Pode o cristão praticar artes marciais?

A Arte Marcial é um sistema de técnicas e exercícios físicos e mentais desenvolvidos como um meio para autodefesa e ataque, com o uso de armas ou não. Há pequeno número de registros históricos sobre as artes marciais, alguns misturados a mitos, lendas e tradições verbais.

No livro The way of the warrior, Howard Reid e Michael Crouncher no­tam que evidências arqueológicas dão conta de que as artes marciais iniciaram no fértil crescente, região da antiga Mesopotâmia, e depois foram difundi­das para índia e China.

Na Ásia, segundo a tradição, o monge budista Bodhidharma veio à China no 5° século para desenvolver uma série de exercícios para a mente e o cor­po com o propósito de melhorar a saúde dos monges e ajudá-los na medita­ção. Baseado no movimento de diferen­tes animais reais e mitológicos, e incor­porando-lhes conceitos do Taoísmo, ele criou os movimentos das artes marciais. Bodhidharma ensinava um estilo de combate conhecido como Shao-lin gung fu. Gradualmente, a prática migrou dos templos à população, sendo adaptada e refinada.

Modalidades mais conhecidas

Aikido — Significa “a união com a força universal”. Essa força impessoal é conhecida como “Chi”. A meta do Aikido, de origem japonesa, é o controle próprio e do ambiente. Embora seja não violento, está enraizado no misticismo oriental.

Judô – Envolve muitas técnicas de agarramentos, arremessos e imobilizações. Seu fundador, Jigoro Kano, afir­mava: “Aprender Judô, dominar seus princípios e movimentos mecânicos, exercitá-lo, não é muito difícil. Aprofundar-se em sua filosofia, sentir seu espírito e encamá-lo na vida, fazer dele diretriz (…) exige uma dedicação conti­nuada e corajosa”. Isso é religião.

Jujitsu – O Jujitsu, de origem japo­nesa, se concentra em técnicas de imobilização das juntas do oponente, estran­gulamento e manobras no solo. Hoje tem baixa ênfase espiritual, mas sua origem é religiosa. Seu fundador, Takenuchi Hisamori, contava que após treinar sem parar, adormeceu e, em sonho, um mon­ge misterioso e desconhecido lhe apa­receu, mostrando seus erros e ensinan­do-lhe as cinco formas de imobilizar o adversário.

Karatê – Envolve a meditação, que inclui o esvaziamento da mente de qualquer outra distração. É nesse ponto que o Karatê se torna espiritu­almente perigoso.

Kung fu – Criado na China, é o mais diversificado, com muitos estilos. O mais tradicional permanece fiel às raízes do budismo, enquanto as menos tradicionais focam apenas aspectos físi­cos. Geralmente, o kung fu é mais mís­tico que o karatê.

Ninjitsu – Os ninjas assimilam a si mesmos uma natureza clandestina e fur­tiva. A visão de mundo por trás do Ninjitsu, que é chinês, é o panteísmo (tudo é Deus), que se contradiz com a visão cristã de Deus. A Bíblia diz que Deus “não está apenas no uni­verso, Ele mesmo é o Cria­dor do universo.” (Gn 1.1-2).

Tae kwon Do – Coreana, ela é mais centrada no físico.

Tai Chi Chuam– Envol­ve a prática do Taoísmo. De for­ma a completar o bem-estar físico, o aluno de Tai Chi deve procurar afinar-se com o universo por meio da con­centração no meio do cor­po, dito como sendo o centro psíquico.

Muay Thai Kickboxing – De ori­gem tailandesa, é o esporte principal daquela nação. Os monges budistas fo­ram os primeiros treinadores e sua ori­gem parece ser a índia. Após a Segunda Guerra, tomou-se muito violento e leva o praticante a intenso regime de treina­mento físico e espiritual.

Kali – De origem filipina, usa bar­ras e canivetes. Sempre foi ensinada em três níveis: físico, mental e espiritual. No nível físico, o treinamento se dá com e sem armas. No mental, o adepto apren­de a submeter o físico e o psicológico às “forças cósmicas”. No nível espiritual, o praticante é ensinado a tornar-se um Bathala, chefe da divindade dos filipinos, a quem adoram como se fosse Deus.

Categorias

Há duas categorias básicas nas ar­tes marciais, embora não rígidas, pois em alguns casos se misturam. O primei­ro tipo é chamado de interna ou flexí­vel, focado no desenvolvimento espiri­tual, no balanço, na forma e na consci­ência mental. Neste, enfatiza-se dois prin­cípios: a mente dita a ação e a própria força do oponente é usada para defendê-lo. Os estudantes aprendem princípios filosóficos do budismo e taoísmo, como as forças “chi” e “yin e yang”. Por meio do controle da mente, aprendem a pro­curar, coletar, cultivar e estocar essa for­ça “chi” para derrubar o oponente à dis­tância. Os exemplos são a chinesa Tai chi Chuam e a japonesa Aikido.

A segunda categoria, chamada de arte externa ou rígida, ensina que as re­ações físicas procedem das reações men­tais. Essa também promove a ideia de que a força do oponente pode ser co­nhecida e igualada. Esse grupo também usa controle da respiração como o gru­po anterior, sendo sua ênfase no desen­volvimento da resistência e rapidez atra­vés das formas e movimentos do corpo. Aqui estão o chinês Kung Fu e o Shao Lin boxing, além de Jujitsu, Judô, Karatê, Ninjitsu e Kendo, e as coreanas Tae Kwon Do e Tang Soo Do.

