Paulo Cristiano da Silva: vice-presidente do CACP

Com apenas 30 anos de idade, Paulo Cristiano da Silva é um dos mais ativos apologistas do Brasil e acumula cargos de grande responsabilidade na área do ensino: é co-fundador e vice-presidente do CACP (Centro Apologético Cristão de Pesquisas) e membro da comissão revisora do curso teológico do Instituto Bíblico das Assembléias de Deus em S.J.R.P. Já desenvolveu pesquisas e escreveu diversos artigos sobre temas relacionados à fé cristã.
Dentre os muitos publicados em Defesa da Fé, destaque para os textos sobre adventismo do sétimo dia e catolocismo romano.

Acaba de escrever o livro “Desmascarando a idolatria”, ainda sem data prevista para lançamento. Sem dúvida, é mais um trabalho acadêmico que revela a realidade do Brasil, considerado o maior país católico do mundo.
Na entrevista concedida à Defesa da Fé, fala do avanço da igreja evangélica brasileira e do esforço do Vaticano para barrar esse crescimento, além do perigoso ataque das seitas. Confia, no entanto, que o Brasil “poderá vir a ser o maior país evangélico do mundo”. Que Deus confirme suas palavras!

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Defesa da Fé – 
Vivemos um momento ímpar no crescimento da igreja evangélica no Brasil. Diante disso, em que área da sociedade esse impacto tem sido mais sentido?

Paulo Cristiano –
 De algumas décadas para cá, o evangelho vem exercendo impacto em todas as camadas sociais, mas, indubitavelmente, tal como acontecia na época do cristianismo primitivo, a mais atingida por este avivamento é a camada mais pobre da sociedade, em cumprimento ao que disse Cristo: “Aos pobres é anunciado o evangelho” (Mt11.5). Também, e não menos importante, há um significativo crescimento na classe média/alta. Se continuar assim, tudo indica que o Brasil, num futuro próximo, poderá vir a ser o maior país evangélico do mundo.

Defesa da Fé –
 O catolicismo tem-se preocupado com isso?

Cristiano –
 Não só tem-se preocupado como também se movido no sentido de barrar esse crescimento. O Vaticano, ultimamente, tem voltado sua atenção para o nosso país. A razão disso é que o Brasil é o maior país católico do mundo e, justamente aqui, o catolicismo está perdendo adeptos para todos os tipos de religiões, mas principalmente para os evangélicos. Diante disso, os clérigos de Roma têm procurado desesperadamente traçar metas visando recuperar esse déficit. E, nessa investida, vale tudo, até mesmo plagiar, de modo “suspeito”, os cultos evangélicos com o fito (intento) de segurar seus fiéis, como no caso do padre pop star Marcelo Rossi.

Defesa da Fé –
 Então, em que contexto o senhor analisa o esforço do Vaticano com o movimento ecumênico?

Cristiano:
 O CACP lançou recentemente uma manifesto contra o ecumenismo. Segundo o ex-padre Agrício do Vale, existem três movimentos levantados na igreja católica para frear o êxodo de fiéis para as igrejas evangélicas. São eles: a renovação carismática, o focolares (organização de discipulado leigo) e o movimento ecumênico. Este último é uma verdadeira arapuca religiosa, pois o lema de Roma sempre foi Roma semper eadem, ou seja, “Roma sempre a mesma, ela não muda”. O atual papa nunca renunciou aos anátemas de Trento lançados sobre a Reforma Protestante. Todos os dogmas católicos ainda se encontram substanciados naquele Concílio. É utopia esperar que eles (os católicos), agora, abracem o verdadeiro evangelho em detrimento das heresias pregadas no catolicismo.

Defesa da Fé –
 Como essas medidas podem afetar a igreja evangélica?

