A letra mata, mas o Espírito dá vida. — 2 Coríntios 3:6, New Revised Standard Version.
O que vai agora ser discutido não implica de maneira nenhuma que o uso do sangue não envolva um sério grau de risco. Que existe risco é um fato evidente. Nem o que vai ser dito implica de maneira nenhuma que a pessoa que faz uma escolha pessoal, não sob coação, de evitar transfusões (ou aceitar receber componentes do sangue e frações) numa base inteiramente religiosa, está a agir de maneira imprópria. Mesmo atos que são corretos em si mesmos tornam-se errados se forem feitos em má consciência. Como o apóstolo Paulo diz, “Considerem afortunado o homem que pode fazer a sua decisão sem ir contra a sua consciência…. todo o ato feito de má consciência é um pecado.”1 Se, à luz da evidência que será apresentada, certos escrúpulos a respeito do sangue refletem uma consciência fraca ou forte, deixo à consideração do leitor.
Ao mesmo tempo, a gravidade da responsabilidade de uma organização que impõe os seus pontos de vista sobre esses assuntos delicados à consciência de um indivíduo, nunca devia ser subestimada. O que aconteceu com a Sociedade Torre de Vigia no assunto do sangue ilustra de maneira dramática como o legalismo pode conduzir uma organização para um pântano de inconsistências, com a possibilidade de os seus membros sofrerem quaisquer conseqüências adversas que daí possam resultar.
Começando no fim da década de 1940, a organização inicialmente decretou uma proibição total de aceitar sangue sob qualquer forma, na totalidade ou em frações. Depois, ao longo dos anos, estabeleceu novas regras que entraram em aspectos cada vez mais técnicos da questão. A tabela seguinte apresenta aquela que é basicamente a posição atual da organização acerca do uso de sangue:
Componentes do sangue e práticas proibidas |
Componentes do sangue e práticas permitidas |
Sangue total | Albumina |
Plasma | Imunoglobina |
Glóbulos brancos (leucócitos) | Preparados hemofílicos (Fator VIII e IX) |
Glóbulos vermelhos | Passagem do sangue do paciente através de uma bomba cárdio-pulmonar, ou outra em que a “circulação extra-corpórea seja ininterrupta.”2 |
Plaquetas | |
Armazenar o sangue do próprio paciente para transfusão posterior |
A organização classifica agora os elementos do sangue como ou componentes “maiores” ou componentes “menores” (o resultado desta divisão aparece no quadro apresentado). Esta classificação ilustra, em si mesma, a natureza arbitrária, bem como a inconsistência, de tais regras. Onde é que Deus deu ao homem autoridade para fazer tal divisão? Em que é que se baseiam para fazer a divisão — apenas numa certa percentagem do total do sangue, e se assim é, qual é o ponto de corte na percentagem que separa as componentes “maiores” das “menores”? Ou fazem-no na base da importância do papel de cada componente? Se é assim, como é que avaliam e determinam a importância relativa de tal papel?
Conforme o ex-diretor da própria equipa médica da sede da Torre de Vigia, um médico e cirurgião licenciado, comentou certa vez, “Como é que se pode classificar um elemento como ‘maior’ ou ‘menor’? Se uma pessoa precisa de um elemento particular do sangue para salvar a sua vida então esse elemento é um elemento ‘maior’ para ela.”3 Mas a inconsistência na realidade é muito, muito maior.
Quando é posta a questão de saber porque é que não proíbe o uso de todas as componentes do sangue, a Sociedade Torre de Vigia tem explicado as suas mudanças de política que permitem o uso das frações do sangue alistadas dizendo que estas são usadas em “quantidades muito pequenas” e que isto coloca o seu uso no campo da consciência pessoal. Fazendo um exame mais atento, contudo, descobrimos evidência que indica ignorância ou ocultação de fatos, fatos tão convincentes que expõem a posição da organização como não tendo sentido. Considere o seguinte:
As declarações da Torre de Vigia expressas fortemente contra o uso de “sangue total” soam de forma impressionante para muitas Testemunhas. Embora fossem comuns nas décadas de 1950 e 1960, essas transfusões de sangue hoje são na verdade muito raras. Na maioria dos casos, é dada ao paciente a componente do sangue específica que ele ou ela precisa.4 No momento em que é doado, a maior parte do sangue é separada em várias componentes (plasma, leucócitos, eritrócitos [glóbulos vermelhos], etc.). Estas são armazenadas para uso futuro. A maioria delas será enviada diretamente para centros médicos. Portanto, na grande maioria dos casos, quando uma Testemunha é posta perante a necessidade de uma transfusão a questão não é o uso de sangue total mas de alguma componente do sangue.
As Principais Componentes do Sangue
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A inconsistência da política da Torre de Vigia quanto a componentes aceitáveis e não aceitáveis é bem ilustrada pela sua política quanto aoplasma. Como se pode ver na imagem tirada da edição de 22 de Outubro de 1990 da Despertai!, o plasma constitui cerca de 55% do volume do sangue. Evidentemente segundo o critério do volume, é colocado na lista de “componentes maiores” proibidos pela Torre de Vigia. E no entanto o plasma chega a ser constituído por 93% de água simples. Quais são as componentes dos aproximadamente 7% restantes? As principais são albumina, globulina (da qual as imunoglobulinas são as partes mais importantes), fibrinogênio e fatores de coagulação (usados nas soluções hemofílicas).5 E estas são precisamente as componentes que a organização põe na lista das que são permitidas aos seus membros! O plasma é proibido apesar de as suas componentes principais serem permitidas — desde que sejam introduzidas no corpo separadamente. Como disse certa pessoa, é como se alguém fosse proibido pelo médico de comer sanduíches de queijo e fiambre, mas lhe dissessem que pode separar as componentes da sanduíche e comer o pão, o queijo e o fiambre separadamente.6
Os leucócitos, muitas vezes chamados “células brancas do sangue” [glóbulos brancos], também são proibidos. Na realidade, o termo “células brancas do sangue” é muito enganador, porque a maioria dos leucócitos no corpo de uma pessoa existem de fato fora do sistema sangüíneo. O nosso corpo contém cerca de 2 a 3 quilos de leucócitos e só cerca de 2-3% destes estão no sistema sangüíneo. Os outros 97-98% estão espalhados por todo o tecido do corpo, formando o seu sistema de defesa (ou imunologico).7
Isto significa que uma pessoa sujeita a um transplante de órgão receberá simultaneamente no seu corpo mais leucócitos estranhos do que se tivesse recebido uma transfusão de sangue. Como a organização Torre de Vigia agora permite o transplante de órgãos, a sua posição intransigente contra os leucócitos, enquanto permite outras componentes do sangue, torna-se sem sentido. Só pode ser defendida usando raciocínios rebuscados, que certamente não têm qualquer base moral, racional ou lógica. A separação arbitrária do sangue em componentes “maiores” e “menores” também não tem qualquer base sólida. A organização evidentemente proíbe o plasma — embora seja principalmente água — por causa do seu volume (55% do sangue), e no entanto proíbe também os leucócitos que, como mostra a imagem da Despertai!, compõem apenas 1/10 de 1% (.001) do sangue!8
A ausência de quaisquer bases morais ou lógicas para essa proibição é também vista no fato de o leite humano conter leucócitos, de fato, contém mais leucócitos do que se podem encontrar numa quantidade equivalente de sangue. O sangue contém cerca de 4.000 a 11.000 leucócitos por milímetro cúbico, enquanto o leite de uma mãe pode conter, durante os primeiros meses de aleitação, até 50.000 leucócitos por milímetro cúbico. Isto representa entre cinco e doze vezes mais do que a quantidade presente no sangue!9
Isto deixa os eritrócitos (glóbulos vermelhos) e as plaquetas na lista proibida. Que dizer das componentes permitidas?
Um ponto importante a ter em mente é que a argumentação da organização Torre de Vigia procura apoio nas provisões da lei Mosaica que ordenam que o sangue de animais mortos seja derramado no chão, sendo isto citado como se justificasse a objeção da organização a qualquer armazenamento de sangue humano.10 Lembremo-nos também que a organização apresenta as componentes do sangue que permite como constituindo apenas uma quantidade negligenciável de sangue. Considere agora os fatos seguintes com respeito às componentes que a organização classifica como admissíveis:
Uma destas componentes é a albumina. A albumina é usada principalmente em tratamentos relacionados com queimaduras e hemorragias graves. Uma pessoa com queimaduras do terceiro grau em 30 a 50% do seu corpo necessitaria de 600 gramas de albumina. A política da Torre de Vigia permitiria isto. Quanto sangue seria necessário para extrair esta quantidade? Seriam necessários uns 10 a 15 litros (de 10.6 a 15.9 quartos de galão) de sangue para produzir essa quantidade de albumina.11 Isto dificilmente poderia ser considerado uma “pequena quantidade.” é igualmente óbvio que os litros de sangue do qual a albumina foi extraída foram armazenados, não foram “derramados no chão.”
A situação é semelhante no caso da imunoglobina (ou globulina gama). Para produzir globulina gama em quantidade suficiente para uma injeção por seringa (uma vacina que pessoas, incluindo Testemunhas de Jeová, que viajam para certos países do sul podem tomar como proteção contra a cólera) são necessários perto de 3 litros de sangue como fonte do fornecimento.12 Isto é ainda mais sangue do que é geralmente empregue numa transfusão de sangue vulgar. E de novo, a globulina gama é tirada de sangue que é armazenado, e não “derramado no chão.”
