“Como é que Agostinho pode ter tido tanta influência não só sobre católicos, mas também sobre muitos protestantes?
É assustadora a quantidade de heresias introduzidas ou potencializadas por Agostinho:
1) que Maria teria nascido e vivido sem pecado,
2) que existe um purgatório,
3) que os sacramentos salvam,
4) e que não há salvação fora da Igreja Católica,
5) que a autoridade do Papa e da Igreja estão acima daquela da Bíblia,
6) que é correto perseguir e matar os hereges, tornando-se, assim, uma espécie de pai da Santa Inquisição,
7) que Deus predestinou uns para o céu e outros para o inferno e
8) que sexo é pecado até mesmo dentro do matrimônio,
9) que o pecado é transmitido hereditariamente através das relações sexuais,
10) e a ideia de que o pecado está na carne e que o homem só pode ser liberto do domínio do pecado quando se libertar da carne através da morte, ideia de influência gnóstica e que os calvinistas costumam também endossar, o que implica em dizer que a morte é mais poderosa do que Jesus, pois somente ela nos libertará do domínio do pecado.
Mas não é isto que o Apóstolo Paulo ensina em Romanos 6 e que também encontramos em inúmeras outras passagens bíblicas que falam do novo nascimento que nos confere um novo coração que nos capacita a vencer o pecado. Como é, então, que um teólogo equivocado destes pode tido também tanta influência sobre os protestantes?
Como é que se deu a influência de Agostinho sobre o protestantismo?
Bem, como a queixa principal de Lutero era contra a cobrança de taxas para conceder o perdão aos pecadores, ele busca convencer o Papa apoiando-se não apenas nas Escrituras, mas também em um renomado teólogo católico que é o Santo Agostinho, cujos ensinos favorecem a ideia da salvação pela graça e não pelas obras. Tal simpatia por Agostinho acaba abrindo brecha para a aceitação de algumas de suas demais teses, como a predestinação. E o reformador Calvino segue como discípulo de Agostinho até mesmo no que diz respeito a perseguição e morte dos hereges.
Creio que o contexto de Lutero e Calvino explicam um pouco o apego deles aos ensinos de Agostinho, o que dava uma base sólida para os protestantes dentro da própria tradição católica.
Armínio e Wesley se levantam para combater a doutrina da predestinação (fatalista), mas mantém que a salvação é produto da graça e não das obras, demonstrando que não é preciso admitir a predestinação para defender a salvação pela graça. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. (…)”
Recebido por e-mail – Autor: Bispo Ildo, da Igreja Metodista Livre