Resposta exegética ao que foi defendido por Christianini

Pregador bíbicocêntrico

Uma breve resposta exegética ao que foi defendido pelo adventista Arnaldo B. Christianini,  o presbiteriano Albert Barnes e o metodista Adam Clarke..Vejamos o que eles disseram acerca do vocábulo “sábados”(gr. σαββάτων) contido no texto de Colossenses 2:16:

“ADAM CLARKE, erudito metodista, em seu autorizado comentário, assim interpreta Col. 2:16:

“Não há aqui indicação de que o sábado fosse abolido, ou que sua obrigação moral fosse superada polo estabelecimento do cristianismo.

Demonstrei em outra parte que ‘Lembra-te do dia do sábado para o santificar’ – é um mandamento de obrigação perpétua, e nunca pode ser superado senão pela finalização do tempo.”

“ALBERT BARNES, profundo comentador presbiteriano, em sua obra Notes on the New Testament, comenta Col. 2:16, textualmente:

“Não há nenhuma evidência nessa passagem de que Paulo ensinasse que não havia mais obrigação de observar qualquer tempo sagrado, pois não há a mais leve razão para crer que ele quisesse ensinar que um dos  dez mandamentos havia cessado de ser obrigatório à humanidade. Se ele  tivesse escrito a palavra ‘O sábado,’ no singular, então, certamente estaria claro que ele quisesse ensinar que aquele mandamento (o quarto) cessou de ser obrigatório, e que o sábado não mais devia ser observado. Mas o  uso do termo no plural, e a sua conexão, mostram que o apóstolo tinha  em vista o grande número de dias que eram observados pelos hebreus  como festivais, como uma parte de sua lei cerimonial e típica, e não a lei  moral, ou dos mandamentos. Nenhuma parte da lei moral – nenhum dos  dez mandamentos – poderia ser referido como “sombra das coisas  futuras.” Estes mandamentos são, pela natureza da lei moral, de  obrigação perpétua e universal.”

Até parece um adventista que está falando… É forte a força da evidência. É esmagadora a força da verdade. Sim, estes sábados mencionadas em Col. 2:16, e que FORAM CRAVADOS NA CRUZ, não  se confundem com o sábado do sétimo dia, porque este é de obrigação perpétua. (CHRISTIANINI, Arnaldo B, Subtilezas do Erro. p, 137-138).”

“Podíamos aqui dar por encerrado este assunto, porém, como sempre há doutrinadores cavilosos que apelam para a filologia em torno da palavra “sábados” de Col. 2:16, mister se faz uma ligeira consideração neste particular. De início, a palavra grega empregada pode referir-se aos sábados semanais ou aos sábados anuais. Temos que apelar para o contexto a fim de sabermos a quais se refere. Em grego, “sábados” do texto em lide é sabbata, uma forma plural de sabbaton. Embora sabbata em muitas casos não representa um exato plural, pelo fato de derivar da  forma singular aramaica, par outro lado é de frequente sentido singular.” (CHRISTIANINI, Arnaldo B, Subtilezas do Erro. P, 140).

Quando lemos a afirmação do senhor Christianini, logo verificamos a sua falta de conhecimento do grego, pois no texto de Cl. 2:16 não consta o vocábulo sabbata, mas sabbaton. Vejamos em negrito:

Μὴ οὖν τις ὑμᾶς κρινέτω ἐν βρώσει καὶ ἐν πόσει ἢ ἐν μέρει ἑορτῆς ἢ νεομηνίας ἢ σαββάτων (Cl 2:16).

Há passagens no Novo Testamento onde aparece a expressão σαββάτων (sabbaton, plural genitivo neutro), referindo-se ao dia semanal como já mencionamos logo acima após citarmos uma errada interpretação adventista. Vejamos:

Καὶ ἦλθεν εἰς Ναζαρά, οὗ ἦν τεθραμμένος, καὶ εἰσῆλθεν κατὰ τὸ εἰωθὸς αὐτῷ ἐν τῇ ἡμέρᾳ τῶν σαββάτων εἰς τὴν συναγωγὴν καὶ ἀνέστη ἀναγνῶναι.