Restam os preparados hemofílicos (Fatores VIII e IX). Antes de estes preparados começarem a ser usados, o tempo médio de vida de um hemofílico na década de 1940 era 16 anos e meio.13 Hoje, graças a estes preparados derivados do sangue, um hemofílico pode alcançar o tempo normal de vida. Para produzir preparados que manteriam um hemofílico vivo durante este período de tempo estima-se que seriam necessárias extrações de 100.000 litros de sangue.14 Embora os preparados hemofílicos representem em si mesmos apenas uma fração desse total, quando consideramos a sua fonte não podemos deixar de nos perguntar como é que isto poderia alguma vez ser considerado como envolvendo uma “pequena quantidade” de sangue?
O uso de qualquer destas componentes implica obviamente o armazenamento de grandes, até mesmo colossais quantidades de sangue. Por um lado a organização Torre de Vigia decreta como permitido o uso destas componentes do sangue — e consequentemente do armazenamento envolvido na sua extração e produção — enquanto por outro lado afirmam que se opõem a todo o armazenamento de sangue pois é biblicamente condenado. Este é o único motivo que eles dão para proibir o uso de sangue autólogo por uma Testemunha (isto é, algum do próprio sangue da pessoa é armazenado e depois reintroduzido na corrente sangüínea durante ou depois da cirurgia).15 Claramente, essas posições são arbitrárias, inconsistentes e contraditórias. É difícil acreditar que aqueles que formulam essa política, e também os escritores que a explicam e defendem, estejam ignorantes dos fatos a ponto de não verem a inconsistência e arbitrariedade envolvidas. E no entanto só isso poderia evitar que essa posição também fosse classificada como desonesta.
Estabelecer regras em assuntos de saúde ou tratamento médico — proibindo isto, permitindo aquilo — é estar a pisar terreno escorregadio. No primeiro caso podemos estar a ser culpados de criar um medo irracional, e no segundo podemos criar uma falsa sensação de segurança. O procedimento sábio — e humilde — é deixar a responsabilidade de decidir acerca dessas distinções a quem pertence em primeiro lugar, com a consciência de cada um.
Os artigos da Torre de Vigia sobre o assunto do sangue enfatizam a posição de não compromisso assumida pela organização a respeito do sangue, elogiando freqüentemente as suas próprias políticas como salvaguardando a saúde e vida dos seus membros. Raramente, se é que alguma vez, lemos qualquer informação ou experiências que não sejam favoráveis a essas políticas.
Artigos recentes alegam que as políticas da organização protegeram os seus membros de contraírem a SIDA. Um artigo da Despertai!, na edição de 8 de Outubro de 1988, faz esta afirmação. O mesmo artigo indica (na página 11) que “até o início de 1985 a maioria dos 10.000 americanos com hemofilia grave haviam sido infectados pelo vírus da AIDS.” A edição de 22 de Outubro de 1990 da Despertai! (na página 8), atualiza esta informação ao dizer que: “Os hemofílicos, a maioria dos quais utilizam um agente coagulante tirado do plasma para tratar sua moléstia, foram dizimados. Nos Estados Unidos, dentre 60 a 90 por cento deles pegaram a AIDS antes de ser estabelecido um processo de tratamento do remédio pelo calor, a fim de eliminar o HIV.” De forma similar, a Sentinela de 15 de Junho de 1985, num artigo intitulado “A Grã-Bretanha, o Sangue e a AIDS” afirma na página 23 que “uns 70 milhões de unidades de Fator VIII concentrado” foram importadas dos Estados Unidos para tratar os hemofílicos ingleses e acrescenta, “Parece que pela importação desse produto sanguíneo o vírus da AIDS passou para o suprimento britânico.”
Embora contenham muitos elogios ao efeito protetor das políticas da organização acerca do sangue, existe uma coisa que todos estes artigos não mencionam aos seus leitores. É que aqueles hemofílicos que foram infectados dessa forma contraíram a infeção primariamente de uma fonte de sangue que a Sociedade Torre de Vigia tinha declarado oficialmente como sendo permitida: preparações hemofílicas de Fator VIII extraídas do plasma.16 Como mostra a Despertai! de 22 de Outubro de 1990 (páginas 7 e 8), alguns incidentes de infeção com SIDA também ocorreram através de “transplantes de tecidos”, que também são classificados como “permitidos” pela organização.
Tudo isto ilustra como é idiota e completamente errado que uma organização tenha pretensões de possuir sabedoria e autoridade divina para se lançar no desenvolvimento de um conjunto complicado de padrões e de distinções técnicas e depois os imponha como regras morais obrigatórias, decidindo por outros em que caso e em que circunstâncias um assunto pode ser considerado como estando dentro ou fora do domínio da consciência pessoal.
O risco inerente à transfusão de sangue e componentes de sangue ou frações é real. Ao mesmo tempo também é verdade que pessoas podem morrer na cirurgia devido a hemorragia grave. O uso do sangue da própria pessoa, armazenado até ao momento da cirurgia, seria logicamente apelativo para pessoas preocupadas com a possibilidade de infeções relacionadas com o sangue. No entanto, conforme foi mostrado, a organização presume ter autoridade para declarar que isto está fora do domínio da decisão pessoal, proibindo até uma “recolha intra-operativa” do sangue (consiste em, durante a operação, retirar algum sangue para um recipiente de plástico e mais tarde introduzi-lo no corpo).17 E muitos milhares de pessoas estão dispostas a prescindir do direito de fazer a sua própria decisão em tais matérias cruciais, permitindo que uma organização decida por elas, apesar de a história dessa organização estar marcada por uma má vontade quando se trata de reconhecer a sua responsabilidade pelos danos que as suas políticas possam causar. Conhecendo quase inteiramente apenas aquelas declarações e experiências que são favoráveis, raramente, se é que alguma vez, essas pessoas são informadas de fatores negativos.
Considere apenas um exemplo tirado de um artigo da revista Discover (Descobrir) de Agosto de 1988. A partir dos 42 anos de idade, uma mulher Testemunha teve remoções cirúrgicas de tumores da bexiga recorrentes, por um período de vários anos. Desta última vez ela tinha esperado demasiado tempo antes de ir ao médico, estava a sangrar muito, e estava gravemente anêmica. Ela insistiu em não receber uma transfusão e esta recusa foi respeitada. Durante uma semana os urologistas tentaram sem sucesso estancar a hemorragia. A contagem do sangue dela continuava a diminuir. A médica que escreve o artigo conta o que aconteceu:
Gradualmente, à medida que o sangue dela continuava a diminuir, a Sr.ª Peyton começou a ter falta de ar. Os órgãos do corpo precisam de uma certa quantidade de oxigênio para funcionar. O oxigênio é transportado dos pulmões para a periferia pelas moléculas de hemoglobina que estão nos glóbulos vermelhos…. A equipa médica deu à Sr.ª Peyton oxigênio adicional através de uma máscara até ao ponto em que ela estava quase a respirar O2 puro. Os poucos glóbulos vermelhos que ela tinha estavam completamente carregados — mas não restavam veículos suficientes para transportar o combustível que o corpo dela precisava.
A sua ânsia por ar aumentou. O seu ritmo respiratório caiu. Ela tornou-se cada vez mais vacilante, e finalmente — era inevitável — as fibras do músculo do seu coração revelaram a necessidade desesperada que tinham de oxigênio. Desenvolveu-se nela uma dor no peito esmagadora, severa.
A médica que escreve o artigo descreve os seus sentimentos ao chegar ao quarto da paciente:
Quando entrei no quarto… fiquei assustada com a cena à minha frente. No centro das atenções de toda a gente estava uma mulher forte com uma máscara de oxigênio, ávida por ar, respirando mais depressa do que parecia humanamente possível. à cabeceira da cama estavam três amigos, membros da mesma igreja [Testemunhas], segurando-a…. Ao lado dela estavam vários médicos — um monitorizando a sua pressão sangüínea decrescente, outro extraindo algum sangue de uma artéria. O fluido que encheu a devagar a seringa tinha a consistência de Punch havaiano; testes no mesmo revelaram uma contagem de glóbulos vermelhos de apenas 9 [seria normal ter 40]. Suspenso da grade da cama estava um saco com urina muito vermelha. A mulher estava a morrer. Os seus sinais cardíacos mostravam as grandes oscilações que assinalam um coração em dor. Dentro de horas o dano que provocariam tornar-se-ia irreversível.
Aquela mulher teve uma paragem cardíaca. Uma equipa de médicos e enfermeiras começou a tentar a reanimação cárdio-pulmonar, administrou epinefrina e atropina, e depois uma descarga elétrica no coração. Este começou a trabalhar, mas depois parou outra vez. Mais RCP, mais epinefrina e atropina, outra descarga elétrica, mais RCP. Isto continuou durante uma hora até não haver mais nenhuma esperança ou possibilidade. A paciente estava morta para além de recuperação.
A médica que descreve isto não caracteriza a mulher como simplesmente uma fanática. Ela escreve:
Disseram-me que ela era uma mulher inteligente, que compreendeu totalmente as conseqüências da sua decisão. Mas o julgamento dela, pareceu-me, provinha de uma distinção cega imposta pela fé dela.18
Aqui estava uma mulher que tinha um problema recorrente que requeria cirurgias periódicas. Sabendo isto, armazenar algum do seu próprio sangue poderia ter-lhe parecido um procedimento seguro e aconselhável. Contudo, a “lei Teocrática” decretou que isto não era permitido. A obediência à “lei Teocrática” não lhe permitiu ter nenhuma escolha pessoal na matéria.
