I – POLÍTICA GOVERNAMENTAL E CORRUPÇÃO
Política governamental. Na esfera pública, a política refere-se à forma como os governantes administram e tomam as melhores decisões para a nação, estado ou município. As Escrituras ensinam que Deus delega certa autoridade ao homem para governar (Tt 3.1). Utilizada de forma correta, portanto, a política deve servir para aprovar leis justas, refrear o mal e
praticar o bem, a fim de proporcionar aos cidadãos uma sociedade onde haja liberdade, acesso à saúde, segurança e educação de qualidade.
2 O mal da corrupção. Infelizmente, nem todos aqueles que ocupam cargos públicos estão preocupados com a sociedade e o interesse coletivo. Conforme a história e os noticiários podem atestar, com frequência pessoas se utilizam da função política para proveito próprio e aumento ao patrimônio pessoal, através do desvio de dinheiro dos cofres públicos e outros esquemas, falcatruas e jeitinhos” para obtenção de vantagens ilícitas. A corrupção é um mal moral que decorre da natureza decaída e pecaminosa do homem, provocando enormes prejuízos sociais (2 Pe 2.19), Ela contribui para a desigualdade e o aumento da miséria, reduz o crescimento econômico e prejudica, por consequência, a oferta dos serviços públicos básicos aos cidadãos. De acordo com Provérbios 29.2, o povo se alegra com a administração sábia e justa, mas geme quando os impiedosos dominam. Igualmente, o governante justo administra corretamente a sua terra, mas o corrupto a destrói (Pv 29.4).
II – A SEPARAÇÃO ENTRE ESTADO E IGREJA
A reflexão a respeito da participação adequada do crente na esfera política inicia com o correto entendimento sobre a relação entre Estado e Igreja.
Entre César e Deus. Há uma passagem bíblica em particular que serve como diretriz hermenêutica do pensamento cristão acerca do relacionamento entre cristão e estado: “[…] Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (Lc 20.25). Ao responder uma pergunta carregada de falsidade e perversidade dos religiosos de sua época sobre o tributo romano. Jesus ensina sobre a necessidade de separação entre Estado e Igreja, haja vista possuírem papéis distintos. Isso não significa dizer, entretanto, que a Igreja não possa colaborar com o Estado em assuntos de interesse social e influenciar positivamente a vida política da nação, a fim de conformar com a vontade de Deus.
Francis Beckwith observa que, embora a imagem da moeda seja de César, há outra pergunta implícita na narrativa bíblica que também deve ser respondida: Quem tem em si a imagem de Deus? Beckwith conclui: “Se a moeda representa a autoridade de César, porque tem nela sua imagem, então nós, seres humanos, estamos sob a autoridade de Deus, porque temos em nós a sua imagem” Portanto, “o governo e a Igreja, apesar de terem jurisdições distintas, partilham da obrigação de promover o bem daqueles que são feitos à imagem de Deus” (Razões para Crer, CPAD).
Soberania divina sobre o Estado. Na perspectiva cristã, a autoridade dos governantes provém de Deus (Rm 13.1- 4). Ele é a fonte do poder de onde os governantes retiram a sua legitimidade para governar, por isso a recomendação bíblica para nos sujeitarmos à autoridade humana por amor ao Senhor (1 Pe 2.13). A partir dessa verdade, compreendemos que o Estado ou qualquer outra instituição pública está abaixo do Criador. Quando a vontade do poder público e do povo entram em conflito com a vontade divina, não há outra opção senão obedecer a Deus (At 5.29). Assim, tão errado quanto adorar a César nos tempos de Jesus, é a lealdade absoluta ao Estado nos dias atuais.
Estado laico, não ateu. Em nosso país, o modelo atualmente adotado de relação entre Estado e organizações religiosas é o da laicidade. O poder público não pode adotar ou patrocinar uma determinada igreja ou religião. Estado laico (ou leigo), todavia, não significa estado ateu ou laicista, que busca o desaparecimento das religiões ou a defesa da sua influência somente ao ambiente privado. O modelo historicamente adotado no Brasil valoriza o fenômeno religioso como tal, permitindo, inclusive, a colaboração de interesse público. Assim, a igreja cristã deve respeitar o princípio da laicidade, mantendo-se separada institucionalmente do governo, ao mesmo tempo em que pode colaborar com temas de interesse da sociedade, com programas de educação, filantropia e recuperação de usuários de drogas, por exemplo.
III – COMO O CRISTÃO DEVE LIDAR COM A POLÍTICA E A CORRUPÇÃO
Adotando uma postura adequada sobre a política. Não há nada de errado com a participação política dos cristãos. Enquanto cidadãos, os crentes também dos homens. O apóstolo Paulo valeu-se da cidadania romana para exercer seus direitos e garantias legais (At 16.37-39) Uma vez que os crentes são portadores de cidadania política, nos é possível participar da escolha dos governantes, assim como contribuir com as discussões que o rumo político da nação. Mas, se por um lado a aversão à política é uma conduta equivocada, por outro, o engajamento inadequado prejudica a vida espiritual da Igreja, especialmente quando esta atua em busca de benefícios próprios e por meio de envolvimento com a politicagem mundana.
Influenciando o mundo político. O caminho para iluminar o mundo político com a luz de Cristo é o engajamento político socialmente adequado e teologicamente consistente da comunidade cristã. Isso, sem se perder nos jogos de poder e nas disputas partidárias e ideológicas. A Igreja pode exercer uma influência expressiva sobre a política e o governo, por meio da conscientização dos seus membros sobre a importância do voto. Deve atuar como voz profética de transformação, combate ao mal e defesa dos princípios e valores morais expressos nas Escrituras.
Daniel é exemplo de um jovem fiel a Deus que influenciou positivamente o governo de seu tempo. Ele era governador de toda a província da Babilônia e chefe de todos os sábios (Dn 2.48). Além de aplicar a sabedoria na administração do governo, Daniel confrontou corajosamente os erros do rei Nabucodonosor (Dn 4.27). Jovem, aja como Daniel, com coragem para denunciar os erros observados na política, e com sabedoria para sobressair-se na esfera pública!
A corrupção e o sétimo mandamento. Por contrariar o sétimo mandamento (Êx 20.15), a corrupção é severamente condenada aos olhos de Deus (Lv 19.35,36). Ao longo da narrativa bíblica, encontramos várias advertências contra diversos tipos de corrupção, no funcionalismo público (Lc 3.12-14), no Judiciário (Dt 16.19,20; Éx 23.8) e no Legislativo: “Ai dos que decretam leis injustas e dos escrivães que escrevem perversidade, para prejudicarem os pobres em juízo, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo, e para despojarem as viúvas, e para roubarem os órfãos!” (Is 10.1,2).
Combatendo a corrupção. A fé verdadeira tem um sério compromisso com o combate à corrupção em todos os níveis. Aquele que teve um encontro com o Senhor é aconselhado a não roubar mais e é também compungido a devolver o que defraudou (Lc 19.8). Não coaduna, portanto, com a prática de atos desonestos, fraudadores e corruptos, e nem com aqueles que assim agem (Rm 1.32). Se nova vida não combina com a vigarice, é inconcebível que a bênção de Deus esteja em negócios escusos e deletérios.
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LIÇÕES BÍBLICAS JOVENS – CPAD – 2017