Consulta aos espíritos e reencarnação são as duas grandes doutrinas espíritas. São as duas colunas em que está edificado o espiritismo. Removendo-as, todo o monumental edifício espírita desmorona-se. A consulta aos mortos ficou reduzida a nada mais, nada menos do que a contatos com os demônios. E sendo isto verdade, e quanto a isto não temos nenhuma dúvida, então já sabemos qual a procedência da segunda doutrina, que é a da reencarnação.
Os espíritas ensinam que o espírito da pessoa volta à Terra muitas vezes por via das reencarnações, a fim de pagar aqui as dívidas ou erros cometidos no passado, inclusive os erros dos pais. Os meios de pagar tais erros e débitos são os sofrimentos e as boas obras. Este preceito espírita de remissão de pecados é totalmente contrário ao ensino da Bíblia, e é contra a experiência e os fatos, como vamos ver agora através destas perguntas:
A) Antes de tudo, se o indivíduo sofre aqui para pagar dívidas morais ou espirituais contraídas no passado, por que então o sofrimento é comum a todos, tanto aos selvagens como aos civilizados? Tanto aos animais como às pessoas mais refinadas moral e espiritualmente?
B) Por que, numa época de tanta evolução e progresso no campo da ciência e da tecnologia, não há melhoramento espiritual no homem e menos sofrimento no mundo? Onde estão os homens aperfeiçoados das muitas reencarnações para estabelecerem um milênio de paz, um mundo melhor onde as injustiças e as guerras sejam banidas? Por que temos mais ateus no século XX do que nunca? Por que o espírito dos homens não se torna mais aperfeiçoado com os séculos, mas, pelo contrário, parece ficar cada vez mais embrutecido, fato provado pelas grandes guerras deste século e pela preparação para outras? Parece que os homens têm aperfeiçoado mais ou menos instrumentos de guerra e de destruição do que o seu próprio espírito, apesar de suas muitas “reencarnações e desencarnações”. Jesus e os apóstolos dizem que as coisas do mundo irão de mal a pior, até a vinda de Cristo, quando as coisas aqui mudarão e teremos um mundo de ordem e de paz. E é o que estamos vendo agora. As coisas do mundo não melhoram até que Cristo venha. E os espíritas não sabem disto, pois preferem ouvir os seus médiuns a ouvir a Bíblia.
Resultado: estão alheios à realidade e terão que sofrer as consequências disto.
1) E se o sofrimento é um meio de evolução e aperfeiçoamento moral, como se justifica a prática da caridade e das boas obras tão propaladas pelos próprios espíritas, se tal prática eliminaria ou pelo menos atenuaria o sofrimento, que é o meio do aperfeiçoamento moral e da salvação, segundo o espiritismo? Dar esmolas, fazer o bem, ajudar alguém, não seria um mal contra o próximo, já que atrasaria a sua evolução espiritual, porque diminuiria o seu sofrimento, que é um meio purificador e salvador, como pensam os espíritas?
2) E isto de fazer caridade e boas obras visando o seu próprio melhoramento ou o seu próprio bem, não é uma prática interesseira? Não é amor próprio e egoísta, em vez de ser um amor altruísta, desinteressado e cristão? A caridade, assim, não deixa de ser caridade e o amor não deixa de ser amor?
3) E por que a pessoa humana, ou melhor, o espírito atualmente reencarnado, não pode lembrar-se das existências anteriores, mas, pelo contrário, revela uma ignorância total sobre elas? Não é o espírito que se reencarna e evolui? Por que ele não traz as recordações e conhecimentos adquiridos nas existências passadas? E se o espírito esquece as experiências e os conhecimentos passados, tendo de começar a aprender tudo de novo quando se reencarna, para que serve, então, a reencarnação? Neste caso, não se trata de uma mera fantasia?
4) E se todos somos espíritos reencarnados, como podemos chamar essas criaturas maravilhosas, que são os nossos filhos, de partes do nosso ser, se eles não são realmente os nossos filhos, mas filhos de muitos outros pais e mães, de outras existências? E como podemos chamar os nossos pais que já morreram de nossos pais, guardando deles retratos, objetos, lembranças e saudades, se eles já estão sendo reencarnados em outras famílias e em outros lugares? E como podemos chegar ao absurdo de perceber a possibilidade de gerar os nossos próprios pais ou avós, que já morreram, de acordo com a doutrina da reencarnação, que é nascer, morrer e renascer?
Tais perguntas dispensam respostas. A reencarnação é algo improvável, impossível e absurdo. E ainda há espírita que ousa afirmar que há fundamento bíblico para tal doutrina! Afirmam com ar de autoridade que João Batista foi Elias reencarnado. Pobre do precursor de Jesus! Como ficaria o grande profeta João, se tomasse conhecimento de tal grosseria feita a ele por esses espíritas! Para sabermos o que diria João a esses espíritas se viesse ao mundo hoje em pessoa, basta lermos nos evangelhos o que disse ele aos fariseus, saduceus e espíritas do seu tempo: “Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, fruto digno de arrependimento. Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Mateus 3:7,8,10). Eu não duvido que João Batista, com aquele temperamento de Elias, o qual fez descer fogo do céu para destruir os profetas de Baal, usasse ao menos aquele seu cinto de couro para arrefecer o entusiasmo de alguns por esta história de ter sido ele Elias reencarnado. Como fazem outros adeptos de religiões apócrifas, os espíritas lançam mão da Bíblia, do seu prestígio e autoridade para defender indevidamente doutrinas dos homens e dos demônios. A Bíblia, porém, não ajuda em nada a tese espírita da reencarnação. Pelo contrário, ignora a totalmente e apresenta verdades bem diferentes a respeito do destino do homem depois da morte, verdades que são absolutamente contrárias a tal doutrina espírita. Agora, vejamos se João Batista foi Elias.
