Seria o inferno apenas uma mitologia?
Muitos em nossos dias, usando suas vãs filosofias e com o objetivo de suavizar uma punição de seus pecados, vêm procurando a todo custo negar a existência do Inferno. Contudo, do ponto de vista divino de observação, o Inferno existe como existe o Céu e outras realidades. Negar que o Inferno existe é negar por extensão as verdades divinas e os princípios básicos da existência de Deus.
As Escrituras, porém, vão mais além e revelam ser o Sheol (hebraico) não apenas um lugar, mas sobretudo um lugar de pena (2Sm 22.6 e SI 18.5; 116.3), onde os iníquos são lançados (SI 9-17) e onde estão conscientes. Alguns, procurando negar essa realidade do Inferno, têm opinado que Sheol pode ser traduzido por Queber (hebraico), que significa “sepultura”. Mas devemos ter em mente que não é a mesma coisa. Sheol vem sempre citado no singular, ao passo que Queber vem sempre no plural e pode, portanto, ser traduzido de fato por “sepultura”, “cova” e “túmulo”. Assim, Queber se refere ao lugar do sepultamento do corpo, enquanto que Sheol, em seu sentido primitivo, indica o lugar de prisão da alma que partiu desta vida para o além sem a proteção divina.
Em sentido geral, posteriormente os gregos traduziram Sheol para Hades, palavra esta que se deriva de idein e significa “ver”, com o prefixo do negativo a=, significando, assim, o “invisível”. Seu sentido primitivo, segundo os professores semíticos, leva o sentido de o “além” ou o “reino dos mortos”. Porém, ainda que o Inferno em sentido primitivo apresente esse significado de o “invisível”, é, contudo, descrito na Bíblia como sendo “um lugar”. Também os escritores de ambos os Testamentos escreveram sobre o Inferno – mesmo usando palavras diferentes – mas todas elas, sem exceção, apontam para a existência de um lugar real, literal e objetivo. Esse lugar é descrito como sendo um “grande abismo”.
O Senhor Jesus falou e advertiu aos homens sobre a existência do Abismo. Ele disse: “…ali haverá pranto e ranger de dentes”. Esse lugar é uma plylahê – “prisão tenebrosa” (1Pd 3-19). Como uma cidade, tem portões e ferrolhos (Mt 16.18 e Ap 1.18).
Assim como na terra e no mar, existe também no mundo invisível a “região abissal”. Esse abyssos é realmente um adjetivo, com significado de “sem fundo”, “insondável”. Empregado isoladamente com substantivo gê (“terra”), subentendendo significa “lugar sem fundo” e, portanto, um “abismo”. No grego da Septuaginta, a palavra representava as “profundezas primevas”, “oceano primevo” ou “o reino dos mortos”, ou ainda “o mundo inferior”, que significa também “uma região tenebrosa, triste e inativa”. Ocorre 25 vezes na Septuaginta, mormente para traduzir o hebraico tehôm, isto é, “o oceano primevo” (Gn 1.2), “águas profundas”, (SI 42.7), o “reino dos mortos” (SI 71.20). O judaísmo e até escritores helenistas conservaram o significado de “dilúvio primevo” para tehôm. Essa palavra, no entanto, também representa o “interior da terra”. No Novo Testamento, essa expressão é equivalente a Hades, Sheol e outros termos que são traduzidos dentro do mesmo conceito.
Nas Escrituras são usadas algumas palavras para descrever esse lugar de sofrimento. Dentre outras, estas são as que mais frequentemente são usadas: Inferno, Sheol, Geena, Abismo, Queber, Abadom, Apoliom, Tártaro, Poço do Abismo, Hades, Lago de Fogo etc. Nas páginas do Novo Testamento também são usadas várias expressões para representar o significado do pensamento. Por exemplo: fogo eterno (Mt 25.41); trevas exteriores (Mt 8.12); tormento (Ap 14.10-11); castigo eterno (Mt 25.46); ira de Deus (Rm 2.5); segunda morte (Ap 21.8); eterna destruição (2Ts 1.9); eterno juízo (Mc 3.29); cadeias da escuridão (2Pd 2.4); prisões eternas (Jd v6); e Lago de Fogo (Ap 20.14 etc).
A história do rico e Lázaro, narrada por Jesus em Lucas 16, descreve o Hades como sendo um lugar. Se não fosse assim, jamais Jesus o teria descrito dessa maneira (Lc 16.28). Alguns podem até alegar: “Isso é uma parábola, portanto uma alegoria”. Mas devemos ter em mente que o texto em si não diz ser esta história uma parábola apenas. Nela Jesus começa dizendo: “Ora, havia um homem rico”. Depois, acrescenta: “Havia também certo mendigo, chamado Lázaro” (vrs 9-20).
Quando trata-se de uma parábola, não aparece durante a alegoria os nomes dos personagens. Contudo, nessa história contada por Jesus, pelo menos três são citados tanto no texto como no contexto: Lázaro, Abraão e Moisés (v20, 23, 29). Tal história deve ser aceita como tendo sido um fato. Jesus sabia onde os dois moravam. Eles viveram depois de Abraão, de Moisés e de muitos profetas que escreveram alguns livros da Bíblia. A cidade que o fidalgo morava ficava dentro dos termos de Israel. O Senhor só não informou o nome da cidade para evitar especulações supersticiosas e adorações falsas.
O Inferno existe! Ele não é simplesmente o Hades mitológico dos gregos, cujo irmão, chamado Zeus, o mandou aprisionar debaixo da terra, para seu castigo. Hades é um lugar real de sofrimento e dor, uma região triste e inativa, onde todo aquele que viveu e morreu sem ter aceitado o plano da Redenção oferecido por Deus e efetuado por Jesus passará toda a sua existência, pois o próprio hades será lançado no Geena eterno (lago de fogo) (Ap 20.13).
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SEVERINO PEDRO, FONTE: REVISTA “REPOSTA FIEL” ANO 4 – N° 16