Indo para Nazaré, onde fora criado, entrou, num sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. (Lc 4:16)

Αὐτοὶ δὲ διελθόντες ἀπὸ τῆς Πέργης παρεγένοντο εἰς Ἀντιόχειαν τὴν Πισιδίαν, καὶ [εἰσ]ελθόντες εἰς τὴν συναγωγὴν τῇ ἡμέρᾳ τῶν σαββάτων ἐκάθισαν.

Mas eles, atravessando de Perge para a Antioquia da Pisídia, indo num sábado à sinagoga, assentaram-se. (At 13:14).

Além dessa referência no Novo Testamento, há ainda respaldo ao examinarmos a versão grega do Antigo Testamento conhecida como Septuaginta ou LXX, que também usa o vocábulo no plural para se referir ao dia semanal, inclusive na passagem que narra a entrega do quarto mandamento:

μνήσθητι τὴν ἡμέραν τῶν σαββάτων ἁγιάζειν αὐτήν.

Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. (Ex 20:8).

ἐὰν ἀποστρέψῃς τὸν πόδα σου ἀπὸ τῶν σαββάτων τοῦ μὴ ποιεῖν τὰ θελήματά σου ἐν τῇ ἡμέρᾳ τῇ ἁγίᾳ καὶ καλέσεις τὰ σάββατα τρυφερά ἅγια τῷ θεῷ σου οὐκ ἀρεῖς τὸν πόδα σου ἐπ᾽ ἔργῳ οὐδὲ λαλήσεις λόγον ἐν ὀργῇ ἐκ τοῦ στόματός σου

Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, (Is 58:13).

O texto de Is 58:13 é um texto bem interessante, pois nele, são apresentadas duas formas no plural se referindo ao sábado semanal (σαββάτων e σάββατα), a segunda está no caso acusativo, e segundo A.T. Robertson σαββάτων deriva do hebraico t/tB;v’ enquanto σάββατα deriva do aramaico at;B]v’ e ambas as formas nesse texto estão se referindo ao sétimo dia. (A Grammar of the Greek New Testament in the Light of Historical Research, p, 95,105).

Vale destacar que o apóstolo Paulo teve como base a LXX em uma boa parte dos seus escritos:

“A Septuaginta acabou se tornando a Bíblia dos cristãos, ou seja, os primeiros cristãos conheciam e usavam essa tradução grega do AT. Mais ou menos um terço das citações do AT nas cartas de Paulo parecem ter sido tiradas textualmente da Septuaginta. No mais, oitenta por cento das citações do AT no NT são tiradas da Septuaginta, e não do texto hebraico” (BÁEZ-CAMARGO, 1980, p.44).

É interessante também citar a tradução da Bíblia Judaica produzida pelo judeu messiânico e observador do sétimo dia, David H. Stern, que também entendeu que em Cl 2:16 se refere ao sábado semanal ao ter traduzido da seguinte forma:

“Por isso, não permitam que ninguém os julgue em relação ao que comem e bebem, ou com relação a um festival judaico, ao Rosh-Hodesh ou shabbat.” (Bíblia Judaica Completa, p. 1458).

“Lembra-te do dia, [do] shabbat, para separá-lo para Deus.” (ibid, p. 154).

Isto é, ele mesmo guardando o sábado, corrobora com o argumento aqui defendido, não por questões teológicas, mas porque é a tradução coerente. Além desses versículos ainda há (Ex 35:3; Dt 5:12; Nm 15:32, 28:9; Jr 17:22; Ez 46:1, 12; Mt 28:1; At 16:13).

Portanto, o sábado citado por Paulo é sim o semanal.

Itard Víctor Camboim De Lima. 06/12/2014.

Fonte: CHRISTIANINI, Arnaldo B. Subtilezas do Erro. 1ª edição. 1965. CPB.

STERN, David H. Bíblia Judaica Completa. 1ª edição.  2010. Vida.

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