Tradição Católica II

E a Tradição, é Confiável?

O Catolicismo Romano afirma se embasar não somente na Bíblia, mas também na Tradição supostamente herdada dos apóstolos. Contudo, não existe absolutamente tradição católica alguma que possa ser rastreada até os apóstolos. Nenhuma! As tradições católicas apareceram muito depois daquela época. E a idéia da infalibilidade foi uma das últimas tradições de todas elas. O próprio conceito de pronunciamentos ex-catedra tão central na infalibilidade não era sequer imaginado antes do século 16.

Além do mais, admite-se que a Tradição tenha atravessado muitas mudanças. O Vaticano II reconhece:

“A Tradição que vem dos apóstolos progride… há um crescimento em lampejos de realidades e palavras que são distribuídas”.

Ele prossegue: “A Sagrada Escritura é o discurso de Deus com algo escondido na escrita sob a inspiração do Espírito Santo. E a Tradição transmite em sua inteireza a Palavra de Deus que foi confiada aos apóstolos por Cristo o Senhor e pelo Espírito Santo… daí tanto a Escritura como a Tradição devem ser aceitas e honradas como o mesmo sentimentos de devoção e reverência.

Está Claro portanto, que no supremamente sábio arranjo de Deus, a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo unidos e associados que um deles não pode permanecer sem os outros. Trabalhando em conjunto, cada um a seu próprio modo, sob a ação do Espírito Santo, contribuem todos efetivamente para a salvação das almas.”

Sérios problemas com esta visão são imediatamente aparentes: a Bíblia não é suficiente, não pode ficar sozinha e não contém toda a verdade de que precisamos para a salvação, mas deve ser suplementada pela Tradição e interpretada pelo “Magistério da Igreja”.

Nem a Igreja Católica Romana com o seu Magistério nem a sua Tradição existiam durante os 2.000 anos dos tempos do Velho Testamento e obviamente a Palavra de Deus que era (e continua hoje) maior em volume do que o Novo Testamento não necessitava de outra. Vimos agora como esta idéia católica de que a Bíblia é insuficiente contradiz inteiramente o que a própria Bíblia diz. Também, o problema não termina aí.

Sem uma fita gravada do que foi dito obviamente seria impossível rastrear qualquer tradição oral 10 e muito menos 1.900 anos até os apóstolos. As declarações orais não apresentam registro permanente não pode ser verificado. O problema não seria eliminado, mesmo que alguém do 2º século, apenas 50 ou 100 anos depois dos apóstolos, tivesse escrito o que ela afirmava ter sido o ensino oral, pois ainda permaneceria um hiato de transmissão oral sem verificação. É um fato simples que a Igreja Católica Romana, por tudo que fala sobre a Tradição Apostólica, não pode provar que uma única de suas tradições venha mesmo dos apóstolos!

Cristo citou as Escrituras e disse que tudo deve se cumprir (Marcos 14:49; Lucas 24:44). Ele jamais citou a tradição ou sugeriu que ela se cumpriria – estranha omissão se a tradição fosse parte essencial da Escritura. Paulo nos assegura que “Toda Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16 conf. 2 Pedro 1:20,21). Não foi dada tal segurança à tradição; de fato o oposto é que está implícito. Paulo diz a Timóteo para “pregar a Palavra….corrigir, repreender e exortar com toda a longanimidade e doutrina (2 Timóteo 4:2). Ele nunca disse para pregar a tradição – novamente uma estranha omissão se a tradição fosse essencial ou mesmo válida.

Não há uma tradição do Velho Testamento judaico, que existiu desde Moisés, ou Davi ou Isaías e que devesse ser observada em adição à Palavra de Deus. Cristo não falou nada bem da tradição judaica, mas até denunciou-a como tendo pervertido e tornado sem efeito a Palavra de Deus (Mateus 15:1-9). Ele certamente não exigiria que a Igreja dependesse da tradição tão facilmente pervertida, mas deu a ela como deu a Israel toda a instrução de que ele carecia por escrito.

Referências Escriturísticas à Tradição

As palavras “tradição ou tradições” ocorrem 14 vezes no Novo Testamento. Oito referências (Mateus 15:2, 3, 6; Marcos 7: 3,5,8,9,13) são declarações de Cristo nos evangelhos e todas elas depreciativas das tradições judaicas como acima observado. Paulo faz cinco referências, duas das quais claramente depreciativas (Colossenses 2:8; Gálatas 1:14). A única referência de Pedro (1 Pedro 1:18) é também depreciativas. Isso deixa três referências favoráveis de Paulo: “De fato, eu vos louvo, em tudo, porque vos lembrais de mim e retendes as tradições assim como vo-las entreguei” (1 Coríntios 11:2); “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra seja por epístola nossa. Nós vos ordenamos… e não segundo a tradição que de nós recebestes” (2 Tessalonicenses 2:15; 3:6).

