Na década de 1990, a seita Cientologia ficou famosa ao ser acusada pelo chanceler alemão Helmut Kohl de ter intenções expansionistas e por conquistar célebres atores, como Dustin Hoffman, John Travolta, Tom Cruise, Nicole Kidman, Juliette Lewis etc. Criada em 1954 pelo norte-americano L. Ronald Hubbard (1911-1986), ela mescla elementos psicoterapêuticos com aspetos de diversas religiões. Conhecedor das filosofias budista e hindu, ele criou a Dianética, um método de tratamento da alma que visa a libertar pessoas das psicoses, levando-as a enfrentar incidentes traumáticos que criam marcas na mente. Para os famosos adeptos dessa seita, ela é “o conhecimento do conhecimento”, e suas raízes se encontram nas ciências e aspirações mais profundas das grandes civilizações, abrangendo princípios de todas as religiões.
A Cientologia ficou restrita a alguns ricos e famosos, e só se ouve falar dela quando alguma celebridade — especialmente John Travolta e Tom Cruise — faz alguma “loucura cientológica”. Mas, em 1995, a Dianética foi “reinventada” pela “neuropata”, terapeuta de massagem e “leitora intuitiva” Vianna Stibal, também estadunidense, a qual tornou mais popular esse novo-velho método de “cura interior” que visa a transformar as saúdes física, emocional, financeira e espiritual das pessoas. Como sua aplicação se dá por meio da mudança do ciclo das ondas do cérebro, até chegar ao estado Theta (a qual alude à onda cuja origem remonta à letra grega theta, que pode significar “alma”), ela o chamou de ThetaHealing.
Cientologia e ThetaHealing, como movimentos, ostentam relevantes paralelismos, para além da coincidência de empregarem o mesmo método. Hubbard se dizia doutor em filosofia e engenheiro, mas abandonara a universidade de engenharia no segundo ano. Quanto ao outro título, tratava-se de um honoris causa pela Universidade da Sequoia, uma entidade de sua propriedade que nunca foi reconhecida oficialmente! Stibal, por sua vez, nunca frequentou a universidade, embora faça questão de apresentar-se como doutora em “Naturopatologia”. Ela mesma teria declarado que, “como mãe solteira com três filhos para cuidar, logo resolvi que trabalhar numa fábrica não oferecia muito futuro; assim, comecei a concentrar-me no estudo da ‘medicina naturopática’; e em março de 1994 passei à prática de massagem e naturopatologia em tempo integral” (MARTÍNEZ). Tudo indica que, durante dois anos de estudos, ela tenha conhecido a Dianética.
Hubbard dizia que, durante a Segunda Guerra (1939-1945), a Dianética cicatrizara seus profundos ferimentos. Ele, no entanto, jamais teria entrado em combate. Nos seus arquivos da marinha norte-americana, em Saint Louis, consta apenas uma úlcera de duodeno. Quanto a Stibal, embora ela assegure ter sido curada de câncer no fêmur ao aplicar o ThetaHealing — descrito por ela como uma técnica que ensina a usar a intuição natural, confiando no amor incondicional do “Criador”, a Energia que criou tudo ou a intenção que gerou o princípio de tudo, a “Energia Universal”, a “Energia de Amor incondicional” —, jamais apresentou qualquer documento do histórico médico. Ademais, os diversos relatos que tem feito sobre sua cura instantânea não concordam nos pormenores.
Segundo Stibal, atinge-se o estado Theta mediante relaxamento profundo, alcançado pela hipnose e durante o sonho, ativando-se ondas do subconsciente que regem a capa mental entre o consciente e o inconsciente, onde residem sensações, memórias e crenças. ThetaHealing faz uso da intuição natural, baseada no “Amor Incondicional” do “Criador”, solucionando, supostamente, qualquer tipo de problema e gerando mudanças profundas no corpo e na mente. Assim como Hubbard, Stibal afirma que sua técnica está acima das religiões, sendo capaz de mudar crenças, reprogramar o DNA (ácido desoxirribonucleico) do “paciente” e rejuvenescê-lo. Essa pretensa reprogramação do DNA, onde está a identidade de cada pessoa, ocorre por meio dos cursos DNA-1, DNA-2 e DNA-3. Estes ensinam a pessoa a trabalhar em nível atômico, expandindo as moléculas, alterando o DNA nas mitocôndrias e obtendo curas imediatas.
