Perigoso instrumento destruidor de reputações, a fofoca pode nascer no seio familiar, atingir amigos, inimigos e até estranhos, porque ela traz no seu bojo muita inveja. A palavra fofoca não está na Bíblia, mas existem nela outras palavras que têm o mesmo sentido. Fofoca é sinônimo de mexerico, bisbilhotice e outras parecidas (Pv 12.18; Sl 140.3; Tg 3.8).
Fofoqueiro não aparece na Bíblia, mas seu sinônimo mexeriqueiro está em Levítico 19.16 e Provérbios 11.13. Mexericar é o ato de usar de maledicência, repetindo histórias sobre as pessoas. Diz o dicionário: “mexericar: narrar em segredo e astuciosamente, com o fim de maldizer, intrigar ou enredar”. “Mexerico: ato de mexericar, enredo, intriga, bisbilhotice, chocarrice”.
Mexerico seria então alguém contar a alguém o que um terceiro lhe disse, com o intuito ou pelo menos uma previsão de provocar contenda entre eles. Encontramos na Bíblia: “Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo; não te porás contra o sangue do teu próximo. Eu sou o Senhor” (Lv 19.16). A Bíblia compara as palavras do mexeriqueiro aos lábios do tolo: “Os lábios do tolo entram na contenda, e a sua boca brada por açoites. A boca do tolo é sua própria destruição, e seus lábios um laço para sua alma” (Pv 18.6-7). E a Bíblia diz mais: “Sem lenha, o fogo se apagará; e não havendo maldizente, cessará a contenda” (Pv 26.20).
A pessoa que ouve mexericos e maledicências contra outrem peca por essa atitude. Todos devemos evitar comentários desairosos sobre terceiros, e a revelação de pecados e defeitos ocultos do próximo. Sem dúvida que se peca ouvindo mexericos e difamações, e também encorajando e favorecendo oportunidades para a pessoa que tem essa prática continue assim procedendo. Infelizmente, em todas as épocas sempre houve crentes que se tornam culpados do pecado do mexerico (Sl 55.21; Pv 26.24-26).
O hábito de fofocar, que parecia ser de exclusividade das mulheres, agora já pertence também aos homens, que dele se utilizam, na maioria das vezes, por interesses pessoais, despeito e inveja. Sempre se soube que as mulheres fofocavam (ITm 5.13) mais que os homens, por uma razão muito simples: grande parte das mulheres, por permanecerem muito tempo sem fazer nada, têm a cabeça fértil para pensar em maldades, muitas delas destruidoras.
Jesus fez sérias advertências contra julgar as pessoas pela aparência, dizendo “não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1). Satanás é chamada nas Escrituras “o acusador de nossos irmãos… o qual diante do nosso Deus os acusava de dia e de noite” (Ap 12.10). Quando fofocamos, julgamos, acusamos ou condenamos os outros estamos fazendo a obra de Satanás (Mt 7.3-5; Rm 14.4) e Paulo nos adverte: “Assim, que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não por tropeço ou escândalo ao irmão” (Rm 14.13) e Pedro nos aconselha a seguir o exemplo de Cristo (IPe 2.23). Geralmente as pessoas que julgam os outros não deixam de também ser culpadas (Lc 6.37; Rm 2.1).
Se existisse uma pessoa que não tropeça na língua, seria uma pessoa perfeita (Sl 15.1-3; Tg 1.26 e Tg 3.2). Devemos pedir o que está no Salmo 141.3: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios”. Davi fez um voto com relação à sua língua: “Eu disse: guardarei os meus caminhos para não delinquir com a minha língua; enfrearei a minha boca enquanto o ímpio estiver diante de mim” (Sl 39.1). Paulo admoesta-nos: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem” (Ef 4.29).
Existem três critérios, conhecidos como as três peneiras de Sócrates, para sabermos se uma determinada história ou fato deve ser divulgado: A primeira: verdade. Devemos ter absoluta certeza que o relato é verdadeiro. A segunda: utilidade. Tem alguma utilidade nobre, traz algum benefício, ou é necessário dizer tal coisa? A terceira: bondade (ou gentileza). É uma atitude bondosa ou gentil transmitir tal informação?
Somente depois de peneirar essas três vezes, aquilo que vamos dizer, poderemos abrir nossa boca sem temor (Sl 34.13; Cl 3.9; IPe 3.10).
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Comentário do Pr. Natanael Rinaldi sobre o artigo “Perigoso Instrumento Destruidor de Reputações”, publicado no jornal A Tribuna em 5 de janeiro de 1997.