REFUTAÇAO PARCIAL SOBRE MARCOS 16:9-20
E´ deveras espantosa esta tese erigida pelo senhor! Somente uma pessoa que queira passar pelo ridículo projetaria tal conjectura com o fito de denegrir a imagem dominical. Antes de partirmos para o desmantelar de tão descabida exegese, porém, gostaria de sugerir um pouco mais de perspicácia na montagem de seus argumentos que chegam as raias do absurdo.
Pelo que vejo o sustentáculo de sua tese se firma em três colunas principais, a saber: a critica textual; as pontuações; e seus preconceitos teológicos. E bom rememorar, que ninguém, até onde sei, nem mesmo os ASD, usaram de tal artimanha por ser de debilidade evidente. Desculpe-me por palavras tão incisivas mas esta monstruosidade que o senhor inventou e´hilariante e se parece muitíssimo as objeções que as Tjs levantam para descartar a Trindade em I João 5:7! Vejamos então:
OS CÓDICES SINAITIC E VATICANO
1. O senhor alega que estes dois versículos não constavam nos melhores manuscritos gregos e em algumas traduções da Bíblia.
A verdade dos fatos e´que estes dois versículos não constam apenas em dois manuscritos gregos o sinaitic (ALEFE) e o vaticano (B), (sendo que em outros constam) e mesmo entre estes dois manuscritos existem diferenças e pormenores relevantes.
O Vaticano omite não só Marcos 16:9-20 como também João 7:58 – 8:11 e traz I João 5:7 que dizem ser espúrio e por sua vez não aparece em outros manuscritos. Veja só o grande embaraço que há quando se envolve com critica textual! O senhor rejeitaria tais versos somente por não constarem nestes manuscritos? Demais disso todos os demais manuscritos gregos, e diga-se de passagem, que é uma esmagadora maioria, trazem o final longo de Marcos. Um pormenor importante a salientar, é que neste manuscrito o escriba que o copiou deixou um espaço em branco no lugar dos versículos 9-20, espaço este, segundo os estudiosos, que possivelmente seria para inserir tais versículos, mas não aconteceu não se sabe porque! No entanto isto da a entender que tal escriba, com certeza, sabia da existência destes versículos. Já o Sinaitic (Alefe) apresenta as mesmas dificuldades que o já mencionado Vaticano com espaços reservados no lugar dos referidos versículos e omissão de outras partes do Novo Testamento.
A verdade é que outros manuscritos da mesma época (IV séc.) ou até mais antigos trazem o final longo de Marcos. Não se pode dizer de modo arbitrário que foi uma interpolação tendenciosa feita por um dominguista. Não. Até hoje não se sabe porque foram omitidos apenas destes dois manuscritos gregos. O contrário seria o mais provável, ou seja, alguém que não concordava com o dia de domingo ter omitido de propósito a fim de ocultar o verdadeiro dia da ressurreição! É inconcebível dizer que Marcos acabaria seu evangelho de modo tão abrupto assim no verso 8 como mostra estes dois manuscritos.
2. Os pais da igreja como Irineu, Justino, Taciano, comentam em suas cartas sobre o final longo de Marcos. Ora, se fosse um escriba que tivesse inserido por conta própria tais versos no século IV, como se explica então que escritos muito mais antigos (até 250 anos antes) já os mencionavam ? Ex: Taciano (175 d.c). Há evidências muito forte interna e externa que os últimos 12 versos de Marcos 16 constavam no texto grego.
OBS: O senhor cometeu uma gáfia ao dizer que “acredita-se que foi algum escriba entre os anos 115-120 aD o autor dessa interpolação.” Como poderia isto se dar se os manuscritos mais antigos datam do III (conservador) e/ou IV séculos ?
DA VÍRGULA
Sobre a questão da pontuação, realmente não existia pontuação nos originais. Mas isto é irrelevante mesmo porque a interpretação de uma doutrina e sua perfeita exegese não se da apenas através da gramática textual ou coisa semelhante. O bom exegeta não descarta nunca o costume, a cultura e o pensamento corrente da época do referido texto analisado.
A objeção levantada sobre ter ou não vírgula em Marcos 16:9 é inócua, pois mesmo sem a vírgula o texto permanece com o mesmo sentido. Tal objeção seria válida se soubéssemos como era a entonação da voz que Marcos quis projetar em cima desta passagem. Pois a pontuação apenas ajuda a entender a entonação da voz que ele quis empregar.O fato é que nós não sabemos. Mas tudo indica que realmente a ressurreição se dera no domingo de manhã. Ao contrario do que o senhor alega, os evangelistas frisavam não só a ressurreição em si como também o dia que ela se deu. Vejamos: Uma leitura superficial nos evangelhos mostram que Jesus durante seu ministério sempre declarou que havia de morrer mas ao terceiro (3º) dia ressuscitar. Tanto é, que depois da morte de Cristo os fariseus rogaram a Pilatos que colocassem guardas na porta do sepulcro, para que não se cumprisse a profecia do terceiro dia (Mateus 27:62-66), sendo que Cristo fora crucificado na véspera do sábado, também chamado de “dia da preparação”, a nossa sexta-feira. A preocupação sobre o dia é evidente, pois era a prova cabal de que Cristo era quem realmente dizia ser – o messias. Os inimigos de Cristo sabiam desta importante cronologia, o povo e seus discípulos mais ainda. Um exemplo disso foi quando Cristo apareceu a dois deles no primeiro dia da semana (Lucas 24:1), toda sua esperança girava em torno do terceiro dia, que veio cair no 1º dia da semana (domingo) (cf. Lucas 24:20,21). Veja que eles se reportam às coisas que tinham acontecido: “desde que essas coisas v.21″. Quais eram essas coisas? O verso 20 dá a resposta, ou seja, a condenação e a morte na cruz na sexta feira. Observe que eles dizem que já era o terceiro dia, ou seja, eles esperavam ansiosamente a ressurreição no domingo do terceiro dia, v. 22,23. Daí a importância de mencionar sempre o primeiro dia da semana junto à ressurreição. Não foi por acaso que o domingo é insistentemente mencionado pelos quatro evangelistas. Marcos 16:9 não foge a regra, mas faz parte destas provas de que realmente Jesus ressuscitou no terceiro dia que caiu no primeiro dia da semana, um domingo. Com virgula ou não, não faz diferença. Tudo aponta para o fato de que Cristo ressuscitou no domingo. Nós só poderemos saber realmente se a virgula do verso nove está correta analisando o contexto bíblico. Um exemplo é se mudarmos a virgula em Marcos 16:1 onde reza: ” Passado o sábado, Maria Madalena, Maria mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para riem ungir o corpo de Jesus” (original)
” Passado o sábado, Maria, Madalena, Maria mãe de Tiago e Salomé, compraram aromas para riem ungir o corpo de Jesus” (fictício)
Percebeu? Inserindo e omitindo virgulas consegui criar duas Marias e colocar Salomé como irmã de Tiago e Filha da outra Maria. Dependendo só da virgula posso criar aberrações como esta acima, mas para saber se tal artifício está errado, eu lanço mão dos mais simples princípios de hermenêutica, ou seja, ler o contexto, a historia, os costumes e a cultura da época para ter uma visão completa do assunto. Seu argumento simplesmente não prevalece, pois não tem força de persuasão e isto é fato.
Muitas outras coisas pertinentes a sua tese poderiam ser comentadas aqui, mas o tempo não me permite. Por enquanto é só!