Stibal alega ter a chave da salvação para uma humanidade à beira da catástrofe global. Para ela, as toxinas e venenos de nossa sociedade industrial ameaçam a sobrevivência humana, de modo que “o fim do cromossomo da juventude e da vitalidade nos ajudará a sobreviver”, pois “é nesse tempo de iluminação quando a raça humana está de novo preparada para receber a juventude regenerada; o Criador me disse que começará com as Ativações de DNA, acionando o filamento fantasma no corpo de uma pessoa. Entendam que na realidade não estamos acrescentando sequências a ninguém; apenas estamos despertando o que já está aí” (MARTÍNEZ).
Quando Stibal se refere ao “Criador”, não tem em mente o Deus pessoal que se manifestou através de Jesus Cristo (Jo 1.14 e Hb 1.1) e se revela por meio das Escrituras e da Criação (Sl 119.130 e Rm 1.20). A terminologia do ThetaHealing é a mesma usada pelos gurus hinduístas que atuam no Ocidente. Para ela, o “Criador” tem muitos nomes: Deus, Buda, Shiva, Deusa, Jesus, Javé, Alá etc. Todos estes são correntes que fluem para o “Sétimo Plano da Existência” e a “Energia Criativa de Tudo o que É”. O “Criador”, portanto, seria a força ou a energia criativa que subjaz no Universo, de forma que este é imanente a “Deus”, e o “Sétimo Plano” seria alcançado pelo processo de meditação que libera a consciência da atração magnética da Terra e do egoísmo da pessoa. Na verdade, Stibal emprega a yoga dos hindus, visando a ajudar o “paciente” a se despojar de todo desejo e apego terrenos a fim de fundir-se com o absoluto.
Outro termo do hinduísmo usado por Stibal é “consciência cósmica”. Segundo ela, a conexão com o “Criador” propicia uma “co-criação” ou sinergia com “Deus”, através da qual é possível “trazer ao Criador a nossa realidade para curar a outros e a nós mesmos”. No ThetaHealing fala-se muito em “chakras” ou centros de energia latentes no corpo humano. Embora diga que seu método está acima das religiões, Stibal admite que “nenhuma cultura tem desenvolvido as chakras mais que os hindus a partir da filosofia tântrica e o yoga” (MARTÍNEZ).
Segue-se que o “Criador” do ThetaHealing é panteísta. E o panteísmo, como se sabe, é a teoria “que considera todas as coisas finitas simplesmente como aspectos, modificações ou partes de um ser eterno e auto-existente; que enxerga todos os objetos materiais, e todas as mentes particulares, como sendo necessariamente derivadas de uma única substância infinita” (THIESSEN). Trata-se de uma crença filosófica herética que advém do mundo greco-romano, pela qual se defende a ideia de que Deus é e está em tudo e todos. Ou seja, não há relação entre criatura e Criador, pois, em última análise, como Deus é tudo, e tudo é Deus, a própria humanidade forma parte dessa suposta deidade impessoal. O Criador mencionado nas Escrituras, entretanto, é único, pessoal e se relaciona com seus servos (Dt 6.4; Jo 14.6 e 1 Tm 2.1-5).
Ciro Sanches Zibordi
Artigo publicado no Mensageiro da Paz, ano 85, n. 1575, 2016
Referências
MARTÍNEZ. Jaime Duarte. El Engaño de la Nueva Era. México: Red Iberoamericana de Estudio de las Sectas, 2012.
THIESSEN, Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 2001.
ZIBORDI, Ciro Sanches Zibordi. Cientologia: a seita dos ricos e famosos. Seara, a Revista Evangélica, Rio de Janeiro: CPAD, ano 40, n. 5, 1997.