Aliado da OTAN se sente animado a ‘libertar’ Jerusalém
Bandeiras turcas e palestinas tremulavam como pássaros furiosos em uma multidão de milhares de pessoas que gritavam “Allahu Akbar!” e “Abaixo a Israel!”
O palestrante era o líder do Hamas, Khaled Meshaal, e a sua audiência eram os líderes do Partido de Desenvolvimento e Justiça da Turquia, que se reuniram para seu encontro anual, em 27 de dezembro, em um salão de convenções em Konya, a cidade natal do primeiro-ministro turco Ahmet Davutoglu.Os cantos cresciam de forma mais exuberante a medida em que o palestrante, um homem de barba e gordo e pesado que estava na plataforma, lhes assegurava que “se Deus quiser, vamos libertar Jerusalém juntos”.
O primeiro-ministro turco introduziu o líder do Hamas e, em seguida, sentou-se na primeira fila, aplaudindo e batendo palmas pelas declarações islâmicas radicais que estão sendo feitas por Meshaal.
“A medida em que a Turquia, durante séculos, foi o principal defensor de Jerusalém e da mesquita de Al-Aqsa, da mesma forma vocês são o centro da Umma muçulmana (nação muçulmana), que irá realizar a missão de libertar Jerusalém e al-Aqsa”, disse Meshaal discursando para a multidão e que quase não recebeu nenhuma cobertura da grande mídia. “Saibam disso, que uma Turquia forte é a força da Palestina e de Jerusalém. A Turquia é a força que representa todos os muçulmanos“.
O Hamas, que lidera quase 2 milhões de palestinos na Faixa de Gaza em Israel, continua a ser uma organização terrorista conforme designação do Departamento de Estado dos EUA e funciona como uma afiliada da Irmandade Muçulmana.
Assim, quando o líder do Hamas, aparece, sem aviso prévio, como o principal palestrante para falar em um evento político oficial na Turquia, que é membro da OTAN e um importante aliado dos EUA, isso é algo muito grave.
“Essencialmente, o Hamas está apelando para o fanatismo nacionalista na Turquia e a Turquia está usando o Hamas para ganhar a simpatia de todo o mundo islâmico, então isso é realmente uma relação mutuamente benéfica”, diz Joel Richardson, autor do livro “O Anticristo Islâmico”, que está na lista de mais vendidos do jornal New York Times, e é diretor do documentário recém-lançado, “Testemunha Ocular do Fim dos Tempos” (End Times Eyewitness).
As opiniões variam entre os analistas do Oriente Médio a respeito de se os principais líderes da Turquia, o Presidente Recep Tayyip Erdogan e o Primeiro-Ministro Davutoglu, são verdadeiros islamitas ou se estão apenas usando a retórica do islamismo radical para ganharem influência em toda uma região cada vez mais radicalizada.
Elmira Bayrasli, a co-fundadora da organização Foreign Policy Interrupted e pesquisadora do Instituto de Política Mundial, está entre aqueles que parecem pensar que Erdogan não é um islamita intransigente, mas que está seguindo essa direção para bajular sua base de apoio.
“Assolado por crises internas, Erdogan voltou sua atenção para o seu núcleo eleitoral, uma população em grande parte conservadora, anti-Ocidental no centro”, escreveu Bayrasli em uma coluna do New York Times no início deste ano. “Ao fazer isso ele voltou a usar uma velha tática que tem repercussão entre eles: a agressão”.
A Turquia rompeu seu relacionamento, outrora amistoso, com Israel em 2010 e, em seguida, Erdogan virou-se contra seu ex-aliado, o presidente sírio, Bashar al-Assad. O site WND noticiou uma série de reportagens que documentam a política de duas faces da Turquia com relação ao ISIS, pois dá apoio a ambos os lados na guerra contra o Estado islâmico. Erdogan também apoiou a tomada do Egito pela Irmandade Muçulmana, um movimento que, eventualmente, saiu pela culatra, já que a Irmandade foi posteriormente retirada do poder por militares do Egito.
Richardson, que passou semanas no Oriente Médio entrevistando líderes islâmicos, judeus e cristãos para o seu documentário, acredita que o governo da Turquia merece um rigoroso e minucioso exame já que os sinais apontam para uma mudança ainda mais dramática, não apenas em estilo, mas também em substância.
