Santo Daime: Quando a droga é religião

O Santo Daime é um culto baseado no consumo de um chá com propriedades alucinógenas, extraído de plantas da floresta amazônica, a ayahuasca (literalmente vinho das almas), e que centraliza suas ativida­des nos rituais de preparo e consumo da bebida. É uma seita eclética, pois mis­tura o espiritismo, os cultos afro-brasileiros, o catolicis­mo romano e a pajelança.

O chá é feito a partir do cipó-jagube e da folha chacrona, típicos da flores­ta equatorial, e induz a es­tados alterados de percep­ção. A ingestão do líquido costuma provocar vômito e diarreia, principalmente em iniciantes.

A palavra “Santo” dá cunho sa­grado ao chá. Já “Daime’’ – afirmam alguns – vem do verbo dar, no impe­rativo. Por exemplo, “Dai-me paz, Dai-me saúde, Dai-me felicidade”, que são as aspirações dos seus usuá­rios.

O livro sagrado que adotam é um hinário. As letras dos hinos constitu­em a diretriz para os seguidores e é onde encontram-se suas crenças bá­sicas. Todos os ensinos são ministrados por hinos, entoados no estado alterado de consciência proporciona­do pelo Daime. A principal caracte­rística desse ritual é o canto.

Dizem eles, que o seu objetivo espiritual é alcançar o autoconhecimento e a experiência com Deus, ou do Eu Superior Interno. Segundo acreditam, o uso de uma substância enteógena (droga), como sacramen­to, sempre fez parte das principais tra­dições religiosas da antiguidade e for­neceu a base visionária das principais religiões no mundo. Tal ensinamento é espúrio, já que nem no judaísmo e muito menos no cristianismo bí­blico se vê o uso de drogas para se ter experiências com Deus. Isso é feitiçaria, abominável a Deus.

O Daime mistura espiri­tismo, idolatria e feitiçaria, três coisas conde­nadas veemen­temente pelas Sagradas Escri­turas (Dt 18.9- 21.8). Esse ecletismo religioso pre­gado pelo Daime é rechaçado con­tundentemente pela Palavra do Se­nhor. Deus não aceita misturas (2Co 6.14-18).

Os trabalhos da religião do San­to Daime são realizados de acordo com um calendário oficial, que defi­ne os dias santos e festejos do ano daimístico. Os templos e centros em todo o mundo devem seguir as datas estipuladas para formar uma “corren­te de positividade” nessas ocasiões. Quase na totalidade, eles seguem as festividades dos dias santos do catoli­cismo romano, acrescentando mais uma festa extra: a data do nascimen­to do fundador (15 de dezembro). O ano religioso tem começo em 6 de janeiro, em homenagem aos “Três Reis do Oriente”, seguin­do-se as datas de 20 de janeiro (São Sebas­tião), Sexta-feira San­ta, 24 de junho (São João Batista), 2 de no­vembro (Finados) e 8 de dezembro (Senho­ra da Conceição, padroeira dos trabalhos do Daime).

Os “hinários” do Daime são 12 horas seguidas de cânticos e bailados em torno de uma estrela de seis pontas, ao som de di­versos instrumentos e maracás, e trazem, se­gundo eles, uma visão distorcida dos Evangelhos. Esses hinários se relacionam à aparição de Senhora da Conceição, a santa católica roma­na que supostamente teria vindo co­municar-se com o fundador Raimundo Irineu, ordenando e dando as diretri­zes doutrinárias e litúrgicas da nova religião, sendo descrita como a Rainha da Floresta, e é também a mesma lemanjá do espiritismo. Na verdade, trata-se de um espírito maligno.

O cozimento do cipó para fazer a bebida do Daime é um dos exemplos de espiritismo nessa religião. No mo­mento do cozimento, não se deve con­versar com a pessoa encarregada, pois ela controla o ponto de fervura da bebida, que é indicado por uma enti­dade do Santo Daime presente no pla­no astral, que se manifesta no momen­to em que se completa o cozimento para a panela ser retirada da fornalha. Essa entidade, que desce e se mani­festa tomando os sentidos da pessoa no momento em que é completado o cozimento, o que caracteriza a posses­são demoníaca (Lc 8.29), é chamada pelos nomes indígenas de Rei Titango, Princesa Janaína, Tuperci, Ripi laiá, Currupipipiraguá, Equior, Tucum e muitos outros, que são espíritos das florestas. Isto é, demônios.