Se as políticas organizacionais fossem verdadeiramente baseadas na Bíblia, então qualquer sofrimento que pudesse resultar de aderir a essas políticas — tal como um adiamento ou uma recusa de certa cirurgia devidos a preocupação ou incerteza acerca de assuntos relacionados com o sangue, até mesmo a eventual perda da vida por se sentir sob obrigação divina de rejeitar componentes do sangue além dos “permitidos” [pela organização] — poderia ser encarado simplesmente como o sofrimento que um servo de Deus tem de estar disposto a suportar.19 Muitas Testemunhas de Jeová são muito sinceras ao se apegarem aos padrões da organização deles a este respeito. Algumas até viram as suas crianças morrer como conseqüência disso e seria injusto e cruel dizer que isto deve-se a alguma falta de amor parental da parte delas. Eles aceitaram simplesmente que os padrões e políticas organizacionais — não importando quão complexos, ou até confusos, possam ser — são fundados na Bíblia e portanto ordenados por Deus. E no entanto poucas alegações haverá que sejam tão desprovidas de fundamento como essa.
Conforme foi observado, grande parte da argumentação da Torre de Vigia centra-se em textos das Escrituras Hebraicas, especialmente nos regulamentos da lei Mosaica. Como a Sociedade reconhece que os cristãos não estão sob essa Lei, o texto de Gênesis capítulo nove, versículos 1-7, é citado com freqüência. Este texto diz:
E Deus prosseguiu abençoando Noé e seus filhos, e dizendo-lhes: “Sede fecundos e tornai-vos muitos, e enchei a terra. E o medo de vós e o terror de vós continuará sobre toda criatura vivente da terra e sobre toda criatura voadora dos céus, sobre tudo o que se está movendo no solo, e sobre todos os peixes do mar. Na vossa mão estão agora entregues. Todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento. Como no caso da vegetação verde, deveras vos dou tudo. Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer. E, além disso, exigirei de volta vosso sangue das vossas almas. Da mão de cada criatura vivente o exigirei de volta; e da mão do homem, da mão de cada um que é seu irmão exigirei de volta a alma do homem. Quem derramar o sangue do homem, pelo homem será derramado o seu próprio sangue, pois à imagem de Deus fez ele o homem. E quanto a vós, homens, sede fecundos e tornai-vos muitos, fazei a terra pulular de vós e tornai-vos muitos nela.”
Alega-se que, como todos os humanos são descendentes de Noé e dos seus filhos, estas ordens ainda se aplicam a todas as pessoas. Afirma-se que os regulamentos acerca do sangue na lei Mosaica devem por isso ser vistos simplesmente como repetições ou considerações adicionais sobre a lei básica estabelecida anteriormente e portanto ainda têm validade. De outro modo, como os cristãos não estão sob a lei Mosaica, não teria sentido citar textos dela como tendo relevância no assunto.20 Alega-se que o decreto divino a respeito do sangue dado a Noé tem aplicação eterna.
Se assim é, então não devia isto ser também verdade a respeito da ordem acompanhante “sede fecundos e tornai-vos muitos,” e “fazei a terra pulular de vós e tornai-vos muitos nela”? E se este é o caso, como é que a Sociedade Torre de Vigia pode justificar o incitamento, não apenas a permanecer solteiro, mas até a não ter filhos, no caso das Testemunhas que são casadas? Sob o cabeçalho “Criar Filhos Hoje” a Sentinelade 1.º de março de 1988 (página 21) diz que, em vista do “tempo limitado” que resta para acabar o trabalho de testemunho, “Portanto, é apropriado que os cristãos perguntem a si mesmos até que ponto o casar-se, ou terem filhos, caso sejam casados, afetará a sua participação nessa obra vital.” O artigo reconhece que criar filhos era parte da ordem de Deus a seguir ao dilúvio, mas declara (página 26) que “Atualmente, gerar filhos não é especificamente parte da tarefa dada por Jeová a seu povo … Portanto, ter filhos ou não neste tempo do fim é um assunto pessoal que todo casal precisa decidir por si mesmo. Contudo, visto que ‘o tempo que resta é reduzido’, os casais farão bem em pesar cuidadosamente e com oração os prós e os contras de se ter filhos nestes tempos.” Se as palavras de Jeová a Noé a respeito de criar filhos e ‘pulularem e serem fecundos’ podem ser assim postas de lado como já não sendo aplicáveis, como é que podem argumentar de forma consistente que as Suas palavras a respeito do sangue têm de ser encaradas como ainda aplicáveis, e usar isso como uma base para justificar a aplicação de regulamentos na lei Mosaica a respeito do sangue como ainda estando em vigor para os cristãos hoje?
Mais significativo, contudo, é que eles fazem essas palavras em Gênesis dizer algo muito diferente daquilo que elas de fato dizem. Qualquer leitura do texto torna óbvio que Deus está aqui a falar de sangue inteiramente em relação à matança de animais e depois em relação aoassassínio de humanos. No caso dos animais, o seu sangue era derramado no chão em reconhecimento evidente de que a vida sacrificada desse modo (para alimento) só era tomada por permissão divina, e não por direito natural. No caso do homem, o seu sangue reclamava a vida daquele que o derramava, sendo a vida humana uma dádiva de Deus que o homem não tinha autorização de tirar à sua vontade. O sangue derramado de animais mortos e de humanos assassinados representa a vida que eles perderam.21 O mesmo é verdade no caso dos textos da lei Mosaica freqüentemente citados, que requerem que o sangue seja “derramado.” Em todos os casos, isto refere-se claramente ao sangue dos animais que foram mortos. O sangue representava a vida tomada, não a vida ainda ativa na criatura.22
As transfusões de sangue, contudo, não são o resultado da morte de animais nem de humanos, pois o sangue vem de um dador vivo e que continua a viver. Em vez de representar a morte de alguém, esse sangue é empregue exatamente com o objetivo contrário, nomeadamente apreservação da vida. Isto não é dito para considerar as transfusões de sangue uma prática desejável, ou sendo inquestionavelmente apropriadas, mas simplesmente para mostrar que não existe nenhuma verdadeira relação ou paralelo entre a ordem de Gênesis a respeito do ato de matar e de comer o sangue do animal morto, e do uso de sangue numa transfusão. O paralelo simplesmente não está lá.
Em Dezembro de 1981, um homem que nessa altura estudava com as Testemunhas de Jeová escreveu à Sociedade Torre de Vigia, expressando a sua dificuldade em conciliar a política acerca das transfusões de sangue com as Escrituras citadas em seu apoio. A discussão que ele faz dos textos revela conclusões similares àquelas que acabamos de apresentar:
Assim, estas passagens citadas acima parecem-me indicar que as proibições contra o comer sangue na Bíblia, referem-se apenas à situação em que o homem mata a vítima e depois usa o sangue sem o devolver a Deus, que é o único que tem o direito de tirar uma vida.
Contudo, fiquei particularmente impressionado com esta parte, quase no fim da sua carta:
Outro ponto a respeito deste mesmo assunto que me preocupa é que as Testemunhas de Jeová dizem que Deus proíbe comer o sangue porque simboliza a vida, que é de grande valor na perspectiva de Deus, e porque ele quer incutir no homem o valor da vida através da proibição de comer sangue. E isto parece-me muito razoável. Contudo, não consigo perceber como é que o símbolo pode ser de maior valor do que a realidade que simboliza.
É certo que na maioria dos casos as transfusões de sangue são de pouca utilidade ou até prejudiciais, no entanto, numa percentagem muito pequena dos casos, o sangue é o único meio que permite sustentar a vida até que outro tratamento possa ser feito, e.g., grave hemorragia interna que não pode ser imediatamente estancada. Parece-me que neste tipo de situação, deixar uma pessoa morrer para manter o símbolo da vida é em si mesmo uma contradição e é estar a colocar mais importância no símbolo do que na realidade que ele simboliza.
… Eu acredito tão firmemente como as Testemunhas de Jeová que um verdadeiro cristão deve estar preparado para dar a sua vida pela sua fé em Deus, se isso lhe for pedido. Mas dar a nossa vida quando Deus não o requer ou deseja verdadeiramente, não parece ser de qualquer valor real.23
Finalmente, usar leis que ordenam o derrame do sangue como base para condenar o seu armazenamento é ignorar o propósito declarado dessas leis. Segundo o contexto, os israelitas receberam a ordem de derramar no chão o sangue dos animais que matassem para garantir que o sangue não era comido, e não para garantir que o sangue não era armazenado. O armazenamento não estava sequer em questão. Empregar tais leis desse modo é tanto ilógico como uma pura manipulação da evidência, forçando-as a ter um significado que não está expresso nelas, nem sequer implicitamente.
Como os cristãos não estão sob um código de leis mas sob a “lei real do amor” e a “lei da fé,” estes pontos merecem certamente séria preocupação e meditação.24 Será que permitir que políticas arbitrárias ditem como se deve proceder em situações cruciais mostra verdadeiramente apreciação pelo valor da vida? Será que fazer isto sem o apoio de declarações claras na Palavra de Deus manifesta amor a Deus e ao próximo?
