I – Introdução
Os argumentos em que o catolicismo baseia a sua Tradição são anêmicos em extremo e pasmam a qualquer pessoa de inteligência mediana. Dentre eles vamos considerar o seguinte:
Antes de Moisés nada havia escrito. Deus se revelava lentamente e sua doutrina foi transmitida oralmente. Só muito mais tarde veio a Escritura. Desde a origem do mundo até Moisés, a primitiva revelação de Deus, verbalmente dada aos homens, foi conservada por sucessão entre os patriarcas e não em escrituras.
Já se vê, cavilam os teólogos católicos, que o próprio Moisés, ao escrever o Gênesis precisou abeberar-se na Tradição, esse primeiro e genuíno canal da Revelação Divina. Foi na Tradição que o autor do Pentateuco colheu informes sobre a criação do mundo ex nihilø e a queda do primeiro homem, sobre a propagação do gênero humano e sua geral corrupção, sobre o dilúvio, os descendentes de Noé e a confusão das línguas, sobre a vocação de Abraão e sua empolgante biografia, sobre Isaque e as peripécias dos filhos de Jacó, sobre José e a ida dos seus irmãos para o Egito. Para o catolicismo, na conformidade de sua argumentação e esquecido de que Moisés fora divinamente inspirado e assistido, o primeiro livro da Bíblia, o Gênesis, nada mais é do que a Tradição estampada em letras de forma.
II – A Bíblia desde os primórdios (Moisés usou a tardição oral para escrever Gênesis?)
Todos os acontecimentos relatados em Gênesis se deram séculos antes de serem escritos por Moisés, o Autor divinamente inspirado do Pentateuco. A transmissão oral ou escrita de fatos históricos não se constitui em fonte de Revelação Divina! Não negamos haver Moisés colhido informes aqui e ali, com uns e outros. Mas, a esta simples verificação de fatos históricos atribuir-se uma importância de fonte de Revelação é negar ou pelos menos depreciar a inspiração divina da primeira parte do Velho Testamento. O passo é muito grande. Ë um salto mortal de causar arrepios! A simples leitura de Gênesis demonstra que Deus não confiou na Tradição Oral.
Abraão é o primeiro dos patriarcas e vocacionado para formar uma grande nação. “de ti farei uma grande nação… ” (Gên. 12:2). “Far-te-ei fecundo extraordinariamente, de ti farei nações, e reis procederão de ti” (Gên. 17:6). Foi ao estabelecer este concerto com o patriarca que Deus lhe mudou o nome de Abrão para Abraão, que quer dizer pai de muitas nações ou duma multidão. “Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus” (Gên. 17:8). Da mesma maneira como Deus se revelara, em circunstâncias especiais diretamente a Adão e Noé, e interferira também diretamente em certos episódios, como por ocasião da queda do homem, do dilúvio, da confusão das línguas, agora interfere diretamente e vocacional Abraão, estabelecendo um concerto especial, para ser o pai de um povo peculiar e santo de cujo seio sairia o Redentor.
Isaque é o segundo personagem da estirpe da promessa e tem dois filhos: Esaú e Jacó, sendo o terceiro elo nessa corrente de formação do povo eleito. A Jacó disse o seu pai Isaque, lembrando-se da bênção do Senhor: “Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma lã por esposa uma das filhas de Labão, irmão de tua mãe. Deus Todo-Poderoso te abençoe e te faça fecundo, e te multiplique para que venhas a ser uma multidão de povos; e te dê a bênção de Abraão, a ti, e à tua descendência contigo, para que possuas a terra de tuas peregrinações, concedida por Deus a Abraão (Gên. 18:2-4). Acaso não seria suficiente essa tradição oral da promessa e da bênção? E uma tradição muito curta, apenas entre Abraão e Jacó, mediando somente Isaque! O Senhor, porém, não aceita a tradição oral como fonte ou mesmo sustento de sua Revelação e interfere diretamente. E na visão de Betel, Jacõ ouve o Senhor: Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, teu pai, e Deus de Isaque. A terra em que agora estás deitado, eu ta darei, a ti e à tua descendência. A tua descendência será como o pó da terra; estender-te-ás para o Ocidente, e para o Oriente, para o Norte, e para o Sul. Em ti e na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra” (Gên. 18:13-14).
