Salman Rushdie durante a conferência de abertura da Feira do Livro de Frankfurt
FRANKFURT – A Feira do Livro de Frankfurt começou com críticas ao boicote do Irã ao evento, devido à presença do escritor anglo-indiano Salman Rushdie, condenado à morte pelo aiatolá Khomeini na época da publicação do romance “Os versos satânicos”, em 1989. Em uma conferência na manhã desta terça-feira, Rushdie e o diretor da feira, o alemão Juergen Boos, disseram que a literatura e o mercado editorial têm um compromisso inegociável com a liberdade de expressão.
Salman Rushdie é ateu e sua obra é considerada ofensiva ao profeta MaoméPresença de Rushdie leva Irã a boicotar Feira de Frankfurt
— Nós, seres humanos, somos animais que contam histórias. Um ataque à liberdade de expressão é um ataque à natureza humana — disse Rushdie, que defendeu a importância da indústria do livro nesse aspecto. — Os guardiões da liberdade de expressão estão no meio editorial.
Em seu discurso, Boos disse que lamenta o boicote porque “perdemos uma oportunidade de dialogar com nossos colegas iranianos”.
— Há um aspecto central da civilização que, para mim, é inegociável: a liberdade das palavras, a liberdade de expressar opiniões — disse Boos, citando Rushdie como exemplo de escritor que cumpre a tarefa de provocar o senso comum. — O papel da literatura é descrever o estado do mundo e questionar aquilo que tomamos como óbvio.
Protegido por guarda-costas, Rushdie ressaltou, em seu discurso de 25 minutos, a necessidade de proteger os escritores:
— A literatura é forte e duradoura. Mas os escritores são frágeis. Eles podem ser feridos, suas vidas podem ser destruídas. E mesmo que seu trabalho sobreviva e os redima no fim das contas, isso não é exatamente um consolo quando você está morto – disse Rushdie, que lançou na feira a tradução alemã de seu novo romance, “Dois anos, oito meses e 28 noites”, ainda inédito no Brasil.
O escritor, que passou anos vivendo escondido por causa das ameaças de morte do regime iraniano, disse que a persistência da violência faz com que a luta pela liberdade de expressão seja permanente:
— Nesse ponto, publicar livros começa a parecer uma guerra. E editores e escritores não são combatentes. Não temos armas, nem tanques. Mas cabe a nós defender a linha de frente, não recuar em nossas posições, e sim entender que esta é uma posição da qual não podemos abrir mão.
Na semana passada, o governo iraniano divulgou uma nota oficial de repúdio à Feira de Frankfurt, alegando que o evento, “sob o pretexto da liberdade expressão, convidou uma pessoa odiada no mundo islâmico e criou a oportunidade para Salman Rushdie fazer um discurso”. Apesar do boicote oficial do país, dez editores editores iranianos decidiram comparecer à feira, de acordo com a “Deutsche Welle”.
Com agências internacionais
Extraído do site http://oglobo.globo.com/ em //