No Brasil de hoje só me resta escolher entre a esquerda radical e a moderada. Só o que muda é o grau de esquerdismo de cada partido. Porém, mesmo neste cenário de profunda escassez ideológica, tenho convicção e alegria em defender a candidatura de Aécio Neves. Não tenho dogmas ideológicos, mas apenas um compromisso com a verdade e a consciência que me foi dada por Deus.
Eu poderia elencar aqui uma série de motivos econômicos, políticos, sociais e técnicos para defender minha opção, contudo, pretendo apresentar apenas razões de natureza moral e filosófica – que são de especial interesse para o público evangélico.
Planos de Governo não são tão importantes quanto a cosmovisão – o modo de enxergar o mundo e a si mesmo – de cada candidato. É o que diferencia Aécio de Dilma.
Dilma Rousseff vem de uma tradição de esquerdistas que enxergam o mundo como uma extensão dos desejos humanos e que, portanto, pode ser alterado de acordo com a vontade humana. Tudo o que precisamos é consultar nosso coração e fazer acontecer.
Nós vemos os resultados trágicos desta cosmovisão no Brasil de hoje. Temos uma presidenta que não se envergonha em reconhecer que há roubos em seu governo. Dilma entende que ela e seu partido são melhores do que outros corruptos porque têm uma missão a cumprir.
O partido no poder promove uma aceitação da corrupção na medida em que lembra a todo tempo das esmolas lançadas aos miseráveis. É como se dissessem: “Nós roubamos, mas damos um pouco para os pobres”. Os petistas se enxergam como salvadores da Pátria e, nesta visão, não precisam prestar contas a ninguém – nem às instituições e nem a Deus.
Dilma não esconde seu desprezo pela oposição. Lula jamais fingiu tolerar Joaquim Barbosa ou qualquer um que atrapalhe seu partido. Eles se enxergam como superiores e pronto.
Não há nada capaz de dissuadir fanáticos de que os fins não justificam os meios. Dilma jamais se lamentou pelo dinheiro público desviado nos cerca de 100 escândalos do seu governo, assim como jamais se arrependeu de ter integrado organizações que promoviam atos terroristas com objetivo final de implantar uma ditadura comunista no Brasil.
Sei que o leitor de esquerda vai objetar que “Dilma lutou pela democracia”. É mentira. Os estatutos das organizações Var-Palmares e Colina, das quais a atual presidente participou, deixavam claro que o objetivo final deles era a implantação da ditadura do proletariado.
Caso o leitor permaneça incrédulo, apresento aqui a confissão de Eduardo Jorge, candidato derrotado à Presidência, que também participou da luta armada:
Na época da ditadura, como muitos outros, lutei contra a ditadura militar, mas queria a ditadura do proletariado. A gente queria outra ditadura! É preciso dizer a verdade toda. Hoje só ouço meias-verdades. Como a ditadura militar nos oprimiu, as pessoas de hoje pensam que não existia algo igual no campo da esquerda, mas havia coisa até pior em vários aspectos.
Dilma Rousseff jamais se arrependeu – nem José Dirceu, Franklin Martins ou José Genoíno. E isso explica o porquê desse grupo jamais pedir desculpas pela corrupção do governo atual.
Como é possível a um evangélico justificar o voto em alguém que fez uso de armas e explosivos para fazer suas ideias vencerem e jamais se arrependeu disso? Sabemos que uma nova consciência e uma nova criatura são produtos de arrependimento sincero.
A minha convicção sincera é a de que Dilma nunca mudou. Nem o seu grupo.
Essa gente apenas adaptou sua cosmovisão aos limites da democracia, mas estão constantemente tentando ultrapassar estes limites. “Controle social da mídia”, “Conselhos Populares” e “Reforma Política” são as bandeiras trazem essa tendência antidemocrática que despreza as instituições e quer destruí-las.
Tanto é verdade que Dilma permanece, essencialmente, a mesma que seu governo – como o do seu antecessor – oferece apoio explícito a ditaduras na América do Sul e teocracias no Oriente Médio que matam dissidentes e perseguem minorias religiosas e sexuais.
A Missão Portas Abertas lista a Venezuela – assim como Cuba – como um dos países onde existe hostilidade para com cristãos e dificuldades para igrejas evangélicas. Cuba e Venezuela são justamente os países latinos que o Brasil mais ajudou nos últimos anos.
