O canal de vídeos do CACP, no youtube, publicou três pequenos vídeos de minha autoria sobre o tema “imortalidade da alma” – confira nos links:
A reação dos mortalistas (principalmente de adventistas) foi imediata. Alguns tentaram refutar-me por meio de textos, outros fizeram até vídeos. Eu agradeço às críticas recebidas e reitero a minha inteira disposição em interagir com os críticos de meu trabalho. Apesar de não concordarmos em tudo é sempre bom olhar outros pontos de vista. Diante desta proposta pretendo responder algumas objeções levantadas contra a imortalidade da alma referente aos textos citados nos vídeos. Não levarei em consideração, os deboches e tentativas de ridicularização de alguns deles, pois esta tática é marca registrada da apologética popular e rasteira praticada por indivíduos sem qualificação alguma para um bom debate. Selecionei algumas aqui para responder que achei pertinente.
1ª Objeção
“É verdade que o tema central da discussão entre Eva e a serpente girava em torno da autonomia do ser humano perante Deus, e não sobre a imortalidade em si. Mas isso em nada muda o fato de que a serpente falava mesmo sobre a imortalidade quando disse que “certamente não morrerás”, porque a mortalidade seria a CONSEQUÊNCIA da desobediência às ordens de Deus. Ou seja, como punição pelo fato de querer ser igual a Deus, a humanidade deixaria de ser imortal e passaria a ser mortal, como de fato ocorreu (mortalidade essa que só é revertida na ressurreição). Portanto o fato da discussão central ser a autonomia do homem não altera em NADA o outro fato de que a mortalidade foi uma consequência (punição) dessa desobediência.”
Resposta: O primeiro ponto a tratarmos aqui é ratificar o telos da perícope, ou seja, o tema não girava em torno da imortalidade da alma (como bem admite o objetor). Isso é fato. Então, o dialogo com a serpente, não era para tratar obviamente sobre assunto adstrito a essa questão. Ponto final. O texto é claro em mostrar que Satanás ilude o casal, não com a tentação da imortalidade, mas com a ambição de ser igual a Deus. Mesmo que se dê crédito ao argumento objetor, de que a imortalidade faz parte de pontos periféricos do diálogo, há de se ressaltar que a imortalidade em si não é o problema, já que foi o próprio Deus quem deu a imortalidade aos seres humanos e não Satanás. Portanto, longe de ser uma “doutrina diabólica”, é uma doutrina bíblica e divina. Mas do jeito que os mortalistas colocam a questão toda, fica parecendo que a imortalidade era algo inédito, algo que Adão e Eva não possuíam, mas que agora o diabo, como num passe de mágica, faz surgir essa possibilidade do nada. Cai por terra aqui mais um sofisma que postula que a imortalidade da alma foi pela primeira vez ensinada por Satanás, sendo que os próprios mortalistas, por dedução lógica, admitem que o casal já a possuía antes mesmo da tentação.
O que Satanás promete não é a imortalidade em si, mas a possibilidade de ela permanecer no casal mesmo a despeito da sua desobediência a Palavra do Criador.
