Esse é o título de um dos artigos do senhor Leandro Quadros, apresentador do programa “Na Mira da Verdade”, um programa adventista da TV Novo Tempo. Mas por que o professor, jornalista, orador, polemista adventista, conhecido por sua defesa ferrenha das doutrinas distintivas do adventismo tradicional, estaria tão contente pelo fato de os evangélicos, no caso a Rede RIT, “abrirem as portas” para eles?
Não é de hoje que os adventistas estão conseguindo lograr êxito em se infiltrar no arraial dos evangélicos. Antigamente a estratégia se processava por meio dos chamados colportores evangelistas que conseguiam adentrar livremente nossas igrejas e lares e vender seus livros sem nenhum empecilho. A abordagem começava de maneira sutil, com livros interessantes de conteúdo até inofensivo, capazes de despertar o interesse da pessoa na área da saúde. Hoje a estratégia se diversificou: da música a programas de TV, eles têm tido livre acesso em nossos lares e igrejas por meio de cantores como Leonardo Gonçalves, Alessandra Samadello, Quarteto Arautos do Rei e Grupo Prisma. Quando não, nossos pastores, comprados com o “benefício” de seus filhos estudarem gratuitamente em colégios adventistas, permitem que adventistas entrem em nossas igrejas para fazerem propaganda de seus produtos e serviços.
Até mesmo a conceituada Revista Ultimato, edição de março/abril de 2016, nº 359, trouxe na página 15, no quadro FRASES um pensamento de Rubens S. Lessa – pastor adventista.
Mas por que Leandro Quadros estaria feliz em participar de um programa evangélico de debates? Por manter comunhão conosco? Não, não sejamos tão ingênuos assim! Lendo o resto do artigo e a reação dos leitores dá para perceber a fonte das suas motivações:
“Um dos pontos positivos (entre muitos outros) é que estou recebendo e-mails de irmãos evangélicos interessados em saber mais sobre a alimentação saudável, à luz da Bíblia. Outro motivo de alegria é a oportunidade que tivemos de divulgar a dieta alimentar saudável que o colega Marcos Júnior, do departamento Web, está fazendo com base nas instruções do livro Conselhos Sobre Regime Alimentar, de Ellen G. White.”[1]
Mas observe a reação dos demais internautas, estes sim escrevendo de um ponto de vista verdadeiramente adventista, de corpo e alma, nos comentários:
“Prof. Leandro, mais e mais me convenço de que estamos perto do fim, pois as oportunidades que Deus está dando a seus filhos, para que o verdadeiro evangelho seja pregado são muitas.”
Outro afirma: “Vamos avançando nesta obra que não é nossa e sim de nosso Deus, aproveitando as oportunidades para levar a verdade para as outras pessoas que não conhecem a plena verdade, que Deus continue a abençoa esta radio que só cresce.” (sic)
Ainda outro debocha do interlocutor de Quadros no debate: “Faço de um rapaz que comentou o vídeo as minhas palavras… ‘Esse reverendo ta + perdido que cachorro em comício rrsrsrsrsrsr !!!! ”
Ri Muito..xDDD’
E um quarto revela a verdadeira intenção: “Sou fan tambem do Reverendo Eber, acho que ele é justo e cincero, logo logo ele se tornará um Adventista do Sétimo Dia.” (sic!)
Percebeu agora a razão da alegria de Leandro Quadros? É porque ele tem a oportunidade de pregar o “verdadeiro evangelho adventista” a nós evangélicos. E quem lhe está dando essa oportunidade? Nós.
Eu pergunto: desde quando um adventista convida um teólogo evangélico para ensinar em sua TV Novo Tempo? Alguém já viu um pastor evangélico ser convidado para pregar em uma igreja adventista? Claro que não!
Mas não estaríamos sedo injustos com Leandro Quadros? Afinal ele não nos chamou de irmãos, “irmãos evangélicos”?
Os adventistas são nossos irmãos?
