Os líderes de seitas são especialistas em eisegese[1], que é o ato de colocar um determinado significado dentro do texto bíblico, visando objetivos específicos. É o contrário de exegese, que significa extrair um significado de dentro do texto. Trocando palavras, tempos de verbo e pontuação é possível formular as doutrinas mais excêntricas a partir da Bíblia. A eisegese das seitas é direcionada contra a divindade do Senhor Jesus, e a partir daí desenvolvem as demais heresias. A eisegese dos espíritas visa convencer a todos, que além de Jesus absolutamente não ser Deus, ensinou a reencarnação, a salvação pelas obras e incentivou a comunicação com os mortos.
Os kardecistas foram os últimos a chegar na maratona das falsificações bíblicas. Providenciar uma tradução própria, ou publicar pelo menos uma interpretação exclusiva da Bíblia para respaldar suas ideias, e requerer identidade cristã para sua seita, foi o caminho trilhado por Joseph Smith, Charles T. Russel, o grupo liderado pela Sra. White e os outros fundadores de falsas religiões. Allan Kardec, porém, no seu Evangelho Segundo o Espiritismo, limitou-se a transcrever uns poucos versículos adulterados da versão francesa da Vulgata Latina, como ele mesmo informou no Item 1 da Introdução, sob orientação direta da espiritualidade superior. No século XXI, a liberdade e a velocidade da informação mostraram que isso não é mais suficiente para escorar o espiritismo na classificação de religião cristã. Recentemente se levantaram dois arautos do kardecismo brasileiro moderno, e produziram uma eisegese espírita da Bíblia. Apresentando-se como estudiosos da gramática hebraica e grega, esses senhores afirmam ter trabalhado com manuscritos originais (mas não os identificam), e respaldam suas traduções e análises na opinião de rabinos cabalistas, personalidades esotéricas e ocultistas, especialmente as ligadas ao Movimento da Nova Era, e, lamentavelmente pastores apóstatas.
O resultado foi publicado em dois livros que até o momento não mereceram a atenção de nenhum apologista cristão. Considerando, porém, que o Brasil é o maior país espírita do mundo, e vivemos rodeados de pessoas envolvidas com o espiritismo de todas as variedades, neste estudo passaremos um rápido olhar sobre a pretensão espírita de corrigir a Palavra de Deus, destacando algumas curiosidades, para atualizar os cristãos a respeito do tema espiritismo versus Bíblia.
I – AS INVESTIDAS ESPÍRITAS CONTRA A BÍBLIA
1- ALLAN KARDEC NO SÉCULO XIX
Substituir a Bíblia pela orientação dos ‘espíritos’ era uma das metas de Kardec. No Evangelho Segundo o Espiritismo esse objetivo está declarado:
“…Não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a daqueles que não estão mais na terra se faça ouvir… amai-vos, eis o primeiro mandamento; instrui-vos, eis o segundo” (mensagem do Espírito de Verdade, Paris, 1860 – ESE, cap. 6 “O Cristo Consolador – O Advento do Espírito de Verdade”).
Observação: 1) A voz dos profetas e dos apóstolos é a Bíblia Sagrada, porém esses santos homens de Deus não a escreveram por sua própria iniciativa, mas guiados pelo Espírito Santo (IIPe. 1.19-21); 2) O primeiro e o segundo mandamento, conforme ensinou Jesus, não são os mesmos do espiritismo (Mt. 22.37-40).
2- JOSÉ HERCULANO PIRES NO SÉCULO XX
José Herculano Pires (1914-1979) foi um jornalista espírita, por muitos anos o tradutor oficial de Kardec reconhecido pela FEB, que escrevia artigos no Jornal Diário de São Paulo no período 1960-1979. O assunto eram os erros encontrados na Bíblia, que segundo ele, no Brasil foi manipulada para condenar o espiritismo. Em 1989 esses artigos foram reunidos e publicados no livro Visão Espírita da Bíblia. Hoje em dia seu conteúdo pode ser acessado pela internet e o livro, com uma linguagem mais moderna, foi republicado recentemente, porém os erros grosseiros, havidos desde os artigos originais, permanecem: o rei Samuel era atormentado por um demônio e acalmado por Davi; o rei Samuel escreveu o livro de Provérbios através de mensagens psicografadas de sua mãe; o discurso de Paulo em Atos 7; o capítulo Deuteronômio 19 é usado contra o espiritismo; a Vulgata Latina não traz as expressões Espírito Santo e dons espirituais; a Bíblia contém 42 livros; o Novo Testamento não faz parte da Bíblia; João Ferreira de Almeida era padre etc.).
A eisegese espírita de Herculano se desenvolve a partir de versículos bíblicos adulterados e falsas informações. Faz parte da análise a opinião pessoal do autor sobre os cristãos de modo geral e os pastores em particular. Ilustramos:
Sobre a Ignorância dos Cristãos
“Somente às religiões dogmáticas, que se apresentam como vias exclusivas de salvação, interessa o conceito da Bíblia como a Palavra de Deus” (§ 5).