Cristiano –
 A Sé romana tem feito um esforço descomunal para unir católicos e evangélicos debaixo da mesma bandeira. Tal atitude está logrando êxito principalmente nos EUA, onde muitas igrejas evangélicas estão de mãos dadas com os católicos romanos por meio de acordos ecumênicos que visam o não proselitismo, fruto de longos diálogos inter-religiosos. Em outros lugares, porém, a igreja católica age de forma menos sutil, como, por exemplo, empregar a velha tática de perseguição, seja política ou religiosa. Assim, de um jeito ou de outro, consegue atingir seus resultados em relação aos evangélicos. Mas tenho para mim que, de todos os perigos, o maior deles é o ecumenismo.

Defesa da Fé –
 No mês passado, o papa João Paulo II declarou que o dia em que Deus o chamará para um acerto de contas está muito próximo. Como o senhor avalia a sucessão papal?

Cristiano –
 E quão grande deve ser esta lista de contas a prestar! Quanto à sucessão papal, é sabido que, ao se aproximar qualquer eleição para a sucessão de um papa, as coisas começam a esquentar entre os conservadores e os liberais nos bastidores do Vaticano. Talvez seja por isso que eles pediram um 3º Concílio Vaticano tão recente. Tudo pode acontecer! Arriscar qualquer opinião agora seria prematuro demais. Todavia, uma coisa posso afirmar: o cardeal Ratzinger, responsável pelo polêmico Dominus Iesus, com certeza fará a diferença na escolha.

Defesa da Fé –
 Há chances de algum bispo brasileiro suceder João Paulo?

Cristiano –
 Cogitou-se o nome de alguns deles para o cargo, como, por exemplo, Cláudio Hummes, atual bispo arquidiocesano de São Paulo. Como acabei de dizer, não há nada certo ainda, a não ser a grande possibilidade de que seja um italiano.

Defesa da Fé –
 Como o senhor avalia o quadro religioso mundial num futuro próximo depois dessa 2ª Guerra do Golfo, em que se interpretou muito como uma guerra das maiores religiões do planeta, o cristianismo e o islamismo?

Cristiano –
 Na verdade isso tudo é sensacionalismo barato, o que estava em jogo realmente eram interesses pessoais econômicos, mesclado com rixas antigas desde a guerra do Golfo. É claro que o fator religião serviu como bode expiatório para alguns. Contudo, todo o contexto desta guerra, até certo ponto, serviu para mostrar ainda mais o perigo do radicalismo islâmico, que a cada dia vem se tornando uma ameaça para o mundo. Sem falar que esta guerra conseguiu abalar ainda mais a rixa entre as duas religiões, sendo que em geral um mulçumano não consegue discernir cristãos de norte americanos. No entanto, as profecias bíblicas indicam que a tendência da situação mundial é piorar cada vez mais.

Defesa da Fé –
 Novas seitas têm encontrado no Brasil facilidade de crescimento…

Cristiano –
 Sim, o Brasil não é só o celeiro do evangelho, é também o ninho das falsas doutrinas. E isso devido ao fato de o povo brasileiro ser inclinado ao misticismo herdado pela miscigenação de raças e credos. O resultado é um grande menu religioso. Aqui, há religiões para todos os gostos. Qualquer um pode implantar as mais aberrantes doutrinas em nossa pátria e, infelizmente, encontrará adeptos. Um caso típico é o Inri Cristo. O povo brasileiro está faminto. Somos uma nação insaciável em relação às coisas espirituais. Se as igrejas não chegarem primeiro, as seitas o farão.

Defesa da Fé –
 Qual o desdobramento do caso sobre a seita Viver de Luz que vocês do CACP estiveram denunciando, inclusive por meio desta revista e programas de TV?

Cristiano –
 Após denunciarmos as aberrações doutrinárias do movimento Viver de Luz em duas matérias na revista Defesa da Fé e num programa da emissora Bandeirantes, recebemos várias ameaças de alguns de seus adeptos. Mas, ao agirmos dessa forma, colocando em evidência o perigo que essa seita representa para a sociedade em geral, sentimos que cumprimos o nosso dever. O resultado desse confronto foi muito bom. Até mesmo pessoas que não são evangélicas foram despertadas para a questão. Como exemplo, fomos procurados por um jornal de São Paulo para que falássemos sobre o tal movimento.

