A questão da imortalidade da alma humana tem sido motivo de várias controvérsias, especialmente entre as correntes religiosas. Não faz muito que li sobre este assunto, um artigo em uma revista de caráter cristão, no qual o autor procurava sofisticamente negar a imortalidade da alma humana; para isso evocava certas passagens bíblicas, e sobre as tais procurava impingir suas sofismáticas interpretações.
Sofismas
Dá-se o nome de sofisma a raciocínios erróneos que são falsamente apresentados como verdadeiros, devido a apresentarem certas ambiguidades, isto é, que podem ser tomados em dois sentidos opostos; fato este que é francamente explorado pelos sofismadores, especialmente em matéria religiosa. Os sofismas podem ser de palavras, de ideias ou de metáforas.
Há seitas heréticas, como seja a chamada Testemunha de Jeová, cuja doutrinação é essencialmente sofista. Esta seita, fraudulosamente, explora as passagens que podem apresentar confusões de sentidos e nas quais fundamenta a sua doutrina.
Uma das passagens exploradas por eles, com sofismas de palavras, é a seguinte: No Salmo 146, versículo 3, lê-se: “Não confieis em príncipes nem em filhos de homens, em quem não há salvação“. Então eles dizem: Jesus é chamado Filho do Homem e provam isto pela Bíblia; neste caso concluem: No Filho do Homem, Jesus, não há salvação. Sofismam a expressão “Filho do Homem”, dando-lhe um sentido inteiramente contrário, e assim procedem com muitas outras passagens.
Sabe-se que a expressão “filhos de homens”, contida no Salmo citado, não está se referindo a Jesus, mas eles sofismaticamente deturpam-lhe o sentido, baseados com tais palavras.
Sofismas de metáforas
Outras vezes são os sofismas de metáforas, isto é, tomar uma passagem figurada como se fosse literal, e vice-versa.
O sofismador a quem me referi não é da seita supracitada, mas de outra, que também nega a imortalidade da alma, afinando pelo mesmo diapasão sofismático.
Quero adiantar que tomei a palavra alma não no sentido ordinário, simplesmente da vida animal, sensitiva e instintiva, que pertence também aos brutos; mas na acepção intelectual e espiritual, no que se refere unicamente ao ser humano; sendo essa a grande diferença entre o homem e os brutos. Aquele possui a imortalidade, pelo espírito unido à alma; estes, não tendo espírito, não a possuem. Ponto explorado pelos sofismadores, os quais procuram igualar os homens aos brutos.
A passagem que o referido articulista sofismava está contida em Marcos 9-43,48 e referências, onde o Senhor fala do fogo do inferno, do fogo que nunca se apaga, do bicho que nunca morre, e isto, por repetidas vezes.
Eles dizem, sofismando, que o Senhor se referia a um fogo que existia no Vale de Hinon, nos arredores de Jerusalém, onde os adoradores de Moloque faziam passar seus filhos pelo fogo em honra ao falso deus, prática horrível e abominável, condenada veementemente pelo Senhor, através do profeta Jeremias (Leia Jeremias 7.31,34; 19-2,6). Nesse lugar também, segundo os historiadores, era jogado todo lixo e escória da cidade, e ainda os corpos dos que eram crucificados, razão por que o fogo ardia constantemente. E por ser um lugar onde eram praticadas tantas abominações e onde se queimavam tantas imundícies, Jesus o tomou como figura do fogo eterno, ou seja, o fogo do Inferno.
É evidente que Jesus não se referia literalmente ao fogo daquele vale, pois ao tempo em que Ele se referia, isto é, ao fim dos tempos, o fim do mundo, ou seja o Juízo Final, aquele fogo do Vale de Hinon, de há muito havia desaparecido.
Os versículos supracitados o demonstram evidentemente. Nesse caso, seriam falsas a palavra do Senhor: “Fogo que nunca se apaga”, e “Bicho que nunca morre”, repetidas vezes. É também evidente que nenhum bicho vivo suporta a ação do fogo. Logo, é inconcebível bichos vivos, os que lá eram lançados, os quais, em poucos segundos já seriam reduzidos a cinzas.
Por conseguinte, o fogo a que Jesus se referia, era insofismavelmente o fogo eterno; lugar este onde os ímpios hão de passar toda a eternidade e onde também segundo a Bíblia serão atormentados para todo o sempre (Ap 20.10; 21.15). O bicho que nunca morre será a eterna consciência do pecado atormentando inteiramente os que rejeitaram a graça de Deus.
Sofisma de palavra
Eles sofismam também o termo “segunda morte”, como referindo-se ao aniquilamento total do espírito. Ora, é evidente, biblicamente, que a separação total de Deus é chamada “morte”.
É assim que Paulo disse aos Efésios: “Estando vós mortos em vossos delitos e pecados“, Ef 2.5. Falando ainda sobre as viúvas que viviam em deleites dizia ele: “Vivendo está morta” (lTm 5.6). Por conseguinte, a separação de Deus significa “morte”, tanto nesta vida quanto na eternidade; entretanto, nem num, nem noutro caso quer dizer aniquilamento total.
A alma humana, além de ser imortal, conserva sua individualidade e consciência de sua própria existência, bem como conserva a lembrança dos tempos que deu vida orgânica ao composto corpo humano, conservando ainda o princípio de identidade.