“Ignorantes, espertalhões, tosquiadores de rebanhos, pessoas com pouca leitura, seitas obscurantistas, fanáticos religiosos aculturados, inteiramente incapazes de entender a Bíblia, pessoas que acreditam cegamente nas pretensas condenações ao espiritismo” (§ 4, 5, 6, 11, 14, 15 e 32).
“Mas é incrível que até hoje, no mundo inteiro, multidões de pessoas acreditem que Adão dormiu sozinho e acordou acompanhado de Eva, porque Deus lhe tirou uma costela e dela fez a primeira mulher… Aceitar, pois, literalmente, o relato bíblico da criação da mulher é deixar de lado nossa faculdade de pensar…” (§ 22).
Algumas Falsas Informações de Herculano
“A Bíblia (que o nome quer dizer simplesmente: O Livro) é na verdade uma biblioteca, reunindo os livros diversos da religião hebraica. Representa a codificação da primeira revelação do ciclo do Cristianismo. Livros escritos por vários autores estão nela colecionados, em número de 42” (§ 2).
“O evangelho, como se costuma designar o Novo Testamento, não pertence de fato à Bíblia. É outro livro, escrito muito mais tarde, com a reunião dos vários escritos sobre Jesus e seus ensinos” (§ 2).
“A Bíblia não condena o Espiritismo. Pelo contrário, a Bíblia confirma o Espiritismo, como demonstraremos. Basta lembrar o caso de Samuel, atormentado pelo espírito mau, aliviado pela mediunidade de Davi, que usava a música para afastá-lo. Caso típico de mediunidade curadora, constante de Samuel 16:14-23” (§ 6).
“As palavras do rei Samuel em Provérbios 31:1-9, segundo o texto bíblico, são a profecia com que lhe ensinou sua mãe. Temos ali uma comunicação espírita integralmente reproduzida na Bíblia” (§ 9);
“A Vulgata não fala absolutamente em Espírito e Espírito Santo. Isso, no tocante ao Novo Testamento, pois no Velho só se fala em Espírito e Espírito de Deus. Quanto aos Dons Espirituais, a situação é a mesma. Essa expressão aparece apenas nos textos paulinos, com a palavra grega charismata, que significa literalmente mediunidade, ou seja, a graça de ser intermediário entre os Espíritos e os Homens” (§ 16).
Algumas Opiniões de Herculano:
“Deus não ditou nem dita livros aos homens… As leis morais da Bíblia, resumidas nos dez mandamentos, fazem rir o homem de hoje” (§ 4).
“Moisés, o grande legislador, médium de excepcionais qualidades, não condenou a mediunidade, mas a praticava e desejava vê-la praticada pelo povo” (§ 11).
II – AS ANÁLISES ESPÍRITAS DA BÍBLIA NO SÉCULO XXI
As ideias centrais de J. H. Pires aparecem nos trabalhos recentes: a Bíblia não é a Palavra de Deus; a Bíblia não condena o espiritismo; a Bíblia é um relato mediúnico; profeta é sinônimo de médium, pessoas que não concordam com essas afirmações são aculturadas, simplórias e não têm condições de entender a mensagem bíblica:
“Os textos das Sagradas Escrituras, em sua língua original, o hebraico, não possuem, em nenhuma de suas páginas, condenação à doutrina espírita ou a qualquer outro princípio religioso. Todos sabem disso, inclusive os seus tradutores. As citações que usam com referência à doutrina espírita são de livre responsabilidade deles… nossos irmãos tradutores ainda não aprenderam a respeitar aqueles que fazem parte de outro credo religioso, ainda que este seja um credo cristão, como é o caso do espiritismo” (Analisando as Traduções Bíblicas, Severino Celestino da Silva, Editora Ideia, João Pessoa, 2014, p.27 – grifo nosso).
“Nosso intuito é, antes de tudo, possibilitar o acesso dos indivíduos não especializados em pesquisa bíblica aos elementos originais da tradição cristã, sem o colorido interpretativo posteriormente conferido a cada um deles… Nesse caso as notas de rodapé se transformaram, ao mesmo tempo, em fonte de esclarecimento e material de suporte para leitura, complementando informes impossíveis de serem transmitidos com a simples tradução do texto grego…” (O Novo Testamento, Haroldo Dutra Dias, FEB, 2010, p. 18-20 – grifo nosso – Nota: O nome do livro é “O Novo Testamento”, mas só contém os quatro evangelhos e Atos dos Apóstolos).
Médium É Sinônimo de Profeta?
Esse é um ponto comum entre Kardec, J. H. Pires e os espíritas de hoje. Todos se esforçam para convencer a todos que profeta é sinônimo de médium, porém só eles pensam assim. Os dicionários fazem uma clara distinção entre essas duas palavras, e suas definições vão de encontro ao entendimento cristão: profetas falam da parte de Deus; médiuns são pessoas que se comunicam com os mortos. Vejamos:
“Médium – segundo o espiritismo, pessoa capaz de se comunicar com os espíritos.
Profeta – pessoa que anuncia os desígnios divinos, que prediz acontecimentos por inspiração de Deus” – Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 1ª edição, 2009.
