Quem é o responsável por um mundo que sofre?

CHEGAMOS a um dilema. O mundo parece se dirigir velozmente para a destruição. Vemos os inocentes sofrendo e as pessoas de bem sentindo dor e angústia. As vozes dos céticos e descrentes perguntam: “Que tipo de Deus permite que tais coisas aconteçam?” Somos arremessados inexoravelmente pelos fatos na direção do nosso destino ou existe um Ser Supremo no controle?

Faz pouco tempo, estávamos vendo algumas fotos que nosso filho trouxe consigo do Camboja. Uma delas mostrava o que parecia ser um canteiro de flores circular, com uma muro de tijolos de 60 cm a cercá-lo. Postes sustentavam um telhado de sapé, como se fosse um pavilhão à moda antiga. Este recipiente gigantesco continha somente crânios humanos – vítimas de algumas das brutalidades mais irracionais que o mundo já viu.

Ele tinha outra foto, de uma linda mocinha, mas, no lugar onde deviam estar seus olhos, havia apenas dois buracos. Eles tinham sido arrancados pelo inimigo.

Quem é o responsável?

Lemos recentemente um livrinho escrito por Laurel Lee, a autora de Walking Trough the Fire (Caminhando Através do Fogo). Essa linda jovem descobriu, no terceiro mês de gravidez, que estava com a moléstia de Hodgkin. Os médicos queriam que ela fizesse um aborto, pois teria que fazer tratamento com cobalto. Ela se recusou a fazer o aborto, mas fez o tratamento. O marido dela, sem poder enfrentar a perspectiva de criar três filhos sem uma esposa, abandonou-a, divorciou-se e casou com outra mulher.

Com sua fé infantil em Deus, a sua mente brilhante e um encantador senso de humor, ela começou a escrever um diário de suas experiências, fazendo também as ilustrações. Um dos médicos o viu e o mandou a um editor em Nova York. Isso levou a uma fase nova da vida dela, um ministério religioso público com contratos para palestras. Logo ela e os filhos puderam ter a sua casinha. A moléstia parecia ter regredido. Passou algum tempo, e a moléstia surgiu de novo. Encarando a morte, Laurel Lee escreveu um novo livro, Signs of Spring (Sinais da primavera). Deve ter havido vezes em que ela se perguntou se Deus estava no controle.

Existem milhões de pessoas pelo mundo todo que estão sofrendo injustiças, opressão política e perseguição, e que devem se perguntar: “Porque isto está acontecendo? Quem está no controle?” Existem milhares de lares com vidas desfeitas e destroçadas. O mundo inteiro parece ser um hospital, uma capela mortuária ou um cemitério, com as pessoas fazendo a mesma pergunta: “Quem está no controle?”

Cientistas e filósofos desde tempos imemoriais vêm debatendo a existência ou a inexistência de Deus. Hoje em dia, contudo, as provas são tão esmagadoras que até mesmo os intelectuais incrédulos estão começando a admitir que existe um Ser Supremo.

A revista Time publicou um artigo chamado Modernizando o Caso a Favor de Deus (07 de abril de 1980, pág. 65). Ele dizia: “Numa revolução tranqüila de pensamento e argumento que mal se podia prever há duas décadas, Deus está voltando. O que é mais interessante é que isso está acontecendo não entre teólogos ou simples crentes – a maioria dos quais jamais aceitou, nem por um momento, que ele estivesse em sérias dificuldades –, mas nos círculos intelectuais cintilantes dos filósofos acadêmicos.”

Na Epístola de Paulo aos Romanos a Bíblia diz: “Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu poder eterno e a sua divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis.” (Romanos 1:20)

Como  É  Deus?

Uma resposta simples e direta a esta pergunta básica é difícil de achar – a não ser que simplesmente pensemos que Deus é como Jesus Cristo! Todos os atributos de Deus são vistos em Jesus Cristo: Seu amor, misericórdia, compaixão, pureza, soberania e poder. É por isso que nossa fé em Deus tem que ser sempre centrada em Cristo. Como escreveu o Dr. Michael Ramsey, o antigo arcebispo de Cantuária: “A essência da doutrina cristã é que não apenas Jesus é divino, mas que Deus é semelhante a Cristo, e Nele não existe nada dessemelhante a Cristo.”1

A grandeza de Deus desafia as limitações do idioma.

