Nem a Igreja Católica Romana nem o papado podem ser identificados com qualquer das bestas, por falta absoluta de cumprimento do que se exige no livro de Apocalipse. É perigoso forçar a Palavra de Deus a dizer aquilo que ela não diz.
Em suas campanhas proselitistas, os adeptos da guarda do sábado insistem em afirmar que todos os guardadores do domingo têm o sinal da besta, estão enganados por falsos profetas e estão debaixo da ira de Deus, conforme afirmam estes textos bíblicos:
“E fez que a todos, pequenos e grandes, ricos c pobres, livres e escravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita. ou na testa… também o tal beberá do vinho da ira de Deus, preparado, sem mistura, no cálice da sua ira. E será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre. Não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a sua imagem, e aquele que receber o sinal do seu nome… E a besta foi presa, e com ela o falso profeta que diante dela fizera os sinais com que enganou os que receberam o sinal da besta, e os que adoraram a sua imagem. Estes dois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre” (Ap 13.16; 14.10.11; 19.20).
Embora tais julgamentos não tenham nenhuma base bíblica quando aplicados aos cristãos na era da graça, eles não deixam de assustar e confundir os incautos, principalmente os novos convertidos ainda não plenamente firmados na sã doutrina da Palavra de Deus.
Baseando-se em interpretações forçadas dos livros de Daniel e Apocalipse, os sabatistas creem que o papado é a primeira besta do Apocalipse, e que foi ele o autor da mudança da guarda do sábado para o domingo.
Desfazendo dúvidas
Tanto os escritores do Novo Testamento como os escritores que lhes seguiram nos primeiros séculos da era cristã são unânimes em afirmar que os cristãos primitivos passaram a descansar no domingo em comemoração à ressurreição do Senhor Jesus e aos grandes eventos que se deram nesse memorável dia. Além de haver ocorrido no primeiro dia da semana a consumação da obra redentora — considerada mesmo maior que a da própria criação — foi também nesse dia que Jesus apareceu diversas vezes aos seus discípulos, dando provas de sua vitória completa sobre o pecado e a morte (Jo 20.1 -26; Ml 28.1.8- 10; Lc 24.3-15; Mc 19.9-13).
Foi também no primeiro dia da semana que Jesus abençoou seus discípulos e deu-lhes o Espírito Santo (Jo 20.19.22). Nesse dia muitos santos ressurgiram e também nele o Espírito Santo iniciou sua dispensação na terra, batizando os primeiros crentes e dando-lhes poder para pregar o evangelho da graça de Deus. Foi ainda no domingo que três mil almas se converteram a Cristo (Mt 27.52.53; At 2.1.2.41).
Não é de admirar, portanto, que a igreja se reunisse no primeiro dia da semana a fim de cultuar a Deus e comemorar tantos eventos gloriosos, e passasse a chamar esse dia. no mundo latino, de domingo, que quer dizer “dia do Senhor”.
O fim do sábado
Como integrante da lei mosaica, o sábado foi cumprido por Cristo, que o cravou na cruz, conforme afirma a Escritura: “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e as potestades. os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” (Cl 2.14-16).
Os versículos 14 e 15 do texto acima são assim traduzidos por Phillips:
“Foi ele que perdoou todos os pecados. Por termos que brado as leis e os mandamentos, fomos condenados, mas Cristo riscou essa condenação que pesava sobre as nossas cabeças, anulando-a completamente e pregando-a na cruz sobre a sua própria cabeça. E depois, retirando a força aos poderes hostis a nós. expô-los já despedaçados, vazios e derrotados, no seu alo final glorioso e triunfante!”
Os sábados, inclusive o semanal, como é evidente, não pertence à nova dispensação. não foi ordenado nem por Jesus nem pelos apóstolos, pois era apenas um sinal entre Deus e Israel (Ez 20.10-12).