“Médium: pessoa a quem se atribui o poder de comunicar-se com a alma dos mortos.
Profeta: pessoa que proclama a palavra divina, que anuncia os desígnios divinos” – Grande Enciclopédia Larousse Cultural, Vols. 16 e 19, Editora Nova Cultural, 1998, p. 41.
“Médium: intermediário entre os vivos e a alma dos mortos.
Profeta: homem que prediz o futuro” – Mini Dicionário da Língua Portuguesa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Editora Nova Fronteira, 2ª edição.
“Médium: s.m. e s.f. Pessoa que, segundo o espiritismo, tem a capacidade de se comunicar com os espíritos, com pessoas que estão mortas.
Profeta: s.m. Palavra originária do grego que significa aquele que proclama. Os profetas bíblicos falavam principalmente dos males de sua época. Mas a profecia bíblica também descrevia o que aconteceria se as pessoas fizessem ou não fizessem determinadas coisas, e o que o profeta esperava para o futuro de seu povo” – Dicionário Online de Português – http://www.dicio.com.br.
III – A ANÁLISE ESPÍRITA DO ANTIGO TESTAMENTO
A premissa do autor é que houve troca deliberada de palavras, especialmente as preposições, na tradução de todos os textos bíblicos que claramente contrariam as doutrinas espíritas e condenam a comunicação com os mortos. A partir daí ele cria uma ‘hermenêutica bíblica espírita’. Ilustramos:
► O livro de Êxodo
“A preposição ‘al = sobre, trocada por ‘ad = até, no Êxodo, mudou o significado reencarnacionista do texto… a troca da preposição alterou o seu real significado… estes textos, com essas traduções utilizando a preposição ‘até’ no lugar de ‘sobre’, mostram-se frontalmente contra a hermenêutica e a exegese de outras passagens bíblicas, pois essas preposições, que não existem no texto, além de mudarem completamente o significado e a compreensão do mesmo, trazem para aqueles que o leem a ideia de uma só existência” (ATB, p. 125 e 129 – grifo nosso).
O autor cita outros versículos de Êxodo, e também de Números e Deuteronômio, onde aparece a palavra “geração”, indicando que em todos eles a preposição foi trocada para esconder a crença de Moisés na reencarnação. Sobre Êxodo 34.6-7, que segundo ele é uma oração que deve ser feita em jejum, diz: “É pena que um texto tão sublime e tão importante tenha sido deturpado em sua essência divina, inclusive com respeito ao sentido de reencarnação que o mesmo possui, quando se refere às terceiras e quartas gerações” (ATB, p. 129 – grifo nosso).
É surpreendente o valor que o analista espírita dá às preposições. A base de sua argumentação é que as preposições modificam os substantivos, adjetivos e verbos, o que não ocorre na gramática da língua portuguesa. No bom Português, preposição é uma palavra gramatical invariável, que liga dois elementos de uma frase, estabelecendo uma relação entre eles, simplesmente isso. Dizer que a preposição sobre é capaz de transformar a palavra geração em reencarnação, e ainda apelar para um suposto conhecimento erudito das preposições no idioma hebraico que só ele detém, é algo que realmente nos foge à compreensão, por ser uma conclusão inerente unicamente ao raciocínio espírita.
► O Salmo 23
“Certamente, bondade e benevolência me seguirão, todos os dias das minhas vidas. Observe o significado reencarnacionista do versículo, onde David mais uma vez demonstra sua confiança no futuro, ou seja, em futuras vidas. A palavra chaim – vidas, colocada no texto, demonstra esse significado, ausente em todas as traduções existentes em língua portuguesa… Analise nossa tradução, comparando-a às outras, e reflita sobre a coerência de sentido do novo texto à luz da reencarnação, que é a maior de todas as justiças e misericórdias divinas” (ATB, p. 122 e 124 – grifo nosso).
Consultamos o Pr. Esequias Soares, um dos maiores apologistas cristãos brasileiros, e professor de hebraico, a respeito desse argumento espírita, e ele nos respondeu:
“Há na língua hebraica um conjunto de palavras que só existe no plural com sentido singular como água, mayim; céu, shammayim. Só existe uma mesma forma para singular e plural. O termo vida, chayim, é um deles, usa-se a mesma palavra para o singular e para o plural, por exemplo “a árvore da vida” (Gn. 2.9; 3.22) não é “a árvore das vidas”. A Septuaginta emprega o termo grego “tes zoes”, “da vida”, no singular, a mesma construção usada no Salmo 23.5”.
IV – AFIRMAÇÕES PECULIARES DO ANALISTA ESPÍRITA DO ANTIGO TESTAMENTO
► O Texto de Dt. 18 Não se Aplica aos Espíritas:
“Comecemos pelas recomendações de Moisés no versículo nove(9) de Deuteronômio 18… A quem são dirigidas essas recomendações? Aos espíritas? Não! …foram dirigidas aos filhos de Israel, aos hebreus, nós, espíritas, 4000 anos depois, não temos a menor responsabilidade sobre esse fato, pois por acaso recebemos de Moisés a incumbência de ir para a terra prometida? Parece-nos que os desejosos de atacar, a todo custo, o seu “próximo”, só porque possui outra filosofia religiosa, ficam tão presos às questões críticas e pessoais, que não percebem a verdadeira época e origem dos textos sagrados e a quem eles foram realmente dirigidos” (ATB, p. 86 – grifo nosso).
