Um “calminianismo” é possível?

Businesspeople Using Laptops During Meeting 

Uma moda recente, inventada por muitos pregadores que querem se manter afastados da polêmica entre calvinismo e arminianismo é dizer que não é nem calvinista nem arminiano. Palavras de efeito, mas sem nenhum significado real, tais como: “não sou nem calvinista nem arminiano, eu sigo a Bíblia” e “não sigo Calvino nem Armínio, eu sigo a Cristo” tem sido ditas no objetivo de se afastar do debate e tentar safisfazer ambos os lados.

Ainda outros, tentando conciliar as duas doutrinas para ser simpatizante de ambos, se auto-rotulam como “calminianos” (o que seria uma mistura de calvinismo e arminianismo), afirmando que os dois sistemas são bíblicos, como se a verdade fosse relativa ou a Bíblia fosse contraditória e afirmasse doutrinas mutuamente excludentes como mutuamente verdadeiras.

Primeiramente, é necessário esclarecer que é simplesmente impossível uma mistura de calvinismo com arminianismo. A razão é simples: ou a eleição é condicional ou é incondicional; ou a graça é resistível ou é irresistível; ou o livre-arbítrio existe ou ele não existe; ou Deus determina tudo ou Ele não determina tudo; ou Cristo morreu por todos ou ele não morreu por todos; ou uma vez salvo está salvo para sempre ou é possível perder a salvação.

É impossível, para qualquer pessoa que queira manter o mínimo de consistência, afirmar ambas as doutrinas como sendo completamentares e não como sendo excludentes. É uma coisa ou outra, não pode haver um meio-termo. Isso é reconhecido tanto por calvinistas como por arminianos. Spurgeon mesmo reconhecia que “não há nada entre eles senão uma vastidão estéril”[1], e William Shedd disse que “somente estes dois esquemas gerais de doutrina cristã são logicamente possíveis”[2]. É como disse Boettner:

“Deve ser evidente que há apenas duas teorias que podem ser mantidas pelos cristãos evangélicos sobre este importante tema; que todos os homens que têm feito qualquer estudo dele, e que têm alcançado toda as conclusões estabelecidas sobre isto, deve ser ou calvinistas ou arminianos. Não há nenhuma outra posição que um cristão pode tomar”[3]

O arminiano Roger Olson também comenta:

“Apesar dos pontos comuns, o calvinismo e o arminianismo são sistemas de teologia cristã incompatíveis; não há um meio termo estável entre eles nas questões determinantes para ambos”[4]

Portanto, a não ser que você seja um humanista secular relativista e inconsistente, que crê em duas coisas contraditórias como sendo verdadeiras ao mesmo tempo, não pode afirmar que é “meio calvinista” e “meio arminiano”. Ou você é calvinista, ou você é arminiano. Como vimos anteriormente, os cinco pontos são um sistema fechado, onde toda a doutrina cai ou permanece de pé, como em um dominó. Se um ponto do calvinismo está errado, todos os outros estão.

Por mais que palavras de efeito e sem sentido sejam utilizadas hoje em dia por pregadores que querem se parecer mais “cristãos” se não se rotularem de “arminiano” nem “calvinista”, no final das contas ele sempre é ou calvinista ou arminiano, se ele tem mesmo alguma opinião formada. Ele nunca é realmente um “meio-termo”, a não ser que seja inconsistente. O pastor Ciro Sanches, por exemplo, gosta de dizer que não é arminiano nem calvinista. Ele diz que “segue só a Bíblia”. Mas a teologia dele é inteiramente arminiana em todos os detalhes.

Seria mais honesto, e melhor para a comunidade arminiana no Brasil, que ele simplesmente admitisse que é um arminiano. Ele, assim como outros pregadores, são arminianos mesmo que escondam isso, da mesma forma que existem calvinistas que evitam se intitularem calvinistas, mas em ambos os casos a doutrina que é ensinada por tais pregadores é exatamente a mesma daqueles que se intitulam calvinistas ou arminianos de forma aberta.

Não muda absolutamente nada em termos de doutrina, muda apenas o discurso. Dizer que “não sou nem calvinista nem arminiano” parece um discurso bonito, parece mais “bíblico”, mas se perguntar para essa pessoa o que ela crê ela sempre irá responder algo que seja plenamente compatível ou com o calvinismo ou com o arminianismo, embora evite o rótulo.

Portanto, tais frases de efeito são inúteis e completamente superficiais. É lógico que um dos pontos é bíblico e o outro não. Se o calvinismo é verdadeiro, o arminianismo é falso; da mesma forma, se o arminianismo é verdadeiro, o calvinismo é falso. A Bíblia ensina um e não ensina outro. A razão ensina um e não ensina outro. A moral ensina um e não ensina outro. Não há como escapar disso, por mais que se tente evitar. De fato, tais pregadores que não se intitulam nem calvinistas nem arminianos só podem ser uma coisa: inconsistentes.

[1] SPURGEON, Charles H, citado em Good, Calvinists, p. 63.

[2] William G. T. Shedd, Calvinism: Pure and Mixed (Edinburgh: The Banner of Truth Trust, 1986), p. 149.

[3] Predestination, p. 333.

[4] OLSON, Roger. Teologia Arminiana: Mitos e Realidades. Editora Reflexão: 2013, p. 80.

Extraído do livro “Calvinismo X Arminianismo: quem está com a razão?”, cedido pela comunidade de arminianos do Facebook

Sair da versão mobile