Jacó – A mesma Promessa agora repetida diretamente pelo Senhor a Jacó e não através de Tradição alguma! – quase com as mesmas palavras fora dita ao seu ancestral mais próximo, a Abraão, logo após separar-se de Ló (Gên. 13:14-16).E a vida de Jacó é toda pontilhada de interferências diretas de Deus! Seu nome também é mudado no incidente de Peniel quando lutou com o anjo até prevalecer e ser abençoado. Passou-se a chamar Israel, pois como príncipe lutara com Deus e com os homens. E prevalecera! (Gên. 32:28). No futuro, Israel seria o nome do povo eleito do Senhor! Dentre os doze filhos de Israel, destaca-se José, que, em circunstancias memoráveis, foi para o Egito (Gên. 37:41), onde mais tarde recebeu seu velho pai e seus irmãos acossados pela fome (Gên. 42-50). Mesmo para esta viagem, o servo do Senhor esperou a Sua manifestação direta. “Eu sou Deus, o Deus do teu pai; não temas descer para o Egito porque lã eu farei de ti uma grande nação” (Gên.46:3).
Deus a repetir a mesma Promessa!
Em 1706 antes de Cristo é que, no Egito, se fixou esse povo peculiar de Deus, cumprindo-se assim a Palavra do Senhor a Abraão (Gên. 15:13). Não se pense que era um povo grande em número.. Em Gên. 46:1-27 são relacionados os nomes dos membros desse pequenino povo composto apenas de setenta pessoas. Setenta pessoas! Filhos, noras e netos do velho patriarca! Nos primeiros 126 anos de sua permanência no Egito, esse povo muito prosperou e cresceu. E … os filhos de Israel foram fecundos, aumentaram muito e se multiplicaram… (Êx. 1:7). Os setentas se multiplicaram em dois milhões!Levantando-se, entretanto, uma nova dinastia, mudou-se a situação e esse povo vocacionado para urna incumbência especial, cativo, passou a sofrer duras peripécias durante mais de um século, quando Deus promoveu sua libertação suscitando Moisés. Fala-lhe da sarça ardente o Senhor: “Certamente tenho visto a aflição do meu povo… (Ëx. 3:7). … Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até Mim… “(Ex.3:9).
Irá Deus permitir o retorno na conformidade de Gên.15:16. Como a recordar a Sua Promessa, o Senhor se identifica: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó” (Êx. 3:6,15,16). E aquele povo que é o Seu, Ele chama: “meu povo” Ëx. 3:9,10,11,13,14,15). Ë a lembrança da Promessa de Deus a Moisés! Não mandou Moisés consultar os anciãos sobre ela. Mencionou-a diretamente!E o argumento da teologia católica em favor de sua Tradição? Já está por terra!
Prossigamos em nossa consideração grata a Deus por sua maravilhosa Revelação contida na Bíblia em nosso beneficio. Nesta conjuntura da História de Israel, o Senhor suscita em Moisés o grande líder para libertar o Seu povo, levando-o à Canaã Prometida, a Palestina, o centro geográfico do mundo de então para de lá, como de centro irradiador, difundir a Sua Palavra e fazer cumprir o Seu Plano Salvífico. As peripécias da jornada, os desalentos dos tímidos e as murmurações dos descontentes não puderam embargar aquela nação de contemplar, na maior de todas as epopéias da História, as manifestações palpáveis do Poder de Deus. As pragas do Egito, a libertação memorável do seu cativeiro, a passagem espetacular do Mar Vermelho, a abundância de maná, o vôo razante das codornizes, o jorrar abundante da água no deserto de Sim, a vitória surpreendente sobre os amalequitas, tudo empolgava os filhos de Israel, quando, exatamente no instante de seu sucesso na campanha dos amalequitas, pela primeira vez, Deus ordena a Moisés:
ESCREVE ISTO PARA MEMÓRIA NUM LIVRO” (Ëx. 17:14).
Por que o Senhor não confiou na Tradição Oral? Se antes, quando se tratava de Sua Promessa não confiou na Tradição Oral, mas diretamente Ele falou aos patriarcas desde Abraão, não seria agora ao separar o Seu povo,tirando-o do Egito, que iria confiar Sua Lei e
Sua Revelação à Tradição Oral!
