Paulo escreveu alguma outra epístola inspirada?

 

I CORÍNTIOS 5.9 – Se Paulo escreveu outra epístola inspirada, por que Deus permitiu que ela se perdesse?

PROBLEMA: Paulo refere-se a uma epístola anterior escrita por ele aos coríntios, da qual não se tem conhecimento. Mas desde que ela foi escrita por um apóstolo a uma igreja e continha instruções espirituais de quem possuía autoridade, tal carta deve ser considerada inspirada. Isso levanta a seguinte questão: Como pôde então Deus permitir o extravio de uma epístola inspirada.

SOLUÇÃO: Há três possibilidades nessa questão. Primeiro, pode ser que nem todas as cartas apostólicas tenham tido o propósito de estar no cânon das Escrituras. Lucas refere-se a “muitos” outros evangelhos (1.1). João dá a entender que houve muitas coisas mais, que Jesus fez, mas que não foram registradas (20.30; 21.25). E possível que Deus não pretendesse que essa assim chamada “carta perdida” aos coríntios integrasse o cânon dos livros que foram preservados para a fé e prática das futuras gerações, como aconteceu com os demais 27 livros do NT (e com os 39 do AT).

Segundo, alguns creem que a carta referida (em I Co 5.9) pode não estar perdida afinal, mas ser uma parte de um livro existente na Bíblia. Pór exemplo, ela poderia ser parte do trecho que conhecemos como sendo II Coríntios (capítulos de 10 a 13), que alguns acreditam ter sido posto junto com os capítulos de 1 a 9. Para isso baseiam-se no fato de que os capítulos de 1 a 9 têm notoriamente um tom diferente em relação ao restante do livro de II Coríntios (capítulos de 10 a 13).

Isso pode indicar que o trecho foi escrito numa ocasião diferente. Além disso, apontam para o uso da palavra “agora” ( em I Co 5.11), em contraste com um implícito “então”, quando o livro anterior fora escrito Observam também que Paulo refere-se a “cartas” (no plural) que ele tinha escrito, em II Coríntios 10.10.

Terceiro, outros acreditam que em 1 Coríntios 5.9 Paulo esteja se referindo ao presente livro de 1 Coríntios, ou seja, ao mesmo livro que ele estava escrevendo naquela hora. Em apoio a isso observam o seguinte:

1) Embora o tempo verbal grego empregado aqui, o aoristo (“escrevi”), possa referir-se a uma carta do passado, ele poderia referir-se também ao mesmo livro. Isso é chamado de um “aoristo epistolar”, porque se refere ao mesmo livro em que ele está sendo usado.

2) Em grego, o aoristo não é um tempo do passado como tal. Ele refere-se ao tipo de ação, e não propriamente ao tempo da ação. Ele identifica uma ação completa, que pode até mesmo ter levado muito tempo para ser realizada (cf. Jo 2.20).

3) tempo aoristo com frequência implica uma ação decisiva, sendo que no caso Paulo estaria dizendo mais ou menos o seguinte: “Estou escrevendo-lhes em caráter decisivo…” Isso certamente está de acordo com o contexto dessa passagem, na qual ele está instando a Igreja a tomar uma medida imediata de excomungar um membro impuro.

4) Outro “aoristo epistolar” foi usado por Paulo nessa mesma carta, quando ele disse: “Não estou escrevendo na esperança de que vocês façam isso por mim” (I Co 9.15, NVI).

5) Não há absolutamente indicação alguma na história da igreja primitiva de que uma tal carta de Paulo, além das conhecidas I e II Coríntios, tenha existido. A referência em II Coríntios 10.10, dizendo: “as cartas… são graves”, pode significar tão somente “o que ele escreve é grave”. E o “agora” de I Coríntios 5.11 não indica necessariamente que era uma carta posterior. Esta palavra pode ser traduzida por “não” (BJ), ou como uma expressão de ênfase: “o que eu digo é que…” (TLH e, com pequena variação, BV).

Extraído do livro MANUAL POPULAR de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia. Norman Geisler – Thomas Howe

 

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