Não! O crescimento da presença evangélica no Brasil não está sendo acompanhado por uma formação teológica adequada! Uma das coisas que tem contribuído para esta resposta negativa é a proliferação de escolas e institutos bíblicos despreparados, por toda a parte, sem bibliotecas. Assim, continuaremos tendo uma igreja muito mais propensa a sentir do que a pensar ou refletir, tudo isso reforçado por um anti-intelectualismo que permeia grande parte dos evangélicos atualmente. Acho que a teologia evangélica não pode influenciar a igreja católica. Roma tem posições definidas e vem mantendo com sucesso, ao longo do tempo, seus dogmas e posições. Basta verificar o comportamento dos últimos papas e principalmente do atual, João Paulo II. Aonde quer que vá, ele jamais cede às pressões para que haja mudanças nas posições do catolicismo em relação à ordenação de mulheres, às questões do aborto e do controle de natalidade. É verdade, no entanto, que a igreja evangélica, principalmente o seu segmento pentecostal, tem influenciado a teologia e a liturgia da renovação carismática católica. O uso intenso de símbolos, os mesmos cânticos e gestos – a aeróbica do Senhor – têm sido transportados, com sucesso, do ambiente neo-pentecostal para as missas do padre Marcelo Rossi e de outros. Às vezes, alguns modismos ou desvios doutrinários influenciam um ou outro líder católico, mas de forma isolada. É o caso do padre Alberto Gambarini, que usa os mesmos métodos de arrecadar fundos de alguns televangelistas: vende medalhas, apresenta ensinos questionáveis tais como quebra de maldições hereditárias e outros na área de batalha espiritual. Dá a impressão de que ele é um pastor tentando agradar católicos ou um padre tentando agradar evangélicos. Creio que a postura do catolicismo, de não negociar suas posições, deveria servir de exemplo para evangélicos que não hesitam em incorporar novos modismos teológicos e práticas heterodoxas, baixando o padrão de suas pregações para conseguir mais adeptos e inchar suas igrejas. Crise da éticaA chegada de políticos evangélicos a cargos públicos não fará diferença na ética política do país, pois o universo político evangélico não constitui, pelo menos por enquanto, uma referência ética para a sociedade. Basta ver que, nos últimos anos, o envolvimento da maioria dos evangélicos com a política produziu mais males do que benefícios. A própria CPI do orçamento revelou o triste fato de deputados e organizações evangélicas roubando o tesouro público. Vários políticos evangélicos sucumbiram aos subornos, mentiram, venderam votos e tornaram-se assunto de piada por parte dos incrédulos. Creio que a crise da ética vivida por grande parte da igreja atualmente exige de seus líderes respostas e ações urgentes. Muitos jovens evangélicos colam nas escolas e acham que não há nenhum problema em fazê-lo. Conheço pastores que, quando alguém liga para sua casa, instruem os filhos a dizer no telefone que o pai não está, ensinando-os a mentir. Basta ir às livrarias evangélicas para constatar o grande número de cheques sem fundos emitidos por crentes. Como vamos ensinar aos políticos brasileiros algo que não praticamos? Sei que há, pelo Brasil afora, líderes evangélicos e cristãos sinceros, mas não são a maioria e nem ganham visibilidade. Infelizmente, os que aparecem não representam a melhor parte do mundo evangélico. A igreja precisa, com urgência, colocar o ensino e a prática da ética bíblica na sua agenda de prioridades. Ensinar e viver a ética cristã é o caminho a ser percorrido por nós, se quisermos, de fato, ser o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5: 1 3-16). Lamentavelmente, a atual ética política evangélica representa um retrato negativo, oposto ao que devemos ser enquanto cidadãos e cristãos evangélicos. Paulo Romeiro – Jornalista, mestre em Teologia pelo Gordon-Conwell Theological Seminary e presidente da Agência de Informações Religiosas.