Mas, perguntamos: o que era essa tal imortalidade? Veja que a árvore não é chamada de árvore da imortalidade, mas ÁRVORE DA VIDA, mostrando não uma mera existência continuada após a morte, mas a qualidade de vida que pode ser eterna em Deus e que naquele contexto dava oportunidade para o casal continuar existindo biologicamente sobre a terra. A Bíblia mostra em outros lugares que a mera existência (chamada tecnicamente de imortalidade) não garante a vida eterna, vide a história contada por Jesus sobre o Rico e Lázaro: ambos morreram, mas apesar do rico continuar existindo na eternidade, estava, entretanto, desprovido da vida eterna em Deus (Lc 16.19). Os mortalistas possuem dificuldades congênitas para diferenciar entre o mero existir após a morte física e a vida eterna. A preocupação principal do casal era o temor da morte física (negligenciando o principal problema que era a morte espiritual) e foi nessa linha de pensamento que Satanás trabalha no coração de ambos. Mas, ao pecarem, perceberam que a consequência da punição ia muito além da morte física, estavam fora da verdadeira vida de Deus. Portanto, a expressão “certamente não morrereis” em nada prejudica a doutrina da imortalidade no sentido de mera existência da alma fora do corpo, já que, como dizia o poeta, existir não é viver. No final ele arremata “Portanto o fato da discussão central ser a autonomia do homem não altera em NADA o outro fato de que a mortalidade foi uma consequência (punição) dessa desobediência.”. Mas quem disse que mortalidade significa inexistência total? O termo morte não significa aniquilação, mas separação. Morte espiritual, separação do espírito humano do espírito de Deus (Conf. Is 59.2); morte física, separação entre o espírito (alma) e o corpo (Conf. Tg 2.26) e morte eterna ou segunda morte, separação total da presença de Deus (Conf. Ap 21.8).
2ª Objeção
“A tese de que a morte que ocorreu ali foi uma morte meramente espiritual não se sustenta diante do texto hebraico. Em Gênesis 2:17, quando Deus diz que no dia em que comer “certamente morrereis”, o hebraico traz “moth tâmuth”. O problema é que “moth tâmuth” são basicamente duas palavras diferentes que significam basicamente a mesma coisa: morte. Se o texto fosse traduzido literalmente ao português, ficaria algo como: “morrendo, morrereis”. Parece uma redundância e por isso as versões em vernáculo a omitem, mas é fundamentalmente importante porque destaca que o momento em que o homem de fato morreria seria na morte (e não naquele exato momento). No dia em que eles comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal eles morreriam, ou seja, se tornariam mortais, o processo de morte teria início. Mas isso só ocorreria efetivamente quando eles viessem a falecer biologicamente (“morrendo, morrereis”). Portanto, o texto está falando da morte literal (física ou biológica), não somente de uma morte espiritual como separação de Deus.”
Resposta: Há um grande abismo entre o texto hebraico em si e a interpretação colocada em cima do texto pelo oponente. De fato o hebraico traz “moth tâmuth”. Mas a interpretação toda particular fica por conta do objetor. O caso é que o texto contradiz o argumento do objetor e diz que “NO DIA” em que dela comeres certamente morrerás. A morte não ocorreria no dia que eles morressem como desastrosamente insinua o meu opositor. A morte foi prometida NO DIA em que COMESSEM (Gn 2.17). A morte está atrelada ao ato de comer e ao dia da transgressão. Assim eles morreram exatamente NO DIA em que COMERAM do fruto proibido como diz o texto. Caso contrário, a Palavra de Deus cairia por terra. A morte foi primeiramente e primordialmente espiritual, tendo como consequência, a longo prazo, um processo de morte (física). O Novo Testamento jogará luz nesta passagem por meio de diversos textos explicativos sobre a morte espiritual. Paulo diz que a mulher que vive em prazeres, mesmo VIVA ESTÁ MORTA (I Tm 5.6); ele diz isso por que antes Jesus ensina que nascemos mortos (Jo 3.3,7) e Paulo retoma o ensino da morte espiritual em Ef 2.1,5 e Col 2.13. Portanto, além de incorrer em má leitura do texto, o objetor está colidindo com uma doutrina estabelecida do Novo Testamento, a da morte espiritual. Adão e Eva morreram? Sim, duas vezes: espiritualmente e fisicamente.