“ESCREVE ISTO PARA MEMÓRIA NUM LIVRO”!!!
Recorde-se à dificuldade imensa que envolvia a arte de escrever antes da descoberta da imprensa por Gutenberg em meados do século XV. Naqueles remotíssimos tempos o instrumento apto para ensinar e legislar era a palavra oral.
Este veículo do pensamento teve sua ampla aplicação no setor da religião.
Compulsando-se a História das religiões mais antigas, verifica-se que elas dependiam de um patrimônio doutrinário transmitido de geração a geração por via meramente oral. Em certos sistemas religiosos os fiéis se negaram sempre a escrever alguns dos seus preceitos mais caros.Ë de se observar, por. exemplo, a fórmula freqüentíssima: “Eu ouvi… ” adotada na primitiva religião chinesa, da qual procedem o taoísmo e o confucionismo. Chama a atenção para o nosso caso ainda mais a circunstância assaz agravante de estar o povo de Israel acampado no deserto, com dificuldades humanamente instransponíveis para executar a arte da escrita. A História das religiões dos homens revela o apreço à Tradição Oral por ser esta mais fácil em amoldar-se aos seus caprichos circunstanciais.
São notáveis os inúmeros pontos de contato do catolicismo com essas religiões, inclusive o seu apego a esse veiculo de transmissão doutrinária e depósito dos seus ensinos. Em condições dignas de nota, surgiu a Escritura Santa! Anteriormente Deus se revelara a pessoas individuais. A Adão e Eva. A Noé. A Abraão. A Jacó. Falava-lhes! Interferiu em acontecimentos! Mas, quando se revelou ao Seu Povo já separado dos egípcios, à coletividade, mandou escrever. A marcha triunfante e cheia de percalços continuou. Acampou-se o povo ao sopé do Monte de Sinai em circunstanciais solidíssimas. “Todo o Monte do Sinal fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como a fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente” (Ëx. 19:18). E “Deus falou… ” Ëx. 20:1). Proferiu o Seu Decálogo. Apresentou as Suas Leis acerca dos servos, dos homicidas, da propriedade, da imoralidade, da idolatria, dos que amaldiçoam os pais ou ferem qualquer pessoa, do testemunho falso e das injustiças, do descanso e das três festas. Não se limitou Moisés relatá-las ao seu povo (Ex. 24:3), mas, “escreveu todas as palavras do Senhor” (Ëx. 24:4). “… Erigiu um altar ao pé do monte (Êx. 24:4)… e tornou o livro da aliança, e o deu ao povo, e eles disseram: tudo o que falou o Senhor, faremos, e obedeceremos” (Êx. 24:7).
Note-se: Moisés ouviu. Em seguida relatou ao povo. E depois ESCREVEU. E, então, leu ao povo o que havia escrito no livro da aliança.Por que? É porque o Senhor não queria TRAIÇÃO ORAL alguma! A Tradição é traição contra a fidelidade!
III – Jesus não mandou escrever mas sim pregar e ensinar o evangelho
Acabemos com outro argumento falso!
Este segundo arrazoado na pretendida defesa da Tradição católica é uma repetição do anterior tendo, porém, como cenário outras circunstâncias episódicas. Tão raquítica é a sua argumentação que a teologia católica muda apenas o cenário e a roupagem, enquanto o esqueleto do sofisma continua o mesmo. A referida teologia, contudo, é traída no seu próprio desespero à falta de argumentos. Alega que Cristo nunca mandou escrever seus ensinos e mandamentos e nada deixou escrito. Aos Apóstolos apenas determinou pregassem pelo mundo como testemunhas dele e da doutrina por eles aceita e proclamada. Em endosso deste arrazoado e no objetivo de confundir os menos avisados, invoca as seguintes perícopes: “… e, a medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus” (Mt. 10:7).
PREGAI! Não mandou escrever!!!.
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mt. 28:18-20).
ENSINAI! Não mandou escrever!!!
“E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15).
PREGAI! Não mandou escrever!!!