Acusado pelos judeus de violação do sábado. Jesus afirmou que “o sábado foi feito por causa do homem”, e que Ele “até do sábado é Senhor” (Mc 2.27; Ml 12.8). Assim, por um lado Jesus defende o princípio moral do quarto mandamento do decálogo. que é a necessidade humana de se descansar um dia em cada sete, valendo para esse fim qualquer deles; e. por outro lado, ao condenar o cerimonialismo que cercava o guarda do sábado, revela sua autoridade divina sobre esse sétimo dia para cumpri-lo, aboli-lo ou mudá-lo. O autor da Epístola aos Hebreus escreveu que os israelitas não puderam entrar no repouso de Deus por causa da sua incredulidade. E conclui: “Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus” (Hb 4.8). O sábado da lei, como sombra das coisas vindouras, prefigurava o descanso espiritual que encontramos, pela fé, em Cristo, que disse: “Vinde a mim. todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28).
A voz da História
O pastor Ricardo Pitrowski. na obra O Sabatismo à Luz da Palavra de Deus, relaciona testemunhos comprobatórios de que a instituição do domingo, corno dia de descanso, não partiu do papa.
Acerca do concilio de Laodicéia, realizado em 364, local e data apontados pelo sabatismo como sendo os da mudança da guarda do sábado para a guarda do domingo, afirma a mencionada obra que o bispo de Roma não esteve presente nem foi representado. Apenas 32 pastores (ou bispos) da Ásia Menor compareceram àquela reunião, cujo objetivo não foi outro senão disciplinar pequenas questões locais.
É importante salientar aqui que nesse tempo o bispo de Roma ainda não possuía nenhuma autoridade sobre outras igrejas, e mesmo uns duzentos anos mais tarde sua influência ainda era nula no Oriente. E mais: Laodicéia não é Roma, não fica na Europa e não é cidade latina!
Portanto, fazer do papa ou do papado a primeira besta e da guarda do domingo o seu sinal é torcer violentamente tanto os fatos históricos como os ensinamentos claros das Escrituras Sagradas.
Quem será a besta?
Quando dava os meus primeiros passos na fé crista, em 1959, depois de desembaraçar-me das doutrinas sabatistas em que fui criado até os oito anos de idade, deparei-me com um curioso folheto espírita no qual se procurava identificar o papa com a besta através da aplicação do número 666 aos vários títulos usados pelo pontífice romano.
Os adventistas se valem do mesmo expediente para justificar seus ensinos, esquecendo-se de que ao longo dos séculos esse mesmo número da besta já foi aplicado a dezenas de pessoas e instituições que perseguiram os cristãos ou os judeus, estando entre essas pessoas Hitler e a própria co-fundadora do sabatismo, a Sra. Ellen Gould White. Somando-se as letras desse nome que tem valor em algarismos romanos (o “U” como “V” e o “W” como “VV”, como se usava antigamente), obtém-se o mesmo misterioso número 666! Se esse fato significa que também o sabatismo entra na esfera de tudo quanto é contrário a Deus, então o sinal da besta poderia ser a guarda do sábado, e não a do domingo!
Mas a Bíblia é muito clara em afirmar que o 666 é número de homem e não de mulher. Por outro lado, as bestas do capítulo 13 do Apocalipse ainda não se manifestaram, e é bem provável que elas surjam somente depois do arrebatamento da igreja, embora já possamos vislumbrar o seu futuro surgimento mediante a restauração do império romano na Europa e aos progressos do movimento ecumênico liderado pelo Conselho Mundial de Igrejas. Este último, que já conta com mais de seiscentos milhões de adeptos, tem como objetivo principal uma só Igreja e um só governo para o mundo.
Por outro lado, a igreja romana não foi esquecida pela Bíblia e está descrita de maneira inconfundível no capítulo 17 de Apocalipse. É a grande prostituta, “a mãe das abominações da terra”. Nem ela nem o papado podem ser identificados com nenhuma das duas bestas por absoluta falta de cumprimento do que se exige cm Apocalipse 13. É perigoso torcer ou forçar a Palavra de Deus.
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LIVRO: O SABADO, A LEI E A GRAÇA – CPAD – ABRAÃO DE ALMEIDA