3ª Objeção
“Mas essa morte física se refere apenas à morte do corpo, e não à alma”. Ok, mas que lógica teria Deus prometer a imortalidade SE comesse da árvore da vida, se supostamente ele já havia implantado uma alma imortal dentro de Adão e Eva? Neste caso, a árvore da vida seria bastante inútil. Além disso, a própria promessa da serpente (de que “certamente NÃO MORRERÁS”) seria supérflua no caso de que Eva, em essência, já fosse imortal. Qual sentido faz prometer a imortalidade se Eva já possuía a imortalidade dentro dela? Ao meu ver, nenhuma. No mínimo, seria uma tentação bem pouco “tentadora”. Agora, se Adão e Eva realmente NÃO tivessem a imortalidade dentro de si (na forma de uma alma imortal), aí sim faria sentido Eva temer a morte como punição pelo pecado, e a tentação da serpente no sentido de tentar convencê-la de que não morreria. Tudo faz muito mais sentido na perspectiva mortalista deste texto do que na imortalista.”
Resposta: Com todo o respeito, a forma como a objeção foi colocada reflete claramente a ignorância do opositor quanto às linhas basilares da soteriologia cristã. Simplesmente confunde vida eterna com existência eterna como já demonstrei sobejamente na resposta à objeção 1. Imortalidade da alma, no sentido de a alma sobreviver a morte do corpo, não significa vida eterna. As duas são coisas completamente diferentes: mesmo existindo após a morte material a alma está morta para a vida de Deus, isto é, sem a vida eterna. Pode-se ter alma imortal, no sentido de sobreviver a morte do corpo e estar perdido eternamente. Contudo, uma coisa não anula a outra.
É interessante que o objetor mencionou em linhas acima que a mortalidade “só é revertida na ressurreição”. Ora, se a imortalidade no sentido mortalista de continuar a existência é adquirida apenas na ressurreição, o que essa mesma árvore da vida está fazendo lá em Apocalipse com pessoas já ressuscitadas (2.7; 22.2,14,19) e que já possuem a tal imortalidade??? Que sentido teria a árvore da vida ali se estas pessoas já receberam a imortalidade por meio de Cristo? O raciocínio é o mesmo. A sobrevivência da alma após a morte, não inibe a punição da morte física. O mero existir não é sinônimo de vida eterna e isso os mortalistas não entendem. Mas o que subjaz ao argumento mortalista é a interpretação grosseira de que a alma sem o corpo é completa em si mesma, semelhante ao que ensina o espiritismo. Todavia, o ensino bíblico mostra que o ser humano mesmo tendo a possibilidade de existir fora do corpo por ocasião da morte, não é completo, daí a necessidade da ressurreição do corpo (Conf. II Co 5.4). O homem é uma perfeita unidade composta com uma parte material e outra imaterial.
4ª Objeção
“Longe de mim querer menosprezar o autor do vídeo, mas ele falou, falou, falou mais um pouco e não disse nada com nada, não chegou a lugar algum. Ficou basicamente todo o tempo apenas para dizer que Gn 2:7 não era uma visão “detalhada” da natureza humana, mas não refutou o texto em si, não lidou com aquilo que o texto afirma categoricamente. A grande pergunta não é se Gn 2:7 é detalhado ou não, mas sim se a alma é o que o homem se tornou ou o que Deus colocou no homem. O texto responde da primeira maneira e ponto final. Os pormenores da natureza humana são abordados ao longo da Escritura, mas a base está ali, em Gn 2:7, na narração da criação humana. O argumento que ele usa sobre Eva é francamente bem ridículo, o texto obviamente não precisava mencionar que “Eva se tornou uma alma vivente” porque isso JÁ ESTAVA IMPLÍCITO a partir da narração de Adão, sendo Eva da mesma espécie (humana) é óbvio que também seria alma vivente. Além disso uma coisa é omitir algo de uma narrativa, outra coisa bem diferente é dizer uma inverdade, que seria no caso do homem não ser uma alma e sim possuir uma. Depois ele se complica e se enrola todo no final do vídeo dizendo que o homem ao mesmo tempo é uma alma e possui uma alma, isso em quase dez anos de apologética eu nunca vi um imortalista dizer, agora já inventaram duas almas pelo jeito, eu morro e não vejo tudo!”