Fundador

Raimundo Irineu Serra era maranhense, 1,98m de altura, nascido em São Luís do Ferré (MA), em 15 de dezembro de 1892 e falecido em 6 de julho de 1971, na cidade de Rio Bran­co, Acre. Na época áurea da borracha, mi­grou para o Acre atraído pela extração do látex da seringueira. Trabalhando como seringueiro no Peru, juntamen­te com os irmãos Antonio e André Costa, Irineu conheceu a bebida milenar designada como ayahuasca, utilizada pelas sociedades indígenas da região em seus rituais, e que ele viria a chamar mais tarde de “Santo Daime, a bebida sagrada”.

Os adeptos desta seita afirmam que Irineu veio do Maranhão, ainda jovem, desconhecendo totalmente a missão a ser desenvolvida por ele na Amazônia. Dizem ter vindo tra­zido espiritualmente pela “Rainha Mãe”, para receber e difundir a reli­gião entre os povos amazônicos.

O chá provoca visões. Em uma delas, e em transe mediúnico, Raimundo Irineu disse ter-lhe apare­cido uma mulher, chamada Clara, que se dizia “Nossa Senhora da Concei­ção, a Rainha da Floresta”, que teria lhe dito: “O que você está vendo agora ninguém jamais viu, só tu. E eu vou te entregar esse mundo para tu go­vernar. Agora tu vai se preparar, por­que eu não vou te entregar agora. Vai ter uma preparação para ver se você merece verdadeiramente. Vai passar oito dias comendo só mandioca cozi­da, com água e mais nada.”

Após essa experiência, Irineu relatou que a mulher da visão deu o nome de Santo Daime à bebida e di­tou normas para a realização do ritu­al. Ele teria adquirido poderes extrasensoriais, passando a ter vidência e a comunicar-se com os mortos. Nas reuniões evocam Jesus Cristo e os santos católicos romanos, e entidades indígenas.

A tal iluminação que Raimundo Irineu Serra disse ter choca-se com a Palavra de Deus, que é a nossa única regra de fé e prática. Paulo afirmou que ainda que um anjo do céu ou ele mesmo anunciasse um outro evangelho, diferente do que havia sido rece­bido, algo além do que foi ensinado por nosso Senhor Jesus Cristo e mi­nistrado pelo apóstolo, fosse anátema, alvo de repúdio (G1 1.8). Irineu, no entanto, diz ter recebido uma re­velação nova, e ainda mais com a Senhora da Conceição do catolicismo ro­mano. Quem diz que fala com santos ou profetas do passado está dizendo que fala com gente que morreu, e isso é feitiçaria, abominável a Deus (Dt 18.9-13).

Expansão

Até o final dos anos 70, o Santo Daime esteve restrito à fronteira dos Estados do Amazonas e Acre, onde se localiza a principal comunidade daimista do país, a Vila Céu do Mapiá. O local é, ainda hoje, considerado um paraíso para os seguidores da doutrina. O resto do Brasil conheceu o Santo Daime no início dos anos 80, quando seguidores do Rio e de São Paulo levaram o chá da Amazônia e seu ri­tual foi divulgado até por artistas de televisão e por famosos cantores, es­tabelecendo assim filiais em todo o país e no exterior.

Em 1945, Irineu fundou o Centro de Ilumina­ção Cristã Luz Uni­versal, que chegou a congregar 500 membros efetivos. Um dos seus discí­pulos, um serin­gueiro conhecido como Padrinho Se­bastião, fundou ou­tra comunidade, a Colônia Cinco Mil, também no Estado do Acre, que no foro civil foi registrada como en­tidade filantrópica, tendo o nome de Centro Eclético de Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra (Cefluris). Depois da morte do fun­dador, em 1971, Padrinho Sebastião o substituiu na direção da entidade, vindo a falecer em 1990. O filho de Sebastião, o padrinho Alfredo Gregório de Melo, está na liderança do movimento, que, atualmente, conta com cerca de 30 núcleos e um núme­ro superior a 5 mil adeptos, dentre eles atores e cantores famosos.