A) O precursor de Jesus, João Batista, não podia ser Elias, porque Elias nunca morreu. A Bíblia diz que ele foi trasladado. Diz assim o texto sagrado: “Eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho” (II Reis 2:11). Ele foi trasladado e assim não viu a morte. E se não morreu, como podia ser reencarnado? Não é morrer e renascer, como ensina Allan Kardec?
B) Se João Batista tivesse sido Elias reencarnado, quem teria aparecido no monte da Transfiguração teria sido João Batista, que já havia morrido, e não Elias (Mateus 17:1-8). Não é o espírito da última pessoa reencarnada que aparece, segundo ensina o próprio espiritismo? Como esses amigos espíritas se esquecem das coisas!
C) Quando os judeus do primeiro século pensaram que João Batista fosse Elias ressuscitado (e não reencarnado, porque, como os espíritas, aqueles judeus apóstatas do tempo de Cristo haviam esquecido que Elias nunca morreu) perguntaram: “És tu Elias?” E a resposta foi clara, imediata e negativa: “Não sou” (João 1:21). Não acha você que João Batista sabia melhor do que qualquer outra pessoa se ele era ou não Elias? Por que insistir que ele era Elias, quando ele mesmo diz que não era?
Quando um evangelista diz que João Batista veio no espírito de Elias, quer dizer que ele veio naquele mesmo estilo profético, ou com o mesmo zelo e poder divino de Elias. É como dizemos que certo político ou poeta tem o mesmo espírito ou estilo de um outro que morreu ou que ainda está vivo. João Batista tinha o mesmo poder espiritual que tinha Elias. O estilo profético era semelhante. A Bíblia diz que Eliseu recebeu o espírito de Elias, o seu mestre. Diz que, quando Elias estava sendo trasladado, o seu espírito repousou sobre Eliseu, seu discípulo. Eliseu havia pedido a porção dobrada do espírito do seu mestre e a recebeu. Depois, os filhos dos profetas, ou os seminaristas, disseram: “O espírito de Elias repousa sobre Eliseu” (II Reis 2: 15). Eliseu recebeu aquele espírito de poder que seu mestre havia recebido de Deus para fazer a obra. Era a unção divina, que Deus transferiu de Elias para Eliseu, numa forma dupla, como este havia pedido. Então, neste caso bíblico tão estimado pelos espíritas, trata-se do poder ou da unção divina que repousou sobre Elias, depois sobre Eliseu, e ainda depois sobre João Batista. O apóstolo João diz que cada crente tem esta unção, quando v escreve: “Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós” (I João 2:27). Jesus também falou sobre esta unção quando, referindo-se ao Espírito Santo que desceria sobre os crentes no dia de Pentecostes, disse: “Aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai” (João 14:12). Elias era cheio do Espírito Santo, e a sua unção ou poder caiu sobre o seu discípulo Eliseu. Jesus também foi cheio do Espírito Santo por ocasião do seu batismo e depois que Ele subiu ao céu, fez com que o Seu Espírito caísse sobre os Seus discípulos, no dia de Pentecostes, conferindo-lhes poder para continuarem a obra que havia iniciado (Atos 2:1-4). Então, João Batista tinha aquela mesma unção, aquele poder espiritual que Elias tinha. Porém, nunca foi Elias reencarnado, porque o homem não fica nascendo e morrendo, morrendo e nascendo o tempo todo, comoquerem os espíritas. O que diz a Palavra de Deus é o contrário disto, pois lemos em Hebreus 9:27: “E assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo.”
A Bíblia fala em renascimento, mas não em reencarnação. O renascimento e a reencarnação não são a mesma coisa segundo o ponto de vista bíblico e evangélico. Jesus diz: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus…Importa-vos nascer de novo” (João 3:3,7). Quando Nicodemos perguntou como era isto, se tinha de se reencarnar e nascer outra vez, voltando ao ventre materno, o divino Mestre foi claro, dizendo que não era nada disto. Então esclareceu Jesus, dizendo: “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito.” Em outras palavras, Jesus disse: “Reencarnação é nascer da carne. Renascer é converter-se, é nascer do Espírito Santo, nascer de cima, ser regenerado.” Esse novo nascimento é uma obra sobrenatural operada pelo Espírito de Deus no coração do homem, mudando-lhe a natureza pecaminosa, comunicando-lhe uma natureza divina, tornando-o filho de Deus. Falando sobre os renascidos, o apóstolo João diz: “Mas a todos quantos o receberam (isto é, receberam Cristo pela fé) ,deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1:12 e 13). O apóstolo Paulo, falando sobre o renascido, diz: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (II Coríntios 5:17). O homem que nasce de novo não morre espiritualmente. Podemos dizer que quem nasce duas vezes, morre apenas uma. Porém quem nasce apenas uma, morre duas vezes.
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LIVRO: O ESPIRITISMO E A BÍBLIA – RTM EDITORA S/C
REVERENDO DAVI NUNES DOS SANTOS