Resposta: Ele ficou frustrado porque fiquei “todo o tempo” para dizer que Gênesis 2.7 não é uma visão detalhada da criação do homem! Mas nem meu vídeo de sete minutos foi uma visão detalhada do assunto, quanto mais a narrativa de Gênesis (risos)! Mas é justamente esse o meu argumento. O fato de a Bíblia dizer que o homem foi feito alma vivente não anula o fato do homem ter uma alma dentro dele. Como ele assistiu a meu vídeo, deve ter percebido que eu disse que a intenção do autor do texto não é dar uma visão exaustiva da antropologia ou da constituição humana naquela narrativa. A mera expressão “foi feito alma vivente” em nenhum momento prejudica a doutrina de que o homem possui uma alma dentro dele. Isso explica porque eu disse que a narrativa não tinha pretensões de dar “detalhes”. Isso porque, com o desenrolar da revelação, observamos que em outras partes essa mesma “alma” não aparece como a totalidade do ser, mas é encarada como algo separado que está dentro dele como, por exemplo, 1 Reis 17.21 “…Ó Senhor meu Deus, rogo-te que A ALMA DESTE MENINO TORNE A ENTRAR NELE.” Considere ainda Gn 35.18 “E aconteceu que, SAINDO-SE-LHE A ALMA, porque morreu, chamou o seu nome Benoni…” (Conf. Lc 8.52-55). Sendo assim, é compreensível que Davi diga em Sl 42.11 o mesmo, “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas DENTRO DE MIM? ” (Cf. ainda Jó 30.6; Lm 3.20; Jn 2.7).
Minha pergunta aqui é: esses textos mostram que o homem é uma alma ou que ele tem uma alma dentro dele? É óbvio que os textos não deixam dúvidas que o homem possui uma alma. Portanto, a resposta mais sensata a ser dada em Gn 2.7 é que “alma” naquela narrativa tem o significado de “ser vivente” (NVI, AM), “SER VIVO” (NTLH), “um ser vivente” (TB, KJA), só isso. Tão criatura, quanto os demais animais que Deus havia feito, tão pó da terra quanto eles. Se parássemos a leitura na passagem que Salomão diz “Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.
Quem sabe que o fôlego do homem vai para cima, e que o fôlego dos animais vai para baixo da terra?” (Ec 3.20,21), concordaríamos que o espírito de um e outro são o mesmo e vão para o mesmo lugar, todavia, avançando um pouco a leitura para o final do livro encontramos a seguinte sentença “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.” (12.7).
Assim como a carne dos animais é diferente da carne dos homens (1 Co 15.39), assim o espírito dos animais é completamente diferente do espírito humano.
Minha resposta então é que os dois estão corretos: o homem tanto é uma alma no sentido de alma significar “ser vivo”, como tem uma alma, como sobejamente demonstram os textos aqui já citados. Dependendo do contexto, o termo abrange a totalidade do ser, em outros casos, destaca a entidade espiritual que sobrevive a morte do corpo como em II Co 12.2 “Conheço um homem em Cristo que há catorze anos ( se no corpo não sei, SE FORA DO CORPO NÃO SEI; Deus o sabe) foi arrebatado até o terceiro céu.” (Conf. Ainda Mt 10.28; II Co 5.1-8; Fp 1.21-24; I Ped. 1.14). No caso de Gn 2.7 temos ali uma figura de linguagem chamada sinédoque, que toma a parte pelo todo. Por exemplo, em Gn 6.12, Deus usa o termo carne (parte exterior) para representar todo o ser humano. Se seguíssemos a linha de raciocínio dos objetores, deveríamos considerar o homem nada mais que carne? Novamente nós temos ali a sinédoque operando, só que agora tomando não mais a parte interior para representar o homem, mas a parte exterior.
É óbvio que naquele verso a visão é econômica, panorâmica como de resto o é os primeiros capítulos do livro. Com o desenrolar da revelação, a Bíblia vai acrescentando mais detalhes sobre este “homem” criado a imagem de Deus.
