A reencarnação é um dos pilares da doutrina espírita. Ela é a lei segundo a qual a alma, ou espírito, volta à vida corporal, mas em outro corpo novamente formado o qual nada tem de comum com o antigo. A reencarnação, afirmam os espíritas, é o meio pelo qual todas as criaturas se envolvem nos planos intelectual e moral, a medida em que expiam os erros cometidos nas encarnações passadas. No seu Evangelho segundo o espiritismo, Kardec pretende que a reencarnação faça parte dos dogmas judaicos sob o nome de ressurreição.
Começando pelo diálogo com Nicodemos, querem os espíritas que as palavras de Jesus: “É necessário nascer de novo” se refiram à reencarnação. Note-se, porém, que ali mesmo Jesus explica que estava se referindo ao nascimento espiritual, e não ao carnal. Não é voltar ao ventre e reencarnar-se, mas, sim, nascer de novo pela semente incorruptível da Palavra de Deus, conforme explica o apóstolo Pedro (1 Pd 1.23).
Para destruir a doutrina da reencarnação, temos na Bíblia o batismo como símbolo da regeneração ou novo nascimento, bem como os escritos dos apóstolos, mas nada disso basta para convencer os espíritas. Eles dizem: “Isso foi escrito para o povo daquela época” ou “Havia ainda muita coisa para ser ensinada pelo Espírito de Verdade, e por isso o espiritismo tem iluminado todos esses casos”.
Entretanto, nas próprias supostas reencarnações de Leon Hippolyte Rivail, que mudou de nome para Allan Kerdec, percebemos quanta incoerência há no espiritismo.
Rivail afirma que em uma de suas encarnações anteriores havia sido um sacerdote católico romano nas Gálias antigas, chamado Allan Kardec, razão pela qual assinou suas obras com esse nome. Depois, afirma também que os espíritas lhe revelaram que, numa encarnação posterior a de Kardec, foi ele mesmo João Huss, famoso pregador e reformador tcheco, martirizado em 6 de fevereiro de 1415. Comparando a fé desses três, percebemos que, enquanto Rivail não acredita na Bíblia, no Inferno, no Céu, na Igreja e nem na ressurreição, João Huss acredita em todas estas coisas, e o suposto Kardec, na condição de sacerdote católico romano, certamente cria no Purgatório e negava a reencarnação com todas as outras crenças espíritas.
São profundas as diferenças entre esses três, como representantes de três religiões distintas. Rivail diz que fora da caridade não há salvação; Kardec, como padre católico romano, ensina que fora da igreja não há salvação; e João Huss, protestante, enfatiza que fora de Cristo não há salvação.
A ideia da reencarnação, que Kardec anunciou como novidade, é, na verdade, velha e pagã. “A religião dos hindus é o sistema da emanação segundo a qual todo o mundo visível e invisível sai da divindade e para ele volta depois de grandes intervalos. A base desta religião é a doutrina de transmissão das almas (metempsicose), segundo a qual a alma humana não se associa com um corpo terrestre senão como punição de faltas cometidas em uma existência anterior (preexistência). Encarnada num corpo como castigo, ela tem por tendência e por fim reunir-se de novo à alma divina do universo. Esse é o motivo porque o hindu considera a vida como uma expiação, expiação que só poderá ser abreviada por meio de uma existência santificada por orações e sacrifícios; ou por uma vida ascética, comprazendo-se na adoração da divindade e procurando sempre preservar-se contra o contágio das impurezas do mundo. Quando o homem se descuida de purificar-se por estes meios e se afasta de Deus, enterra-se cada vez mais no mal, e sua alma, depois de haver deixado o vestido usado da carne, passa, em virtude de uma sentença de juízo dos mortos, a um outro corpo quase sempre mais inferior, um corpo de animal, e começa uma nova migração. Pelo contrário, a alma do sábio, do herói, do penitente, começa depois da morte a sua ascensão através das constelações brilhantes e acaba por se reunir ao eterno espírito do que o emanou” (História Universal, J. Weber, vol. 1, pág.21).
Jesus não deixa a menor dúvida sobre a falsidade da reencarnação e a veracidade da ressurreição, quando diz: “Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento; mas os que são havidos por dignos de alcançar a era vindoura e a ressurreição dentre os mortos, não casam nem se dão em casamento [logo, ressurreição não pode ser reencarnação], pois não podem mais morrer [o que não acontece na aprendida reencarnação], porque são iguais aos anjos, e aos filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição”, Lc 20.34-36.
O JESUS DA BÍBLIA É DIFERENTE DO PREGADO NO ESPIRITISMO
A compreensão que o espiritismo tem de Jesus é absolutamente equivocada. Diz Kardec que Jesus “veio completar as profecias que lhe anunciavam a vinda. A autoridade provinha-lhe da natureza excepcional do seu espírito e da sua divina missão; veio ensinar aos homens que a verdadeira vida não existe na Terra, mas no reino dos céus: veio mostrar-lhes o caminho que conduz aos meios de se reconciliarem com Deus e fazê-los pressentir a marcha das coisas futuras para cumprindo dos destinos humanos” (O Evangelho segundo o espiritismo, pág.41).
Analisemos essas palavras de Kardec. Cristo era de uma “natureza excepcional”. E porque não natureza divina? A autoridade provinha-lhe da sua “divina missão”. A divina missão de Jesus foi salvar os pecadores e morrer por eles. “Ele veio ensinar que a verdadeira vida não existe na Terra, mas no reino dos Céus”. Por que, então, os espíritas não creem nos Céus, esse Reino feliz e glorioso onde todos os salvos vivem a verdadeira vida? Veio “mostrar-lhes o caminho”. Por que, então, o espiritismo não aceita esse caminho, que é, sem dúvida, o caminho que conduz ao Céu, ao Reino dos Céus?
A Bíblia diz que Jesus é o Salvador, o médico divino, que veio buscar e salvar o que havia se perdido. O espiritismo esforça-se por ignorar completamente a obra redentora de Cristo, apresentando-o ao mundo como um grande filósofo, um grande sábio, um grande mártir. Nunca o chamam de Senhor, mas sempre de mestre. Esquecem- se, entretanto, que, com esse cruel procedimento, arrancam de todas as missões de Jesus a maior delas, a mais elevada, a principal, que é o Evangelho que Ele próprio mandou pregar, “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
De fato, quando Kardec procura descrever a missão de Jesus, nada fala da missão de Cristo de salvar a humanidade pelo seu sangue, e não menciona ali o nome principal de Jesus, que é “o Salvador”. Não diz que ele veio para ser levantado, nos braços da cruz, como a maior de todas as esperanças do cristão. Não diz que Ele é a única tábua da salvação que nos resta. Satanás, procurando ocultar- se no espiritismo, investe violentamente contra o Salvador Jesus, desvirtuando o poder infinito do seu precioso sangue, que nos purifica de todo o pecado.
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ABRAÃO DE ALMEIDA – FONTE: REVISTA: “RESPOSTA FIEL” ANO 4 – N°16