Recentemente, John Piper respondeu a questão: ‘Onde está o Arminiano John Piper?’ (Episódio 238 do ‘Ask Pastor John’). Esta foi uma resposta a um artigo onde Roger Olson lamentou a falta de consciência teológica entre os evangélicos como um todo na América e especialmente entre os evangélicos Arminianos (‘Necessário: Teologia Arminiana Robusta para as pessoas leigas (especialmente os jovens)’).
Piper concorda com Olson inicialmente sobre a necessidade de grande profundidade teológica e lembra aos ouvintes que os Arminianos historicamente têm e tiveram em abundância, muitos líderes e pregadores populares e apaixonados – todos bons. Então, ele dá sua análise teológica do porque o Arminianismo está em dificuldades.
A razão primária que Piper apresenta é que, em seu pensamento, as marcas características da teologia Arminiana não levam as pessoas à adoração ou [não] “surpreende-as com assombro e admiração” (nas palavras dele). Piper declara:
“Calvinistas e Arminianos creem que Jesus é o único fundamento objetivo da justiça a nós imputada e assim, nossa justificação. E ambos concordamos que o único instrumento que Deus usa para conectar a obra de Cristo ao pecador indigno é a fé ― que é um ato da alma humana ― isto é ― um ato humano ― um ato da alma humana é a fé. Mas quando a questão é levantada: “Qual é a razão última, final, decisiva pela qual uma pessoa tem essa fé ou crê e outra não?” O Calvinista diz: “A Graça Soberana de Deus”. E o Arminiano diz: “O livre arbítrio do homem”. (significando o decisivo poder final de autodeterminação)”.
Piper diz da teologia Arminiana:
“Em seu núcleo está o poder de autodeterminação humana”.
Piper então afirma que os motivos que impulsionam os Arminianos a adorarem a Deus nisso tudo não é o que os distingue dos Calvinistas, mas o que eles tem em comum com os Calvinistas.
Ele então declara que o Arminianismo está baseado sobre um núcleo (distintivo): “…a pressuposição filosófica que o homem não pode ser responsável se Deus possuir controle final sobre sua vontade”.
Ele então explica que essa é a razão que o faz não esperar por um “…renascimento do Arminianismo centrado em Deus, rico biblicamente, exegeticamente rigoroso e com uma adoração robusta”.
Então uma vez mais ele insiste: “Seu núcleo distintivo está centrado no homem”.
Agora, eu poderia muito bem responder duvidando se muitos dos leigos associados com o surgimento do Calvinismo realmente entendem o Calvinismo ou se estão se aliando mais às pessoas do que ao sistemas doutrinais. Eu também poderia duvidar se alguns dos pastores que desfrutam da fama e do status de mais importantes Calvinistas realmente entendem a Teologia Calvinista e Arminiana corretamente. Eu também poderia questionar se os Calvinistas recebem sua teologia da Escritura intuitivamente ou se eles, também, trazem pressuposições filosóficas ao texto. E eu poderia também questionar se os Calvinistas estão realmente focando sobre aspectos distintivos da teologia Calvinista quando eles estão adorando a Deus (quantas músicas expressam a ideia que a razão que eu estou atualmente louvando a Deus é ultimamente porque Deus determinou casualmente todas as coisas desde a eternidade?). (Eu posso até mesmo ousar perguntar onde o Calvinista Charles Wesley está?)
Penso que tudo isso é digno de exploração, mas aqui está meu principal problema com Piper: Ele insiste em não interagir com o que Roger Olson sustenta como o Arminianismo evangélico padrão. Olson tem, de fato, tratado dessa alegação de que a teologia Arminiana é centrada no homem em inúmeras ocasiões. Essa foi uma das denuncias primárias de Olson ao longo de sua profunda carreira teológica. Não é que Piper perdeu alguma nota de rodapé em algum escrito teológico obscuro ― antes, ele está falhando em interagir com um ponto basilar feito por Olson.
Aqui está Olson em seu livro ‘Contra o Calvinismo’:
“Ainda que eu tenha lhe provado que minha teologia, Arminianismo clássico, não diz que as pessoas salvam a si mesmas através de suas boas obras ou que contribuam com qualquer coisa meritória para sua salvação, meu interlocutor Calvinista não estava convencido. “Sua teologia”, ele acusou, “ainda é semipelagiana, se não plenamente pelagiana”. Ligeiramente ofendido pelo fato de considerar o pelagianismo e o semipelagianismo como heresias, eu lhe pedi para que explicasse mais plenamente. Pensei que ele tivesse a consciência que os arminianos não acreditam em obras de retidão e que realmente acreditam que a salvação é inteiramente da graça e que não possui nenhuma relação com obras meritórias. Mas sua resposta foi a seguinte: “Pelo fato de vocês colocarem o fator decisivo na salvação em sua própria decisão de livre-arbítrio”. Na época, anos atrás, eu jamais havia ouvido essa acusação, mas eu tinha certeza de que nenhum arminiano diz isso…desde então, tenho me deparado muitas vezes com essa acusação contra o arminianismo (e todas as teologias não calvinistas). De alguma maneira esta noção de que os não calvinistas tornam sua decisão livre (de livre-arbítrio) o “fator decisivo na salvação” tem se tornado um mantra para muitos calvinistas” (p.155) [na versão em português p. 243 e 244].