Ao ler a Bíblia, pareço achar a santidade o Seu atributo supremo. Todavia, o amor também é uma qualidade primordial. As promessas do amor e do perdão de Deus são tão reais, tão certas, tão positivas quanto as podem descrever as palavras humanas. Deus é o santo amor.

Por trás do amor de Deus está a Sua onisciência – a Sua capacidade de “tudo saber e compreender”. Onisciência é a qualidade de Deus que é exclusivamente dEle. Deus possui o conhecimento infinito e uma percepção que é unicamente dEle. Em todas as horas, mesmo no meio de qualquer tipo de sofrimento, eu me dou conta de que Ele sabe, ama, observa, compreende e mais do que isso, que tem um propósito.

Fui criado no Sul. Minha idéia do oceano era tão pequena que, na primeira vez que vi o Atlântico, não podia entender que um lago pudesse ser tão grande! A vastidão do oceano só pode ser compreendida quando é vista. O mesmo acontece com o amor de Deus. Não basta saber que ele existe. Até o momento em que você realmente o experimenta, ninguém pode descrever para você as suas maravilhas.

Uma boa ilustração disso é uma história que minha mulher me contou sobre um vendedor de cerejas chinês. Veio passando um garotinho que adorava cerejas; quando viu as frutas, seus olhos ficaram cheios de desejo. Mas não tinha dinheiro para comprar as cerejas.

O bondoso vendedor perguntou ao menino:

Quer umas cerejas?

E o garoto disse que sim, O vendedor falou:

– Estenda as mãos. – Mas o garotinho não estendeu as mãos. O vendedor falou de novo: – Estenda as mãos. – Novamente o garoto não o fez. Então, o bondoso vendedor puxou as mãos do menino e encheu-as com dois punhados de cereja.

Mais tarde, a avó do menino soube do que se passara e perguntou:

– Por que você não estendeu as mãos quando o homem mandou?

E o garotinho respondeu:

– As mãos dele são maiores do que as minhas!

As mãos de Deus também são maiores do que as nossas!

Alguns dos peritos modernos em teologia fizeram tentativas para roubar de Deus o Seu calor, Seu profundo amor pela humanidade, e Sua compaixão pelas criaturas. Porém, o amor de Deus é imutável. Ele nos ama apesar de conhecer-nos como realmente somos. Na verdade, Ele nos criou porque queria outras criaturas à Sua imagem e semelhança no universo sobre quem poderia derramar o Seu amor, e que, por sua vez, o amassem voluntariamente. Queria pessoas com a capacidade de dizer “sim” ou “não” no seu relacionamento com Ele. O amor não se satisfaz com um autômato – alguém que não tem outra escolha senão amar e obedecer. Não o amor mecanizado, mas o amor voluntário, satisfaz o coração de Deus.

Se não fosse pelo amor de Deus, nenhum de nós sequer teria uma chance na vida futura!

Há alguns anos, um amigo meu parou no alto de uma montanha na Carolina do Norte. Naquela época, as estradas eram cheias de curvas e não dava para enxergar muito adiante. Esse homem viu dois carros vindo em direção contrária. Deu-se conta de que os motoristas não podiam ver um ao outro. Apareceu um terceiro carro e começou a ultrapassar um dos carros, embora não houvesse espaço para ver o carro que vinha do outro lado da curva. Meu amigo soltou um grito de advertência, mas os motoristas não podiam escutá-lo, e houve uma colisão fatal. O homem na montanha viu tudo.

É assim que Deus nos vê na Sua onisciência. Ele vê o que aconteceu, o que está acontecendo e o que acontecerá. Na Escritura, Ele nos adverte, repetidas vezes, sobre as dificuldades, problemas, sofrimentos e julgamento que nos esperam. Muitas vezes, ignoramos a Sua advertência.

