Perseguição aos que guardam o sábado
Na Cidade Velha de Jerusalém, em frente do Portão Novo (New Gate), um casal de norte-americanos, Roger e Joyce Brown, adventistas do sétimo dia, distribuíam panfletos contra o Vaticano e os Estados Unidos.
Estão unidos para criar uma lei que proibirá os judeus e os adventistas do sétimo dia de guardar o sábado como dia santo, explica Roger. Ele afirma que o respeito ao sábado aproxima judeus e adventistas do sétimo dia. Por isso, eles estão na Terra Santa fazendo esse alerta contra a possibilidade de uma lei mundial que oficialize o domingo como dia santo universal.
Roger e Joyce explicam que há missionários em vários países distribuindo 17 milhões de panfletos, editados em sete línguas, alertando sobre a aliança entre o papa João Paulo II e o presidente Bill Clinton [1].
Naturalmente, para o leitor não familiarizado com os escritos dos adventistas surge uma pergunta:
Que identidade de propósitos pode haver entre o atual papa João Paulo II e o atual presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, para que fossem citados nesses 17 milhões de folhetos em todo o mundo?
Por que esse número assombroso de folhetos e dispêndios financeiros tão grandes com missionários espalhados por todos os lugares nesse alerta mundial?
Interpretação do Apocalipse
O fundador do movimento adventista na América do Norte, William Miller, dedicava-se exclusivamente ao estudo do livro de Daniel. Com base em Daniel 8.13-14 interpretou que a vinda visível e corporal de Cristo se daria em 1843. Depois, alterou a data para 22 de outubro de 1844, por sugestão de um seu seguidor, Samuel Snow.
A data de 22 de outubro de 1844 é o ponto de partida para todo o movimento do Advento iniciado na outra América. É também conhecido como o Grande Desapontamento. Grande Desapontamento por não se terem cumprido as profecias de William Miller com relação à segunda vinda visível e corporal de Cristo.
Existe uma série de livros publicados pelos adventistas sobre interpretações do Apocalipse. Possuem um curso por correspondência sobre esse livro. Para eles é um livro aberto e de fácil interpretação, notadamente o capítulo 13 que é amplamente explorado. Valem-se desse capítulo para interpretar que:
“Declara-nos o Apocalipse que pouco antes da Segunda vinda de Cristo, por força de lei, será imposto a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, um sinal … da besta. Ninguém poderá comprar ou vender qualquer coisa se não tiver esse sinal da besta (Ap 13.16-17)”. [1].
A profecia do capítulo 13 do Apocalipse declara que o poder representado pela besta de cornos semelhantes aos do cordeiro fará com que a Terra e os que nela habitam adorem o papado, ali simbolizando pela besta semelhante ao leopardo. A besta de dois cornos dirá também aos que habitam na Terra que façam uma imagem à besta; e, ainda mais, mandará a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos que recebam o sinal da besta (Ap 13.11-16).
Mostrou-se os Estados Unidos são o poder representado pela besta de cornos semelhantes aos do cordeiro, e que esta profecia se cumprirá quando aquela nação impuser a observância do domingo, que Roma alega ser um reconhecimento especial de sua supremacia. Mas nesta homenagem ao papado os Estados Unidos não estarão sós. A influência de Roma nos países que uma vez já lhe reconheceram o domínio está ainda longe de ser destruída. E a profecia prevê uma restauração do seu poder. Vi uma de suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda Terra se maravilhou após a besta (Ap 13.3).
A inflição da chaga mortal indica a queda do papado em 1798. Depois disto, diz o profeta: A sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta. Paulo declara expressamente que o homem do pecado perdurará até o segundo advento (2Ts 2.8). Até mesmo ao final do tempo prosseguirá com a sua obra de engano. E diz o escritor do Apocalipse, referindo-se também ao papado: Adoraram-na todos os que habitam sobre a Terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida (Ap 13.8). Tanto no Antigo como no Velho como no Novo Mundo o papado receberá homenagem pela honra prestada à instituição do domingo, que repousa unicamente na autoridade da Igreja de Roma [2].
Sendo a primeira besta o Papado e a segunda, os Estados Unidos, este verso quer dizer que os Estados Unidos vão obrigar o povo a adorar o Papado. Unicamente obrigando o povo a guardar o domingo podem os Estados Unidos fazê-lo adorar o Papado, pois o domingo existe como dia santo por autoridade deste [3].