Defesa da Fé –
 E no caso da seita Voz da Verdade?

Cristiano –
 A “igreja” Voz da Verdade, é uma seita modalista que através do conjunto que leva o mesmo nome, tenta ludibriar os mais incautos entre os irmãos. Tivemos um exemplo disso de um evento que eles realizaram em nossa cidade,enquanto o líder deles, Carlos Moisés, durante o show, desafiava a brados em cima do palco os que criam na Trindade, os crentes em baixo, como que hipnotizados, ainda batiam palmas em apoio às heresias que ele dizia. É uma lástima ver que nosso povo desconhece as principais doutrinas da Bíblia! Depois disso, levamos o caso até o conselho de pastores da cidade, onde encontramos total apoio por parte do mesmo; mandamos um documento ao conjunto Voz da Verdade repudiando suas heresias e um a cópia ao Conselho de Pastores de São Paulo denunciando a posição sectária do Conjunto e seu líder. Isto ainda está dando o que falar, pois no mês passado fui procurado por um jornalista da revista “Graça” querendo uma entrevista sobre o episódio acontecido.

Defesa da Fé –
 Como o segundo país do mundo em números de testemunhas-de-jeová, como você analisa a atividade desse grupo?

Cristiano –
 As estatísticas mostram que as TJs cresceram muito em alguns paises como é o caso do Brasil, em contrapartida regrediu em outros como no caso do Japão. Não obstante, os líderes sabem como controlar seus adeptos debaixo de um autoritarismo ferrenho, que muitas vezes vem camuflado com palavras bonitas tipo “lealdade” , “amor” e outras frases de efeito. As TJs são persistente, pois são treinadas para isso, toda a vida de uma TJ gira em torno de proclamar a doutrina de sua religião, caso contrário, é vista como uma pessoa de segunda categoria dentro do grupo. Isso faz com que haja um crescente e contínuo movimento para o crescimento da mesma, pois são programadas para isso.

Defesa da Fé –
 A maioria das seitas possui filosofias perigosas. Por que tantas pessoas se envolvem com elas? Seria o caso de haver algum tipo de controle mental?

Cristiano –
 As seitas vendem um evangelho barato e isso agrada a espiritualidade humana. Quase todas as seitas, em maior ou menor grau, utilizam técnicas de controle mental. São as chamadas “técnicas de modificação do comportamento e reforma do pensamento”. É bom salientar que, apesar de todo o aparato tecnológico e científico da vida moderna,isso não tem conseguido suprir a necessidade primordial do ser humano. Estamos presenciando um fenômeno paradoxal. Isto é, ao almejar suprir sua necessidade religiosa, o ser humano rejeita a Deus em sua vida, o Deus verdadeiro, optando por uma espiritualidade abstrata, sem compromissos. É aí que se encontra o segredo do sucesso das seitas, pois elas oferecem justamente isso.

Defesa da Fé –
 Esse fenômeno é uma institucionalização ou são experiências diferentes ?

Cristiano –
 São fenômenos semelhantes. O controle mental exercido pelas seitas sobre seus adeptos é tal que a vida da vítima passa a girar em torno do grupo a que pertence e de seu líder. Nada mais é importante para o seguidor, a não ser seu contexto religioso. Paulatinamente, o adepto vai sendo moldado a acreditar que o mundo está contra ele e que não há outro lugar melhor a não ser na seita.

Defesa da Fé –
 Existem seqüelas dessa experiência em caso de dissidência?

