Outro ensinamento controvertido do movimento é a afirmação de que todos são líderes. Baseados neste raciocínio, muitas pessoas são pressionadas para liderar uma célula e na maioria das vezes sem o devido preparo. O resultado nem sempre é o melhor, pois esta falta de conhecimento e chamada genuína prejudica o verdadeiro discipulado.
Como estamos em uma era de apressados, o G-12 não propõe nada diferente e sai em busca de uma fórmula instantânea para o crescimento da igreja.
Antes de prosseguir, deixe-me contar um caso. Enquanto construía minha casa, contratei um rapaz para ser o pedreiro. Ele não tinha a devida experiência, mas arrisquei experimentar seus serviços. O resultado não foi tão bom quanto eu esperava, pois foi mais lento do que o normal.
Enquanto um profissional experiente gastaria, por exemplo, um mês para assentar os pisos em toda a casa, ele demorou dois meses e a economia que eu esperava não foi alcançada.
Claro que isso não me agradou, pois quando contratamos um serviço, esperamos que este seja realizado num prazo aceitável e com a qualidade devida.
O que isso tem a ver com o G-12? Líderes sem a devida preparação acabam levando ensinos controvertidos em suas células. Pude experimentar essa infelicidade aqui e o pior é ver que muitas pessoas que vão chegando acham que estão se convertendo a Jesus, quando na verdade estão se convencendo de Jesus.
A resposta de muitos está na ponta da língua: “não julgueis para não ser julgado”. Embora dedique um capítulo para esgotar esse assunto, vale comentar que conhecemos a árvore pelos frutos.
A mudança de quem aceita a Cristo começa por dentro, é uma transformação de caráter e não uma mera paixão, como muitos têm vivido. É mais do que dançar na igreja, mais do que frequentar uma congregação. Nascer de novo é experimentar de uma nova natureza, um novo caráter, ser uma nova criatura.
Um líder de célula é semelhante a um pastor. É ele quem aconselha e cuida daquele mini-rebanho. Você se consultaria com um aluno do terceiro período de medicina? Que tal realizar uma cirurgia com ele?
Há alguns meses, perdi um ente querido. Ele era marido da tia de minha esposa. Era um bom homem e tínhamos um ótimo relacionamento.
Em sua cidade não tinha hospital, apenas um posto de saúde que encaminhava os pacientes para um médico especialista e o responsável pelo encaminhamento era um acadêmico do curso de medicina.
Esse parente estava se sentindo mal por algumas semanas. Tossia muito e estava com dificuldades para respirar. Foi até o posto e o acadêmico disse que se tratava de um simples resfriado.
O problema é que mesmo depois de tomar os medicamentos nada melhorava. Ele foi até um hospital alguns dias depois e foi detectado que ele estava com pneumonia. Internaram rapidamente, mas infelizmente ele não resistiu e faleceu no mesmo dia em que o internaram.
A superficialidade desses líderes de célula é semelhante. Para quem acha que é exagero, até mesmo Paul Yonggi Cho comenta dessas dificuldades em seus grupos familiares, quando tinha líderes sem a devida experiência:
Os líderes de células jamais haviam sido capacitados, e o conhecimento que tinham sobre as Escrituras e as doutrinas teológicas era muito superficial. E, por causa disso, no caso de um líder, ensinavam-se doutrinas errôneas como o triteísmo, e explicava-se que o Filho e o Espírito Santo eram deuses inferiores ao Pai. Outros argumentavam que a evidência da salvação era unicamente falar em línguas (…) Mas por causa da falta de capacitação, algumas doutrinas errôneas eram ensinadas, fora de controle”.[1]
De qualquer forma, a questão de que todos são líderes vai de encontro (não ao encontro) à doutrina bíblica. Paulo escreve aos coríntios e lhes ensina que, “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo” (1 Co 12.12).
Ou seja, da mesma forma como em um corpo há vários membros e cada um deles tem sua função, no Corpo de Cristo, cada qual tem sua função.
Paulo prossegue dizendo: “Ora, vós sois corpo de Cristo, e individualmente seus membros. E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos mestres? são todos operadores de milagres? Todos têm dons de curar? falam todos em línguas? interpretam todos?” (1 Co 12.27-30).
O discurso de Paulo é claro: há diversidade de ministérios. Como então, cobrar de alguém que exerça um ministério para o qual não foi chamado?
[1] CHO, Paul Yonggi. 50 anos de Esperança, O Milagre da Igreja em Células. Vida. São Paulo, 2009, p. 89,90.
Extraído do livro “A Verdade Sobre o G12″, Couto