Deus tudo vê e tudo sabe. Mas nós somos muito limitados pela finidade de nossas mentes e o curto tempo que temos na terra para sequer começar a entender o poderoso Deus e o universo que Ele criou.

Ele  É  um  Deus  de  Amor

Deus não está cego aos apuros do homem. Ele não fica parado no alto de uma montanha, olhando impotente para a colisão da humanidade. Como o homem causou a sua própria colisão rebelando-se contra o Criador, Deus poderia ter permitido que ele despencasse na escuridão e destruição. Isso seria compatível com a santidade e a retidão de Deus. Todavia, esse outro grande atributo de Deus, o Seu amor, não permitiu que Ele o fizesse. Desde o começo daquela colisão, Deus tinha um plano para a salvação, a redenção e a reconciliação do homem. Na verdade, o plano é tão fantástico que acaba por erguer o homem muito além e acima até dos anjos. O amor consumidor de Deus pela humanidade foi demonstrado decisivamente na Cruz, quando a Sua compaixão corporificou-se em Seu Filho Jesus Cristo. A palavra compaixão vem de duas palavras latinas que significam “sofrer com”. Deus estava disposto a sofrer com o homem.

Nos 33 anos que precederam a Sua morte, Jesus sofreu com o homem; na cruz, Ele sofreu pelo homem. “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (II Coríntios 5:19). E, novamente: “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Romanos 5:8)

Foi o amor de Deus que enviou Jesus Cristo para a cruz. Foi porque ele estava no controle e era controlado pelo amor que forneceu aquele substituto divino para o nosso pecado.

O amor de Deus não começou na cruz. Começou antes do mundo ser estabelecido, antes que o relógio de ponto da civilização começasse a se mover. O conceito distende a nossa compreensão até os limites máximos de nossas mentes.

Volte, na sua imaginação, para as incontáveis eras antes de Deus ter criado esta terra atual, quando ela era “sem forma e vazia” e a escuridão profunda e silenciosa do espaço exterior formava um vasto golfo entre o brilho do trono de Deus e o vácuo escuro onde existe agora o nosso sistema solar. Imagine o brilho da glória de Deus enquanto o querubim e o serafim, os próprios anjos, cobrem a face com as asas em respeito e reverência para com Aquele, o Ser elevado e sagrado que habita a eternidade!

Já naquela época, Ele previa o que ia acontecer e, no entanto, no Seu amor misterioso, permitiu que acontecesse. A Bíblia nos fala do “Cordeiro que foi morto desde a criação do mundo” (Apocalipse 13:8). Deus previu o que o Seu Filho ia sofrer. Como já se disse, havia uma cruz no coração de Deus muito antes da cruz ser erigida no Calvário. Somente ao pensarmos nestes termos começaremos a perceber a maravilha e a grandeza do amor dEle por nós.

O  Amor  DEle,  Desde  o  Começo  dos  Tempos

Foi o amor que levou Deus a formar uma criatura à Sua imagem e semelhança, e a colocá-la num paraíso de beleza insuperável. Foi o amor dEle que forneceu o plano da salvação, pois Ele sabia antecipadamente que o homem se desviaria do programa divino original.

Foi o amor de Deus que deu ao homem o livre arbítrio e o privilégio da opção, quando Ele falou: “De toda a árvore do jardim podes comer livremente; mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás.” (Gênesis 2:16, 17) Somente Deus dá a Seus filhos liberdade de escolha. O homem foi liberado desde o começo dos tempos para fazer o que lhe aprouvesse, mas, fosse qual fosse a sua escolha, haveria conseqüências. Se ele optasse pela rebelião, haveria sofrimentos terríveis, morte e a separação eterna de Deus. Se optasse pela obediência ao plano de salvação de Deus, haveria alegria abundante, vida eterna e a eventual construção de um paraíso neste planeta.