Tanto o Santo Daime como a União dos Vegetais (que também uti­liza o Cipó Caapi e a folha Chacrona como alucinógenos) já estão bastante difundidos em vários Estados do Bra­sil e já chegaram em muitos países. Em Manaus, existem cinco centros da UDV (União dos Vegetais) e três do Santo Daime.

O jovem Fábio Moreira, ex-adepto, mas hoje ser­vo do Senhor Jesus, conta que durante os cultos canta- se com o mais vivo entusias­mo muitas can­ções de louvor. Compelidos pela bebida, eles viram a noite em dan­ças e bailados. Ele relata que viu pes­soas se transfigurarem, em êxtase, com os olhos esbugalhados. Muitos vomi­tam, enquanto outros são acometidos de desarranjos intestinais, ou as duas coisas juntas. Eles dizem que quando ocorre a ânsia de vômitos e a diarréia depois que se toma o chá é que a pessoa está passando por uma espé­cie de “limpeza espiritual’’, pois o pra­ticante está se livrando de tudo aqui­lo que o impede de estar em comu­nhão com Deus, crendo que pelo Daime pode-se contemplar a luz di­vina, alcançar a purificação do espíri­to e a cura interior.

Para muitos, carentes de ajuda espiritual ou emocional, o trabalho de assistência espiritual oferecido pelo Santo Daime se tornou uma alternati­va, oferecendo solução enganosa para vários sintomas e doenças da grande crise existencial e emocional vivida pelo homem moderno. Dessa forma, os centros passaram a atender cada vez mais casos de pessoas gravemen­te enfermas, com distúrbios de com­portamento, sequelas mentais ou que tiveram suas personalidades seria­mente danificadas, principalmente por desordens afetivas e traumas familia­res. Em muitos casos, são pessoas completamente abandonadas pelas famílias ou rejeitadas afetivamente por elas.

Doutrina

Segundo os membros do culto, o efeito da bebida promove uma ex­pansão na consciência que, sem a perda da capacidade de ação volun­tária, permite que se observe os pró­prios sentimen­tos e pensamen­tos com maior clareza. O estado de consciência intensificada pelo chá amplifi­ca as situações recorrentes da vida cotidiana, revelando con­tradições existen­ciais e processos interiores que se repetem inconscien­temente em diversos níveis. Esses pro­cessos involuntários são compreendi­dos pela consciência intensificada dos participantes. De acordo com os se­guidores, os rituais são uma “auto- análise”, onde o processo vivido so­bre o efeito da bebida abre as portas do subconsciente e leva a um exame crítico de nossas ações cotidianas.

Porém, segundo eles, não se pode resumir o efeito da ayahuasca ao psicológico, nem reduzir seus efei­tos a reações químicas, pois existiria, dizem, um aspecto espiritual nos ri­tuais, com incorporações conscientes e fenômenos ligados à videntes e à cura. A presença de seres de luz, bem como de espíritos desencarnados, se­ria claramente vista nos rituais. Exis­tem, inclusive, adeptos da bebida que aliam o uso do chá à incorporação de entidades da linha da umbanda, evi­denciando a presença do já citado ecletismo religioso.

Nos trabalhos do Daime, o as­pecto espiritual é associado ao psico­lógico, uma vez que os cânticos ritu­ais tanto servem para doutrinar os “desencarnados” como para, simulta­neamente, apontar as falhas e os de­feitos morais dos participantes. Nesse duplo processo de auto-desenvolvimento psicológico e desobsessão es­pírita, os participantes sofrem as peias e têm as mirações.