Sinto calafrios de compaixão por ver esse pobre argumento tão tísico. Coitados dos católicos! Com seus teólogos assim ignorantes e de consciência encroada! Jesus nunca mandou escrever? Em Apocalipse encontramos dez oportunidades em que o Senhor manda escrever: – 1:11,19;2:1,8,12,18;3:1,7,14 ;21:5.
ESCREVE! Ë assim com o verbo no modo imperativo.
Existem excelentes oculistas e óticas especializadas onde os reverendos teólogos podem resolver o seu problema de miopia. A não ser que seu germe seja má vontade. Ai a cegueira consciente é incurável. Prossegue, todavia ,o desenvolvimento da argumentação esdrúxula!
Os próprios Apóstolos ex professo nunca escreveram como se estivessem desincumbindo uma obrigação própria e especial, embora houvessem executado a contento a sua missão. Alguns, apenas em ocasiões esporádicas ou oportunidades ocasionais consignaram alguma coisa por escrito, mas sem a intenção de transmitir por escrito toda a Revelação e sim no propósito apenas de inculcar ou explicar alguma Verdade, ou forçados pelos pedidos dos fiéis ou dos bispos – “sed vel ad veritatem aliquam magis inculcandam aut explicandam, vel precibus fídelium aut episcoporum compulsi” (J.M. Hervé De Vera Religione De Ecclesia Christi – De Fontibus Revelationis 1929 – Paris – pág. 531). É mesmo de se tirar o chapéu!
Precisa-se de muita coragem para se embarcar nessa canoa doutrinária de casco tão podre! Tamanha coragem como a disposição de se agarrar um leão à unha. Leão vivo! Engolfados nesse trernendal dogmático não se apercebem os teólogos católicos que o seu arrazoado em defesa da Tradição labora contra ela? Pois que, se precisaram os Apóstolos escrever para inculcar ou explicar a doutrina cristã esta desmerecida a Tradição Oral. E de fato, João da ênfase ao seu objetivo escrevendo: “… para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu
Nome” (João 20:31).
Paulo, ao escrever aos coríntios, destaca: “… as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Cor. 14:37). E aos filípenses: “Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós” (Fil. 3:1).
Paulo não se aborrece de escrever as mesmas coisas… Por que? Para SEGURANÇA dos fiéis!
Não se fiava da Tradição nem a curto prazo e nem a curta distância. Ele havia pregado aos filípenses e por medida de segurança doutrinária, escreveu-lhes.
João apóia a Tradição oral?
Para não perder a desenvoltura no meio de tanta coincidência, o teólogo católico, com ares de muito entendido, invoca o verso 25 do capitulo 21 do Evangelho segundo João: “Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos” Até em cartas pastorais os “amantíssimos ordinários” invocam este versículo.
Quando Deus me despertou para o exame consciencioso de sua Palavra, observei nesse passo escriturístico essa informação joanina. O Autor sacro, constatei logo, se refere a coisas que Jesus fez, a fatos, a prodígios e não a doutrinas.
Fiquei, porém, mais desapontado ainda quando, confrontando, verifiquei o verso 31 do capitulo 20 do mesmo Livro Sagrado, que é o bastante, outrossim, para se acabar com a alegria dos teólogos católicos, acrobatas do sofisma “Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu Nome”.
Lucas apóia a Tradição oral?
Insiste maldosamente o desesperado teólogo. Reconhece de sobejo que, destruída a Tradição Oral, como fonte de Revelação, adeus fantasmagoria católica. E traz à baila os três primeiros versículos do capítulo 1 de Lucas: “Visto que muitos houve que empreenderam urna narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o principio foram deles testemunhas oculares, e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem”. Pronto! Lucas antes de escrever obteve informações minuciosas de tudo junto das testemunhas presenciais dos fatos sobre os quais se dispõe escrever.
Pronto! Lucas foi, como Moisés ao escrever Gênesis, abeberar-se na Tradição!
Pronto! O Evangelho segundo Lucas é simplesmente produto da Tradição, a mais antiga, a mais completa Fonte de Revelação. A própria Fonte da Bíblia!
