Qual é o Repouso de Hebreus 4.9?

Qual é o Repouso de Hebreus 4.9?

Dizem alguns adventistas menos avisados que este repouso sabático refere-se ao sábado. Aponta o trecho que diz restar ainda um repouso para o povo de Deus, como prova de que existe obrigatoriedade para a guarda desse dia no Novo Testamento.

Comentário

É evidente que o repouso de que se trata aqui não é o do sétimo dia literal,
indicado no quarto mandamento e, sim, o repouso de uma vida de fé em Deus. A idéia central do texto está em que Deus repousou depois de haver criado o mundo e que os profetas falaram de antemão de outro dia (Sl 118.24; 95.7), em vez do sétimo dia semanal para comemorar, um repouso maior, que se eguiria a uma obra maior, objetivando não apenas o corpo, mas todo o homem. Josué nunca conseguiu guiar o povo a esse repouso, devido à sua impossibilidade de levar o povo de Israel a uma paz real com Deus. Jesus havendo terminado sua obra de redenção na cruz (Jo 19.30), trouxe ao homem a paz, a reconciliação. Na cruz foi abolido o sábado semanal (Os 2.11 combinado com Cl 2.16). Portanto, em comemoração ao glorioso repouso, que se
seguiu a uma obra maior de redenção, resta guardar um descanso para o povo de Deus, esse descanso é a plena confiança na consumação da obra de Cristo (Is 11.10 comparado com Mt 11.28-30). Foi necessário esse argumento para mostrar aos judeus, que se gloriavam no seu sábado semanal, que o cristão têm em Cristo a paz e o descanso com Deus.

O que diz a teologia protestante?

Tomo a liberdade de reproduzir aqui apenas o comentário de Donald A.Hagner em seu “Novo Comentário Bíblico Contemporâneo” do livro de Hebreus. Assim define Hagner sobre a palavra sabbatismos:

“A palavra grega rara para repouso (sabbath no hebraico) neste versículo é
sabbatismos. É usada deliberadamente pelo autor em lugar da palavra ara “descanso” usada previamente em sua discussão (katapausis), a fim de enfatizar que o descanso de que tem falado é de natureza escatológica, isto é, tem a natureza do descanso do próprio Deus. Assim é que o sabbath de Deus torna símbolo do nosso descanso” (pág.92)

Portanto, a questão é simples, não adianta procurar chifres em cabeça de cavalo! Aqui não é uma ordem para guardarmos sábado algum, mas uma promessa de um descanso eterno. É assim também que Agostinho interpretava este descanso em sua obra “A Cidade de Deus – XXII, 30,5”.

O que dizem as autoridades adventistas?

1. Arnaldo B. Christianini em seu livro “Radiografia do Jeovismo” da a interpretação deste texto nos seguintes termos:

“Esse “descanso espiritual” opera-se em pleno reino da graça, e se obtém pela fé (Heb. 4:2). É o refrigério da alma rendida a Cristo, regozijando-se na salvação. O “descanso” no qual tanto os cristãos como os judeus conversos entram hoje é o mesmo “descanso espiritual” no qual Deus convidou o antigo Israel a entrar, como nação. É a alma integrar-se no eterno propósito de Deus”

“Bem, depois destas definições que a própria Bíblia estabelece, a que “descanso” se referem Heb. 3 e 4?

O “descanso” referido em Hebreus, caps. 3 e 4 não tem a mais remota ligação com o sábado, nem com um período de 7.000 anos, e muito menos com o milênio. Nada tem de escatológico.

Na verdade, o autor da carta aos Hebreus (cap. 4, verso 4 menciona o sétimo dia, o repouso da Criação, mas apenas como uma comparação com o “descanso” no qual Deus quer que os cristãos entrem. É aí empregado para ilustrar. O dia sétimo da Criação foi o repouso de Deus e do homem. Visava mais o refrigério espiritual do homem, pois em seu benefício fora instituído. Alguns procuram explorar o fato de o apóstolo ter empregado duas palavras gregas diferentes para designar “descanso”: “katapausis” e “sabbatismos” (essa só ocorre em Heb. 4:9), mas o argumento não colhe, pois o que decide o sentido é a contexto, e ambas estas palavras são aí empregadas sinonimamente. Ambas dizem apenas “descanso”. “Prova? Basta a leitura corrente dos textos.

a) Visto como Josué não pôde levar Israel a entrar no “descanso” espiritual
(“katapausis”, v. 8), resta para os cristãos um “descanso” (“sabbatismos” v. 9). A coerência exige que O QUE RESTA seja a mesma coisa que havia no princípio. Como de início não se tratara da descanso sabático, também a questão do “descanso” hoje não é a do descanso sabático. Muito menos de um sábado milenial, pois ele não estava na cogitação de Josué nem de Davi.” (Radiografia do Jeovismo, p. 132-138 CPB)

2. Ellen White, por sua vez, acreditava que este texto referia-se ao descanso espiritual: “o repouso aqui mencionado é o repouso da graça” e o verdadeiro repouso da fé” (Comentários de E. G. White em “The Seventy-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, p. 928)

3. O “Comentário Bíblico Adventista” é do mesmo parecer quando elucida sobre este texto: “Certamente, ao escrever aos judeus, o autor de Hebreus não consideraria necessário provar-lhes que resta “a guarda do sábado”…” (The Seventy-day Adventist Bible Commentary, vol. 7, p. 423)

4. Alberto R. Timm, professor de Doutrina do Sábado e diretor do Centro de Pesquisas Elle G. White, no Instituto Adventista de Ensino, foi forçado a declarar: “Assim sendo, não nos é possível restringir a expressão sabbatismós, de Hebreus 4.9, à mera observância formal do sábado do sétimo dia.” (O Sábado nas Escrituras, p.72).

Conclusão

Poderíamos citar aqui mais testemunhos provindos de escritores adventistas como o livro “Consultoria Doutrinária” em abono a nossa posição. Contudo, cremos que só estes bastam para provar que os adventistas que se apegam na guarda do sábado para a igreja cristã lançando mão de Hebreus 4.9, não só incorrem em má exegese como colidem contra a interpretação de sua própria igreja.

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