Sobre estes três últimos versículos repousa todo o edifício da Tradição do Catolicismo. Mesmo assim, nem um destes versos se refere à Tradição Católica Romana conforme ela tem se desenvolvido através dos séculos, desde os dias dos apóstolos. Paulo obviamente estava falando do que ele ou outros apóstolos já haviam ensinado, pessoalmente. Ele não estava se referindo a tradições que poderiam se desenvolver sob a influência de líderes desconhecidos da Igreja, em algum tempo futuro. Portanto a não ser que possa ser demonstrado que a Tradição atual da Igreja Católica Romana foi primeiramente ensinada pelos apóstolos e permaneceu pura até hoje, nenhum suporte para ela pode ser encontrado nesses versos. E já mostramos que é impossível rastrear qualquer tradição atual de volta até os apóstolos.

Além disso, as Tradições Católicas Romanas contradizem o claro ensino da Escritura e desse modo jamais poderiam ter sido ensinadas pelos apóstolos. Existem mesmo contradições dentro das próprias Tradições Católicas. Em seu “Sobre o Estudo da Sagrada Escritura”, o Papa Leão XIII (1823-1829) escreveu que “os Pais da Igreja “expressavam as idéias do seu próprio tempo e assim fazia declarações que nestes dias têm sido abandonadas como incorretas”. Já vimos, também, que os falsos decretos foram manufaturados e que eles se tornaram a base de muitas tradições e mesmo do Cânon de Lei, que permanecem até o presente.Tradição Oral Um Expediente Temporário

Enquanto o Novo Testamento estava sendo escrito houve obviamente um tempo em que a Igreja Primitiva confiava nos ensinos orais dos apóstolos. Temos muitas razões para crer, contudo, que qualquer que fosse o ensino o Espírito Santo inspirava o que pretendia para que todos os crentes através da história tivessem tudo por escrito. Isto é verdade pelas razões já delineadas:

1. Não havia tradição oral entregue através do Velho Testamento dos tempos de Moisés, Davi Samuel e outros para Israel, então por que teria de haver para a Igreja?

2. Cristo condenou toda a tradição oral desenvolvida pelos rabinos como tendo pervertido a Palavra escrita de Deus, então por que desejaria Ele que a Igreja tivesse a mesma influência corruptora?

3. É impossível rastrear a tradição até sua fonte ou ter certeza da sua exatidão.

4. Os ensinos orais devem inevitavelmente ser corrompidos no processo de transmissão de uma geração para outra.

5. Nem tudo que Paulo e os demais apóstolos disseram foi a nível de Escritura e destinado aos crentes de todas as épocas e única maneira correta de fazer a distinção seria colocar os ensinos permanentes por escrito.

Que os ensinos orais dos apóstolos, destinados a todos os tempos, foram colocados por escrito, é indicado pelos próprios apóstolos. Temos tal evidência nos escritos de Paulo. Em 1 Coríntios 11:23 ele declara estar apresentando por escrito o que já havia antes ensinado oralmente: “Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei”. Na 2 Tessalonicenses 2: 5, Paulo declara a mesma coisa “Não vos recordais de que, ainda convosco, eu costumava dizer-vos estas coisas?” Ele estava dando a eles e (a nós), por escrito, o que ele antes tinha dito oralmente e ao mesmo tempo estava elaborando o assunto e fornecendo mais compreensão. A mesma coisa é verdadeira da tradição à qual ele se refere na 2 Tessalonicenses 3:6 . Novamente ele frisa: “Quando ainda estava convosco, vos ordenamos (oralmente) isto…”,(verso 10). Pedro diz o mesmo: ” Mas de minha parte esforçar-me-ei diligentemente por fazer que, a todo tempo mesmo depois da minha partida, conserveis lembrança de tudo” ( 2 Pedro 1:15). Em outras palavras, ele colocou por escrito o que antes havia lhes ensinado oralmente para que não o esquecessem ou corrompessem após sua morte.

Paulo estava muito preocupado com a falsa doutrina. Muitos de seus escritos foram para corrigir heresia. Ele admoestava os anciãos de Éfeso: “Eu sei que depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles”(Atos 20: 29,30). Não seria razoável, portanto, imaginar que Paulo não iria colocar por escrito tudo que o Espírito Santo lhe tinha inspirado a ensinar. Se os homens até mesmo pervertem a verdade escrita, quanto mais fácil é perverter o que era oral, pois as memórias falham e as novas gerações por vir jamais ouviriam o ensino original.

E a Tradição Escrita?

A tradição escrita no Catolicismo provém das obras dos chamados Pais da Igreja. Infelizmente uma grande quantidade de fraude tornou-se a fonte das idéias que permanecem como dogmas estabelecidos atualmente, tais como as declarações atribuídas nos escritos de Isidoro ao papa Júlio, mais ou menos em 388, os quais dizem que “a Igreja de Roma, por um singular privilégio, tem o direito de abrir e fechar os portões do céu a quem ela quiser”. E que os papas herdaram “a inocência e santidade de Pedro”, e portanto são santos e infalíveis e toda a cristandade deve tremer diante deles. Tais declarações são claramente anti-bíblicas.

