Os Ebionitas podem ser incluídos no grupo dos judaizantes, facções dissidentes e presentes no judaísmo-cristão do século 1o, notadamente em Jerusalém. O grupo insistia em guardar a lei de Moisés como uma observância não só para si, mas para todos os que se convertessem entre os gentios. Elementos como circuncisão, guarda do sábado e vegetarianismo faziam parte da ética ebionita. Tudo indica que obtiveram esse designativo, ebionitas, do termo hebraico ebyônîm, uma referência aos “pobres”. A princípio, era um predicado honroso para os cristãos em Jerusalém. Mas, geralmente, quando se faz referência aos ebionitas como comunidade religiosa, trata-se de uma seita herética que emigrou para a região Leste do Jordão e misturou, de forma inadequada, elementos judaicos e cristãos. Passagens bíblicas, como, por exemplo, Mateus 5.3 e Lucas 4.18, eram advogadas pelo ebionismo para sustentar suas crenças, porque seus adeptos observavam um estilo de vida baseado no ascetismo.
Sobre a origem ebionita, a Enciclopédia histórico-teológica da Igreja cristã informa que “Epifânio foi o primeiro dos pais da igreja a dizer que se originaram [os ebionitas] depois da destruição do templo, em 70 d.C.”. A atribuição da fundação do grupo é conferida, pelos estudiosos, a um líder da comunidade judaica conhecido como Ebion.
No que concerne ao cânon bíblico, aderiram apenas à Tanach (Bíblia Judaica) e ao evangelho de Mateus. Pregavam que as epístolas paulinas deviam ser rechaçadas por conterem ensinos antiebionitas. Aceitavam, também, o Evangelho dos hebreus, sendo que esse livro é apócrifo. Segundo alguns pesquisadores, o Evangelho dos hebreus é uma literatura comumente empregada pelos nazarenos e pelos ebionitas. Epifânio, bispo de Constância, faz menção de um outro evangelho, o dos ebionitas.
Os ebionitas não aceitavam a cristologia ortodoxa, pois rejeitavam completamente a divindade de Cristo, colocando-o no mesmo nível dos demais profetas do Antigo Testamento. Para eles, Cristoe nada mais era do que o novo Moisés. Negavam sua preexistência, sua encarnação e seu nascimento virginal. No conceito ebionita, embora Jesus fosse o Messias, era puramente humano. Somente no batismo Jesus foi ungido como Messias, ou seja, adotado como Filho de Deus. Em sua opinião, Jesus era um judeu fiel, piedoso, profeta e mestre inigualável.
Apesar da reconhecida importância da teologia e ética judaica no contexto cristão, todavia, cristianismo e ebionismo são mutuamente excludentes. Se o cristianismo, em sua origem, não fosse delineado conforme a teologia evangélica e paulina, não basearia seus ensinos nos de Cristo: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” (Gl 5.1).
———