1. A Tradição Oral em pé de igualdade com as Escrituras
Resposta: Católicos Romanos e Mórmons argumentam que o Novo Testamento concede autoridade divina não só às tradições apostólicas escritas, mas também às orais (1 Co. 11:2; 2 Ts. 2:15; 3:6). Ambas argumentam que o Novo Testamento se refere mais à fala e à audição do que à redação e à leitura (At. 2:42; Rm. 10:16-17), e, portanto, que houve base para a transmissão pessoal e oral dos ensinamentos apostólicos para a geração seguinte (2 Tm. 2:22; Tt. 1:5).
b. As “tradições” dos apóstolos, porém, tinham autoridade justamente pelo fato de eles serem apóstolos, autorizados pessoalmente por Cristo.
c. Ainda que os pronunciamentos orais dos profetas do Antigo Testamento tenham sido a Palavra de Deus antes mesmo de terem sido escritos (como os Católicos costumam salientar), os judeus não tinham acesso a uma tradição oral infalível. Jesus, na verdade, rejeitou algumas das tradições orais judaicas que eles erroneamente atribuíam aos tempos de Moisés (Mt. 15:3-9; Mc. 7:6-13).
d. A origem de tradições orais supostamente apostólicas somente podia ser verificada enquanto os apóstolos estavam vivos. Após a morte dos apóstolos, não há nenhuma maneira de se confirmar se tradições extrabíblicas supostamente apostólicas realmente originaram deles.
e. Nem todas as tradições que aparentemente originaram dos apóstolos eram de fato verdadeiras (cf. Jo 21:22-23).
f. Em nenhuma passagem do Novo Testamento a Igreja é comissionada implícita ou explicitamente a transmitir ensinamentos, práticas, doutrinas ou tradições orais não encontradas na Bíblia a gerações futuras. Muito menos é conferida à Igreja a capacidade de tal transmissão de modo infalível.
g. As futuras gerações deveriam receber as pregações e ensinamentos de ministros cristãos somente na medida em que eles fielmente aderem às doutrinas apostólicas da Bíblia.
2. A Orientação do Espírito Santo
Resposta:. Católicos (bem como alguns Mórmons e Testemunhas de Jeová) argumentam que o Espírito Santo concede interpretações infalíveis e com autoridade divina não somente aos apóstolos, mas até mesmo em nossos dias.
b. Os Católicos argumentam que, já que o Espírito Santo é a “alma” da Igreja, ela desfruta de sua orientação infalível.
i. Ainda que o Espírito Santo habite na Igreja (1 Co. 3:16-17), isso não garante que a Igreja esteja livre da possibilidade de erro (1 Co. 3:10-15; 18-21).
· Além do mais, a Igreja na qual o Espírito Santo habita não é a Igreja Católica, mas o conjunto de todos os verdadeiros cristãos (1 Co. 12:12-13) do mundo (do qual alguns católicos podem fazer parte, bem como membros de outras igrejas e denominações).
ii. O Espírito Santo habita em cada cristão individualmente (1 Co. 6:19), mas isso também não garante que o cristão não esteja sujeito ao erro (1 Co. 6:15-18; 20).
c. A maioria dos que se opõem ao conceito de Sola Scriptura argumentam que Jesus prometeu que o Espírito Santo guiaria a Igreja em toda a verdade (Jo. 14:26; 16:13).
i. O contexto de tal promessa, entretanto, deixa claro que ela foi feita aos apóstolos (14:25; 16:12).
ii. A Igreja como um todo está sendo guiada à verdade, mas tanto coletivamente, bem como individualmente, o conhecimento perfeito da verdade só é alcançado quando estivermos face a face com Jesus (1 Co. 13:9-12).
iii. O Espírito Santo guia a Igreja à verdade através da Palavra de Deus, e não através de revelações extrabíblicas.