A peia, uma espécie de sofrimen­to purificador, representa uma difícil prova cármica a ser vencida ou o cas­tigo necessário à correção de algum comportamento equivocado do participante, e pode se manifestar na for­ma de vômitos, choro convulsivo, diarreia e mal-estar generali­zado. Já a miração é uma visão mística que mescla a reve­lação divina com os sím­bolos do in­consciente, muitas vezes coincidentes com a temáti­ca e os personagens mencionados nos cânticos.

Ao visitarmos uma das igrejas do Santo Daime em Manaus, um dos di­rigentes, um senhor de 72 anos, sen­do 20 anos só de adepto da religião, recebeu-nos bem, contudo afirman­do que o efeito do chá – a peia ou a miração – é praticamente indescritível através das palavras. Disse que para saber verdadeiramente o que signifi­ca o Santo Daime é necessário tomar o chá e vivenciar os fenômenos, o que fica a critério de cada um. O daimista nos informou que a peia conduz à purificação e a miração à iluminação.

Tanto o ritual do Daime quanto seu propósito chocam-se frontalmen­te com o ensino bíblico. Absolutamen­te nada do culto Daime tem a ver com a Palavra de Deus.

A Bíblia diz que o culto cristão deve ser racional, algo feito consci­entemente (Rm 12.2), e não sob o uso de drogas ou “muletas”. Além disso, também deve ser realizado com de­cência e ordem (ICo 14.40). E quan­to ao propósito do culto, a chamada “limpeza espiritual”, este também é tremendamente absurdo. A puri­ficação do espí­rito só pode ocorrer por meio do sangue de Jesus Cristo. É o sangue do Senhor Jesus que nos purifica de todo o peca­do (Jo 1.29 e IJo 1.7). A cura de nossas interioridades depende da nossa entrega ao Senhor Jesus, e não de rituais místicos (S1 37.5 e Mt 11.28-29).

Os alucinógenos são substânci­as que interferem no funcionamento correto da mente, levando seus usuá­rios a estados de alucinações. A pala­vra alucinação significa, em linguagem científica, percepção sem objeto. Isto é, a pessoa que está em processo de alucinação percebe coisas sem que elas existam. Assim, quando uma pes­soa ouve sons imaginários ou vê ob­jetos que não existem ela está tendo uma alucinação auditiva ou uma alu­cinação visual. As alucinações podem aparecer espontaneamente no ser humano em casos de psicoses. Mas também podem ocorrer em pessoas normais (que não têm doença men­tal) que tomam determinadas substân­cias alucinógenas, ou seja, que “pro­duzam” alucinações. Alguns autores também as chamam de psicodélicas. A palavra psicodélica vem do grego (psico, “mente”, e delos, “expansão”) e é utilizada quando a pessoa apre­senta alucinações e delírios em certas doenças mentais ou por ação de dro­gas.

É óbvio que essas altera­ções não significam expansão da mente. A alucinação e o delírio nada têm de aumento da atividade ou da capacidade mental. Do contrário, são aberrações, perturbações do perfei­to funcionamento do cérebro, tanto que são característicos das doenças chamadas psico­ses.

Os efeitos da bebida não são as mesmas em todas as pessoas. Às vezes são agradá­veis (ocorrem as ‘‘boas via­gens”) e a pessoa se sente re­compensada pelos sons incomuns, cores brilhantes e pelas alucinações. Em outras ocasiões os fenômenos men­tais são de natureza desagra­dável, visões terrificantes, sen­sações de deformação do próprio corpo, certeza de morte iminente etc. São as chamadas “más viagens” ou, segundo eles, “cobranças da consci­ência”. Na verdade, os efeitos são di­ferentes dependendo da sensibilida­de e personalidade do indivíduo, da expectativa que a pessoa tem sobre os efeitos, o ambiente, a presença de outras pessoas etc. Por isso as rea­ções psíquicas variáveis.

Como podemos ver, quem bus­ca solução no Daime está não só fu­gindo da verdade e se afastando de Deus, mas também entregando-se à loucura.

Cláudio Rogério dos Santos – FONTE: REVISTA “ RESPOSTA FIEL” – ANO 3 – N°10

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