TEL AVIV – A primeira reação oficial da direção do Hamas na Faixa de Gaza à troca de comando no Cairo foi um tanto apática.
– Não estamos preocupados com a queda do presidente Mohamed Mursi – disse, laconicamente, Ahmad Yousef, um dos principais líderes do grupo islâmico palestino, admitindo, porém, que o Egito é “a espinha dorsal da estabilidade interna da situação palestina”.
Mas, para muitos, o Hamas é o maior perdedor da queda de Mursi. O movimento islâmico que controla a Faixa de Gaza há mais de seis anos, comemorou, há um ano, a subida ao poder da Irmandade Muçulmana, grupo que inspirou sua fundação. Mesmo sem nenhum vínculo oficial entre os dois grupos, o Hamas é visto como um “braço” da Irmandade.
Agora, os líderes do Hamas temem que o fracasso da Irmandade Muçulmana leve o grupo palestino de volta à clandestinidade no maior país árabe do mundo. Quatro militantes do Hamas foram presos no Cairo após a queda de Mursi, acusados de planejar um ataque terrorista.
“Os destinos de Mursi e do Hamas estão ligados e os próximos dias vão determinar o futuro, pelos próximos anos, da organização islamista palestina”, afirmou o jornalista e analista palestino Daoud Kuttab, diretor-geral do Community Media Network, em artigo para o site al-Monitor.
Se o Hamas saiu perdendo, seu rival político, o partido Fatah, do presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas, comemorou. “Em nome do povo palestino e sua liderança, congratulo a liderança egípcia nessa fase transitória”, afirmou Abbas em comunicado. A sensação é que o enfraquecimento da facção rival pode levar a um acordo de união nacional e, talvez, à volta do Fatah ao governo de Gaza.
Volatilidade preocupa Israel
– Em Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu preferiu o silêncio, e ordenou o mesmo a ministros e assessores. Há certo alívio com o fracasso da Irmandade. Os israelenses temiam que, sob influência do grupo islâmico, os egípcios suspendessem o Acordo de Camp David, que em 1978 selou a paz entre os dois países.
– O Exército egípcio está muito ocupado agora para lidar com assuntos externos – afirmou o ex-chefe das Forças Armadas, Gabi Ashkenazy.
O governo Mursi surpreendeu Israel. A relação bilateral foi mantida, mesmo que à marcha lenta e só entre autoridades militares. Por isso, há certo temor de que o próximo governo seja pior. O período transitório também preocupa. A volatilidade pode levar à perda de controle do Exército na fronteira com Israel, onde há um aumento de violência de grupos locais.
Extraído do site do Jornal O Globo em 05/07/2013