3. A Idéia de “Bibliolatria”
Resposta: Alguns acreditam que ver as Escrituras como sendo a autoridade final constitui idolatria, mais precisamente “Bibliolatria”.
i. O apóstolo Paulo, entretanto, não tinha problema nenhum em se referir a Deus e às Escrituras de maneira intercambiável (Rm. 9:17; Gl. 3:8).
ii. As Escrituras, obviamente, não são Deus, mas sim a Palavra de Deus.
iii. Protestantes não adoram as Escrituras; eles adoram o Deus que fala através das Escrituras.
iv. Todos aqueles que rejeitam as Escrituras como sendo a autoridade final são logicamente obrigados a colocar algo em seu lugar. Exemplos:
· As tradições da Igreja
· Organizações religiosas
· “Profetas” modernos
· Razão humana autônoma
· Experiências espirituais
· Intuições pessoais
· Etc.
4. A Idéia de que foi a Igreja que criou a Bíblia (e não o contrário)
Resposta: . A Igreja na verdade apenas reconheceu os livros que Deus havia inspirado através do ministério direto ou indireto de seus apóstolos.
b. Os livros do Antigo e Novo Testamentos foram escritos por indivíduos inspirados por Deus.
i. O povo de Deus, tanto na era do Antigo como do Novo Testamento, reconheceu o que Deus havia inspirado. O povo de Deus, de maneira coletiva e institucional (e.g. a Igreja) não produziu tais livros.
ii. Não foi a Igreja que determinou o cânon. Deus determinou o cânon e guiou a Igreja a reconhecê-lo.
c. Os critérios usados pela Igreja para o reconhecimento do cânon foram baseados em princípios encontrados no próprio Novo Testamento:
i. Apostolicidade
· Era necessário que um documento, para que pudesse ser reconhecido como inspirado, tivesse sido escrito por um apóstolo ou por um de seus assistentes (e.g. Lucas, Marcos).
ii. Antiguidade
· O documento deveria ter sido escrito por um líder da primeira geração da Igreja (ou seja, que tivesse autoridade apostólica).
iii. Autenticidade
· O documento tinha de ter base em tradições históricas que confirmassem sua autoridade e origem apostólica.
iv. Ubiqüidade
· O documento deveria ter sido aceito por igrejas de todo o mundo então conhecido, com base na idéia de que o Espírito Santo daria testemunho dele para a Igreja como um todo.
v. Catolicidade
· O conteúdo do documento deveria ser consoante com as “regras de fé” (cf. Mt. 16:18; Jd. 3) apostólicas conhecidas pela Igreja como um todo e eventualmente formalizadas nos credos.
d. Com base nos princípios acima, a Igreja reconheceu os documentos que Deus havia inspirado para serem a regra de fé de seu povo.
e. Assim sendo, a Igreja não determinou de maneira autônoma qual era o cânon das Escrituras. Ao contrário, ela reconheceu o cânon que o próprio Deus tinha inspirado e dado ao seu povo.
i. Uma ilustração é a vida de Paulo. A Igreja não determinou a autoridade apostólica de Paulo, mas na verdade reconheceu a autoridade que Deus tinha diretamente dado a ele.
f. Se fosse a Igreja a determinadora (e não somente a reconhecedora) de um cânon infalível, ela só poderia fazê-lo se fosse ela mesma infalível
i. Os que argumentam que a Igreja foi determinadora (e.g. Católicos e Ortodoxos), porém, reconhecem que ela não é infalível.
5. A idéia de que Sola Scriptura tenha causado uma multidão de denominações e divisões na Igreja.
Resposta: Se a causa de denominações e divisões fosse a crença de que somente as Escrituras são a autoridade suprema na vida da Igreja, seria de se esperar que os segmentos da Igreja que rejeitam essa noção não tivessem nenhum problema com divisões e denominações.
i. Isso, infelizmente, não é o caso. A igreja Católica Romana e a Ortodoxa têm vários segmentos, grupos, e ritos, com teologias extremamente diversas.
b. As divisões no Protestantismo, na maior parte, não podem ser atribuídas à idéia de Sola Scriptura.
i. As divisões mais significativas foram causadas por liberais, exatamente ao abandonarem a noção de Sola Scriptura.
ii. Outras divisões importantes foram frutos de conflitos políticos.
iii. Os dois segmentos históricos originais do Protestantismo (i.e., as igrejas Reformadas e Luteranas) têm relativamente poucas diferenças teológicas.