Ele volta a questionar-me dizendo: “O argumento que ele usa sobre Eva é francamente bem ridículo, o texto obviamente não precisava mencionar que “Eva se tornou uma alma vivente” porque isso JÁ ESTAVA IMPLÍCITO a partir da narração de Adão, sendo Eva da mesma espécie (humana) é óbvio que também seria alma vivente.”.
Pois é, ele chegou onde exatamente eu queria e é justamente esse o meu ponto de argumentação. Minha argumentação é que NÃO É NECESSÁRIO VIR EXPRESSAMENTE ESCRITO: “o homem tem uma alma dentro dele”,. Isso por dois motivos: primeiro, porque o telos da perícope não o exige, segundo, porque isso JÁ ESTÁ IMPLÍCITO no restante das Escrituras, por exemplo, Lc 16.19; Ap 6.9 e outros textos citados acima, corroboram com este fato. O que o oponente não percebeu em sua tentativa de refutação é que o seu argumento é justamente a essência do que eu quis dizer e se tornou uma estranha refutação redundante.
O texto não diz que Eva foi feita imagem e semelhança de Deus, tampouco diz que ela foi feito alma vivente. Isso não são meras omissões como quer meu oponente, é um recurso utilizado pelo autor para narrar apenas aquilo que é necessário naquele momento, sem dar detalhes exaustivos. Não negamos o fato de Adão e Eva serem ambos chamados de almas viventes, mas isto não anula o fato deles terem uma alma dentro deles que sobrevive a morte do corpo como mostra outras partes das Escrituras.
É por isso que, apesar de Moisés ter morrido há milênios, apareceu, no entanto, (não ressuscitado) falando com Cristo ( Compare, Deuteronomio 34.7 com Mateus 17. 3).
Isso explica claramente o que Jesus disse em Mt 22.32: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? E ele não é Deus de mortos, e sim, de vivos“(cf. Mt 8.11). Deus de vivos, não de almas letárgicas inconscientes ou totalmente liquidadas. Não Deus de uma simples vida desprovida de consciência. E Lucas vai além, pois acrescenta: “porque para ele todos vivem.” [ Lucas 20.38].
Esse ensino está em consonância com textos tais como os que mostram as almas DOS QUE FORAM MORTOS falando com Deus em Ap 6.9 e 20.4b.
5ª Objeção
“Ele literalmente quer que se extraia do NOVO TESTAMENTO o conceito de alma rejeitando o de Gênesis, quer dizer, para ele Deus “enganou” os hebreus por milhares de anos, e a humanidade por 4 mil anos, até chegar o Novo Testamento e trazer “a verdade” da alma imortal (o que também é falso já que o NT não diz nada de alma imortal, mas isso é um outro debate). Não tem como dar crédito a uma visão que defende a obscuridade desse jeito, com Deus permitindo deliberadamente que Seu povo permaneça na escuridão e na ignorância por milhares e milhares de anos até chegar o NT e dizer como as coisas são. Ainda mais em algo tão sumamente importante, que envolve o destino eterno do ser humano após a morte. É totalmente absurdo, um disparate uma afirmação dessas. O máximo que o NT faz é detalhar mais, fortalecer e esclarecer o conceito, mas nunca mudá-lo ou criar um conceito novo do zero, passando a borracha e corrigindo o que o AT registra sobre a questão. Isso inclusive compromete a infalibilidade, inerrância e inspiração das Escrituras, como apontei em resposta a um outro comentário recente. Isso sim leva ao liberalismo.”