Sem dúvida o principal texto bíblico empregue na argumentação da Torre de Vigia é o de Atos 15:28, 29. Estes versículos contêm a decisão de um concílio em Jerusalém e incluem as palavras, “[persisti] em abster-vos de coisas sacrificadas a ídolos, e de sangue, e de coisas estranguladas, e de fornicação.” A evidência das Escrituras de que isto não foi dito como uma forma de declaração com efeitos vinculativos legais é discutida mais adiante neste capítulo. Este ponto é crucial visto que é a base principal para o argumento da Sociedade segundo o qual os regulamentos da lei Mosaica são transponíveis para o cristianismo. Embora este ponto seja discutido mais adiante, pode-se dizer já que a exortação para se “abster do sangue” refere-se claramente a comer sangue. A Sentinela de 1.º de dezembro de 1978 (página 23), de fato, cita o Professor Eduard Meyer como tendo dito que o significado de “sangue” neste texto é “tomar sangue que era proibido pela lei (Gênesis 9:4) imposta a Noé, e, assim, também à humanidade como um todo.” Esse “tomar” era por comer.25
Uma questão crucial, portanto, é saber se pode ser demonstrado que transfundir sangue é o mesmo que “comer” sangue, como pretende a organização Torre de Vigia. Não existe, na realidade, nenhuma base sólida para essa pretensão. Existem, é claro, métodos clínicos de “alimentação intravenosa” na qual líquidos especialmente preparados contendo nutriente, como a glucose, são introduzidos nas veias e fornecem alimentação. Contudo, como as autoridades médicas sabem, e como a Sociedade Torre de Vigia em tempos reconheceu, uma transfusão de sangue não é alimentação intravenosa; é na realidade um transplante (de um tecido fluido), e não uma infusão de nutriente.26Num transplante de rim, o rim não é comido como alimento pelo novo corpo a que passa a pertencer. Continua a ser um rim com a mesma forma e a mesma função. Passa-se o mesmo com o sangue. Não é comido como alimento quando é “transplantado” para outro corpo. Continua a ser o mesmo tecido fluido, com a mesma forma e a mesma função. As células do corpo não podem de maneira nenhuma utilizar esse sangue transplantado como alimento. Para que isto acontecesse o sangue teria de passar primeiro pelo sistema digestivo, ser decomposto e preparado de forma que as células do corpo o pudessem absorver — assim teria de ser real e literalmente comido para que pudesse servir como alimento.27
Quando os profissionais médicos acham que é necessária uma transfusão de sangue não é porque o paciente esteja subnutrido. Na maioria dos casos é porque o paciente tem falta, não de nutrição, mas de oxigênio, e isto deve-se à falta de elementos que transportem um suprimento adequado de oxigênio, nomeadamente, os glóbulos vermelhos do sangue, que transportam o oxigênio. Em outros casos, é administrado sangue devido à falta de outros fatores, como agentes coagulantes (como as plaquetas), imunoglobina contendo anticorpos, ou outros elementos, mas novamente este não é um meio de fornecer “nutrição.”
No seu esforço para contornar a evidência de que uma transfusão de sangue não é o mesmo que comer, não tem como objetivo a “nutrição” do corpo, a Sociedade Torre de Vigia tenta muitas vezes alargar arbitrariamente o assunto ao pôr lado a lado, ou até substituir, o termo “nutrir” com a expressão “sustentar a vida.”28 Esta manobra de diversão serve o único propósito de confundir o assunto. Nutrir o corpo por comer e sustentar a vida não são coisas equivalentes. Comer é apenas uma das maneiras de sustentar a vida. Nós sustentamos a vida de muitas outras maneiras, igualmente vitais, como respirar, beber água e outros líquidos, manter o calor do corpo numa temperatura suportável, e dormir ou descansar. Quando se referem ao sangue, as próprias Escrituras tratam, não do aspecto amplo de “sustentar a vida,” mas do aspecto específico de comer sangue, e referem-se claramente ao ato de comer o sangue de animais que são mortos. Quando um israelita comia carne que continha sangue, ele não estava a depender desse sangue para “sustentar” a sua vida — a carne só por si faria isso tão bem sem o sangue como com o sangue. Saber se a sua vida era ou não “sustentada” por comer o sangue simplesmente não estava em questão. O ato de comer o sangue era proibido, e a motivação ou conseqüências posteriores de o comer não foram mencionadas nas leis do sangue.
A confusão introduzida no assunto pela inserção desnecessária do conceito de “sustentar a vida” permite que a organização Torre de Vigia imponha aos seus membros a idéia segundo a qual qualquer pessoa que aceite uma transfusão de sangue mostra desprezo pelo resgate que nos dá vida realizado pelo poder salvador do sangue de Cristo derramado em sacrifício. A duplicidade desta linha de raciocínio é vista no fato de as frações do sangue que a organização Torre de Vigia permite que os seus membros recebam, serem administradas precisamente para salvar ou “sustentar” a vida da pessoa, como no caso do Fator VIII, administrado aos hemofílicos, ou como no caso da imunoglobina, injetada como proteção contra certas doenças perigosas ou para prevenir a morte de uma criança devido a incompatibilidade de Rh.29 É injusto e revela falta de amor condenar a motivação daqueles que procuram preservar a sua vida, ou a vida de entes queridos, porque não obedecem a certos regulamentos e proibições inventados por uma organização religiosa, condenação essa que é feita quando atribuem uma negação da fé à sua motivação, quando na realidade não existe nenhuma base válida, das Escrituras ou outra, para o fazer. É uma tentativa de os sobrecarregar com um sentimento de culpa que é imposto por padrões que são humanos, não são divinos.
‘Abstende-vos de Sangue’
A carta enviada pelos apóstolos e anciãos de Jerusalém, registada em Atos capítulo quinze, usa o termo “abster-se” em relação a coisas sacrificadas a ídolos, sangue, coisas estranguladas e fornicação.30 O termo grego que eles usaram (apékhomai) tem o significado básico “ficar afastado de.” As publicações da Torre de Vigia argumentam que, com respeito ao sangue, tem um significado total, que abrange tudo. Assim, a publicação Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, na página 216, diz: “‘Abster-se do sangue’ significa definitivamente não introduzi-lo em seu corpo.” De maneira similar, a Sentinela de 1.º de maio de 1988, página 17, diz: “Andar nas pisadas de Jesus significaria não introduzir sangue no corpo, seja oralmente, seja de outro modo.” Mas será que este termo, como é usado nas Escrituras, tem realmente o sentido absoluto que estas publicações indicam? Ou pode em vez disso ter um sentido relativo, referente a uma aplicação específica e limitada?
Que esse termo se pode aplicar, não num sentido total, que abrange tudo, mas de maneira limitada, específica, pode ser visto do seu uso em textos como 1 Timóteo 4:3. Ali o apóstolo Paulo avisa que alguns professos cristãos introduziriam ensinos de natureza perniciosa, “proibindo o casar-se, mandando abster-se de alimentos que Deus criou para serem tomados com agradecimentos.” Claramente, ele não queria dizer que estas pessoas ordenariam a outros que se abstivessem totalmente, sob qualquer forma, de todos os alimentos criados por Deus. Isso significaria jejum total e conduziria à morte. Ele estava obviamente a referir-se a proibirem eles alimentos específicos, evidentemente aqueles proibidos sob a lei Mosaica.
De forma similar, em 1 Pedro 2:11 o apóstolo admoesta:
Amados, exorto-vos como a forasteiros e residentes temporários a que vos abstenhais dos desejos carnais, que são os que travam um combate contra a alma.
Se tomássemos esta expressão literalmente, num sentido absoluto, significaria que não podíamos satisfazer absolutamente nenhum desejo da carne. Certamente não é esse o significado das palavras do apóstolo. Temos muitos “desejos carnais,” incluindo o desejo de comer, de respirar, de dormir, de usufruir recreação e muitos outros desejos, que são perfeitamente apropriados e bons. Portanto, “abster-se de desejos carnais” aplicava-se apenas no contexto do que o apóstolo escreveu, referindo-se, não a todos os desejos carnais, mas apenas a desejos prejudiciais, pecaminosos que de fato “travam um combate contra a alma.”
Portanto a questão é, em que contexto Tiago e o concílio apostólico usaram a expressão “abster-se” do sangue? O próprio concílio tratava especificamente da tentativa de alguns de exigir que os cristãos gentios não apenas fossem circuncidados mas também “observassem a lei de Moisés.”31 Era a essa circunstância que o apóstolo Pedro se referia, a observância da lei Mosaica, que ele descreveu como um “jugo” pesado.32 Quando Tiago falou perante o concílio e fez a sua recomendação das coisas acerca das quais os cristãos gentios deviam ser aconselhados a abster-se — coisas poluídas por ídolos, fornicação, coisas estranguladas, e sangue — ele depois declarou:
Pois, desde os tempos antigos, Moisés tem tido em cidade após cidade os que o pregam, porque ele está sendo lido em voz alta nas sinagogas, cada sábado.33
Por isso, a recomendação dele tomou evidentemente em consideração o que as pessoas ouviam quando ‘Moisés era lido’ nas sinagogas. Tiago sabia que nos tempos antigos havia gentios, “pessoas das nações,” que viviam na terra de Israel, residindo entre a comunidade judaica. Que requisitos lhes foram impostos pela lei Mosaica? Não lhes era requerido que fossem circuncidados, mas sim que se abstivessem de certas práticas que são descritas no livro de Levítico, capítulos 17 e 18. Essa lei especificava que, não apenas os israelitas, mas também os “residentes forasteiros” entre eles deviam abster-se da participação em sacrifícios idólatras (Levítico 17:7-9), de comer sangue, incluindo o de animais mortos não sangrados (Levítico 17:10-16), e de práticas designadas como sexualmente imorais (incluindo o incesto e práticas homossexuais). — Levítico 18:6-26.