A história citada por Jesus em Lucas 16.19,31, ou seja, do Rico e Lázaro e Abraão, evidencia muito bem essa asserção. Os três personagens da história, mesmo em estado de eterna sobrevivência e imortalidade, conservavam as suas próprias personalidades, perfeita lembrança do passado, e ainda identidade, pois conheciam perfeitamente um ao outro. E Jesus não iria fazer uma parábola que representasse significado diferente da realidade. Uma existência inconsciente perderia a razão de ser da imortalidade, nem seriam lógicos o castigo e a vida eterna, sem o conhecimento de causa para quem os receber. Por conseguinte, há perfeito conhecimento de causa para quem sofre, bem como o reconhecimento de mérito para quem goza; mérito para quem goza; mérito este, obtido mediante a obra expiatória de Cristo, o doador da vida eterna.
A imortalidade é o fim último da alma humana, onde ela permanecerá ciente de si mesma por século.
É tão evidente a imortalidade, que é questão instintiva e inata ao ser humano: Pois até os pagãos e os indígenas possuem noção de sobrevivência consciente e eterna além desta vida terrena. Negar essa verdade é ser mais cego que um pagão, e mais ignorante que um índio selvagem. Só mesmo para um sofismador, que alimenta uma ideia a priori concebida, e resistente à voz da própria consciência.
Trevas exteriores ou paralogismo
Há outro modo de sofisma, que se denomina paralogismo, isto é, é o mesmo sofisma. Só que o indivíduo emite o raciocínio e faz asserção errada, nutrindo boa fé, sem a intenção de induzir alguém ao erro; ensina errado, julgando estar certo, embora isto seja tão prejudicial quase como o sofisma de má fé, pois sempre conduz ao erro. Por exemplo: Há quem diga ou quem ensine que as trevas exteriores que Jesus falou em Mateus 25.30 não é uma referência à condenação eterna, mas que o Senhor falava simplesmente das festas que os antigos monarcas usavam fazer, nas quais os convidados que não chegavam na hora certa eram deixados do lado de fora e, como geralmente era noite, ficavam nas trevas exteriores, enquanto os outros gozavam e se deleitavam na festa.
É o caso também da parábola das Dez Virgens, contida no mesmo capítulo, que relata que as cinco virgens que chegaram atrasadas, depois de a porta já estar fechada, clamavam do lado de fora: “Senhor, abre-nos a porta!” (Mt 25.11). Ora vê-se que o ensino é essencialmente figurado. O Senhor serve-se do fato das festas, como um exemplo para os crentes retardados, a fim de que, como aqueles ficavam do lado de fora, nas trevas exteriores, não vá alguém também perder oportunidade de entrar na mansão celestial para as Bodas do Cordeiro (Ap 19-9).
É este o ensino das duas parábolas do capítulo 25 de Mateus, e nunca admitindo um terceiro lugar na eternidade, isto é, Céu, Inferno e trevas exteriores. Tal paralogismo converte-se na doutrinação espiritista de espíritos vagando nas trevas exteriores, coisa inadmissível perante a Bíblia, salvo os que agora estão e os que assim andam, aguardando, porém o Juízo daquele grande dia (Jd 6).
Ademais, vê-se ainda que o ensino é figurado, pela maneira como o Senhor começa ambas parábolas, assim: “Então o reino dos céus é semelhante a dez virgens…” e a outra: “Porque isto é também como um homem que partindo para fora…“.
É evidente que a expressão “trevas exteriores” é figurada e se refere à condenação eterna. Em Apocalipse 22.15 lê-se: “Ficarão ‘fora’ os cães, os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras e qualquer que ama e comete a mentira“. Será então que, todos que se vê formam a totalidade dos ímpios, vão ficar apenas fora, nas trevas exteriores? Nesse caso, o Inferno vai ficar vazio, e é bom logo acabar com ele, como fizeram as Testemunhas de Jeová.
Acho que as expressões “segunda morte”, “Ficarão fora”, “Fogo eterno”, “Lago de fogo”, “Trevas exteriores”, e muitas semelhantes, têm a mesma significação, isto é, a condenação eterna, e creio ser isto uma evidência. Mas tanto estas como as outras, são ardilosamente sofismadas pelos inimigos da verdade, e muitos, de boa fé, têm sido enganados.
Outra evidência
O autor de quem me referi no princípio, começou o seu artigo com estas palavras: “Há uma outra evidência”. Ora, se uma coisa é evidente, não pode haver outra evidência contrária. Nesse caso seria uma grosseira e absurda asserção contraditória.
Sendo a evidência “o critério supremo da verdade e a razão última de toda a certeza”, não podem existir duas evidências contrárias sobre um fato, pois a evidência é também o motivo supremo da certeza, ela revela o mais alto grau de certeza, onde não pode haver sombra de dúvidas. Portanto, a “outra evidência” que procura provar o aniquilamento da alma e do espírito, é opaca, é sombria, é duvidosa, e nunca pode gozar o privilégio da evidência. É a chamada “evidência ilusória” ou “ilusão de evidência”, as quais sempre partem de um estado de espírito anormal. Tal é a outra evidência, que procura ofuscar a verdade da imortalidade da alma.
Prezado leitor! Já que chegaste até aqui, ouve o que te digo agora: Tu possues uma alma imortal, cujo destino eterno é o Céu ou o Inferno. Aceita hoje Cristo como teu Salvador, pois não há outro nome no qual devamos ser salvos. “Quem crer (obedecer) e for batizado será salvo e quem não crer será condenado” eternamente. Esta é a evidência da salvação e da imortalidade, sobre a qual não pode haver negação alguma.
—-
Fonte: Sofismas, paralogismos, trevas exteriores – outra evidência Elizeu Queiroz de Souza – Junho/1960 (Artigos Históricos – Mensageiro da Paz – CPAD – Vol.2).