Resposta: a opinião estranha de que Deus “enganou” os judeus não partiu de mim e muito menos minhas conclusões levam a essa monstruosidade. Isso é criação da mente fértil do próprio objetor. Levando a lógica desse desastroso argumento às últimas consequências diríamos também que Deus “enganou” os judeus por milhares de anos não falando nada absolutamente para eles de uma morada no céu, mas apenas, no máximo de um viver próspero na terra “que o Senhor Deus te dá”. Imagine Deus omitir “algo tão sumamente importante, que envolve o destino eterno do ser humano após a morte.”? O objetor deveria saber que na teologia do Pentateuco e mesmo a do primeiro templo não há menção alguma sobre um céu para aqueles que servem a Deus. Ademais, Deus teria enganado também os judeus quanto a uma ressurreição de justos e injustos, pois ela só irá aparecer em Daniel 12. E Deus teria deixado na ignorância esse mesmo povo por milhares de anos não falando para eles de duas ressurreições, Ah, sim Deus também enganou os judeus sobre a Trindade, Demônios, lago de fogo,etc…
A doutrina mortalista só teria efeito, se, e somente se, houvesse um ensino claro a respeito da mortalidade da alma: sua extinção total com a morte e total aniquilamento. O caso é que a Bíblia NUNCA ensina isso. Por outro lado, esperaríamos que uma Bíblia cujos autores fossem totalmente mortalistas NUNCA apresentasse cenas que envolvem o post mortem com imagens que apontam para uma perspectiva IMORTALISTA como exemplos podemos citar Moisés que havia morrido, mas que milhares de anos depois, aparece conversando com Jesus (Mt 17.3); o rico e o mendigo que haviam morrido, aparecem com total consciência das coisas no além (Lc 16.19-31); almas de pessoas mortas aparecem conversando com Deus (Ap 6.9; 20.4) sem falar das inúmeras expressões e falas que se aproximam muito mais da visão imortalista do que da mortalista, tais como “partir e estar com Cristo” (Fl 1.21-24), “no corpo ou fora do corpo”(I Co 12.2-4), “preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (II Co 5. 6-9) , “deixar esse meu tabernáculo” (II Pd 1.14) “o tempo da minha partida é chegado” (II Tm 4.6).
Não se trata apenas de inferir ou pressupor a imortalidade da alma em cima de textos supostamente mortalistas. Não. A Bíblia não só aponta referências claras da possibilidade do homem ter uma alma dentro dele, tais como em Sl 42.11, Jó 30.6; Lm 3.20; Dn 7.15; Jn 2.7, Atos 10.9,10, mas vai além mostrando que esta alma pode mesmo sair do corpo, como vemos em 1 Reis 17.21, Gn 35.18. Se não bastasse essa prova cumulativa, ela prossegue dando exemplos de como isso pode ocorrer, vide Mt 17.3; Lc 16.19-31; Ap 6.9. Mesmo o AT mostra, ainda que de forma poética, que há um tipo de existência sombria entre os que descem ao Sheol (Conf. Ez. 32.17-32). Todos estes textos não teriam sentido algum se os escritores da Bíblia ensinassem a mortalidade da alma. Portanto, se a Bíblia ensinasse que a alma se resume APENAS a um único significado, isto é, de ser a própria pessoa e que morrendo fisicamente essa alma que é a própria pessoa fosse aniquilada e deixasse de existir em todos os sentidos, seria, então, muito natural esperar que estes textos NUNCA aparecessem numa Bíblia cujo ensino fosse mortalista.
É o mesmo que esperar encontrar nos livros de Kardec alguma menção sobre a ressurreição física do corpo quando ele escreve sobre a transmigração das almas, ou encontrar nos livros de Richard Dawkins algum tipo de ilustração sobre vida eterna no post mortem quando ele estivesse ensinando que tudo se resume apenas à matéria bruta.
Respondendo ao objetor com suas próprias palavras, diríamos então que o Novo Testamento longe de estar criando algo do zero, está sim alargando, esclarecendo, detalhando e fortalecendo a doutrina que estava implícita no AT. O que estava em forma embrionária, agora veio a luz por completo no NT, à título de ilustração temos a ressurreição dos mortos, a Trindade, a personalidade do Espírito Santo e a IMORTALIDADE DA ALMA.