Embora a própria terra de Israel estivesse agora sob controlo gentio, com um grande número de judeus a viver fora dela, em vários países (estes eram chamados a “Diáspora,” que significa os “dispersos”), Tiago sabia que em muitas cidades por todo o Império Romano a comunidade judaica era como um microcosmo refletindo a situação da Palestina daquele tempo, na qual era muito comum os gentios juntarem-se às reuniões dos judeus na sinagoga, e assim associarem-se com eles.34 Os próprios cristãos primitivos, tanto judeus como gentios, continuaram a freqüentar estas reuniões na sinagoga, e até sabemos que Paulo e outros fizeram ali muito do seu testemunho e ensino.35 A referência de Tiago à leitura de Moisés na sinagoga numa cidade após outra certamente dá base para acreditar que, ao enumerar as coisas que mencionou imediatamente antes, ele tinha em mente as abstinências que Moisés estabelecera para os gentios que pertenciam à comunidade judaica em tempos antigos. Conforme vimos, Tiago enumerou não apenas exatamente as mesmas coisas que estão no livro de Levítico, mas até exatamente pela mesma ordem: abstenção de sacrifícios idólatras, sangue, coisas estranguladas (portanto não sangradas), e de imoralidade sexual. Ele recomendou a observância dessas mesmas coisas da parte dos crentes gentios e a razão evidente para esta abstenção era a circunstância então prevalecente, a presença de judeus e gentios nas reuniões cristãs e a necessidade de manter paz e harmonia nessa circunstância. Quando os cristãos gentios foram instados a ‘absterem-se de sangue,’ isto devia claramente ser entendido, não num sentido que abrangesse tudo, mas no sentido específico de comer sangue, algo abominável para os judeus. Levar o assunto mais longe do que isso, e tentar atribuir ao sangue em si mesmo uma espécie de estatuto de “tabu,” é tirar o assunto do seu contexto nas Escrituras e histórico e impor-lhe um significado que realmente não está lá.36
Significativamente, Tiago não incluiu coisas como o assassínio ou o roubo entre as ações de que se deviam abster. Essas coisas já eram condenadas tanto entre os gentios em geral como entre os judeus. Mas os gentios toleravam a idolatria, toleravam comer sangue e comer animais não sangrados e toleravam a imoralidade sexual, tendo até “prostitutas de templo” em lugares de adoração. Portanto, as abstenções recomendadas focavam aqueles aspectos da prática dos gentios que eram mais propensos a ofender grandemente os judeus e resultar em fricção e perturbações.37 A lei Mosaica não tinha exigido a circuncisão dos residentes forasteiros como condição para viver em paz em Israel, nem Tiago exigiu isto.
A carta que resultou da recomendação de Tiago foi dirigida especificamente aos cristãos gentios, pessoas “das nações,” em Antioquia, Síria e Cilícia (regiões que eram adjacentes a Israel, a norte) e, como vimos, tratava do assunto específico de uma tentativa de exigir que os crentes gentios “observassem a lei de Moisés.”38 A carta considerava aquele tipo de conduta mais propensa a criar dificuldades entre os crentes judeus e gentios. Como será demonstrado mais adiante, não existe nada que indique que a carta se destinava a ser vista como uma espécie de “lei,” como se as quatro abstenções impostas formassem um “Quadrálogo” substituindo o “Decálogo” dos Dez Mandamentos da lei Mosaica. Aquele era conselho específico para uma circunstância específica prevalecente naquele período da história.
Regras Preferenciais
Enquanto estive no Corpo Governante, não pude deixar de sentir que existe uma certa medida de aplicação discriminatória da política da organização, que favorece aqueles numa posição de profissionais. Os professores podem explicar o assunto da evolução, fazendo isto de um “ponto de vista puramente objetivo” e de preferência explicando previamente à turma que têm uma opinião diferente.39 Conforme vimos, os advogados são autorizados a servir em centros de eleições políticas [mesas de voto]. Talvez o fato mais espantoso, contudo, seja que os médicos possam não só pertencer a organizações médicas que aprovam práticas como transfusões de sangue e abortos, mas também lhes é dito que eles próprios podem administrar uma transfusão de sangue a um paciente que não é Testemunha e que lha peça.40 O raciocínio que pretende justificar isto é baseado na lei Mosaica que permitia aos israelitas vender a estrangeiros carne de animais que tinham morrido sem serem sangrados.41 No entanto, o sangue daqueles animais ainda estava nos seus corpos, onde sempre tinha estado, não fora extraído nem armazenado — um processo que a organização condena como mostrando desprezo pela lei de Deus.42 Todos os apelos intensos para mostrar “profundo respeito pela santidade do sangue,” todos os avisos acerca da culpa de sangue inerente a qualquer mau uso do sangue, toda a argumentação condenando qualquer armazenamento de sangue por mostrar desprezo pelas leis de Deus, subitamente perdem a sua força quando esses cirurgiões que são Testemunhas estão envolvidos.43
Com toda a sinceridade, e sem qualquer intenção de ofender alguém, quando analiso as várias ordens, regras, políticas e tecnicismos da organização que foram considerados, não posso senão pensar que se um indivíduo usasse nos assuntos mais “corriqueiros” da vida diária o tipo de raciocínio refletido naquelas posições e regras, as pessoas sentir-se-iam compelidas a questionar a sanidade mental desse indivíduo.
Porque é que as Pessoas Aceitam Isto?
No seu tempo, o apóstolo Paulo falou daqueles que “querem estar debaixo de lei.” (Gálatas 4:21) Muitos hoje também querem. Contrariamente aos judaizantes do tempo de Paulo, os homens hoje talvez não advoguem a submissão à lei Mosaica, mas ao fazerem uma interpretação legalista do cristianismo eles convertem-no num código de leis, num conjunto de regras. Eles criam uma espécie de escravidão a regras, a políticas tradicionais, e são estas que governam o relacionamento das pessoas com Deus.
Mas porque é que as pessoas se submetem a tais imposições? O que é que faz as pessoas renunciarem à sua preciosa liberdade de exercerem o seu próprio julgamento moral, mesmo nos aspectos mais privados das suas vidas? O que é que os leva a submeterem-se às interpretações e regras de homens imperfeitos, mesmo com o risco de perderem o emprego, serem presas, colocar o casamento sob grande tensão, até mesmo arriscar a vida, seja a própria seja a de alguém que amam?
Estão envolvidos vários fatores. Podem existir pressões sociais e familiares, sendo o conformismo o meio de evitar desacordos e até conflitos. Pode existir um medo muito grande, um medo paralisante, da rejeição divina e eventual destruição se uma pessoa se aventurar fora da “arca” organizacional. Mas existe outra razão que é talvez mais básica, e que está muitas vezes na própria raiz do problema.
A maioria das pessoas gosta de ver as coisas a preto e branco, gosta de ter os assuntos catalogados muito distintamente como certos ou errados. Fazer decisões baseadas na nossa própria consciência pode ser difícil, por vezes agonizante. Muitos preferem não fazer esse esforço, preferem simplesmente deixar que alguém lhes diga como proceder, preferem que alguém seja a sua consciência por eles. Foi isto que permitiu o desenvolvimento do controlo rabínico e de um conjunto de tradições rabínicas nos dias de Jesus. Em vez de decidir um assunto com base na Palavra de Deus e na consciência pessoal, o que se fazia era “perguntar ao Rabi.” Entre as Testemunhas de Jeová isto tornou-se inquestionavelmente, “Pergunte à organização,” ou simplesmente “pergunte a Brooklyn.”
Outra razão é a subtileza com que tais racionalizações e interpretações legais são apresentadas e impostas. A ênfase religiosa na lei, o legalismo, tem sido constantemente marcada pelo uso de tecnicismos e sofística, raciocínios que não são apenas subtis mas também plausíveis, por vezes até engenhosos — e no entanto, falsos. Desmontar esses raciocínios e reconhecê-los pelo que realmente são requer esforço, um esforço que muitos não estão dispostos a fazer e que outros simplesmente parecem incapazes de realizar.
Considere apenas dois exemplos de antigas fontes rabínicas. Em tempos antigos, os “professores da lei” tentaram tornar a ordem de Êxodo 16:29 (“Ninguém saia do seu lugar no sétimo dia”) mais explícita. Eles estabeleceram a regra de no Sábado um homem só poder caminhar uma certa distância (um pouco menos de 3.000 pés) a partir do limite exterior da sua cidade ou vila. Esta distância era chamada a “jornada de um Sábado” (uma expressão em uso no tempo de Jesus; veja Atos 1:12). No entanto, havia uma maneira de um homem fazer uma viagem mais longa do que essa e, do ponto de vista rabínico, ainda estar “legal.” Como?
Ele podia, com efeito, “criar” um segundo domicílio nalgum lar ou local fora da sua localidade (mas ainda dentro do limite de 3.000 pés) depositando simplesmente nesse sítio no dia anterior ao sábado mantimentos para pelo menos duas refeições. Depois, no Sábado, ele podia viajar para esse segundo “domicílio” e em seguida deixá-lo e prolongar a sua viagem mais 3.000 pés.
A declaração em Jeremias 17:22, que proíbe tirar qualquer “carga dos vossos lares no dia de Sábado,” foi ampliada de maneira similar. Os professores da lei raciocinaram que não haveria nenhuma proibição contra carregar coisas de uma parte de uma casa para outra parte, mesmo se a casa fosse ocupada por mais do que uma família. Portanto, eles inventaram a regra segundo a qual pessoas vivendo em casas dentro de um certo setor (como aquelas vivendo em casas construídas à volta de um pátio comum), podiam construir uma passagem “legal” para a seção inteira erigindo umbrais de porta na entrada da rua para a seção, talvez com uma trave por cima a fazer de verga de porta. Agora, a seção inteira era vista como se fosse um domicílio e as coisas podiam ser carregadas de uma casa para outra dentro da área, sem violar a lei.44
Compare agora esse método de raciocínio e uso de tecnicismos com o método que a Sociedade Torre de Vigia emprega ao aplicar as suasregras relativas a certos aspectos da prática médica. A Sentinela de 1.º de Março 1989, na seção “Perguntas dos Leitores,” discute o método de retirar sangue de um paciente algum tempo antes de uma operação e armazená-lo para voltar a ser usado durante ou depois da operação. A revista declara categoricamente que as Testemunhas de Jeová “Não aceitam este procedimento,” A razão? O sangue “deixou de ser parte da pessoa.” é citado o texto de Deuteronômio 12:24, que diz que o sangue de um animal que foi morto tem de ser derramado no chão. Por algum raciocínio, esta lei a respeito da matança de animais é vista como se apresentasse uma situação paralela ao caso do armazenamento do sangue de uma pessoa vida, da maneira que acabamos de descrever.