Declaramos crer inteiramente que Lucas ao escrever os seus dois livros,o Evangelho e os Atos dos Apóstolos, estava inspirado pelo Espírito Santo de Deus. E nestas condições é que ele colheu e selecionou a verdade no meio de tantos fatos e comentários divulgados oralmente e por escrito em inúmeros apócrifos. Lucas, divinamente inspirado, foi o garimpeiro que separou o ouro puríssimo!
Pululavam apócrifos! Lucas resolveu descrever ao excelente Teófilo os fatos conhecidos por ouvir da tradição oral para que ele tivesse a certeza das coisas sobre as quais já estava informado. Deseja Lucas que Teófilo e todos os demais se livrassem do risco de serem ludibriados pela Tradição Oral. “Quem conta um conto aumenta um ponto”, diz o adágio popular.
Se não fossem as Escrituras não teríamos mais hoje a Revelação Divina! Porque o catolicismo fundamenta suas doutrinas na Tradição é que evolui a sua teologia, surgem novos dogmas e sempre muda. O católico de vinte anos passados desconhece o católico atual.
Mesmo o de dois anos atrás! No seu arrazoado o teólogo da seita papal se lembra somente dos três primeiros versículos do capitulo 1o de Lucas. Esquece-se do quarto porque, concluindo o pensamento exarado nos versos anteriores, Lucas reconhece ser desmoralizada e inconsistente a Tradição como Fonte de Revelação. Ele escreveu para se ter certeza!
“PARA QUE TENHAS PLENA CERTEZA DAS VERDADES EM QUE FOSTE INSTRUÍDO”.
Teófilo estava já informado de tudo por ouvir dizer. A Tradição Oral, todavia, não lhe dava certeza alguma. . E Lucas, divinamente inspirado, resolveu escrever para lhe dar essa certeza. Se a Tradição Oral dispõe do valor que lhe atribui o catolicismo, por que escrever? Lucas escreveu os seus livros na língua grega. No original desta pericopes o vocábulo empregado é Asphaleia que quer dizer certeza, segurança, firmeza, solidez.
“Ut cognoscas ea quae de Christo edoctus es, esse certissima, firmissíma et solidissima”, comenta Cornélio a Lápide em seu Comentário das Sagradas Escrituras. Teófilo, o destinatário do livro, já sabia por via oral e Lucas lhe escreveu para que o seu conhecimento fosse certíssimo, firmíssimo, solidíssimo. Não confiava na Tradição. Logicamente, a Tradição não pode ser fonte de Revelação!
Para um exame do real significado do vocábulo asphaleia é interessante notar-se a sua posição significativa em outros textos. Usa-o Lucas outra vez em Atos 5:23, em que, depois de relatar a prisão dos Apóstolos decretada pelo sumo sacerdote e a libertação miraculosa dás mesmos, transcreve a explicação dos servidores: “Achamos o cárcere fechado com toda a segurança (asphaleia). Usa-o Paulo em Fil. 3:1: … e é segurança (asphaleia) para vós outros…”. Não bastava falar. Escrevia por medida de segurança.
Na forma asphales, emprega-o Lucas em Atos 21:34;22:30;25:26 e se encontra em Hb. 6:19.
Na modalidade de verbo, é aplicado por Mt. quando se refere à segurança da guarda do sepulcro de Jesus. “Ordena, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança (asphalistenai.) … Disse-lhes Pilatos: ai tendes uma escolta; ide e guardai como bem vos parecer (Asphalisaste). O próprio Lucas em Atos 16:24, contando a prisão de Paulo e Suas em Filipos, ainda outra vez, aplica-o: “O qual (carcereiro), tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou (esphalisato) os pés no tronco.
Na forma de advérbio, no mesmo relato, Lucas, com ênfase informa: “e, depois de lhes (Paulo e Silas) darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança seguramente (asphalós). Ainda Lucas, ao transcrever o sermão de Pedro no dia de Pentecostes, aplica-o: “Esteja pois absolutamente certa – segura – (asplialós) toda a casa de Israel de que a este Jesus que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo” (At. 2:36). O advérbio Asphalós é empregado por Mc. 14:14 ao anotar a recomendação do Iscariotes: “Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o, e levai-o com segurança (seguramente). De todas estas observações é evidente, é lógico, é patente ressaltar, em conseqüência, que Lucas escreveu o seu Evangelho para firmar seguramente a Revelação de Jesus Cristo, demonstrando, outrossim, ser muito deficiente e falho o conhecimento através do ouvir dizer. De quantos 1ivros, se compõe o Novo Testamento? Vinte e sete!