Deus se preocupava tanto com o bem-estar do homem que marcou com cuidado o local de perigo nesse meio ambiente perfeito. “Coma o fruto de qualquer outra árvore”, falou Deus, “exceto desta. Nesta existe a morte.” Porém, o homem cometeu um erro fatal que afetaria todas as gerações por nascer. A despeito da advertência de Deus, Adão e Eva comeram os frutos daquela árvore. Contudo, foi o mesmo amor que fez com que Deus chamasse Adão: “Onde estás?” (Gên. 3:9) Deus sabia onde Adão estava – mas Ele queria que Adão soubesse. Preparou o caminho para que Adão e Eva voltassem para Ele como companheiros.

Foi o amor de Deus que colocou os Dez Mandamentos nas mãos de Seu servo, Moisés. Foi o amor dEle que gravou aqueles estatutos não apenas na pedra, mas nos corações de todos os povos (nas suas consciências), e os tornou a base de toda lei civil, estatutária e moral, não importa quanto a justiça humana possa ter-se tornado pervertida.

Foi o amor de Deus que soube que os homens eram incapazes de obedecer à Sua lei e foi o amor dEle que prometeu um Redentor, um Salvador, que redimiria o Seu povo de seus pecados.

Foi o amor de Deus que botou palavras de promessa nas bocas e corações de Seus profetas, séculos antes da vinda de Cristo.

O  Amor  DEle,  Quando  a  Profecia  É  Cumprida

Assim como predisseram os profetas antigos, numa certa época da história da humanidade, num local específico no Oriente Médio, o Filho de Deus veio para este planeta.

Foi o amor de Deus que preparou as condições políticas para a vinda de Jesus Cristo. A Grécia, como a grande potência durante o período de quatrocentos anos que antecedeu ao nascimento de Cristo, preparou o caminho para a Sua mensagem espalhando um idioma comum (o grego) pelo mundo todo. Depois o grande império Romano tomou o poder e construiu uma rede de estradas e desenvolveu um sistema de lei e ordem. Assim, utilizando a língua comum e mais as estradas e o sistema legal romano, Deus, através dos primeiros cristãos, difundiu a Sua palavra. Assim, diz a Escritura que Jesus nasceu “na plenitude do tempo” (Gál. 4:4).

Uma  Vida,  um  Amor,  um  Deus

Jesus teve a mesma compaixão altruísta pelos doentes, aflitos e pecadores que Deus, Seu Pai.

Foi o amor de Deus que permitiu que Jesus Cristo fosse pobre, para que nós nos tornássemos ricos. Foi o amor divino que permitiu que Ele suportasse a provação da Cruz. Foi esse mesmo amor que o fez conter-se quando foi falsamente acusado de blasfêmia e levado ao Calvário para morrer com ladrões comuns, sem jamais levantar a mão contra os Seus inimigos.

Foi o amor que o impediu de chamar os 12 mil anjos que já estavam de espada desembainhada para vir em Seu auxílio. Foi o mesmo amor que fez com que Ele, num momento de dor atroz, parasse e desse vida e esperança a um pecador morrendo ao seu lado, que, arrependido, exclamou: “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino.” (Lucas 23:42)

Depois de ter sofrido terríveis torturas nas mãos do homem degenerado foi o amor que fez com que Ele erguesse a voz e orasse: “Pai, perdoa-lhes; pois não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34)

Do Gênesis ao Apocalipse, da maior tragédia da terra ao maior triunfo da terra, a dramática história das maiores profundezas do homem e das mais sublimes alturas de Deus pode ser expressa em 28 palavras impressionantes: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16)

Como  Podemos  Rejeitar  um  Amor  Tão  Grande?

No plano humano, freqüentemente amamos a quem nos ama. Na esfera espiritual, as pessoas não compreendem o amor assoberbante de um Deus sagrado. Tentamos ser “bons o bastante para Deus”.  O profeta Isaías expressou a verdadeira condição do homem nas palavras: “Todos nós temos andado desgarrados como ovelhas; temo-nos desviado cada um para o seu caminho.” (Isaías 53:6) Não importa o pecado que tenhamos cometido, ou o quanto ele possa ser hediondo, vergonhoso ou terrível, Deus nos ama. Se tentamos “viver uma boa vida”, segundo nossos próprios padrões, isso é inaceitável por Deus para a Salvação. No entanto, Deus ama a estes, também, quer estejam tentando ser bons ou tentando ser maus. O amor de Deus a tudo abrange.