Mas a seguir o artigo discute outro método, no qual, durante a operação, o sangue do paciente é introduzido numa bomba cárdio-pulmonar ou numa máquina de hemodiálise (dispositivo de rim artificial) para receber oxigênio ou ser filtrado antes de voltar a ser introduzido no corpo do paciente. O artigo informa os seus leitores que, contrariamente ao outro método, este pode ser encarado como aceitável por um cristão. Porquê? Porque o cristão pode vê-lo “como um prolongamento do seu sistema circulatório de tal forma que o sangue possa passar através de um órgão artificial,” e portanto pode achar que “o sangue neste circuito fechado é ainda parte deles e não precisa de ser ‘derramado.'”
Que diferença existe entre este “prolongamento” do sistema circulatório e o legalismo rabínico que permitia o “prolongamento” da jornada de um dia de Sábado por uma certa distância através do tecnicismo de um segundo domicílio artificial? Ou em que medida é esta classificação do sangue como estando tecnicamente num “circuito fechado” diferente do legalismo antigo de fazer um “circuito fechado” de um certo número de casas através de uma passagem artificial? O mesmo tipo de raciocínio casuístico e uso legalista de tecnicismos é empregue em ambos os casos, antigo e moderno.
Nos seus próprios corações muitas Testemunhas talvez achem que o primeiro método, aquele em que a pessoa armazena o seu próprio sangue, não é na realidade mais contrário às Escrituras do que o segundo método, fazer o sangue circular através de uma máquina de respiração artificial. No entanto, eles não estão livres de seguir a sua própria consciência. A vida de um indivíduo pode estar em jogo, mas os raciocínios interpretativos e os tecnicismos da Torre de Vigia têm de ser observados, pois são parte do “grande corpo de lei Teocrática.” Não obedecer seria correr o risco de ser desassociado.
A Fraqueza da Lei e o Poder do Amor
A lei produz muitas vezes uma conformidade exterior que disfarça o que as pessoas são no seu íntimo. Nos dias de Jesus, a lei permitiu aos líderes religiosos, por ‘viverem segundo as regras’ de maneira escrupulosa, “parecerem às pessoas, exteriormente, homens bons e honestos, mas por dentro [estarem] cheios de hipocrisia e sem lei.”45 Acontece o mesmo no nosso tempo.
Portanto, a lei é menos efetiva naquelas áreas que estão relacionadas mais de perto com o coração. A lei pode identificar e punir um ladrão. Mas não pode fazer o mesmo com o homem que suporta a lei, mas que também é ganancioso, e cuja ganância e mesquinhez fazem os outros sofrer. A lei pode condenar e até executar o assassino. Mas pouco pode fazer para perseguir o homem que odeia, que tem ciúme, inveja, ou rancor e que procura vingança — especialmente se ele for cuidadoso em fazer isso por meios “legais.” Conheci homens desses, mesmo em lugares elevados.
Podemos ver um contraste notável entre a abordagem legalista do controlo por “políticas,” regras e regulamentos, e a abordagem adotada pelo apóstolo Paulo ao dar admoestação contra praticar o mal. O seu apelo deu constantemente ênfase primariamente, não à lei, mas ao amor. Assim, na sua carta aos Romanos, ele escreve:
A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto que vos ameis uns aos outros; pois, quem ama o seu próximo tem cumprido a lei. Pois o [código da lei]: “Não deves cometer adultério, não deves assassinar, não deves furtar, não deves cobiçar,” e qualquer outro mandamento que haja, está englobado nesta palavra, a saber: “Tens de amar o teu próximo como a ti mesmo.” O amor não obra o mal para com o próximo; portanto, o amor é o cumprimento da lei.46
Paulo exemplificou esta abordagem ao lidar com problemas. Um exemplo notável é o do assunto de comer alimentos oferecidos a ídolos (uma das quatro coisas alistadas na carta registada em Atos capítulo 15). Em Corinto, alguns cristãos até estavam a ir a templos de ídolos onde esses alimentos sacrificados eram depois cozinhados e servidos (por um preço) nos recintos do templo pagão. Para um cristão, comer ali era aos olhos de muitos dos seus condiscípulos — especialmente aqueles com antecedentes judaicos — indubitavelmente comparável à maneira como as Testemunhas de Jeová veriam hoje um dos seus membros tomar uma refeição na igreja, consistindo em alimento anteriormente abençoado por padres e servido na catedral Católica Romana de St. Patrick em Nova Iorque, com o dinheiro pago pela refeição a reverter para a igreja. Embora o ponto de vista possa ser comparável, o próprio assunto era muito mais sério. Como é que, então, o apóstolo tratou do assunto?
Será que ameaçou aqueles que comiam estes alimentos com procedimentos judiciais e uma provável desassociação? Apelou à lei, a um corpo de regras, como o meio de restringir esta prática? Pelo contrário, ele mostrou que a ação em si mesma não era condenável. Mas podia ter conseqüências indesejáveis, e até trágicas. Aconselhando à base, não da lei, mas do amor, ele escreveu:
É fácil pensar que “sabemos” acerca de problemas como este, mas devíamo-nos lembrar que embora este “saber” possa fazer um homem parecer grande, apenas o amor o pode fazer crescer até à sua estatura plena. Pois se um homem pensa que “sabe,” pode ainda estar muito ignorante daquilo que tinha obrigação de saber. Mas se ele ama Deus, é o homem que é conhecido por Deus.
Portanto, neste assunto de comer alimentos que foram oferecidos a ídolos, temos a certeza que nenhum ídolo tem existência real, e que não há Deus senão um…. Mas este nosso conhecimento não é partilhado por todos os homens. Pois alguns, que até agora têm estado habituados aos ídolos, comem os alimentos como realmente sacrificados a um Deus, e a sua consciência delicada é prejudicada por causa disso…. Tendes de ser cuidadosos para que a vossa liberdade de comer alimentos não cause embaraço a alguém cuja fé não é tão robusta como a vossa. Pois suponham que, com o conhecimento que tendes de Deus, éreis vistos a comer alimento num templo de ídolos, não estaríeis a encorajar o homem de consciência delicada a fazer o mesmo? Seguramente não quereis que o vosso conhecimento superior traga desastre espiritual a um irmão mais fraco por quem Cristo morreu? E quando pecais desta forma [isto é, usando mal a liberdade cristã] e feris a consciência dos vossos irmãos, realmente pecais contra Cristo.47
Portanto, se uma pessoa comia ou não comia, não dependeria da lei e da preocupação em ser considerado culpado de violar uma lei. Dependeria do amor e da preocupação em não ferir um irmão “por quem Cristo morreu” — verdadeiramente uma abordagem superior que fazia o cristão revelar o que estava no seu coração, e não simplesmente a sua submissão a uma regra.
O mesmo conselho demonstra que o apóstolo não encarava a decisão dos apóstolos e outros em Jerusalém (registada em Atos capítulo quinze) como uma “lei.” Se essa decisão fosse uma lei, Paulo nunca teria escrito como fez aos cristãos em Corinto, declarando francamente que comer ou não comer alimentos oferecidos a ídolos era um assunto de consciência, sendo o fator determinante se essa ação faria outros tropeçar ou não. Encarar a carta de Jerusalém como lei e, nesta base, pretender que a sua referência ao sangue indica que os cristãos permanecem sob os regulamentos da lei Mosaica a respeito do sangue, é claramente ignorar as declarações do apóstolo Paulo, no assunto do “alimento oferecido a ídolos,” mostrando que esse raciocínio não é válido.48 Se não era provável que outros tropeçassem, então ninguém podia corretamente julgar Paulo ou qualquer outro cristão por comer tais alimentos. Como Paulo declara:
Pois, por que haveria de ser julgada a minha liberdade pela consciência de outra pessoa? Se estou participando com agradecimentos, por que se há de falar de mim de modo ultrajante por causa daquilo pelo qual dou graças?49
A liberdade cristã nunca nos devia tornar insensíveis à consciência e escrúpulos dos outros. Ao mesmo tempo, ninguém tem o direito de impor a sua consciência aos outros, colocando desta forma limites à liberdade em Cristo que estes gozam. E nenhum grupo ou corpo seleto de homens, apresentando-se a si mesmos no papel de executores da autoridade apostólica, tem o direito de impor a sua consciência coletiva aos outros, fazendo decretos com esse pressuposto.
Foi dada no capítulo anterior a distinção entre lei e preceito, uma derivando a sua força através da imposição pela autoridade, a outra transmitindo princípios através do ensino. Jesus ensinava muitas vezes por parábolas, histórias que não estabeleciam leis mas que traziam forçosamente à atenção preceitos, lições morais vitais. A parábola do filho pródigo não estabelece uma lei para que se recebam de volta os filhos maus, se lhes faça uma festa, e assim por diante. Mas enfatiza um espírito amoroso, uma atitude generosa, misericordiosa. Encontramos nas Escrituras uma combinação de métodos — existem ordens firmes, é verdade, mas também existem relatos apresentando modos de vidaaprovados (viver em amor, mantendo relações pacíficas com outros); existem respostas para questões muito contextuais, Paulo, por exemplo, responde a várias destas questões mas claramente não o faz estabelecendo leis, mas antes dando sólido conselho espiritual, destinado ao assunto particular em questão.
