“Pastora” luterana usa a Bíblia para defender o aborto no STF
Lusmarina Campos foi na direção oposta dos demais líderes evangélicos
Após cerca de 12 horas de exposições, terminou o segundo dia da audiência pública no STF que debateu a legalização do aborto. Para os analistas, o debate foi desequilibrado, uma vez que a maioria dos pronunciamentos foi favorável à legalização do aborto. Como a escolha de quem falaria é do Supremo ficou evidenciado que havia um viés.
Surpreendentemente, a pastora luterana Lusmarina Campos Garcia, do Instituto de Estudos da Religião usou a Bíblia para tentar justificar o aborto. Entre seus argumentos, disse que falava “numa leitura hermenêutica das Escrituras a partir da perspectiva de gênero”.
Usando trechos de Êxodo e Números fora de seu contesto, deturpou o trecho conhecido do Salmos 139 sobre Deus formando a vida no ventre da mãe. “O aborto não é condenado na Bíblia, pois não é considerado nem pecado, nem crime”, insistiu, acrescentando que “não há determinação bíblica de quando a vida começa”.
Lusmarina disse que o texto do 5º mandamento, o “Não matarás”, é uma flagrante distorção do texto bíblico, não podendo ser usado para um feto. Disse ainda acreditar que “as religiões deveriam aceitar o aborto”.
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A Igreja Evangélica Luterana no Brasil, entretanto, se posicionou diferente:
A decisão da primeira turma do STF (Supremo Tribunal Federal) de que praticar aborto nos três primeiros meses de gestação não é crime, na verdade, ainda não autoriza a prática do aborto no Brasil, pois esta foi uma decisão de um grupo de ministros, e não do pleno em si. Porém, cria um precedente perigoso, abrindo um caminho que merece nossa atenção e reflexão.
É compreensível a preocupação dos que lutam por essa legalização quando visam a proteção da vida das pessoas menos favorecidas, vítimas do aborto feito em clínicas clandestinas. Aborto em clínicas clandestinas é a quinta causa de mortalidade materna no Brasil, segundo pesquisas do Ministério da Saúde.
É lamentável, também, que homens abandonem as mulheres gestantes bem como aqueles que as incentivam e levam, muitas vezes sob pressão da família, para que busquem essa alternativa de interrupção de gravidez.
Contudo, precisamos ter cuidado com a posição que tomarmos, pois existem princípios maiores, valores éticos e morais que devem ser considerados. Antes de se legislar sobre o aborto, cabe ao Estado educar o homem e a mulher acerca da responsabilidade civil sobre procriação e vida.
A Mestre e Doutora em Clínica Médica Eunice Beatriz Martin Chaves escreve: “No caso de um embrião, justificar o início da vida somente após o desenvolvimento neurológico não faz sentido, pois o embrião apresenta as três propriedades do desenvolvimento: coordenação, continuidade e gradualidade. Assim, o desenvolvimento neurológico vai seguir o que está planejado para todos os seres humanos. Em torno de oito semanas estará se desenvolvendo. Ou seja, se o processo não for interrompido pelo aborto, esta capacidade seguirá o curso natural do seu desenvolvimento. Aí está a sutil diferença entre o ‘não existe mais’ e o ‘ainda não existe’, mas que tem toda a capacidade de desenvolver-se: é apenas uma questão de tempo”.
Ainda de acordo com a Dra. Eunice, “a partir da concepção, o novo sistema gerado não é uma simples soma dos sistemas anteriores, mas sim um novo ser com sua individualidade e autonomia. Um novo genoma, um novo centro biológico coordenador, o qual identifica este indivíduo e confere as enormes potencialidades que o próprio embrião irá atualizando ao longo do seu desenvolvimento. Até o passado recente, o início e o fim da vida de um ser humano eram definidos com a maior facilidade. … começamos a existir a partir do momento da concepção, ou seja, quando ocorreu a fusão dos gametas: óvulo + espermatozoide, aquele da mãe e este do pai, dos quais somos filhos, gerando o zigoto ou ovo, o que constitui uma verdade evidente, inclusive quando não se sabia nada de embriologia e dos mecanismos que regem a formação do novo ser humano, confirmados pelos conhecimentos atuais da embriologia e da genética, que nos proporcionam provas a favor do que se afirmava pela simples observação, de que a vida inicia a partir do momento da concepção.” (Matéria publicada no jornal Solidário, Ano XX, Edição nº 669, P. Alegre, novembro de 2014 – 1ª quinzena, p. 6.)