Todavia, existe uma coisa que o amor de Deus não pode fazer. Ele não perdoa o pecador que não se arrepende. Ao longo de toda a Bíblia conclama-se a raça humana a se arrepender do pecado e da rebelião e se voltar para Deus.

Desse modo, por causa do amor dEle, existe um caminho da salvação, um caminho de volta a Deus através de Jesus Cristo, Seu Filho. Este amor de Deus alcança o homem onde quer que ele esteja, mas pode ser inteiramente rejeitado. Deus não vai Se impor a homem algum, contra a vontade deste. Uma pessoa pode ouvir uma mensagem sobre o amor de Deus e dizer: “Não, isso não é para mim.” Deus a deixará seguir pecando para a escravidão e o juízo.

Contudo, se realmente queremos receber o amor de Deus, temos que aceitá-lo para nós mesmos. Foi assim que Ele planejou, desde o começo! Sempre foi a opção do homem. O destino de sua alma está nas suas mãos pela escolha que você faz.

Você confiou a sua vida a Jesus Cristo? Conhece-o como seu Salvador e Senhor pessoal?

Deus  Está…  em  Toda  a  Parte

Lembro-me de ter lido um livreto intitulado Sem lugar para esconder. Como isso descreve bem a onipotência e a onisciência de Deus. “Pode alguém ocultar-se em lugares escondidos, que eu não o verei?, diz Jeová. Porventura não encho o céu e a terra?, diz Jeová.” (Jeremias 23:24) No Salmo 139:1-5, Davi diz: “Jeová, tu me sondas e conheces. Tu conheces o meu sentar e o meu levantar, de longe entendes o meu pensamento. Esquadrinhas a minha vereda e o meu pouso, estás ciente de todos os meus caminhos. Pois ainda a palavra não está na minha língua, já tu, Jeová, a conheces toda. Por detrás e por diante me cercas e pões sobre mim a tua mão.”

Conquanto Davi não soubesse explicar a maneira do amor onisciente (que tudo sabe) de Deus, sabia dizer como ele o afetava: “Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim, elevado é, não o posso atingir.” (v. 6)

O salmista prossegue reconhecendo que Deus está mesmo em toda a parte. “Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estarás; se fizer a minha cama nas profundezas, lá também estarás.” (vv. 7, 8)

Se alguém subisse ao mais alto píncaro ou descesse ao abismo mais profundo, não escaparia à presença de Deus Todo-Poderoso. É isto o que a onisciência (tudo saber) e a onipresença (em toda a parte ao mesmo tempo) de Deus significam para nós em termos práticos. “Se eu tomar as asas da alvorada e me detiver nos confins dos mares, ainda lá a tua mão me guiará, a tua mão direita me sustentará.” (Salmos 139:9,10)

Não existe um ponto no espaço, quer seja dentro ou fora dos limites da criação, em que Deus não esteja presente. É por isso que, ao nos perguntarmos quem está no controle, podemos responder sem equívoco: “Deus!”

O  que  Isso  Significa  Para  Mim?

O que tudo isso tem a ver com o sofrimento? Por causa da Sua onipresença e onisciência, Deus está conosco em todas as nossas lutas e compreende nossas provações. Nada nas nossas vidas pega Deus de surpresa. Não estamos sós no nosso sofrimento. Temos um Deus que nos ama e está conosco em meio a nossos problemas.

Por  que  um  Deus  Amoroso  Permite  o  Sofrimento?

Muita gente pergunta: “Por que Deus permite que o medo continue a apertar os corações dos homens, nesta era de esclarecimento?” Muita gente pergunta: “Onde está o poder de Deus? Por que Ele não acaba com toda essa miséria e crueldade que vêm amaldiçoando a nossa era?” Outros perguntam: “Como Deus pode ser bom e misericordioso quando, diariamente, homens e mulheres são esmagados por agonias quase insuportáveis?” Tais perguntas são feitas não apenas pelos ateus e pelos inimigos da religião, mas também pelos cristãos confusos que, tropeçando sob o fardo da angústia, exclamam: “Por que tenho que suportar este sofrimento? Como Deus pode jogar sobre mim tantos padecimentos?”