Quão Genuína é a Unidade Alcançada?
É verdade que estabelecendo um controlo legal sobre outros pode-se alcançar uma espécie de unidade. Mas quão genuína é? Não é na realidade uma unidade e ordem baseada na uniformidade e no conformismo? Por outro lado, será que a recusa em permitir que os homens exerçam — através da sua interpretação legalista — controlo sobre a nossa vida pessoal contraria a verdadeira unidade e coesão? Significa que cada um parte na sua própria direção, à sua vontade, auto-suficiente, satisfeito consigo mesmo? Não precisa nem devia ser esse o caso — se a pessoa aceitar genuinamente a liderança Daquele que dá tal liberdade.
Tal como não podemos amar o Deus invisível e ao mesmo tempo odiar o nosso próximo, também não podemos estar unidos com o Filho invisível de Deus e em desacordo ou separados de todos os outros que também estão assim unidos e que se submetem humildemente à mesma liderança.50 Segundo as Escrituras, é o amor, e não o fato de se ser membro de uma organização, que é “o perfeito vínculo de união,” pois o amor é longânime, benigno, não é ciumento, não de gaba, não se enfuna, nem procura os seus próprios interesses, mas procura o bem dos outros.51
O amor não obriga as pessoas a um relacionamento coeso; em vez disso junta-as calorosamente. Qualquer pretensa unidade cristã fundada em outra base é fictícia, não é genuína, e só pode ser mantida por meios que não são cristãos.
A Bênção da Liberdade Cristã
Um conjunto de regras incrivelmente complexo está hoje em vigor entre as Testemunhas de Jeová e requer delas o uso da consciência pessoal numa área muito vasta de vida e conduta, sujeita-os a um grupo de legisladores eclesiásticos e a um supremo tribunal composto por uns quantos homens falíveis.52 Como um ex-membro desse grupo de legisladores e tribunal, estou convencido que a raiz do problema está no não reconhecimento da verdade que, como cristãos, não estamos mais sob lei mas sob a benignidade imerecida de Deus através de Cristo. Através do Filho de Deus podemos gozar liberdade de guardar a lei, regozijarmo-nos numa retidão que resulta, não de guardar a lei, mas da fé e do amor.
Não apreciar esta provisão divina, duvidar que é realmente possível uma Pessoa invisível exercer liderança e direção efetivas dos seus seguidores sem qualquer estrutura de autoridade altamente organizada, visível, a servir como um tribunal religioso, e a relutância em acreditar que as pessoas podem ser protegidas contra a conduta errada sem serem rodeadas por uma “cerca” de leis, regras e decretos — é isto que faz com que muitas pessoas, talvez a maioria, se sintam chocadas com a idéia de não estarem debaixo de lei, é por isso que rejeitam essa idéia como não apenas impraticável mas também perigosa, perniciosa, conduzindo à licenciosidade. Isso torna-os facilmente manipuláveis e convencidos pelos argumentos daqueles que querem introduzir e impor — para usar os termos da Torre de Vigia — um “arranjo legal de controlo,” que é “imposto” humanamente por um sistema judicial religioso.
É porque o Espírito de Deus concedido através de Jesus Cristo tem força superior à da lei, através do seu poder que motiva o cristão a amar Deus e o próximo, que o apóstolo pôde dizer:
Mas se sois conduzidos pelo Espírito, não estais debaixo de lei… os frutos do Espírito são amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fé, brandura e autodomínio. Contra tais coisas não há lei.53
Esta é a grandeza da liberdade cristã, saber que podemos desfrutar o exercício livre e espontâneo dessas qualidades divinas sem que nenhuma autoridade religiosa tenha o direito de se intrometer e anular expressões de amor e bondade ou brandura ou qualquer outra dessas qualidades. Eles podem fazer isto livres de ansiedade sabendo que “não há lei,” não há nenhum conjunto de regras que os refreie de fazer aquilo que eles estão convencidos nos seus próprios corações que é a coisa correta, boa, amável e amorosa a fazer, aprovada por Deus, embora seja desaprovada por certos homens.
Seguramente, então, o fato de não estarmos sob a lei mas sob a benignidade imerecida de Deus não minimiza de maneira nenhuma o nosso sentimento de responsabilidade como homens libertos por Cristo. Na verdade, até o aumenta. Pois sabemos que temos de “falar e comportarmo-nos como pessoas que serão julgadas [não por algum código de leis ou por um conjunto de padrões humanamente impostos, mas] pela lei da liberdade, porque haverá julgamento sem misericórdia para aqueles que não forem eles mesmos misericordiosos, mas os misericordiosos não precisam de ter medo do julgamento.”54 Essa “lei da liberdade” era a que o discípulo Tiago tinha acabado de mencionar na sua carta como a “lei soberana” ou “lei suprema,” nomeadamente, “Tendes de amar o vosso próximo como a vós mesmos.”
Existe um efeito purificador, que fortalece o coração, em saber que agradarmos ao nosso Pai celestial será determinado, não por termos vivido segundo a lei, um “corpo de regras,” mas por termos vivido segundo o amor. O Filho de Deus, nosso Cabeça e Mestre, que nos garante a liberdade de guardar a lei — e dos que querem impor leis religiosas humanas — exemplificou esse amor por nós. Por isso, não precisamos de memorizar nenhum conjunto complexo de regras organizacionais, nem sequer de pensar em termos de lei. Em vez disso, focamos a atenção no Filho de Deus e no que aprendemos dele através da Palavra de Deus e procuramos fielmente exemplificar a vida dele na nossa própria.
Notas
1 Romanos 14:22, 23, JB.
2 Esta posição é estabelecida na revista Despertai! de 22 de dezembro de 1982, que reproduz um artigo publicado no The Journal of the American Medical Association (O Jornal da Associação Médica Americana, edição de Novembro de 1981). O artigo foi preparado pela Sociedade Torre de Vigia e estabelece a posição das Testemunhas de Jeová acerca do sangue.
3 Comentário feito pelo Dr. Lowell Dixon, ex-membro da equipa médica e autor ou co-autor de vários artigos sobre o assunto do sangue nas publicações da Torre de Vigia.
4 Um inquérito à Cruz Vermelha de Atlanta em 22 de Janeiro de 1990 revelou que apenas cerca de 6% de todo o sangue que é doado ali vai para os hospitais como sangue total, sendo os outros 94% divididos em partes componentes.
5 The Encyclopædia Britannica (A Enciclopédia Britânica), Vol. 3 (1969), página 795; The Encyclopedia Americana (A Enciclopédia Americana), Edição Internacional , Vol. 4, 1989, página 91.
6 Curiosamente, a água, que compõe a maior parte do plasma, “move-se [livremente] para dentro e para fora da corrente sangüínea com grande rapidez” e junta-se à água das células do corpo e dos fluidos extra-celulares. Portanto, nunca é uma componente constante da corrente sanguínea. (The New Encyclopædia Britannica [A Nova Enciclopédia Britânica] , Macropœdia, Vol. 15, 1987, páginas 129, 131.)
7 The New Encyclopædia Britannica (A Nova Enciclopédia Britânica), Macropœdia, Vol. 15 (1987), página 135, indica que “A maioria dos leucócitos estão fora da circulação [sanguínea] , e os poucos na corrente sanguínea estão-se a deslocar de um sítio para outro.” Classificá-los como sendo uma “componente maior do sangue” é de certa forma como dizer que os passageiros que viajam num combóio são uma parte ou a totalidade do pessoal do sistema ferroviário. O Dr. C. Guyton, em The Textbook of Medical Physiology (O Manual da Fisiologia Médica; 7.ª ed., Saunders Company, Filadélfia), página 52, explica que a principal razão porque os leucócitos estão presentes no sangue “é simplesmente para serem transportados da medula óssea ou tecido linfático para os sítios do corpo em que são necessários.”
8 Há evidência de que a cifra apresentada no gráfico da Despertai! não é exata e que o percentual de leucócitos poderia aproximar-se de cerca de 1% do volume total do sangue. De qualquer modo, a fração é tão pequena que a Despertai! nem sequer tenta mostrá-la no tubo de ensaio da imagem, e está incluída com as plaquetas que, deve-se notar, constituem elas próprias cerca de 2/10 de 1% do total do sangue. As plaquetas também estão na lista das componentes proibidas.
9 The New Encyclopædia Britannica (A Nova Enciclopédia Britânica), Macropœdia, Vol. 15 (1987), página 135; J. H. Green, An Introduction to Human Physiology (Uma Introdução à Fisiologia Humana), 4.ª ed. (Oxford: Oxford University Press, 1976, página 16). Acerca da quantidade de leucócitos no leite humano, veja Armond S. Goldman, Anthony J. Ham Pong, e Randall M. Goldblum, “Host Defenses: Development and Maternal Contributions,” Year Book of Pediatrics (“Defesas do Hospedeiro: Contribuições do Desenvolvimento e Maternais,” Anuário de Pediatria; Chicago: Year Book Medical Publishers, Inc., 1985), página 87.
10 Gênesis 9:3, 4; Levítico 7:26, 27; 17:11-14; Deuteronômio 12:22-24.
11 Existem cerca de 50 gramas de albumina num litro de sangue. Portanto, para obter 600 gramas, são necessários uns 12 litros de sangue.
12 Este número foi calculado dividindo a quantidade de globulina gama numa seringa pela quantidade encontrada num litro de sangue.