Não, eles não nos consideram seus irmãos. Numa entrevista à Revista Ministério (periódico adventista) o pastor Juan Carlos Vieira deixa bem claro quando seremos irmãos dos adventistas e em qual condição:
“ Nossa posição agora deve ser de respeito às demais denominações, porque nelas há pessoas sinceras, que finalmente aceitarão a mensagem, unindo-se a nós. Devemos ser cuidadosos para não nos adiantarmos aos fatos. Podemos estar criticando hoje alguém que será nosso futuro irmão.”[2]
Percebeu a condição para a irmandade? Somente quando aceitarmos o “evangelho” adventista unindo-nos a eles. Aí sim, seremos (verbo no futuro) seus irmãos. Em outras palavras: um evangélico só poderá ser irmão de um adventista na condição de converter-se ao adventismo.
A diferença das declarações entre Juan e Quadros é gritante. E essa diferença de posição tem muito a ver com os espaços de poder de onde se fala e pra quem se fala. Enquanto Leandro Quadros e outros evangelistas adventistas falam e escrevem de uma rede social acessível a todos os públicos – daí o duplo falar e a necessidade de “parecer” evangélico – a entrevista do Dr. Juan na revista, dirige-se a um público restrito, eminentemente adventista, não necessitando maquiar as coisas.
Se isso não for verdade, então por que os líderes adventistas publicariam livros ensinando seus fiéis a evangelizarem os evangélicos?
Livro adventista ensina como se aproximar dos evangélicos
Ora, se os adventistas consideram os evangélicos seus irmãos na fé, por que eles publicariam um livro para evangelizar justamente os evangélicos? Estou falando do livro “Estudando Juntos” do pastor adventista Mark Finley.
Em outro importante instrumento catequético da IASD, lemos os seguintes conselhos que os pastores adventistas dão aos seus fiéis: “Devemos alcançar em amor os membros de outras denominações. Os pastores adventistas do sétimo dia devem buscar os ministros das outras denominações para partilhar com eles o evangelho” (Lição da Escola Sabatina. Religião nos Relacionamentos – adultos/professor – julho/setembro de 2004, p.88)
E mais: “todos, não importa a sua fé, precisam ouvir o que temos a dizer” (ibidem, p.89)
“…devemos levar a todos”, diz esse mesmo periódico, “‘cristãos fiéis’ de outras denominações – a mensagem da verdade presente como se encontra em Apocalipse 14” (ibidem, p. 91)
Por que precisamos ouvir o que eles têm a dizer? Simples: porque para EGW, mentora dos adventistas, nós não somos salvos. Observe o que ela disse – e eles seguem à risca até hoje:
“Temos uma obra a fazer por ministros de outras igrejas. Deus quer que eles se salvem. Nossos ministros devem buscar aproximar-se dos ministros de outras denominações” (Testemunhos Seletos, Volume II, 2ª edição de 1956, p. 386).
A Estratégia Adventista
Observe agora como se processa a estratégia adventista: “Nossos pastores devem buscar aproximar-se dos pastores de outras denominações […] Talvez você tenha a oportunidade de falar em outras igrejas. Aproveitando essas ocasiões […] não desperte a malignidade do inimigo com denunciadores discursos. Agindo dessa forma você fechará as portas à verdade.” (ibidem, p. 98 – grifo nosso)
Percebeu como os adventistas acreditam piamente que têm “a verdade”? Eles utilizam textualmente até mesmo a expressão “pacote completo” da verdade (p. 93). Sendo que alegadamente nós evangélicos não possuímos o “pacote completo” da verdade, eles se sentem no dever de se aproximar sorrateiramente de nós para pregar-nos “toda a verdade”, que só os adventistas supostamente teriam.
Mas observe o que diz um eminente historiador da igreja do senhor Leandro Quadros sobre as consequências dessa ardorosa convicção da “verdade”: “Quanto mais seguros os mileritas se tornavam de sua interpretação bíblica, mais agressivos agiam para com os demais” (Knight, George. R. Adventismo. Tatuí, SP: CPB, 2015, p. 131- grifo nosso).