Richardson acredita que a Turquia passou por uma “revolução suave” a medida em que Erdogan tem gradualmente guiado o país para mais perto de valores islâmicos e para mais longe do Ocidente. Isso representou uma ruptura com o passado mais secular da Turquia, mas as mudanças de Erdogan ainda não atraíram, nem de longe, a atenção da mídia na mesma medida de atenção da mídia que foi vista no Egito, na Líbia e na Tunísia, nas revoluções da chamada “Primavera Árabe”. A Turquia foi apresentada ao Ocidente como um modelo para os outros regimes no Oriente Médio em busca de um “meio-termo” entre o islamismo e o secularismo ocidental.
Mas a convenção realizada em 27 de dezembro, com milhares de turcos gritando slogans islâmicos em apoio a Meshaal, líder de uma organização terrorista, é apenas a mais recente evidência de que um chamado de despertamento pode estar na pauta para os elaboradores ocidentais de políticas em Washington e na Europa, disse Richardson.
“À luz do fato de que toda essa gente começa a gritar ‘Allahu Akbar’ na Turquia, o que é bastante raro e você só iria ouvir isso de muçulmanos devotos, parece que realmente há algumas fortes tendências islamitas acontecendo”, disse ele. “Mas o resultado final é que todos devem estar preocupados. Cerca de 10 anos atrás, mesmo há cinco anos, os EUA ainda estavam lançando a Turquia como o modelo secular e moderado entre os maiores aliados dos Estados Unidos em todo o Oriente Médio”.
Voando abaixo do radar
Enquanto as mudanças que estão ocorrendo na Turquia podem não ter captado a atenção de grandes redes de TV, como as do Irã após a revolução dos “estudantes” de 1979 ou das manifestações do Cairo no Egito, elas não são menos profundas, disse Richardson.
“O mundo observa e eles veem os líderes do Irã, após a revolução islâmica de 1979, e todo mundo diz ‘Olha, isso é um regime radical’ que precisa ser marginalizado e colocado sob sanções, mas a revolução na Turquia e suas ramificações não são menos dramáticas e estamos apenas começando a perceber que era uma revolução suave e rastejante e que está agora no ponto em que o primeiro-ministro da nação está gritando ‘Allahu Akbar’ (para o Hamas)”, disse ele.
Mas parece que os EUA são lentos para reagir às mudanças fundamentais no Oriente Médio, ainda mais lentos, talvez, quando as mudanças estão ocorrendo no âmbito da cultura e da sociedade de um dos seus próprios aliados.
“A Turquia é membro da OTAN, então imagine se a Grã-Bretanha estivesse dizendo ‘vamos liderar uma invasão a Israel’. Se esse é o caso, é hora de o Ocidente levantar-se e chutar a Turquia para fora da OTAN”, disse Richardson. “Se a OTAN aceita a Turquia, o que a impede de aceitar o ISIS?”
O que está também complicando a relação é que a Turquia, com a ajuda do Ocidente, construiu o maior exército e, talvez, o mais bem equipado do Oriente Médio.
Quando o vice-presidente Joe Biden comentou, há vários meses, que a Turquia estava ajudando o ISIS, Erdogan ficou furioso, levando Biden a rapidamente retirar a sua declaração e oferecer um pedido de desculpas.
Richardson disse que parece não haver nenhuma conversa ou debate acontecendo nos EUA sobre se os EUA devem fazer uma mudança de política externa de distanciamento da Turquia.
“Não. Esse é o motivo por que somos fracos. Nós somos fracos no Oriente Médio”, disse ele. “Nós temos nossas costas contra a parede e precisamos da Turquia. O fato de que Biden pediu desculpas por ter comentado em um comunicado que a Turquia estava apoiando o ISIS, é que o governo dos EUA está claramente com medo da Turquia”.
Richardson liderou uma equipe de filmagem que cobria um comício de Erdogan, em Ancara, na primavera passada, e ele experimentou um pouco da mesma mistura assustadora de um nacionalismo bruto e de um fanatismo islâmico, como foi visto em Konya, em 27 de dezembro.
