TJs: Textos mal interpretados

TJ DSC04980

Os textos apresentados a seguir são bastante usados pelos antitrinitários, entre eles as Testemunhas de Jeová (TJs), para apoiar a ideia de que Jesus não era Deus, pois declarou que o Pai era maior do que ele (João 14.28); que acerca do dia e hora de sua vinda, somente o Pai sabe (Marcos 13.32); além disso, dizem que se ele orava ao Pai (João 17.1), não poderia ser o próprio Pai (esta sentença, aliás, os trinitários jamais afirmaram). Esses equívocos decorrem do fato de desacreditarem de outra grande “riqueza insondável do Cristo” (Efésios 3.8), ou seja, a sua Encarnação: o Verbo, que era Deus, “se fez carne e habitou entre nós” (João 1.14). A doutrina da Encarnação é tão complexa quanto à doutrina da Trindade. Mais uma vez vale ressaltar – o ser finito jamais poderá compreender com perfeição o Ser Infinito, mesmo quando este assume nossa finitude. Ao assumir a natureza humana, tornando-se “Filho do Homem“, Jesus Cristo assumiu a posição de “servo” (Filipenses 2.6 e 7). Tornou-se “menor” que os anjos, sem se tornar inferior a eles (Hebreus 2.9). Assim, sua humanidade, como a nossa, era limitada; mas, por outro lado, ele ainda era 100% Deus, ou seja, ilimitado. E aí está o grande problema: como compreender que numa única pessoa pudesse haver duas naturezas opostas naturalmente entre si? Ao mesmo tempo em que dizia “o Pai é maior do que eu” (João 14.28), também afirmava “Eu o Pai somos um” (João 10.30). Como resolver essa questão? A coisa não é tão fácil assim. Se alguém achar a resposta a essa pergunta, também terá descoberto como Deus veio a existir (aliás, ele nunca veio a existir, pois ele foi, é e sempre será) e explicará satisfatoriamente a Triunidade Divina. O que precisamos é recorrer ao testemunho das Escrituras para ver o que ela tem a nos dizer sobre isso, mesmo que indiretamente. Uma passagem reveladora é a de Mateus 8.23-27. Durante uma tempestade, o texto relata que Jesus dormia, mas, Deus não dorme. Desesperados, os discípulos acordaram-no, clamando por socorro. Nesse momento, Jesus acorda, repreende o vento e o mar, e ambos se aquietam. Ora, o homem não tem esse poder. Segundo os Salmos 65.5-7; 89.9 e 107.29, somente Deus, como criador, tem poder sobre as forças da natureza, e Jesus revelou tal poder (Hebreus 1.3). Percebe-se, portanto, nessa Escritura, a plena humanidade e divindade de Jesus Cristo. Ele tornou-se humano, sem deixar de ser Deus. Era Deus, assim como o Pai e o Espírito Santo, mas também era verdadeiro homem. Alguns objetam afirmando que Moisés abriu o Mar Vermelho, e nem por isso era Deus (Êxodo 14). O mesmo se deu na travessia do rio Jordão, sob o comando de Josué (Josué 3). Mas, quem foi que disse que Moisés abriu o Mar Vermelho? Segundo o livro de Êxodo, Deus mandou Moisés erguer um bastão e estendê-lo sobre o mar (14.16), e no versículo 21 diz que foi o próprio Deus, por meio dum forte vento, que fez o mar retroceder. O Salmo 114 poeticamente mostra que os acontecimentos ocorridos em ambos os lugares, foram promovidos pelo Senhor do vento e do mar: Deus. Já nos eventos cristológicos é dito que Jesus fez: Jesus perdoou pecados – Jesus recebeu adoração – Enfim, Jesus é Deus!

1. João 14.28 — Quando Jesus disse “o Pai é maior do que eu” subentende-se a sua posição de servo, de humilhação à qual ele se submeteu voluntariamente. Nada tendo haver com sua essência, sua natureza divina (Filipenses 2.6-8; Atos 8.33; 2 Coríntios 8.9). Nessa posição, segundo a Bíblia, Jesus também era menor que os anjos (Hebreus 2.6-9), pois em relação aos humanos, os anjos são “maiores em força e poder” (IIPedro 2.11). Entretanto, nem mesmo as TJs acreditam que Jesus seja inferior aos anjos. Então Jesus podia dizer — sem prejuízo para sua natureza divina — que o Pai era maior do que ele.

2. Marcos 13.32 — Se em Cristo estão “ocultos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Colossenses 2.3), por que ele afirmou que acerca daquele dia e daquela hora ele não sabia, mas unicamente o Pai? Essa é uma pergunta de difícil resposta; contudo, convém lembrar-se do seguinte: Jesus disse que os anjos também não sabiam; sendo assim, o que foi feito menor também não saberia (Hebreus 2.9). Como homem Jesus não tinha sabedoria ilimitada. Aprendeu como qualquer um de nós (Lucas 2.52). Não cabe ao homem saber os tempos e as épocas que Deus determinou sob sua jurisdição (Atos 1.7).

3. João 17.1 — Acompanhado desse texto, normalmente vem à seguinte observação dos antitrinitários: Visto que Jesus orou a Deus, pedindo que fosse feita a vontade de Deus, não a sua, os dois não poderiam ser a mesma pessoa; e se Jesus fosse o Deus Todo-poderoso, ele não oraria a si mesmo.