Olson continua a dizer por meio do contraste:
“A única razão pela qual os cristãos evangélicos não calvinistas se opõem ao monergismo é porque o monergismo faz de Deus a causa última, ainda que de forma indireta, da descrença e condenação dos réprobos. O monergismo fere seriamente a reputação de Deus.” (p.158) [p. 247 na versão em português].
Em relação a nossa salvação, Olson usa frequentemente a analogia bíblica de doar-se um presente ou ser salvo da morte. Ele destaca o quão ridículo seria afirmar que o “fator decisivo” pelo qual alguém recebeu um generoso presente imerecido foi o fato de aceitar o presente; e quão absurdo seria um nadador, ao afogar-se e ser salvo por um salva-vidas, insistir que foi a sua falta de resistência ao puxar do salva-vidas o “fator decisivo” para sua salvação.
Agora, claramente, o nadador que está se afogando pode resistir. Ele pode lutar e tornar impossível ao salva vidas resgatá-lo. Evidentemente, a resposta dele é um fator; e certamente é também um fator crucial quanto a sua salvação final. Mas então isso simplesmente representaria o montante de responsabilidade que a Bíblia coloca sobre os seres humanos pelas respostas que eles dão a Deus. Piper precisaria mostrar que o homem pode ser responsável por suas ações se Deus determinou casualmente suas ações (em última instância, por meio da natureza que Ele deu ao homem), e Piper não mostra. Nem é justo sugerir que uma decisão humana, garantida pela graça soberana de Deus, faz dessa escolha uma soteriologia centrada no homem. O Arminianismo Clássico e a teologia Wesleyana fazem do sacrifício de Jesus Cristo o aspecto central da história da salvação e nada mais.
Então, é uma representação realmente correta do Arminianismo dizer: “Seu núcleo distintivo está centrado no homem…”? Ora, o problema é que a linguagem é muito vaga. Isso poderia significar que o homem está no centro do plano da história da salvação. Mas se isso é o que “centrada no homem” significa, então, os Calvinistas desejariam afirmar isso também. Todos os evangélicos vêem o plano de salvação como sendo centrado em salvar a humanidade. Então, nesse sentido, todos nós afirmaríamos que é “centrada no homem”. Se o Calvinista é um compatibilista, então, ele também concordaria que a escolha do homem também é central para a salvação (como os Calvinistas compatibilistas não acham que Deus salva pessoas contra suas vontades, mas conforme suas vontades). Mas esse é o único sentido em que um Arminiano concordaria com a frase. É somente centrada no homem no sentido que a escolha dos humanos determina se ele é salvo. Mas então, isso não é diferente do que o Calvinista compatibilista também acredita; de modo que dificilmente seria uma grande crítica ― especialmente, visto que Piper aparenta ser um Calvinista compatibilista.
Ele está esclarecendo que todas as coisas no universo, da menor partícula as maiores coisas no universo estão todas sendo governadas por Deus soberanamente. Então ele declara que:
“…isso é um problema, mas o centro da solução ao problema é a escolha que você tem que fazer sobre a cruz.”
Portanto, parece muito hipócrita o fato de Piper criticar os Arminianos por terem a escolha do homem como um aspecto central da salvação quando ele faz a mesma coisa, mas em um sentido compatibilista, ao invés do sentido incompatibilista.
A outra interpretação, da qual Calvinistas e Arminianos discordariam, e que [esta sim] é “centrada no homem”, descreve que o plano da salvação inteiro foi realizado pela vontade do homem e que ele faz alguma coisa significante em si mesmo para que a salvação ocorra. Esse tipo de soteriologia “centrada no homem” é claramente rejeitada por Arminianos. Assim, fica-se tentando imaginar que objetivo há em dizer que o Arminianismo é “centrado no homem”, a menos que isso seja usado somente como um dispositivo retórico.
Poderia ser que uma das possíveis razões pelas quais muitas pessoas (comprometidas com a justificação mediante a fé pela graça) se tornam Calvinistas, seja, na verdade, porque Calvinistas famosos, como John Piper, estão sugerindo de forma desleal que é somente no Calvinismo que eles podem possuir uma teologia centrada em Deus consistentemente?
Tradução Walson Sales do site deusamouomundo.com em 30/08/2014
Os homens se digladiam no campo teológico buscando explicações para questões que estão mais que claras na Bíblia. A interação entre Deus e o homem é sempre mostrada. Deus não criou bonecos ou robôs. O centro de tudo é Cristo e seu sacrifício e só.
Como eu disse antes em outros comentários, o principal problema do calvinismo é a noção de que como Deus é responsável pela minha salvação não importa o que eu fizer que já estou garantido. Com essa muitos estão vivendo uma vida dissoluta e achando que está tudo bem. Cuidado.