“Realmente me senti como em um comício nazista“, disse Richardson. “Eu tomei um segmento inteiro para entrevistar diferentes líderes que destacam a tomada islâmica da Turquia e que isso era uma das grandes notícias que mal está recebendo atenção do Ocidente, mas que o Ocidente precisa entender o que está acontecendo.
“O primeiro-ministro é o número dois da estrutura do poder e ele está gritando ‘Allahu Akbar’ com a ideia deles conduzirem uma invasão a Israel e tomarem a Jerusalém”, acrescentou Richardson. “Agora, se alguém está duvidando de uma tomada Islâmica e de que a Turquia está emergindo como uma nação islâmica radical e de que eles têm o maior exército na região, então eles estão com a sua cabeça na areia. Eu venho dizendo isso, mas todo o mundo continua a agir como se eles estivessem com a sua cabeça na areia”.
O Anticristo na tomada de decisões?
Richardson disse que ele recebe um monte de perguntas dos leitores e espectadores de seus três livros e filmes sobre se Erdogan pode ser o anticristo predito pelos profetas bíblicos.
Ele disse que, embora seja bastante possível que o anticristo bíblico poderia emergir a partir da área da moderna Turquia, Iraque e Síria, ele não acredita que Erdogan se encaixa no papel.
“Haverá uma série de guerras e haverá de surgir, a partir das cinzas daquelas guerras, um líder que a Bíblia chama de Anticristo”, disse ele. “Então, sobre esses caras eu não acredito que preenchem os critérios específicos que se encaixam com algumas das cobiças satânicas para o controle do Monte do Templo, o que representa o trono de Davi e a futura sede do trono de Jesus Cristo”.
Richardson disse que o fato de que a Turquia está emergindo como o campeão defensor do Hamas é profundo.
“Ele tem o maior exército na região e o Hamas é simplesmente o ramo palestino da Irmandade Muçulmana, de modo que a Turquia está se estabelecendo como a cabeça do mundo muçulmano sunita radical com o apoio moral e financeiro da Arábia Saudita. Mas, agora, a Turquia está emergindo como o campeão, defendendo e conduzindo de forma exclusiva o Hamas e a Irmandade Muçulmana para o outro lado da linha do gol e para cumprir o seu sonho de um califado regional no Oriente Médio”.
Richardson acredita que a Turquia está usando o ISIS como um instrumento para eliminar Assad da Síria e os curdos no norte do Iraque, abrindo caminho para o ressurgimento de um califado, liderado pelos turcos, na região. Os líderes religiosos na Turquia há muito tempo sonhavam com um império otomano revivido.
“Esse império está vindo não apenas do seu fanatismo islâmico, mas também do nacionalismo turco”, disse Richardson.
O nacionalismo é considerado um tabu entre os puristas islâmicos, como nos grupos terroristas al-Nusra e ISIS, que se inspiram na al-Qaeda.
“E é por isso que a Turquia está se escondendo atrás do ISIS”, disse Richardson.
Pegando emprestado uma filosofia de inspiração nazista
Davutoglu é considerado o arquiteto da política externa de Erdogan e a energia intelectual por trás do governo turco.
Davutoglu escreveu um livro que chamou de “Profundidade Estratégica”, em 2001, um ano antes de o Partido de Desenvolvimento e Justiça, ou AKP, chegar ao poder. Esse livro baseia-se em pensadores geopolíticos, como o alemão Karl Haushofer, que popularizou o termo “Lebensraum” ou “espaço vital”, as mesmas palavras usadas pelos nazistas alemães durante os anos 1920 e 1930, quando se preparava o povo alemão para a ideia de expandir as fronteiras do país.
“Haushofer foi um dos filósofos principais a quem Hitler recorria e Davutoglu recorre ao mesmo indivíduo como base para essa filosofia neo-otomana que ele está articulando”, disse Richardson. “Este primeiro-ministro é um filósofo profundamente ideológico, um nacionalista turco e um islamista”.
Assim como o presidente Obama, Davutoglu afiou seus dentes políticos como um professor universitário.
“Ambos são profundamente ideológicos”, disse ele. “Um deles é um islamista, o outro, Obama, é um marxista radical”.
Leo Hohmann
Traduzido por Dionei Vieira do artigo do WND: Wild cheers for proposed invasion of Israel
Fonte: www.juliosevero.com