Cristiano –
 Perfeitamente. Quando o apologista consegue ganhar um membro de seita para Cristo, primeiro tem de “desprogramar” a lavagem cerebral que foi feita durante anos na mente daquela pessoa. O controle mental feito pelas seitas deixa seqüelas profundas, tanto psicológicas como espiritual e doutrinária. É difícil você encontrar um ex-adepto das Testemunhas de Jeová, por exemplo, que ainda não possua resquício de algumas doutrinas heréticas aprendidas durante anos por lá. Não faz muito tempo, muitos pais estavam processando a seita dos Hare Krishna por exercer esse tipo de controle sobre seus filhos. Tal foi a lavagem cerebral que receberam na seita que tiveram de passar por várias sessões com psicólogos para se reabilitarem.

Defesa da Fé –
 As igrejas evangélicas estão isentas desse tipo de influência na vida de seus congregados?

Cristiano –
 Infelizmente, não. Temos visto muitas igrejas caindo no mesmo erro. O membro chega alienar-se de tal modo que não consegue mais se adequar em nenhuma outra igreja. Só a dele é a mais correta. E isso é muito perigoso!

Defesa da Fé –
 Quando uma mensagem é perniciosa, no contexto evangélico?

Cristiano –
 Sem dúvida, quando traz um conteúdo exclusivista. Quando não gira em torno de Jesus Cristo, da mensagem da cruz e do amor. Quando se volta inteiramente (ou quase inteiramente) para os interesses denominacionais.

Defesa da Fé –
 Temas religiosos tem sido capa de diversos periódicos seculares. Isso é sinal de uma quebra de preconceito contra a religião ou mais uma estratégia de marketing?

Cristiano –
 Não, de maneira nenhuma. Não se trata de uma quebra de preconceito. Temas religiosos sempre foram mercadorias fáceis de se vender, além do que, na maioria das vezes, tais periódicos fazem um desserviço à causa do evangelho ao invés de bem. Veja por exemplo as últimas matérias que a revista Super Interessante trouxe sobre a Bíblia e Jesus Cristo, que por sinal foi alvo de uma resposta à altura por parte do CACP e do ICP. Não nos enganemos: o mundo jamais nos aceitará. A luz sempre será antítese das trevas, e quando a notícia é sobre os evangélicos servem mais de espécie de alerta, em geral ao Vaticano, à igreja católica, tipo: “olhem, cuidado, os evangélicos estão crescendo!” e coisas assim.

Defesa da Fé –
 Em sua opinião, qual a maior dificuldade que as entidades apologéticas enfrentam hoje?

Cristiano –
 Sem sombra de dúvida, o descaso de muitos pastores para com o ensino apologético. Muitos não percebem que, não raramente, estão ganhando almas para as seitas. Ou seja, as igrejas estão funcionando como um atalho para as seitas, que vêm e “pescam os peixes já limpos”. Recentemente, estivemos em um debate de mesa redonda na TV pelo canal 16 (via cabo) com outros pastores. No intervalo, o apresentador falou que iria discutir sobre seitas. Um dos pastores presentes retrucou, dizendo que não era preciso abordar esse assunto, que era melhor continuar falando sobre o crescimento das igrejas. Aqui cabe uma frase proferida por Martinho Lutero, e com muita propriedade: “Um pastor fiel e piedoso deve reunir dentro de si o alimentar e o combater. Se não souber combater, o lobo comerá as ovelhas, e o fará com tanto mais prazer, uma vez que estão bem alimentadas e gordas”. E a apologética é a ferramenta mais eficaz para isso!

Defesa da Fé –
 O que o senhor considera imprescindível para igreja evangélica brasileira nesse momento estratégico em que vivemos?

Cristiano –
 Conscientização. Não podemos cair no mesmo erro de outras nações evangélicas. Apesar das estatísticas serem favoráveis, precisamos incentivar mais o ensino teológico em nossas igrejas. Não podemos apenas ganhar em quantidade, precisamos também manter a qualidade. A igreja precisa pregar não um evangelho que agrade as pessoas, mas um evangelho que as transformam realmente. É um erro crasso confundir “Boas Novas” com novidades.


*entrevista concedida na íntegra ao ICP.

Por Jamierson Oliveira

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