13 Em 1900 era apenas 11 anos.
14 Esta estimativa é muito conservadora. O verdadeiro número é provavelmente muito maior na maioria dos casos. A Sentinela de 1° de outubro de 1985 (página 23) afirma que “cada unidade de Fator VIII é feita de plasma que é extraído de uns 2.500 doadores de sangue.”
15 A posição da organização sobre isto é exposta, com muitos detalhes técnicos e raciocínios, em A Sentinela de 1.° de março de 1989, páginas 30 e 31.
16 Veja a Despertai! de 22 de dezembro de 1982, página 22; A Sentinela de 1.° de dezembro de 1978, páginas 30, 31. Esta regra foi feita durante o período em que o risco da SIDA — embora nessa altura não existisse essa percepção — era alto; desde esse tempo, testes de despistagem e tratamento por calor têm reduzido grandemente o risco desta infeção relacionada com o sangue.
17 Veja a Despertai! de 22 de dezembro de 1982, página 22.
18 Elisabeth Rosenthal, artigo intitulado “Cegos pela Luz,” revista Discover (Descoberta), Agosto de 1988, páginas 28-30.
19 A minha esposa teve uma hemorragia que quase lhe causou a morte em 1970 quando o seu número de plaquetas [no sangue] caiu das normais 200.000 a 400.000 por milímetro cúbico para cerca de 15.000 por milímetro cúbico. Depois de dias de hemorragia grave, ela foi internada num hospital de Brooklyn e tanto ela como eu tornamos clara a nossa rejeição de plaquetas ou quaisquer outros produtos derivados do sangue (incluindo aqueles que depois dessa altura foram considerados “permitidos” pela organização.) Felizmente, duas semanas depois e tendo continuado com a terapia de prednisone, ela recuperou a saúde normal. Portanto, o que eu declaro neste livro não é devido a qualquer relutância pessoal em encarar a perda de um ente querido se eu acreditasse que a aderência à vontade de Deus o requeria.
20 Romanos 6:14; 10:4; Hebreus 8:6, 13.
21 Contrariamente às alegações da Torre de Vigia, nas Escrituras o sangue, em si mesmo, representa constantemente — não a vida — mas a morte, representando figurativamente a vida perdida ou sacrificada. Compare com Gênesis 4:10, 11; 37:26; 42:22; Êxodo 12:5-7 (compare este texto com 1 Pedro 1:18, 19); Êxodo 24:5-8; Mateus 23:35; 26:28; 27:24, 25, e assim sucessivamente. Quando faz parte de uma criatura viva, o sangue pode representar a vida ou uma “alma” vivente.
22 Levítico 17:13, 14; Deuteronômio 12:15, 16, 24, 25.
23 Conforme George Christoulas indicou, colocar a importância do sangue como símbolo acima da importância da própria vida é de certa forma como um homem dar mais importância ao seu anel de casamento (símbolo do seu estado de casado) do que ao seu próprio casamento, ou à sua esposa. É como se, colocado perante a escolha do sacrifício da sua mulher ou do sacrifício do seu anel do casamento, ele optasse por salvar o anel de casamento.
24 Romanos 3:27; 6:14; 10:4; Gálatas 3:10, 11, 23-25; Tiago 2:8, 12.
25 A Sentinela de 1.° de fevereiro de 1959 (páginas 95, 96), declara que “Cada vez que se menciona a proibição do sangue nas Escrituras, é em relação com tomá-lo como alimento, é como nutrição que nos interessa sua proibição.” Esta ainda parece ser a posição básica e por isso a Sociedade argumenta que uma transfusão de sangue é o mesmo que comer sangue, introduzi-lo no corpo como alimento.
26 Despertai! de 22 de Outubro de 1990, página 9. Numa tentativa de reclamar apoio médico para o seu ponto de vista do sangue transplantado como “alimento” para o corpo, as publicações da Torre de Vigia têm recorrido sempre a citações de alguma fonte médica de séculos anteriores, como o francês Denys do século 17. (Veja, por exemplo, A Sentinela de 15 de Abril de 1985, página 13.) Eles não conseguem citar uma única autoridade moderna em apoio deste seu ponto de vista.
27 A Sociedade Torre de Vigia comparou em tempos uma transfusão com injetar álcool nas veias. Mas o álcool é um líquido muito diferente, já está numa forma que as células do corpo conseguem absorver como nutriente. O álcool e o sangue são completamente diferentes neste aspecto.
28 Veja, por exemplo, a Sentinela de 1.º de março de 1989, página 30; 15 de abril de 1985, página 12.
29 Veja, por exemplo, a Sentinela de 1.º de Junho de 1990, páginas 30, 31. O apóstolo Pedro declara que Cristo “levou os nossos pecados no seu corpo para a cruz, para que, livres dos pecados, possamos viver para a justiça, e pelas suas feridas fostes curados.” (1 Pedro 2:24,NRSV; compare com Isaías 53:4, 5; Atos 28:27.) Mas isto certamente não justifica que se diga que o fato de uma pessoa tentar curar feridas ou outras doenças físicas recorrendo a tratamento médico é equivalente a mostrar falta de apreço pelo poder curativo de Cristo naqueles aspectos espirituais vitais.
30 Atos 15:20, 29.
31 Atos 15:5.
32 Atos 15:10.
33 Atos 15:19-21.
34 Compare com Atos 13:44-48; 14:1; 17:1-5, 10-12, 15-17; 18:4.
35 Compare com Atos 18:1-4, 24-28.
36 Mais uma vez, se aqui atribuíssemos um sentido absoluto à expressão ‘abster-se do sangue,’ encarando-a como uma espécie de proibição total, isto significaria que não nos podíamos submeter a nenhum tipo de análises ao sangue, não nos poderíamos submeter a cirurgias a menos que fossem do tipo que não envolve sangue, e teríamos de “permanecer afastados” do sangue de outras maneiras em todos os aspectos. O contexto não dá nenhuma indicação que tal proibição fosse pretendida e indica em vez disso que a ordem era direcionada especificamente à própria ação de comer o sangue.
37 Já em 15 de Abril de 1909, a Sentinela reconheceu que era esta a intenção da carta, ao dizer (página 117): “As coisas que são aqui recomendadas eram necessárias para a preservação da convivência no ‘corpo’ composto por judeus e gentios com a sua educação e sentimentos diferentes.”
38 Atos 15:5, 23-29.
39 Isto é discutido no Guia de Correspondência proposto, sob “Escolas, Educação Secular.”
40 Veja a Sentinela de 1.° de junho de 1965, páginas 330, 331; também a Sentinela de 1.° de outubro de 1975, página 600 acerca do manuseamento de sangue para transfusões. O Guia de Correspondência revisto (tal como foi submetido) diz que o médico ou enfermeira podem administrar tal transfusão se forem “mandados por um superior.”
41 Deuteronômio 14:21.
42 Deve-se notar que a mesma Sentinela de 1.° de junho de 1965 também deixa como uma questão de consciência a venda por um merceeiro ou um trabalhador do talho de chouriço de sangue “a uma pessoa mundana.” Parece que, tendo decidido usar esta parte da lei Mosaica para justificar a posição tolerante em relação aos profissionais médicos, o escritor da matéria também achou necessário incluir este comentário acerca dos merceeiros e dos trabalhadores do talho. Contudo, mais uma vez, isto não é vender carne de animais não sangrados, trata-se antes da venda de um produto feito através da recolha e do armazenamento e da preparação de sangue — condenada em todas as outras situações pela política da Torre de Vigia.
43 Nos Estados Unidos, os médicos e advogados que são Testemunhas têm encontros anuais para discutir assuntos como “confidencialidade e privilégios” nas suas relações com as outras Testemunhas, e tópicos similares. Duvido sinceramente que qualquer Testemunha com uma profissão de menor estima pudesse fazer reuniões semelhantes sem que estas fossem encaradas reprovadoramente ou desencorajadas pela organização.
44 Veja Judaísmo, Vol. II, por George Foot Moore (Cambridge, Harvard University Press, 1954), páginas 31, 32.
45 Mateus 23:27, 28, JB.
46 Romanos 13:8-10, NW.
47 1 Coríntios 8:1-12, PME.
48 Com respeito à imoralidade sexual (ou “fornicação,” em algumas traduções), também incluída na carta de Jerusalém, o apóstolo não apresenta isto como algo que pode ser certo ou errado, dependendo de causar ou não tropeço. Ele evidentemente encarava-a como não tendo nenhuma justificação. No entanto, também não é apresentada nenhuma regra legal como sendo necessária para que o cristão reconheça a necessidade de evitar a imoralidade sexual. Conforme Paulo observa em 1 Coríntios 6:13-19, se a pessoa é guiada pela lei do amor, achará isso inadmissível, reconhecendo a imoralidade sexual como um mau uso do seu corpo, que está em união com Cristo. (Veja também 1 Tessalonicenses 4:3-6.)
49 1 Coríntios 10:29, 30, NW.
50 1 João 4:20; 1 Coríntios 12:12-26; Efésios 4:15,16.
51 Colossenses 3:14, 1 Coríntios 13:4-7.
52 Numa carta escrita por Leslie R. Long, advogado da Torre de Vigia, datada de 29 de Março de 1987, ele refere-se a um comitê judicial congregacional como sendo “um tribunal eclesiástico.” Se o termo se aplica a nível congregacional, é muito mais aplicável no nível mais elevado, em que o Corpo Governante funciona como um “tribunal eclesiástico” supremo.
53 Gálatas 5:22, 23, NIV.
54 Tiago 2:12, 13, JB.
Raymond Franz
Extraído do site http://corior.blogspot.com/ em 31/03/2014