Templo de Salomão tem revista até na saída do banheiro

templo revista

Para evitar celular, Templo de Salomão tem revista até na saída do banheiro

Quem chegou ao local equipado com o telefone móvel teve de colocar o aparelho em um dos 5 mil cofres individuais da igreja

Em nenhum um festival de rock, estádio de futebol ou fórum de Justiça a revista feita pelos seguranças é tão severa e minuciosa. Aberto nesta sexta para o público após funcionar 21 dias apenas para convidados e caravanas, o Templo de Salomão da Igreja Universal do Reino de Deus, no Brás, região central de São Paulo, impôs um “pente-fino” aos seus fiéis antes da entrada e dentro da igreja. Para evitar qualquer celular ou foto, existe uma revista até na saída dos banheiros.

Nos dois primeiros cultos realizados para o público em geral, o maior espaço religioso do País passou o dia lotado de fiéis que tinham conseguido senha durante o mês de julho. Mas quem chegou com celular teve de colocar o aparelho em um dos 5 mil cofres individuais que a igreja oferece em seu subsolo. Por volta das 18h30, os cofres acabaram e dezenas de fiéis de outras cidades que estavam com aparelho telefônico ficaram do lado de fora, assistindo ao culto pelo telão.

“O bispo Edir (Macedo) vai demitir toda a equipe de segurança se uma única foto for feita lá dentro”, argumentou um segurança sobre a proibição. A revista demorava cerca de dois minutos, incluindo a passagem por barras de sensores iguais às de aeroportos e a abertura da carteira de documentos. Quem saía para ir ao banheiro precisava passar por uma nova revista e por uma barra de sensores antes de voltar para o culto.

A proibição irritou alguns fiéis. “Se eu soubesse teria ido no culto aqui na igreja do lado mesmo. Poxa, nem precisava tirar foto, mas onde agora vou deixar meu celular?”, reclamava Isilda Gerônimo, de 34 anos, costureira e fiel da Universal há 17 anos. As portas do templo também foram fechadas cinco minutos antes do início do culto das 19 horas – dezenas de fiéis que chegaram atrasados também assistiram ao culto pelo telão externo.

Mesmo para quem chegou duas horas antes, a entrada também não era tão simples. Quem tinha a senha ganhava uma pulseira colorida na outra Universal vizinha ao megatemplo, também localizada na Avenida Celso Garcia. A reportagem foi até o balcão da confirmação e conseguiu uma senha com a fiel Maria Conceição da Silva, doméstica de 56 anos. “Era da minha filha, que está doente, com bebê pequeno. Foi Deus que está dando isso pra você, não sou eu, não. Isso vai mudar sua vida”, previu a ela.

Culto. Dentro do templo, homens e mulheres em roupas largas e brancas recepcionavam os fiéis dizendo “shalon”, cumprimento entre judeus que significa paz em hebraico. Momentos antes do culto, o sultuoso salão com paredes de mármore branco italiano, onde cabem 10 mil pessoas sentadas, tem luz baixa e cantos líricos nos telões. O áudio é perfeito e muitos fiéis choram ajoelhados, emocionados com a presença no local. “Só Deus mesmo para fazer um lugar desses”, dizia um fiel à reportagem.

As poltronas acolchoadas do templo, vermelhas e de veludo, são mais confortáveis que as da maior parte dos cinemas da cidade. Todos os assentos têm um envelope com caneta em uma repartição pequena à frente, para os fiéis fazerem as doações. O altar fica fechado por uma cortina rosa transparente e, quando o bispo aparece, as cortinas são abertas como em uma apresentação de musical ou teatro.

Quando entra um bispo de quipá azul e fortíssimo sotaque carioca, os fiéis logo se levantam e começam a cantar emocionados. Em sua fala, o bispo começa dizendo que, “quando o Estado de Israel baixava sua guarda, ele era atacado pelo inimigo. Nós também precisamos levantar as mãos e mostrar para Deus que temos fé, que somos clementes.”

Logo após dizer isso sobre o Estado de Israel, o bispo diz que todos agora podem pegar os envelopes à frente das poltronas, “colocar a décima parte do que têm na carteira” e levantar as mãos, dizendo que são clementes a Deus.

“Para as pessoas lá fora somos ignorantes. Mas para Deus somos aliados”, discursava o bispo, enquanto cerca de 8 mil fiéis erguiam os envelopes já preenchidos com o dízimo. “Vocês não vão sair daqui diferentes só porque vieram ao templo. Vocês vão sair daqui diferentes pela fé que vão demonstrar que possuem”, acrescentou o bispo.

Após 90 minutos, o culto acaba com fiéis se abraçando emocionados, prometendo uma nova visita ao templo. Muitos correm para pegar seus celulares nos cofres do subsolo. “Tem uma energia diferente, é realmente a casa de Deus. Ele estava aqui, deu pra sentir isso a todo momento”, disse Valéria Teodoro de Sousa, de 41 anos, de Resende, no Rio de Janeiro. “Vou voltar agora, sete horas de ônibus. E amanhã cedo já vou na Universal lá ao lado de casa para agradecer pela visita que Deus preparou a essa casa tão linda”, acrescentou.

Extraído do Jornal Estadão em 23/08/14

Sair da versão mobile