Em regra geral, os cristãos devem evitar a primeira categoria por causa de sua concentração nas filosofias e religi­ões orientais, além do que muitas esco­las se utilizam de técnicas ocultas de meditação e orientação de consciência. O segundo grupo se concentra no trei­namento físico, o que, em princípio, não conflita com as convicções bíblicas, mas há a violência.

Conceitos orientais

Do chinês, “Tao”, da palavra Taoísmo, quer dizer “caminho”. Taoísmo é um ensinamento filosófico-religioso desenvolvido sobretudo por Lao-tse (6″ século aC) e Tchuang-tseu (4° século aC). Os dois filósofos chineses tinham como noção fundamental o Tao – “O Caminho” -, que nomeia o “grande princípio de or­dem universal, sintetizador e harmoniza- dor” do “Yin e Yang”, acessível por meio da meditação e da prática de exercícios físicos e respiratórios, e do Zen Budismo.

O conceito do “Chi” ou “Ki” são centrais. Ensina-se que seja energia im­pessoal da vida que paira sobre o uni­verso e pulsa sobre o corpo do homem. O revestimento de “Chi”, para eles, é como uma couraça no indivíduo. Adep­tos acreditam que podem praticar em alto nível de habilidade ou podem libe­rar poder “Chi”, resultando em efeitos devastadores. “Chi” é controlado através de técnicas de respiração, ginástica e meditação. Isso é ensinado para as cri­anças em desenhos animados como Dragon Ball Z. No Yin e Yang, a nature­za consiste de elementos conflitantes em perfeito balanço uns com os outros, e o gênero humano só poderia viver em harmonia com o Tao.

O cristão não deve envolver-se com a meditação oriental, porque o objetivo dessa prática é o esvaziamento da men­te, da própria consciência ou a união com “o divino impessoal”.

O misticismo, o taoísmo e budismo não são compatíveis com o cristianismo. A meditação mística não é a mesma coi­sa que a meditação bíblica. A primeira procura esvaziar a mente para meditar em nada, com o propósito de unir-se à “energia” por meio da intuição humana, numa esfera além da razão. Essa experi­ência se daria pelo esforço humano e é a experiência subjetiva que leva ao relaxa­mento. Já no cristianismo, o objeto da meditação é Deus e o propósito, cultuá-lo por meio de sua Palavra, a Bíblia Sa­grada. A experiência se dá pela graça de Deus e é sempre objetiva. Davi afirmou que meditava na Lei de Deus, a Palavra do Senhor, com o propósito de ter co­munhão espiritual com Deus (SI 39.4), não uma união mística com energias im­pessoais, como o Brahma ou ‘o Tao.

O cristão não deve participar da prática de meditação porque a meta desta é prover ao praticante a liberda­de através de uma mudança de rumo patrocinada por esforços humanos, ad­vogando portanto uma forma de salva­ção de si mesmo, o que contraria a Bí­blia, que ensina que o único Caminho é Jesus e os esforços humanos não po­dem salvar (Jo 14.6 e Ef 2.8-9). Tal prá­tica também nega a natureza humana caída (Rm 3-10-12).

Além disso, em nenhum lugar na Bíblia é dito para os cristãos recorrerem à violência no dia-a-dia em defesa de si mesmos. Jesus ensinou diferente (Mt 5,38-44). As artes marciais são centradas no homem. Quando um cristão pratica luta para defesa pessoal, está dizendo: “Não confio que Deus possa proteger- me”. Cristãos são dependentes da pro­teção divina, não lutadores prontos para revidar com golpes. “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o cor­po”, Mt 10.28. O melhor mesmo é con­fiar na proteção de Deus e entregar-lhe nossas ansiedades (Mt 6.25-34 e 1 Pd 5.7).

Embora um cristão bem intencio­nado argumente que nunca usaria os conhecimentos com propósitos violen­tos, ele injuria o Senhor envolvendo-se em prática religiosa que contradiz as Escrituras. No livro This is karatê, Matsutatsu Oyama diz: “Em muitos paí­ses em volta do mundo, a questão ‘O que é Zen?’ vem à tona. Respondemos que Zen é Karatê e que karatê é Zen”. Zen é o Zen Budismo, o que ele mesmo descreve como “concentrado na sinceri­dade e na unificação do seu espírito. Esqueça de você mesmo, esqueça dos seus inimigos, esqueça que está vencen­do ou perdendo, e quando tiver feito isso, você estará em estado de unifica­ção espiritual que chamamos Um ou inexistência; o nada, no Zen, Quando você tiver espiritualmente alcançado o estado de impassividade, terá entrado no canto do mundo Zen de Um”.

Esse estado mental espiritualmen­te unificado é idêntico ao que se realiza na ioga ou em técnicas de relaxamento- meditação, hipnose e transe mediúnico. A Bíblia proíbe o esvaziamento da men­te (Dt 18.11), chamando-o de obra da carne (G1 5.20).

Essas meditações chocam-se com a visão cristã. O esvaziamento da men­te, dizem, traz o sentimento de “união com o universo”, e a pessoa às vezes começa a acreditar que é divindade, o próprio Deus, “porque Deus é tudo”. Induzir a essa conclusão panteísta é meta das religiões orientais, que ensinam que o homem só pode resolver os proble­mas se acreditar que é divino.

Não seria então de surpreender que alguém nesse estado mental abra em si mesma a possibilidade para as influências demoníacas. A mentira em que acreditam é idêntica a que Satanás disse a Eva no Jardim do Éden: “Sereis como Deus”. Isso não é para o cristão genuíno. O único jugo que devemos tomar é o de Cristo (Mt 10.29-30).

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Jorge de Andrade, FONTE: REVISTA “RESPOSTA FIEL”  ANO 3 – N° 10

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