“Analise o versículo 10 e responda: onde é que no texto estão as palavras médiuns, espiritismo, espírita ou espírito, que tantos tradutores encontraram?” (p. 88).
“Quem disse que espírita é sinônimo de necromante e adivinho?” (p. 94).
“…os espíritas não exigem a presença dos mortos nem evocam os espíritos… Se os hebreus utilizassem a comunicação dos mortos do mesmo modo e seriedade com que os espíritas o fazem hoje, certamente Moisés não os teria proibido de nada… “Por acaso Moisés já conhecia o espiritismo? Já conhecia os médiuns espíritas?” (p. 94-95 grifo nosso).
V – O QUE DIZ O TRADUTOR ESPÍRITA DO NOVO TESTAMENTO
Trechos extraídos de https://www.youtube.com/watch?v=Z604FpM9Iio
“…estudei grego clássico enquanto fazia Faculdade de Direito, que vc. podia puxar matérias isoladas… estudei um semestre de Paleontografia do NT, que é o estudo da caligrafia dos manuscritos, a variação dessas caligrafias e o processo de escrita…”
“A FEB sabia que eu estudava o assunto há muitos anos, tinha domínio das línguas originais… precisamos de uma tradução moderna, uma tradução isenta, não uma tradução espírita, mas uma tradução neutra, acadêmica, que pudesse ser utilizada por nós sem medo. Como nosso propósito não é teológico, nós não queremos com a tradução ficar provando teologia, a gente quer um texto, um enfoque literário… nós não estamos produzindo um texto religioso, a gente quer produzir um documento literário…”
“…existem inúmeras expressões idiomáticas, algumas impossíveis de serem traduzidas. Em determinado momento o tradutor tem que tentar entender o que a expressão idiomática está dizendo e escrever na língua que ele está traduzindo, aí entra uma dose de interpretação, isso é inevitável… nem os judeus de hoje conseguem entender o sentido de algumas dessas expressões na época…”
“…para que a pessoa não se sinta ludibriada no sentido de ‘na Bíblia está escrito isso’. Não, está escrito o que o tradutor traduziu, e em determinados pontos poderia ser diversas formas diferentes e não há consenso nenhum…”
Ele [Jesus] veio para ser uma referência moral, e nós transformamos Jesus numa referência religiosa, ele foi transformado num ícone religioso, alguém para ser seguido, para se fundar uma religião, quando na verdade a proposta dele era ser guia e modelo, modelo de conduta moral… nós espíritas aprendemos que Jesus é guia moral, não é guia religioso…” – todos os grifos são nossos.
Existem aproximadamente 5.300 manuscritos gregos do Novo Testamento, mais de 10.000 manuscritos da Vulgata Latina e pelos menos 9.300 de outras antigas versões, logo temos hoje mais de 24.000 cópias de porções do Novo Testamento, todos devidamente identificados, catalogados e preservados na Biblioteca do Vaticano e em grandes universidades dos EUA e Europa[2].
Os apologistas cristãos quando mencionam tais documentos costumam identificá-los com clareza, do mesmo modo como informam todas as suas fontes e referências. O tradutor espírita não citou no vídeo de divulgação do seu livro, nem no próprio livro, qual ou quais desses manuscritos examinou e submeteu à “análise paleontográfica”. Na Introdução ele apenas informa de modo simplório: “Foi utilizado o texto crítico dos manuscritos gregos”.
Em 16/02/2017, no início do Curso de Apologética Cristã para Obreiros, na IEPaz, fiz a transcrição do áudio desse vídeo. Em 25/09/2017, preparando este texto para o 12º Seminário Apologético Pr. Natanael Rinaldi, voltei a ouvi-lo para conferir a transcrição. Constatei que o trecho abaixo foi excluído:
“… a Bíblia sequer é um livro religioso, trata-se de uma obra literária antiga, na qual foram inseridos alguns termos, e narrados episódios lendários, para dar sustentação às chamadas ‘doutrinas cristãs’, que na verdade não existem na Bíblia…”
Mas a ideia de desconstruir as doutrinas cristãs, a partir de uma nova tradução da Bíblia, está explícita na Introdução do NT espírita, p. 17:
“Figuremos um exemplo singelo: o verbo grego “bapto” (mergulhar, imergir, lavar), pelos processos de derivação das palavras, é responsável pela formação do substantivo “baptismo” (mergulho, imersão, ato de lavar). Ao se traduzir esse substantivo por batismo, é impossível que o leitor moderno não associe o vocábulo aos temas teológicos ligados ao sacramento do batismo. Todavia, urge reconhecer que essas teologias não existiam ao tempo em que os livros do NT foram redigidos, ou melhor, não existiam nem mesmo igrejas nos moldes atuais. Não possuímos sequer registros de que os judeus, sistemática e institucionalmente, utilizavam a imersão em água como ritual para conversão de prosélitos. Neste caso, foi necessários escavar, aprofundar para recuperar o frescor original do termo, possibilitando ao leitor moderno o acesso a essa prática do cristianismo nascente sem as camadas interpretativas que se formaram ao longo dos séculos”.
