Uma das pessoas que sobreviveram ao naufrágio do Titanic, pintou um quadro vívido do fim daquela tragédia horrorosa.
Quando o navio gigantesco elevou-se no ar, perto de mergulhar pela última vez no abismo, centenas de sombras podiam ser vistas caindo nas águas geladas.
Por alguns momentos horríveis depois de a sobrevivente ter mergulhado, ela ouviu os gritos de desespero saíram dos lábios de homens e mulheres que se afogavam. Um a um, os gritos foram se calando até que só restou uma voz clamando na noite, sobre os escombros no oceano. Era a voz de um homem. Em agonia indescritível, ele clamava: “Meu Deus! Meu Deus!” O último clamor da alma que partia foi enfraquecendo, e então se calou totalmente, e o silêncio foi mortal.
Já tentei imaginar o que deve ter passado pela mente daquele último homem lutando na escuridão contra a fatalidade certeira.
Talvez o doce tocar do sino da igreja do vilarejo ressoou-lhe na escuridão, e ele entendeu que deixou passar muitas oportunidades de ouvir o Evangelho.
Talvez a voz trêmula da mãe orando, enquanto ele — um menino inconsequente — se apoiava em seu colo, tenha ressurgido na memória e homem agora entendia o que Deus havia planejado para a vida que ele desperdiçou.
Talvez na escuridão daquela noite horrorosa, ele tenha sentido novamente o abraço do seu melhor amigo de infância enquanto este lhe pedia: “Rapaz, rapaz, por que você não se entrega a Jesus?”.
Talvez algum versículo bíblico que ele tenha desmerecido e desprezado alardeou pelo céu iluminado de estrelas: “Como escaparemos, se negligenciarmos a tão grande salvação?”.
Mas agora era tarde demais. As águas geladas cobravam os danos que haviam causado. O fim tinha chegado de uma hora pra outra.
Todas as pessoas estão flutuando rapidamente em direção ao momento inevitável em que as cortinas da vida irão descer; quando o espetáculo terminar, quando a cena passar das loucuras temporárias para as tremendas realidades da eternidade. Quando a última crise se abater, poderá ser muito tarde para endireitar os passos com Deus, com Aquele de quem você viveu longe todos esses anos.
Quando a colisão trágica acontecer na estrada e você for arrastado nas ferragens — será tarde demais.
Quando o gigantesco navio, cambaleante e descontrolado por causa de uma rachadura num dos lados, estiver se preparando para o último e horroroso mergulho no abismo do oceano — será tarde demais. Quando a última dor agonizante estiver lhe cortando o peito como uma espada, e você der o último suspiro, elevar os braços, agarrar o nada e cair de costas — será tarde demais.
Quando as garras de ferro da paralisia prender seus pés e suas mãos, e sua mente confusa, aturdida só conseguir entender os soluços das pessoas à volta de seu leito de morte — então será tarde demais.
Então, uma mãe pálida se ajoelhará no quarto silencioso da morte, sobre seu corpo inerte, e clamará: “Ó, Deus, meu filho está salvo?” Ou uma esposa devastada entrará quietamente, se colocará ao seu lado, e olhando em seu rosto, gritará em agonia: “Ó, Deus, está tudo bem com meu marido?” Quem sabe um pai de cabelos grisalhos soluçará no desespero da dúvida: “Meu filho, me filho. Quem dera o Senhor me permitisse ter morrido em seu lugar!”.
———–
(The Highway and Hedge Evangel) – FONTE: O AMIGÃO DO PASTOR – VOL. 24 – Nº 09 SET/2014