Durante a guerra da Coréia, conheci dezenas de coreanos cristãos que faziam essas mesmas perguntas, assim como elas estão sendo feitas hoje no Sudeste Asiático, em Uganda e dezenas de outros países.

Um dos primeiros livros da Bíblia, o Livro de Jó, trata dessa dificuldade. Algumas pessoas experimentam a guerra, o terrorismo, casamentos desfeitos, pressões financeiras, e muitas outras tribulações. Mas duvido que tenham sofrido perdas tão grandes quanto as de Jó, quando inimigos traiçoeiros capturaram seus homens e todos os seus rebanhos e manadas. Talvez haja alguém cujo filho ou filha foi mantido como refém, ou que tenha recebido o aviso de que o filho ou filha foi morto em combate. Jó perdeu sete filhos e três filhas num só dia. Outros, talvez, estejam doentes e gemendo de dor. Jó sofria de uma forma de moléstia que transformou o seu corpo numa massa de pústulas e chagas.

Quando Jó não pôde encontrar explicação humana para as suas provações, gritou para Deus: “Faze-me saber por que contendes comigo.” (Jó 10:2) Esta pergunta antiquíssima de “por que devem os justos sofrer?” é velha como o tempo. Só há um lugar em que podemos achar uma resposta, a Bíblia. No entanto, na sua cegueira, alguns homens rejeitaram a orientação divina e insistem que tudo na vida provém da chance. A sorte, declaram eles, sorri para alguns, que têm uma vida fácil e serena. A sorte fecha a cara para outros, que sofrem inúmeras dificuldades. Dizem que tudo é questão de sorte, de chance. “Já que somos apenas criaturas dependentes da sorte”, concluem, “por que não arrancar da vida cada gota de prazer, enquanto podemos, e usufruir de tudo ao máximo antes que chegue o amanhã, trazendo a morte consigo?”

Conversei com uma professora de uma de nossas escolas. Ela me contou que a mesma atitude é expressa por alguns de seus alunos. Dizem eles: “Vamos acabar tendo que ir para a guerra, de qualquer forma, a bomba atômica vai fazer tudo em pedacinhos – então por que não aproveitar agora?” Que engano chocante! E como essa atitude falha completamente em tempo de crise!

Outros céticos vão ao extremo oposto, afirmando que o homem sofre porque é fraco. Insistem eles: “Aprenda a ser duro e implacável. Aniquile com toda a oposição. Fora a compaixão, a bondade e a misericórdia. Abaixo o amor. O poderoso é o certo. Não seja um fracote, seja um super-homem.” Esta foi a delusão de Hitler, e o resultado foi um padecimento incomensurável para milhões de pessoas.

Os secularistas não conseguem oferecer soluções satisfatórias para o dilema do sofrimento do homem. Freqüentemente, as filosofias humanísticas criam uma confusão e um desânimo pessoal ainda maiores.

A questão de por que Deus permite o sofrimento é um dos mistérios mais profundos da vida. É difícil dar-lhe uma resposta. Não podemos consultar uma única passagem da Escritura para encontrar uma abordagem meticulosa e conclusiva desse assunto, mas a Bíblia sugere algumas respostas. Gostaria de partilhar com você algumas das idéias que poderão ser de ajuda.

Primeiro, temos que nos dar conta de que Deus tem trabalhado ativamente na mitigação do sofrimento.

Lembremo-nos de que o sofrimento se originou no Paraíso, como já discutimos anteriormente. Deus deu ao homem liberdade de escolha: a escolha do bem ou a escolha do mal. Parte da constituição humana que distingue o homem de outras criaturas é a sua capacidade de raciocinar e tomar decisões morais. O homem é um agente moral livre. Satanás não dá a seus filhos a mesma escolha.