Partindo dessa premissa, a tradução espírita diz em Marcos 1.4:
“João 1Batista apareceu no deserto anunciando o mergulho2 do arrependimento3 para perdão4 dos pecados”.
- Lit. o que batiza/faz imersão. Nome derivado do verbo, com o sentido de “aquele que batiza/aquele que realiza a imersão”.
- Lit. “lavar, imergir, mergulhar. Posteriormente, a Igreja conferiu ao termo uma nuance técnica e teológica para expressar o sacramento do batismo.
- Lit. “mudança de mente, de opinião, de sentimentos, de vida”.
- Lit. “perdão (pecado, ofensa, mal); remissão (dívida, pena); libertação (escravidão, prisão); liberação (permitir a saída)”.
Em Mateus 3.6):
“Confessando9 seus pecados, eram mergulhados10 por ele no Jordão”.
- Lit. “confessar (publicamente), reconhecer, admitir, concordar prometer, consentir, exaltar, enaltecer, louvar, agradecer”.
- Posteriormente, a Igreja conferiu ao termo uma nuance técnica e teológica para expressar o sacramento do batismo.
Em Lucas 3.3:
“E toda a circunvizinhança do Jordão veio até ele, 2enquanto anunciava o mergulho3 do arrependimento4 para perdão5 dos pecados”.
- Lit. “anunciando o batismo”. Trata-se de um particípio usado adverbialmente.
- Lit. “lavar, imergir, mergulhar. Posteriormente, a Igreja conferiu ao termo uma nuance técnica e teológica para expressar o sacramento do batismo.
- Lit. “mudança de mente, de opinião, de sentimentos, de vida”.
- Lit. “perdão (pecado, ofensa, mal); remissão (dívida, pena); libertação (escravidão, prisão); liberação (permitir a saída)”.
Nessas poucas amostras podemos ver o comportamento do espírita diante das doutrinas do batismo, arrependimento e perdão dos pecados. Porém é relevante registrar que ele não conseguiu substituir “batismo” por “mergulho” em todos os textos. Em algumas passagens o contexto não permite que tal malabarismo seja feito e ele se rende, como em Mateus 21.25, onde além de manter a palavra batismo não há uma nota de rodapé esclarecendo que a igreja posteriormente deu conotação teológica ao “mergulho de João” e ele traduz literalmente as palavras de Jesus:
“O batismo de João era de onde, do céu ou dos homens?…” – Mt. 21.25.
O tradutor espírita disse também, na apresentação de sua obra, que Jesus nunca foi um líder religioso, mas que “ele foi transformado num ícone religioso, alguém para ser seguido, para se fundar uma religião, quando na verdade a proposta dele era ser guia e modelo, modelo de conduta moral”.
Caso houvesse alguma verdade nessa teoria espírita, por uma questão de coerência o nobre tradutor deveria ter produzido um texto radicalmente diferente, afastando todos os ingredientes doutrinários e teológicos que ele diz não existirem no original. Mas não é o que se lê nos textos dos evangelhos que mostram a divindade de Jesus:
- Ele recruta seguidores para proclamarem a salvação e a chegada do Reino de Deus – Mt. 4.19 e 28.19-20; Mc. 1.17; Lc. 5.10; Lc. 12.32; Lc. 19.5.
- Ele recebe e aceita adoração (nesses versos o espírita trocou adoração por reverência) – Mt. 2.2, 8.2, 9.18, 14.33, 15.25, 28.9,17; Mc. 1.40 (aqui o espírita diz que o leproso “ajoelhou-se rogando”), Mc. 7.24 (aqui o espírita diz que a mulher “prosternou-se a seus pés”); Lc. 5.12,32-33; Jo. 9.38. Não usar o verbo adorar não muda o fato das pessoas se curvarem diante de Jesus em extrema reverência.
- Ele perdoa pecados – Mt. 9.2,6; Mc. 2.5,10; Lc. 5.20,24.
- Ele diz ser um com o Pai – Jo. 14.9-11 (aqui também o espírita usou reverência) e Jo. 17.
Em todas as narrativas acima, e em muitas outras, haveriam de ser demonstrados os erros de tradução ocorridos nos últimos 2000 anos, que levaram Jesus a ser considerado não apenas um líder moral, mas o Filho de Deus que se fez homem, o Messias prometido, o nosso bendito e amado Salvador e Senhor.
O que vemos, entretanto, é o reconhecimento de que isso não pode ser feito. Salvo a omissão de uma ou outra palavra em algumas frases, mudanças de pontuação e tempo de verbos, que não abalam minimamente a ideia central embutida na narrativa, o tradutor espírita não conseguiu defender sua tese de modo suficientemente convincente. É inegavelmente patente a liderança religiosa e espiritual – e não apenas moral – de Jesus expressa nos evangelhos, apesar de todos os esforços e malabarismos gramaticais encontrados na tradução isenta do autor espírita. Vejamos:
“Dize-lhes: Vinde após mim3, e vos farei pescadores de homens” – Mt. 4.19.