Isso não é “invenção da mídia”, como sugeriu Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Dilma para questões internacionais. Evangélicos que lá estiveram fizeram um relato completo das dificuldades terríveis impostas ao povo venezuelano pelo ditador Maduro.
Como um evangélico pode justificar o voto em uma presidenta que usa nosso dinheiro para financiar ditaduras que perseguem opositores e cristãos (católicos e evangélicos)?
Dilma faz parte desta tradição de militantes que acham que devem sempre se alinhar contra qualquer inimigo dos Estados Unidos. Por isso, diante da ameaça do Estado Islâmico, Dilma foi a ONU ofender os americanos ao pedir que eles iniciem “diálogo” com os terroristas.
O Brasil mantém relações estáveis com o Irã, um regime quecondena gays à morte nos tribunais revolucionários. Um País onde as mulheres – acusadas de não cobrir seus rostos, por exemplo – continuam morrendo apedrejadas.
Votar em Dilma é tão imoral quanto irracional. É imoral manter no poder alguém que apoia ditaduras que assassinam opositores e acena para terroristas que perseguem e matam tanto os cristãos quanto os homossexuais.
É irracional manter no poder alguém que propõe mudanças que podem aproximar o Brasil dos regimes de morte e perseguição na América do Sul que este governo apoia.
O Estado deve travar uma disputa ideológica pela nova classe média, que está sob hegemonia de setores conservadores. É preciso fazer uma disputa ideológica com os líderes evangélicos pelos setores emergentes.
Tudo indica que o atual governo só respeita os evangélicos porque ainda precisa dos votos deles, mas tudo pode mudar, como mudou na Venezuela, em Cuba e no Irã.
É imoral dar suporte a um grupo político que acha a corrupção tão natural quanto as árvores, e que vende a ideia de que há boas desculpas políticas para o roubo do dinheiro público.
Como o grupo no poder consegue manter o discurso de que luta pelas minorias e – ao mesmo tempo – apoiar regimes que caçam minorias e violam direitos humanos?
Como os petistas conseguem conciliar o ódio a FHC e Alckmin – chamando-os de fascistas e outras coisas – e receber como aliados Collor, Maluf e Sarney?
Esta visão, ou ideologia, oferece um estado de graça especial para seus detentores. Aqueles que acreditam nesta visão pensam estar não apenas corretos, mas também em um plano moralmente superior aos demais. Sowell chama isso de “a visão dos ungidos”.
Os que se opõem aos ungidos são aqueles que têm a “visão trágica”, segundo a qual a natureza humana é falha, somos portadores de potencial de maldade independente dos nossos ideais políticos ou a nobreza de nossas ideiais.
Por isso precisamos de instituições sólidas que estejam acima de indivíduos, partidos ou grupos que se julgam moralmente superiores. Tenho certeza de que a visão trágica da qual Sowell fala está próxima da visão bíblica sobre a natureza humana.
É por isso que tenho alegria em declarar voto e pedir apoio a Aécio Neves, que pretende restaurar o respeito para com as nossas instituições, fortalecer os arranjos legais que viabilizam nossas liberdades e despolitizar o Itamaraty.
É hora do Brasil avisar aos seus vizinhos e aliados que a perseguição a cristãos e outras minorias não será mais admitida. Que teremos um governo pronto a denunciar abusos e se colocar ao lado das mulheres apedrejadas, dos gays perseguidos e dos cristãos oprimidos.
As gerações mais jovens precisam aprender que não há desculpas para a corrupção. Que os fins não justificam os meios. Que nenhum partido ou grupo deve ser santificado. Que mesmo quando se tem nobres intenções, é preciso estar disposto a prestar contas.
Os evangélicos que colocaram os ungidos no poder – que se acham moralmente superiores – agora têm o dever moral de retirá-los do centro de decisões para que eles aprendam que todos, mesmo aqueles dentre nós que acreditam serem o bem absoluto personificado, sempre devemos prestar contas (aos homens e a Deus).
A vitória de Aécio não representa apenas uma mudança de governo: representa uma profunda e necessária mudança de cosmovisão.
Extraído do gospelprime em 22/10/2014