Essa postura passou a mudar a partir de 1888. Até então os adventistas eram agressivos em pregar aos evangélicos suas “doutrinas distintivas”, lê-se heresias (aniquilacionismo, sono da alma, doutrina do santuário, o sábado, a crença em EGW como o espírito de profecia, etc):
“Afinal de contas, por que pregar graça salvadora aos batistas? Eles já criam nela […] O importante era pregar as verdades distintivamente adventistas”. Prosseguindo, ele diz que “os evangelistas adventistas tinham o costume de entrar numa comunidade e desafiar publicamente o ministro mais importante para um debate sobre a natureza da morte, do inferno, o verdadeiro sábado” (Knight, George. R. A Mensagem de 1888. Tatuí, SP: CPB, 2015, p. 21)
Mas qual era o resultado deste tipo de abordagem? Nas palavras desse mesmo escritor adventista “Os resultados não eram tão positivos.” Mas por quê? Porque “40 anos de pregação desse tipo provocou uma espécie de separação entre o Adventismo e o cristianismo em geral” (ibidem)
Então, já que a estratégia mais afastava do que convencia, eles resolveram mudar o tom da conversa e começaram a praticar um discurso mais “afetivo” com os “irmãos” evangélicos. Ellen White aconselha essa nova estratégia da seguinte maneira:
“Preparai o solo antes de semear a semente — Ao trabalhardes em campo novo, não penseis ser o vosso dever declarar imediatamente ao povo: Somos adventistas do sétimo dia; cremos que o dia de repouso é o sábado; acreditamos que a alma não é imortal. Isso haveria de levantar enorme barreira entre vós e aqueles a quem desejais alcançar. Falai-lhes, em se vos oferecendo oportunidade, de pontos de doutrina sobre os quais estais em harmonia. Insisti sobre a necessidade da piedade prática. Tornai-lhes patente que sois um cristão, desejando paz, e que amais sua alma. Vejam eles que sois conscienciosos. Assim lhes granjeareis a confiança; e haverá tempo suficiente para as doutrinas. Seja o coração conquistado, o solo preparado, e depois semeai a semente, apresentando em amor a verdade como é em Cristo.” (Obreiros Evangélicos. Tatuí, CPB, 1915, pp. 119, 120 – grifo nosso).
Outro documento adventista reafirma a mesma forma de proselitismo: “De início, não apresenteis às pessoas os aspectos de nossa fé que despertem mais objeções, para que não fecheis os ouvidos das pessoas para quem estas coisas chegam como uma revelação. Sejam-lhes apresentadas porções adaptadas à sua compreensão e apreciação; embora lhes pareça estranho e alarmante, muitos reconhecerão com júbilo a nova luz projetada sobre a Palavra de Deus, ao passo que se a Verdade fosse apresentada em tão grande medida que não pudessem recebê-la, alguns se afastariam para nunca mais voltar. Mais do que isso, deturpariam a verdade.” (Boletim da Associação Geral, 25 de fevereiro de 1895).
Observe agora como o pastor adventista, Mark Finley, ensina a colocar esse conselho em prática: “Ao aproximar-se de seus amigos batistas, aborde aqueles pontos que temos em comum. Não entre imediatamente numa discussão acerca do sábado, mas sobre Jesus […] Quando o amor de Jesus dominar seus corações, no momento certo, sob a direção do Espírito Santo, então poderá explicar-lhes as verdades próprias dos Adventistas do Sétimo Dia.” (Finley, Mark. Estudando Juntos. CPB, 2013, p. 124)
Ora, não é mais “irmão batista”, agora é amigo batista?! Percebeu a mudança de tratamento?
Acontece que se esse “amigo” Batista aceitar “as verdades próprias dos adventistas” e resolver passar para a IASD ele terá que se batizar novamente, pois não consideram o batismo de outras denominações. Por que será?[3]
O objetivo ainda é o mesmo só que agora com uma cara menos assustadora.
Portanto, essa conversa dobre dos pastores evangelistas da Rede Novo Tempo em chamar os evangélicos de irmãos em seus programas de televisão e rádio é pura hipocrisia; a intenção real é converter evangélicos menos avisados (que pouco conhecem de sua crença doutrinária) primeiro ao evangelho adventista e depois, se possível, à sua igreja como ensinou EGW. Proselitismo puro.
[1] Disponível em: http://novotempo.com/namiradaverdade/tv-evangelica-abre-as-portas-para-os-adventistas/
[2] Revista Ministério – Edição 6 – Novembro/Dezembro de 1999, no artigo “Crede em Seus Profetas” Entrevista com Dr. Juan Carlos Viera.
[3] Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia. CPB, ed.1986, pp. 64, 65 e 201; veja também E.G. White, Evangelismo, pp. 372-375.