“3. Expressão idiomática que significa “sede meus discípulos”. Era dever dos discípulos, na Palestina do primeiro século, acompanhar seu mestre, com o objetivo de observá-lo no cumprimento dos preceitos estabelecidos na Torah”.
“Aproximando-se Jesus, 1falou-lhes: foi dada a mim toda a autoridade no céu e sobre a terra. Portanto, ide e tornai discípulos de todas as nações, mergulhando-os2 em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas [as coisas] que vos ordenei…” Mt. 28.18-20.
- Lit. “falou-lhes, dizendo”.
- Lit. “lavar, imergir, mergulhar. Posteriormente, a Igreja conferiu ao termo uma nuance técnica e teológica para expressar o sacramento do batismo”.
“…um homem cheio de lepra, ao ver Jesus, prosternando-se1, rogou-lhe, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me2” – Lc. 5.12.
“1. Lit. “caiu sobre o rosto dele”. expressão idiomática semítica que significa prosternar-se (curvar-se ao chão em sinal de profundo respeito)”.
“2. Lit. limpar, lavar, purificar”.
AS NOTAS DE RODAPÉ DO TRADUTOR ESPÍRITA
“Manter a coerência e a fidelidade a esta proposta exigiu farta utilização de notas de rodapé contendo esclarecimentos sobre os vocábulos gregos, as tradições judaicas, os aspectos históricos e geográficos, os elementos culturais circundantes, de modo a tornar claras as premissas e as opções do tradutor em cada versículo.
Nesse caso, as notas de rodapé se transformaram, ao mesmo tempo, em fonte de esclarecimento e material de suporte para a leitura, complementando informes impossíveis de serem transmitidos com a simples tradução do texto grego.
As notas de rodapé oferecem diversos conteúdos que podem ser classificados em duas grandes categorias: linguísticos e culturais.
As notas de rodapé, portanto, consubstanciam o que de melhor podemos oferecer neste singelo trabalho” (obra citada, p. 18-20.
Acima já vimos algumas dessas importantíssimas notas de rodapé, que na verdade expressam a opinião do tradutor espírita, mais do que qualquer outra coisa, quando trata de alguma questão teológica, mas seu ponto forte parece ser a classificação gramatical e o significado das palavras. Lembremos que Allan Kardec dizia que os evangelhos possuem inúmeras passagens de difícil compreensão, muitos textos até parecem absurdos, pela falta de uma chave para compreendê-los, e só o espiritismo possui a chave que dá o verdadeiro sentido do texto bíblico (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução, item 1 – O Objetivo Desta Obra).
Diante, pois, da relevância dos esclarecimentos espíritas constantes das notas de rodapé, ilustramos com algumas delas:
“Portanto, sede vós perfeitos33, como é perfeito vosso Pai Celestial” – Mt. 5.48.
- Completo, que chegou ao fim ou ao propósito, perfeito, maduro”.
“Todos comeram e saciaram-se2; e levaram3, da sobra dos pedaços, sete cestos redondos4 cheios… Após despedir as turbas, 5entrou no barco e dirigiu-se ao território de Magadã” – Mc. 15.37,39.
- Lit. “Saciar-se, satisfazer-se, fartar-se, estar satisfeito”.
- Lit. levantar, suster, sustentar alguém/algo a fim de carregar; tirar, remover, levar”.
- Lit. “algo redondo, trançado ou dobrado; qualquer coisa enrolada em um círculo; cesta de junco trançada, espaçosa, em forma de círculo, capaz de conter um homem”.
- Lit. “embarcou no barco”.
“E, vendo de longe uma figueira 1com folhas, foi {ver} se encontraria algo nela…” – Mc. 11.13.
- Lit. ”que tinha folhas”.
“Disse Abraão: Filho, lembra-te as tuas {coisas} boas, durante a tua vida; e Lázaro, 8do mesmo modo, as {coisas} más… – Lc. 16.25.
- Lit. “semelhantemente”. Trata-se de um advérbio.
O INEDITISMO PECULIAR DA TRADUÇÃO ESPÍRITA:
“Vendo que alguns dos seus discípulos comiam os pães com mãos comuns, isto é, não lavadas, pois os fariseus e todos os judeus não comem se não lavam as mãos com o punho2 agarrando3 a tradição4 dos anciãos; e, {chegando} da praça5 não comem senão se mergulharem6. E há muitas coisas que receberam para agarrar: imersão {em água}7 de copos, jarros8 e vasilhas de bronze” – Marcos 7.2-4.
“2. Lit. “com o punho (que englobava todo o antebraço, até o cotovelo) Trata-se de uma expressão idiomática de difícil e controvertida tradução…”
- Verbo forte, utilizado para demonstrar a intensidade com que os fariseus mantinham e observavam suas tradições”.