Para inicio de conversa, esse argumento revela certa ignorância do que seja a doutrina da Trindade. Não acreditamos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam a mesma pessoa, mas, sim, o mesmo Deus, ou seja, possuem a mesma natureza. O termo “Deus” pode ser aplicado individualmente a cada uma das Pessoas da Trindade (1ª Coríntios 8.5; 1ª João 5.20; Atos 5.3, 4), como pode ser usado como coletivo para abarcar as Três Pessoas Divinas, como em Gênesis 1.1. Assim, não sendo a mesma “pessoa” fica claro que não há nenhum impedimento para que o Filho dialogasse com o Pai. Na Encarnação Jesus participou das experiências humanas, menos o pecado (2ª Pedro 2.22). Jesus, como todo e qualquer humano, tinha necessidades espirituais. Ele precisa ter contato com o Pai (Mateus 4.4; João 4.34). Portanto, Jesus dialogou com o Pai, sem deixar de participar da mesma natureza divina, pois ele mesmo disse: “Eu o Pai somos um” (João 10.30). A objeção comum à frase “Eu e o Pai somos um” é a de que isso não significa que Jesus tenha a mesma natureza que o Pai, e de que ambos sejam de fato um. Argumentam que Jesus apenas frisava sua unidade de propósito e pensamento com o Pai. A base bíblica apresentada é a de João 17.11, 21, 22, onde Jesus em oração pede que todos os seus discípulos sejam um, assim como ele e o Pai são um. Arvoram que isso não significa que os discípulos serão a mesma pessoa ou que possuirão a natureza divina. Enfatizamos que a ideia de serem os dois, Pai e Filho, a mesma pessoa, jamais estará em questão. Quanto à ideia de unidade de propósito e pensamento, dizemos que esta está presente em ambas as passagens. Todavia, segundo o contexto de João 10.30, há muito mais incluído do que simplesmente “unidade de propósito e pensamento“. Acompanhe os seguintes raciocínios…

A) – Nesse capítulo, Jesus fala diversas vezes de suas ovelhas. No versículo 28 ele diz que dá a essas ovelhas a “vida eterna” e que elas jamais seriam destruídas (ou pereceriam). Pergunta-se: Poderia uma criatura, por mais importante que fosse conceder a outras criaturas a vida eterna e a indestrutibilidade? Não é somente Deus, o Eterno, a fonte da vida? (Salmo 36.9; Atos 17.27, 28). Contudo, Jesus disse de si mesmo: “Eu sou a ressurreição e a vida” (João 11.25). Disse mais: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14.6). Seria pedantismo demais para um arcanjo, uma criatura, mesmo que fosse “o segundo maior personagem do universo“, afirmar tudo isso. Entretanto, não o seria para aquele que, junto com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina para sempre. Portanto, pelos versículos precedentes a João 10.30, fica claro que, se o Pai e o Filho são fontes da vida, então Jesus foi além da “unidade de propósito e pensamento” ao dizer “Eu e o Pai somos um“. É bom lembrar que, por mais que nos esforcemos, jamais conseguiremos ser a ressurreição, a verdade e a vida. Assim, devemos nos contentar com nossa “unidade de propósito e pensamento” para com Deus. Já Jesus Cristo, além do que temos (e num grau mais elevado e incomparável), também possui “toda a plenitude da Divindade” (Colossenses 2.9).

B) – Diante da frase “Eu e o Pai somos um“, a reação dos judeus foi imediata: acusaram a Jesus de blasfêmia, pois, sendo homem, fazia-se Deus a si mesmo (João 10.33). Eles entenderam exatamente o que Jesus queria dizer com aquele “um“. Não faria sentido acusá-lo de blasfêmia pelo simples fato de expressar com a palavra “um” uma “unidade de propósito e pensamento“. Na Tradução do Novo Mundo, João 10.33 é vertido assim: “Nós te apedrejamos, não por uma obra excelente, mas por blasfêmia, sim, porque tu, embora seja um homem, te fazes um deus”. A frase mal traduzida – “te fazes um deus” tenta suavizar a força das palavras de Jesus, que evidentemente igualou-se ao Pai. Ademais, a acusação de blasfêmia só faria sentido para os judeus se Jesus se fizesse igual a Deus, o Pai, e não a “um deus“, termo mais do que genérico nessa péssima tradução. É importante ressaltar que numa outra ocasião Jesus falou aos judeus dizendo: “Meu Pai tem estado trabalhando até agora e eu estou trabalhando” (João 5.17 – TNM). Diante disso, alguns dos judeus queriam matá-lo, e uma das razões apresentadas foi a de que ele chamava Deus de Pai, “fazendo-se igual a Deus” (João 5.18 – TNM). Percebe-se, portanto, que em ambas as passagens (João 10.29-33 e 5.17, 18) as declarações de Jesus sempre são entendidas como afirmações de igualdade com o Pai, ou seja, ele afirma fazer aquilo do qual somente o Ser Supremo é capaz (compare com Marcos 2.5-11). Assim, se Jesus não fosse tudo aquilo que afirmou ser, direta ou indiretamente, não passaria de um impostor, mentiroso e megalomaníaco.

Sair da versão mobile