A CTRE (Comissão de Teologia e Relações Eclesiais) da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, falando sobre o aborto no caso de anencefalia, disse:
“Os ensinamentos bíblicos devem orientar nossas ações e pensamentos e, também, consolar.
As palavras do salmista Davi (Sl 51.5) “Eu nasci na iniquidade e em pecado me concebeu minha mãe”, apontam para a realidade humana. Esse é o contexto em que a vida humana é concebida, se desenvolve, nasce, vive e morre. Nada do que o ser humano pensa, diz, faz ou deixa de fazer está fora do contexto de pecado. E a tragédia do pecado se manifesta de diferentes formas no ser humano, desde sua concepção. O ‘ambiente’ humano é de pecado. Tomar atitudes éticas nesse contexto é o constante desafio do cristão. Mesmo no contexto de pecado, Jó afirma sua existência sob o ‘olhar divino’ desde o útero materno, bem como sua formação, mencionando ossos, tendões, pele:
8 – As tuas mãos me fizeram, me deram forma e agora essas mesmas mãos me destroem. 9 – Lembra que me fizeste de barro; vais me fazer virar pó outra vez? 10 – Tu fizeste com que o meu pai e a minha mãe me gerassem, que me dessem a vida. 11 – Formaste o meu corpo de ossos e nervos e os cobriste com carne e pele. 12 – Tu me deste vida e me deste amor, e os teus cuidados me conservam vivo. (Jó 10.8-12 – NTLH)
Também Davi enfatiza sua existência desde o ventre materno quando, em substância ainda informe, já é reconhecido como um ser humano:
13 – Tu criaste cada parte do meu corpo; tu me formaste na barriga da minha mãe. 14 – Eu te louvo porque deves ser temido. Tudo o que fazes é maravilhoso, e eu sei disso muito bem. 15 – Tu viste quando os meus ossos estavam sendo feitos, quando eu estava sendo formado na barriga da minha mãe, crescendo ali em segredo, 16 – tu me viste antes de eu ter nascido. Os dias que me deste para viver foram todos escritos no teu livro quando ainda nenhum deles existia. (Salmo 139.13-16)
“Face ao exposto, a Comissão de Teologia e Relações Eclesiais opina e orienta:
• Cristãos consideram que a vida humana tem início na concepção (Salmo 51.5).
• Se nossos dias estão registrados no livro de Deus e por ele determinados (Sl 139.16), por princípio, cabe a Deus interrompê-los quando ele quiser”.
É importante lembrar, conforme exposto acima, que um embrião é um ser humano desde a sua concepção (Sl 51.5), por isso, deve ter seus direitos assegurados. Não cabe ao ser humano privar alguém do direito à vida, vida que é um dom de Deus.
Como Igreja, devemos sempre cuidar das famílias, da sua estrutura, da educação e criação dos filhos, para que levem uma vida digna e honrada, dentro do matrimônio. Quando algum casal, por algum motivo, vir-se diante de uma situação em que o aborto parece ser a escolha mais plausível, não se deixe levar por essa triste ideia, mas que se sinta acolhido, ajudado e compreendido pela família da fé. Somente com a certeza do perdão e da graça de Deus em Cristo é que os que pensaram ou praticaram o aborto poderão superar o trauma, vencer a dificuldade e levar uma vida digna e honrada.
Portanto, não concordamos nem apoiamos a ideia da liberação do aborto nos três primeiros meses em nosso país, pois cremos que a vida é dom de Deus e deve ser protegida e defendida em qualquer circunstância pelas autoridades instituídas e pelos diversos segmentos da sociedade.
Em nome da Igreja Evangélica Luterana do Brasil,
Rev. Egon Kopereck, Presidente
Fontes: Site do Gospel Prime e Site da IELB