- (Parédosan) – transmitir (ensino oral ou tradição escrita); dar, entregar, confiar (algo à alguém). Verbo indicativo Ariosto ativo, composto pela proposição para – junto a; para; em) + verbo dídomi – dar, entregar, conceder). Lucas utiliza um termo técnico para destacar que sua obra se embasa na tradição, oral e escrita, da comunidade cristã…”
- Lit. “praça, mercado (local de venda de produtos); fórum; rua larga(local de afluência de pessoas)”.
- Lit. “lavar, imergir, mergulhar. Posteriormente, a Igreja conferiu ao termo uma nuance técnica e teológica para expressar o sacramento do batismo”.
- Lit. “batismo, lavação, imersão, mergulho”. Referência ao ritual de purificação dos objetos, semelhante ao que era feito com as mãos, cujo nome em grego curiosamente é batismo. Posteriormente, a Igreja conferiu ao termo uma nuance técnica e teológica para expressar um sacramento, mas deixou aplicar à purificação de objetos o mesmo vocábulo, contrariamente ao texto do NT, que aplica indistintamente a mesma expressão para imersão ritual, tanto de objetos quanto de pessoas”.
Alguns outros exemplos da tradução moderna, isenta, neutra e acadêmica dos espíritas:
“…misericórdia quero e não oferenda” – Mt. 9.13.
“…eis que estou convosco todos os dias, até a consumação da era” – Mt. 28.20.
“Respondeu Jesus que o primeiro é: Ouve, Israel! O Senhor {é} nosso Deus, o Senhor é único” – Mc. 12,29.
“e o verbo se fez carne e tabernaculou entre nós…” – Jo. 1.14.
“…o que está no seio do Pai, Deus Unigênito este o explicou” – (Jo. 1.18).
“…que disseste, através do Espírito Santo, pela boca de Davi, nosso pai, teu filho: por que razão nações relincharam, e povos se ocuparam com coisas vãs?” – At. 4.25.
NA VERDADE, NA VERDADE = AMÉM?
A expressão “Em verdade, em verdade” ou “Na verdade, na verdade”, usada por Jesus para enfatizar seus ensinos, em todas as passagens, foi traduzida no espiritismo por “amém”. Ilustramos:
“Disse-lhes Jesus: Amém, amém, vos digo: antes {dele} se tornar Abraão eu sou” (Jo. 8.58).
Em todos os textos onde aparece “amém” há uma nota de rodapé que explica:
“Trata-se de um adjetivo verbal (ser firme, ser confiável). O vocábulo é frequentemente utilizado de forma idiomática (partícula adverbial) para expressar asserção, concordância, confirmação (realmente, verdadeiramente, de fato, certamente, isso mesmo, que assim seja). Ao redigirem o NT os evangelistas mantiveram a palavra no original, fazendo apenas a transliteração para o grego, razão pela qual também optamos por mantê-la intacta, sem tradução”.
A explicação do tradutor espírita contraria a gramática da língua portuguesa. Três dos dicionários impressos mais consultados Aurélio, Michaellis e Houaiss informam que amém é uma interjeição, quando usada no sentido de “expressar uma reiteração formal (p.ex., nas demonstrações de fé), ou uma aprovação a algo feito ou dito, ou um desejo que determinada coisa ocorra”. Neste caso a palavra amém é colocada no final da frase e não no início. O amém se reporta a algo que já foi dito, e não ao que será dito adiante.
Há casos em que amém pode ser um substantivo, quando significar “concordância incondicional; aprovação, consentimento, anuência. Ex.: “seu amém à proposta resolveu nossos problemas” ou “a mulher deu seu amém ao marido”.
CATRE É A CAMA DOS POBRES?
“Percorreram toda aquela região e começaram a transportar, sobre os catres1, os que estavam mal, para onde ouviam que ele esta{va}” – Marcos 6.55.
“1. Palavra de origem macedônica, traduzida para o latim como “grabatus”. Trata-se de um leito rústico pobre, uma espécie de colchão dobrável para viagem bastante rústico. A palavra “catre” talvez reflita melhor a rusticidade e pobreza desse leito portátil usado pelas pessoas muito pobres da Palestina”.
“Eis que uns varões, carregando um homem sobre um leito, o qual estava paralisado2, procuravam leva-lo para dentro e coloca-lo diante dele. E, não encontrando um modo de levá-lo para dentro por causa da turba, subindo ao terraço3, desceram-no com o catre4, por entre as telhas5, para o meio diante de Jesus” – Lucas 5.18-19.
“2. Trata-se de terminologia médica. Lucas, seguindo o padrão literário dos escritos médicos da época, utilizava o verbo “paralisar, paralisado” para se referir à doença, evitando o uso do adjetivo “paralítico”, que reflete o uso popular do termo”.
“3. Lit. “teto, cobertura de uma casa, telhado”. Na Palestina, o teto era formado, ao que tudo indica, por vigas e pranchas de madeira, por cima das quais eram colocados ramos, galhos e esteiras, cobertos por terra batida, argila”.
“4. Lit. “diminutivo de leito, maca, catre”.
“5. Lit. “argila, barro de oleiro; vaso, cerâmica; telha, telhado, ladrilho”.