O Esperado Decreto Dominical
Surge, então, o problema magno para os adventistas, objeto dos folhetos distribuídos pelo casal de americanos: o folheto traz um alerta: o Papa João Paulo II (a primeira besta de Ap 13) fará uma aliança com os Estados Unidos (a segunda besta com chifres de cordeiro), representados pelo seu Presidente Bill Clinton e juntos editarão um decreto de abrangência mundial: todos devem obrigatoriamente guardar o domingo. Caso não cumpram o decreto os que assim teimosamente procederem, serão perseguidos e mortos.
Quem, no caso, seriam os perseguidos? Os guardadores do sábado, como os Adventistas do Sétimo Dia e os judeus.
Declaração de um Ex-Adventista
Ubaldo Torres de Araújo foi adventista por muitos anos. Publicou o livro “Igreja de Vidro”. O autor diz:
“Os líderes do adventismo difundem entre os pobres e indefesos membros leigos a neurose da perseguição, que é uma maneira de tirar vantagens imediatas para a Igreja. Falam de uma perseguição de que serão vítimas, e que, há anos, está se esboçando no cenário mundial. Afirmam que tudo já está em andamento nos Estados Unidos. Ensinam que a propalada perseguição será desencadeada contra eles, justo por serem o povo de Deus, a nação eleita, o sacerdócio real.
Conheço irmãos que desejam ardentemente a sua chegada. Em alguns, o desejo chega a ser sádico. Uma verdadeira obsessão. Conheci, no nordeste, um moço, crente fervoroso, que me disse, certa ocasião, que estava orando para que logo chegasse a perseguição. Certamente, ele gostaria de provar que estava pronto para as suas conseqüências. Chegou a ler um trecho de O Grande Conflito para defender sua … tese” [4].
Outro escritor, adepto da sindrome da perseguição, assim se manifesta:
“Talvez nenhum movimento religioso no mundo tenha sido alvo de ataques ferinos e descaridosos como os Adventistas do Sétimo Dia. E isto sem dúvida em cumprimento de Ap 12.17 [5].
Suposta Base Bíblica
O versículo base para tal síndrome de perseguição é Ap 12.17:
“E o dragão irou-se contra a mulher e foi fazer guerra ao resto da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo.”
A interpretação Adventista é a seguinte:
“O dragão (o diabo) irou-se contra a mulher (Igreja Adventista) e foi fazer guerra ao resto de sua semente (o povo adventista), os que guardam os mandamento de Deus” [6].
Estaria o livro de Apocalipse aguardando a chegada dos adventistas no cenário mundial?
Segundo os adventistas eles seriam perseguidos porque guardam o sábado e transgrediriam o decreto dominical a ser instituído pelo Papa João Paulo II apoiado por Bill Clinton. Prosseguem ainda mais para dizer que o livro de Apocalipse se referia a eles.
Para os Adventistas o texto diz: “… e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12.17). O que significa isso? Como o livro de Apocalipse é um livro aberto para eles, juntam com Ap 19.10: “… porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia” e aplicam essa expressão para sua profetisa Ellen G. White, possuidora do espírito de profecia. Seus escritos são considerados tão inspirados quanto a Palavra de Deus.
Entretanto, sabemos “nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:20-21) Isto posto, não se poderia dar uma interpretação particular do texto bíblico à sra. E. G. White, a não ser que, de antemão, se tivesse tal propósito.
Essa preocupação com o futuro decreto dominical e o desencadeamento de uma perseguição é que põe os adventistas em estado de alerta: é a síndrome da perseguição que estão vislumbrando para um futuro bem próximo, mas que já dura para mais de cem anos.
NOTAS:
1 – O Sinal da Besta e as Sete Pragas do Apocalipse. Autor: Denilson Fonseca de Carvalho, 6a. edição, pág. 3.
2 – O Conflito dos Séculos. Autora: Ellen G. White. CPB, 1983, pág. 584.
3 – O Sinal da Besta e as Sete Pragas do Apocalipse. Autor: Denilson Fonseca de Carvalho, CPB, pág. 31.
4 – O Conflito dos Séculos. Autora: Ellen G. White. Ed., 1983, pág. 68.
5 – Sutilezas do Erro. Autor: Arnaldo Christianini. CPB, pág. 30, 42.
6 – Preparação para a Crise Final. Autor: Fernando Chais, CPB, pág. 79.
Matéria extraída da Revista Defesa da Fé – Edição novembro/2000, págs. 56 a 59.