Adão escolheu seguir os conselhos de Satanás e se rebelou (pecou) contra Deus. A escolha de Adão (seu pecado) abriu uma “caixa de Pandora” de sofrimento para a humanidade. Um estudo cuidadoso do Gênesis revela que a atitude de Adão produziu um amplo espectro de sofrimento: físico, espiritual, social, psicológico e até ecológico. Num sentido muito real, o sofrimento deste mundo foi criado pelo próprio homem. A tendência ao pecado, a natureza pecaminosa, é uma característica humana transferida de Adão e Eva para a segunda geração da humanidade. E foi transferida para todas as gerações seguintes. Faz parte da natureza humana que todos herdamos.

E no entanto foi Deus quem agiu para solucionar o problema. No Jardim do Éden, Ele deu a Adão um raio de esperança – a promessa de que um dia enviaria o Seu Filho (gerado por uma mulher) à terra para destruir a obra do demônio e lidar com os problemas do pecado e do sofrimento do homem.

Vimos esta promessa ser cumprida historicamente, em Jesus Cristo. Por Sua vida, morte e ressurreição, Ele triunfou sobre Satanás e o pecado, e Ele é a chave para a solução do sofrimento. Por Sua morte, liberta-nos da punição do pecado. Por Sua ressurreição, dá-nos o poder sobre a tendência ao pecado, à medida que permitimos que Ele controle as nossas vidas.

As ações pecaminosas do homem (assassinato, roubo, estupro, terrorismo e assim por diante) infligem o sofrimento aos outros. Se todos os homens permitissem que Jesus reinasse em suas vidas, muitos dos padecimentos deste mundo seriam não apenas mitigados, mas abolidos.

Assim, vemos que Deus não esteve passivo com relação à sorte do homem. Ele agiu. Na verdade, a história toda está se dirigindo para uma época em que Cristo estabelecerá o Seu reinado sobre todo o universo. Satanás, pecado e sofrimento serão eliminados inteiramente. Deus promete livrar-nos da punição e do poder do pecado; e um dia Ele criará um ambiente no qual os homens fiquem livres da presença do pecado e do sofrimento associado a ele. Isaías 9:6, 7: “Porque a nós nos é nascido um menino, e a nós nos é dado um filho; o governo está sobre os seus ombros, e ele tem por nome Maravilhoso Conselheiro, Poderoso Deus, Eterno Pai, Príncipe da Paz. Do aumento do seu governo e da Paz não haverá fim sobre (…) o seu reino.” F.B. Meyer disse, cena vez, que, “quando o nosso governo estiver sobre os ombros dEle, não haverá fim para a paz.”

Não Podemos esquecer que Deus agiu em nosso nome para livrar o mundo do sofrimento. E o espantoso é que Ele o fez por meio do Seu próprio sofrimento. Ele é um Pai que testemunhou a tortura e morte do Próprio Filho. Deus, que ama o Seu Filho, permitiu que Ele sofresse para que você e eu pudéssemos ser libertados do sofrimento. Devido à paixão e morte de Cristo, aqueles que O aceitaram como seu Salvador estarão livres de um sofrimento mais intenso – a separação eterna de Deus.

É no sofrimento de Deus que vemos o Seu grande amor. Não devemos tentar avaliar o caráter de Deus e julgar se Ele é ou não um Deus de amor, olhando para os nossos sofrimentos. É olhando para a Cruz que passamos a conhecer e experimentar a profundidade do amor de Deus por nós.

Desse modo, vemos que Deus tem um plano para a eliminação do sofrimento.

Mas por que Deus não retira todo o sofrimento do nosso mundo agora? Se Ele tem o poder, por que não o usa agora para o bem da humanidade?

Primeiro, se Deus fosse erradicar todo o mal deste planeta, teria que erradicar todos os homens maus. Quem estaria isento, se “todos pecaram e necessitam da glória de Deus”? (Romanos 3:23) Deus prefere transformar homem mau, ao invés de erradicá-lo.

Há pouco tempo, recebemos uma carta falando de um prisioneiro condenado a morrer na cadeira elétrica. Vinte e quatro horas antes da execução, ela foi adiada. Contudo, por causa da sua proximidade com a morte, ele passou a conhecer Deus de um modo pessoal, através da fé em Jesus Cristo, e tornou-se uma testemunha vocal de Cristo dentro da prisão. Dos outros prisioneiros no corredor da morte, agora há 22 dedicados ao estudo da Bíblia com ele. Todos ficaram abalados com a experiência vivida por ele – a morte de repente tornou-se uma realidade para eles – e, através do seu relacionamento pessoal com Deus e o testemunho deste fato, Ele está sendo utilizado até ali no corredor da morte.