O tradutor espírita optou por usar a palavra turba no lugar de multidão, em todos os textos onde aparece, mas essas palavras não são exatamente sinônimas. A palavra turba traz embutida a ideia de desordem, tumulto e confusão de acordo com os dicionários. Já a palavra multidão é simplesmente um ajuntamento de pessoas. Essa troca de palavras é totalmente inadequada, pois transmite a ideia de Jesus como um líder de arruaceiros.
A RECUSA DE TRADUZIR A PALAVRA “DEMÔNIO”
“Convocando seus doze discípulos, deu-lhes autoridade {sobre} 2espíritos impuros, a fim de expulsá-los e curar toda doença e toda enfermidade” – Mateus 10.1.
2- Trata-se dos obsessores, espíritos sem esclarecimento, magoados ou malévolos, chamado no NT de “espíritos impuros”, “daimon”, razão pela qual julgamos inconveniente a tradução dessas expressões pelo vocábulo “demônio” – grifo nosso.
“Ele estava expulsando um daimon1 {que era mudo}. E sucedeu que, ao sair o daimon, o mudo falou, e as turbas maravilharam-se. Mas alguns dentre eles disseram: em nome de Beelzebul, chefe dos daimones4, expulsa os daimones” – Lucas 11.14-15.
1- Lit. “deus pagão, divindade, gênio, espírito, mau espírito, demônio”.
INFORMAÇÕES IRRESPONSÁVEIS SEM IDENTIFICAÇÃO DA FONTE
Na estrada de Damasco, Paulo pode ter tido uma crise epilética?
“E sucedeu que, enquanto eu ia, estando próximo de Damasco, repentinamente4, por volta do meio-dia brilhou ao meu redor uma grande luz do céu” – At. 22.6.
- Lit. “repentinamente, inesperadamente”. Alguns autores sugerem que esse vocábulo era utilizado na literatura médica da época para crises repentinas de afonia, espasmos, epilepsia.
CONCLUSÃO
A transcrição destes poucos trechos das traduções e análises espíritas da Bíblia Sagrada nem de longe abalam os cristãos, ao contrário, fortalecem mais ainda nossa convicção de ser ela a Palavra de Deus fiel e verdadeira. Se pensarmos que o objetivo dessas pessoas era inserir suas doutrinas de demônios positivamente nas Sagradas Escrituras, não pouparam esforços e fizeram uso de várias artimanhas para alcançar seus objetivos, podemos nos alegrar diante do sofrível resultado final alcançado por eles.
No estudo “Por Que Expor os Erros das Seitas”, o Pr. Natanael Rinaldi fez um comentário que se encaixa de modo perfeito como conclusão deste nosso trabalho, por isso tomamos a liberdade de finalizá-lo com a fala do nosso saudoso pastor. Diz ele: “A Bíblia nos manda “batalhar arduamente pela fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd. 3). Para batalhar arduamente pela fé, é necessário às vezes corrigir e repreender (II Tm. 4.2). É preciso ocasionalmente repreender os homens severamente (Tt. 1.13). É preciso também debater e poderosamente contradizer falsos professores em público (At. 9.29 e 18.28). O diabo, é claro, prefere que os homens religiosos mantenham suas bocas fechadas enquanto ele se veste de cordeiro (Mt. 7.15), disfarçando-se como um anjo de luz (IICo. 11.13-15) e infiltrando-se despercebido (Jd. 4), introduzindo dissimuladamente heresias destruidoras (IIPe. 2.1) para destruir a fé do homem (Ef. 6.10-17; IICo. 10.3-5). A batalha nunca pode estar ganha por entregarmos nossas armas ou por nos comprometermos com os erros. O diabo é audacioso, ele raramente aparece com dois chifres e um rabo. Ele meramente distorce o evangelho (Gl. 1.6-9; IIPe. 3.15-16) e se mascara como um verdadeiro cristão. Então, quando os homens tomam a espada do Espírito (Ef. 6.17) e começam a se opor contra o erro, ele chora: “Nós precisamos de mais amor e paciência; nós apenas vemos as coisas de maneira diferente, mas todos nós servimos ao mesmo Deus e estamos indo para o mesmo lugar”.
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Bibliografia:
Analisando as Traduções da Bíblia, Severino Celestino da Silva, Editora Ideia, 11ª edição, 2014.
Evidência que Exige um Veredito, Vol. I, Josh McDowell, Editora Candeia, 3ª edição, 1996.
O Novo Testamento, Haroldo Dutra Dias, FEB, 1ª edição, 2013.
Resposta às Seitas, Norman L. Geisler e Ron Rhodes, CPAD, 1ª edição, 2000.
Visão Espírita da Bíblia, Herculano Pires, http://www.alexandracaracol.com/Ficheiros/ visao_espirita_da_biblia.pdf – site visitado em 01/10/2017.
[1] Resposta às Seitas, Norman L. Geisler e Ron Rhodes, CPAD, 1ª edição, 2000, p.208-209.
[2] Evidência que Exige um Veredito, Vol. I, Josh McDowell, Editora Candeia, 3ª edição, 1996, p.49ss.
Autora: Maria Candida Alves