De seus exaustivos estudos dos documentos históricos originais Von Dollinger nos informa:
Quase no final do quinto e início do sexto século, o processo de falsificações e ficções no interesse de Roma foi aí ativamente executado. Então começou a compilação de atos espúrios dos mártires romanos a qual continuou por alguns séculos e com a crítica moderna mesmo Roma foi obrigada a desistir…

Enquanto a tendência de forjar documentos era tão forte em Roma, é notável que durante mil anos não fora feita tentativa alguma ali para formar uma coleção de cânones… mais de vinte sínodos tinham sido mantidos em Roma desde 313, mas não há registros deles a serem localizados.

A tradição espúria foi manufaturada e eventualmente tornou-se a base de quase todo o sistema papal e muito da Lei Canônica. Foram os falsos decretos, revisados e elaborados século após século, que formularam o Catolicismo Romano conforme ele é hoje. Von Dollinger nos informa ainda:

Gregório VII… se considerava não apenas reformador da Igreja, mas também o fundador divinamente comissionado para uma completa nova ordem…
Gregório colocou ao redor dele por etapas os homens exatos para elaborar o sistema de lei da Igreja… Anselmo pode ser chamado o fundador do novo sistema gregoriano de lei da Igreja, primeiro por extrair e colocar em forma de obra cada coisa das falsificações de Isidoro a serviço do absolutismo papal depois por alterar a lei da Igreja através de uma tecitura de invenções e interpolações frescas…

Clara e cautelosamente quando os partidários de Gregório iam trabalhar, eles entravam no mundo de sonhos e ilusões sobre o passado e sobre os países remotos. Não podiam eles escapar da imperativa necessidade de demonstrar que o seu novo sistema teria sido a prática constante da Igreja, sendo difícil, senão impossível, distinguir quando a ilusão involuntária emergia no engano consciente. Quaisquer exigências presentes eram selecionadas das história míticas ao seu comando, rápida e descuidadamente em seguidas invenções frescos eram adicionadas e logo cada afirmação de Roma era apresentada com tendo um legítimo fundamento em existência nos (fraudulentos) registros e decretos.Os decretos eram usados para construir fictícias expressões dos papas (as quais em seguida se tornavam leis) e para colocar a Tradição (e falsa tradição a essa ) no mesmo nível da Escritura. Alem do mais, ao contrário da Bíblia, o que se encontra prontamente disponível num volume, na Tradição ocupa muitos volumes dos supostos escritos dos Pais da Igreja e decretos dos concílios. Volumosa e inacessível à pessoa comum. Ela consiste de: pelo menos 35 volumes dos Pais da Igreja, em grego e latim, usualmente terminando com Gregório I em 694 d.C.; outros 35 volumes de decretos dos concílios da Igreja; cerca de 25 volumes das expressões e decretos dos papas; cerca de 55 volumes das supostas expressões e feitos dos santos, ao todo unas 150 volumes ao todo.

Richard Bennet, ex-padre católico, explica mais:

O Bispo ou Sacerdote Católico Romano comum, sem falar no Católico comum jamais pode encontrar toda a sua tradição ou ler a mesma, uma vez que ela está guardada em muitas línguas extintas e estrangeiras. Mesmo que todas fossem disponíveis em tradução, uma pessoa jamais poderia dominar os 150 volumes de tal modo como se fosse um só volume, como a Bíblia. Declarar, portanto, que (a Bíblia mais) a Tradição Sagrada formam um único depósito de escritura é um absurdo.

Claramente, por seu compacto volume, a “Sagrada Tradição Católica” sobrepuja a Bíblia em 150 x 1. Então o Católico comum não tem acesso à maior parte do que a Igreja chama “a Palavra de Deus”. Além disso, ao contrário da Bíblia (que muito dela contradiz), a tradição escrita e os dogmas oficiais da Igreja têm mudado freqüentemente, até mesmo propondo idéias contraditórias, em tópicos importante como o do aborto. A maioria dos Católicos não sabe que a sua Igreja e os papas infalíveis têm mudado de idéia várias vezes neste tópico. Impraticável sob a perspectiva atual.

Do século V em diante a visão de Aristóteles de que o embrião vai através de etapas do vegetal ao animal e ao espiritual era aceita. Apenas o último estágio era humano. Desse modo Gregório V (1045-1046) disse: “Não é assassino quem comete aborto antes da alma penetrar no corpo”. Gregório XIII (1572-1585) disse: que não era homicídio matar um embrião de menos de 40 dias, visto como ele ainda não era humano. Seu sucessor Sixto V, o que rescreveu a Bíblia discordava. Sua Bula de 1588 considerou todos os abortos por qualquer motivo homicidas e causa de excomunhão. Seu sucessor Gregório XIV reverteu este decreto. Em 1621, o Vaticano editou uma nova doutrina pastoral permitindo o aborto até os quarenta dias. Lá pelo século XVIII, o maior teólogo moral da Igreja, Santo Afonso de Ligório, ainda negava que a alma fosse infusa na concepção e permitia flexibilidade nesse assunto e principalmente quando a mãe do feto estava em perigo. Finalmente em 1869 Pio IX declarou que a destruição de qualquer embrião era aborto e merecia excomunhão, visão esta que permanece ainda hoje.

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