Em Cristo, podemos tornar-nos novas pessoas. “Se alguém está em Cristo, é uma nova criação; passou o que era o velho, eis que se fez o novo!” (II Coríntios 5:17) Deus pode extrair um grande bem de qualquer vida dedicada a Ele.

Segundo, se Deus retirasse todo o mal do nosso mundo (mas deixasse o homem no planeta) isso significaria que a essência e “ser humano” seria destruída. O homem se tornaria um robô.

Deixe que eu explique o que quero dizer com isso. Se Deus eliminasse o mal, programando o homem para realizar apenas atos bons, o homem perderia a sua marca de distinção – a capacidade de fazer escolhas. Não mais seria um agente moral livre. Seria reduzido à condição de robô.

Vamos nos aprofundar mais. Os robôs não amam. Deus criou o homem com a capacidade de amar. O amor se baseia no direito de se optar por amar. Não podemos forçar os outros a nos amar. Podemos fazer com que nos sirvam ou nos obedeçam. Mas o verdadeiro amor se baseia na liberdade que o homem tem de aceitá-lo na sua vida. O homem poderia ser programado para fazer o bem, mas o elemento do amor estaria perdido. Se o homem fosse forçado a fazer o bem, o sofrimento seria eliminado, mas o amor também. Como seria viver num mundo sem amor?

Desse modo, podemos ver que o uso do poder de Deus para eliminar o mal não provaria ser uma solução positiva para o problema do sofrimento. Os resultados dessa ação criariam maiores dilemas. Ou o homem seria reduzido à condição de robô num mundo sem amor, ou ele seria aniquilado.

Na verdade é o amor de Deus pelo homem que O impede de retirar o mal do mundo por meio de uma exibição do Seu poder. O plano de Deus é retirar o mal por meio de uma exibição do Seu amor – o amor que Ele demonstrou no Calvário.

É no amor de Deus que encontramos a chave para a solução final para o problema do sofrimento. A resposta para a antiquíssima questão do sofrimento reside numa compreensão e apreciação do caráter de Deus.

Foi isso o que Jó descobriu. No auge de seus padecimentos e questionamentos, Deus Se revelou a Jó sob vários aspectos de Seu caráter. Jó recebeu uma demonstração espantosa da sabedoria de Deus. Através de sua experiência, ele passou a perceber que Deus merecia confiança com base no Seu caráter. Embora Jó não pudesse compreender o propósito final de todos os atos de Deus, podia confiar em Deus. Porque Deus conhece e compreende todas as coisas. Pode-se confiar nEle para fazer o que é o melhor.

Sempre haverá segredos e motivos de Deus além do alcance do homem. Deus é infinito; o homem é finito. Nosso conhecimento e compreensão são limitados. Porém, baseados no que conhecemos do caráter de Deus, demonstrado supremamente na Cruz, podemos ter confiança que Deus está fazendo o que é melhor para nossas vidas.

Corrie ten Boom descobriu uma boa maneira de explicar a perspectiva de que precisamos ao enfrentar os problemas da vida que nos intrigam: “Imagine um bordado colocado entre você e Deus, com o lado direito voltado para Deus. O homem enxerga as pontas soltas e gastas do avesso, mas Deus enxerga o desenho pranto.”

Quem  Está  no  Controle?

Deus está no controle. Não importa o que surja em nossas vidas, não importa o quanto possa ser difícil ou perigoso, podemos dizer confiantes: “Sabemos que, aos que amam a Deus, todas as coisas cooperam para o bem, a saber, aos que são chamados segundo o Seu propósito.” (Romanos 8:28)

Extraído do livro “A Segunda Vinda de Cristo”, Billy Graham


1 God, Christ and the World, Londres: Sem Press, 1969, p. 37.

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