E destes, com certeza, treze foram escritos pelo Apóstolo Paulo. E cinco pelo Apóstolo João. Por João, o Apóstolo Amado de Jesus, chamado a testificar dËle porquanto com Ele estivera desde o princípio (Jo. 15:27), que, no final do Quarto Evangelho disse, referindo-se aos sinais de Jesus: “Estes, porém foram registrados para que creais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu Nome”. (Jo. 20:31).
Pelo Apóstolo João que, na sua Primeira Epístola destinada aos já conhecedores do Evangelho de sua lavra, dirigida às mesmas igrejas, porquanto a simples leitura de ambos os documentos demonstra ser essa Primeira epistola um suplemento daquele, declara: “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da Vida.., o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o Seu Filho Jesus Cristo.
João não se apoiou na Tradição oral
ESTAS COISAS, POIS, VOS ESCREVEMOS PARA QUE A NOSSA ALEGRIA SEJA COMPLETA” (1 Jo. 1:1,3,4).
João, testemunha ocular! Observe-se a sua insistência em destacar esta particularidade notável: o que ouviu, o que viu com os seus olhos, o que contemplou e as suas mãos tocaram… Todo êste martelar contra qualquer pretensa Tradição apenas no primeiro verso do capítulo primeiro de sua Primeira Carta. E a seguir, após um parêntesis no verso 2, torna a insistir: “o que temos visto e ouvido… ” Tudo o que ele escreveu foi presenciado e ouvido por ele! Não foi colher dados e informações com ninguém!
Dos vinte e sete livros do Novo Testamento cinco procedem da pena divinamente inspirada do Apóstolo João. Do Apóstolo João que leva a morder o pó da inutilidade o arrazoado balofo do catolicismo em prol de uma Tradição Oral como regra de fé mais importante do que a Bíblia por ser-lhe anterior e sua própria fonte.
Do Apóstolo João que, ao encerrar o seu Livro Apocalíptico, escangalha com a presunção católica porque estampa, por escrito, esta advertência de Jesus Cristo: “EU, A TODO AQIYÊLE QUE OUVE AS PALAVRAS DA PROFECIA DËSTE LIVRO, TESTIFICO: SE ALGUËM LHES FIZER QUALQUER ACRËSCIMO, DEUS LHE ACRESCENTARÁ OS FLAGELOS ESCRITOS NESTE LIVRO; E SE ALGUËM TIRAR QUALQUER COUSA DAS PALAVRAS DO LIVRO DESTA PROFECIA, DEUS TIRARÁ A SUA PARTE DA ÁRVORE DA VIDA, DA CIDADE SANTA, E DAS COUSAS QUE SE ACHAM ESCRITAS NESTE LIVRO”. (Apoc. 22:18-19).
ENFIM, O ÚLTIMO SOFISMA…
Se os dois argumentos expendidos pela dogmática católica em abono de sua Tradição são caquéticos, o terceiro e último é o acervo de todas as nuances da malicia. Ë um sofisma sintomático da mais deslavada irresponsabilidade. Firmada no carunchado segundo argumento alega que, por não haver Cristo e nem os Seus discípulos escrito ou mandado escrever (?!) isso mesmo demonstra a existência de muitas doutrinas transmitidas apenas oralmente, as quais devem ser aceitas como reveladas. Ora! Vejam só! Nem de leve o catolicismo irá encontrar nas palavras de Jesus alguma coisa que lhe possa endossar a presunção. Aliás, bem ao contrário, porquanto Jesus foi severo no combate à Tradição. ….. invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa Tradição” (Mt. 15:6), recriminava Ele aos fariseus. E nessa única vez que o Senhor fala sobre a Tradição, vergastando-a lembra: “E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens (Mt. 15:9).
(o terceiro argumento você irá encontrar em outro artigo com o título “Paulo ensinou tradição oral?” no link Catolicismo)
Extraído do livro “O Vaticano e a Bíblia” ed. Caminho de Damasco
Por Anibal P. Reis – ex-padre católico