Existe de fato o poder da mente?
“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1Jo 4.1)
Acontece com a parapsicologia algo muito semelhante ao que acontece com a ufologia. Enquanto alguns cientistas se debruçam sobre telescópios tentando descobrir o mínimo vestígio de vida fora da terra sem nada encontrar, outros ditos ufólogos passeiam de disco voador, têm relações sexuais com extraterrestres e conversam abertamente com esses seres por telepatia sempre que desejam.
Na parapsicologia o fato se repete. Ao mesmo tempo em que estudiosos sérios evitam qualquer veredicto sobre o assunto, outros parecem ter encontrado na parapsicologia a “VERDADE” (com letras maiúsculas) que os permite resolver todos os mistérios do mundo.
O que é parapsicologia?
É difícil dizer aquilo que a parapsicologia pretende ser, uma vez que pessoas executando ou exibindo fenômenos estranhos se apresentam em programas televisivos como parapsicólogas. Como é comum no Ocidente, qualquer coisa que carregue o rótulo de “ciência” torna-se aceitável. Dessa forma, a parapsicologia tem sido um apoio para todo tipo de crença e charlatanismo ou, ainda, para todo tipo de cepticismo, como no caso do padre Quevedo.
Em seu livro Parapsicologia e psicanálise, Gastão Pereira da Silva consegue dar uma idéia do que seria esta ciência em sua concepção pura e o quanto ela sofre distorção por parte de todo tipo de pessoas: “A Parapsicologia vem despertando ultimamente o maior interesse entre os cientistas […] Mas infelizmente a divulgação que se faz é quase sempre unilateral. Se é um padre, defende o ponto de vista católico, se é espírita, inclui todos os fenômenos paranormais nos estudos de Allan Kardek, se é materialista, ou iogue, explica-os segundo os princípios que adota […] Livre de quaisquer credos, ou preconceitos, [o verdadeiro parapsicólogo] apenas observa e registra o resultado das investigações que faz. Nada conclui, quer sob o aspecto religioso ou científico.
O que Rhine (pesquisador de fenômenos parapsicológicos) revelou até agora, com segurança, é que há uma força ‘extrafísica’ que atua sobre todos nós, sem a participação dos sentidos. Essa força existe. É real. Incontestável. Mas totalmente misteriosa quanto à natureza, à origem […] Dizer que ela se incorpora ou que é apenas uma forma de energia é afirmação aleatória […] Mas é preciso esclarecer, logo de início, que a parapsicologia não tem qualquer relação com o ocultismo, ou com falsos credos, ou sistemas religiosos organizados. Não está, por outro lado, no domínio do misticismo”1 (grifo do autor).
Como podemos ver, sem negar a existência de fenômenos que vão além dos conceitos da ciência normal, este posicionamento exclui quaisquer tentativas do ocultismo de escudar-se na parapsicologia para confirmar suas afirmações. Quando alguém se diz apoiado na parapsicologia para justificar contatos extraterrestres, levitação, reencarnação, aparecimento de espíritos, telecinésia, telepatia ou qualquer fenômeno deste tipo, está tentado obter um endosso que a parapsicologia não lhe dá.
A parapsicologia admite não ser de sua competência formular respostas, mas apenas elaborar perguntas. Investiga efeitos, mas não aponta a causa. Sabe que ser dogmático neste assunto é cometer um erro imperdoável na ciência – postular em cima de fatos impossíveis de se provar. Os que querem ir além disto não estão, de modo nenhum, nos domínios da parapsicologia, mas de seu próprio misticismo.
A parapsicologia sob o foco bíblico
O que nós, evangélicos, que cremos na Bíblia como revelação divina ao homem e infalível em quaisquer áreas que se pronuncie, pensamos da parapsicologia? Diríamos que é uma tentativa do pensamento científico para explicar fatos não científicos. Como sabemos, a única realidade admitida pela ciência ortodoxa é a realidade material tangível, alcançada pelos sentidos e passível de ser quantificada.
Mas nós, que cremos nas Escrituras Sagradas, sabemos que nem toda realidade existente é limitada ao universo material. Em Colossenses 1.16, lemos: “Porque nele (Jesus) foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele” (grifo do autor). Logo, a Criação no sentido bíblico é a criação de toda a realidade existente, mesmo daquelas que não podem ser captadas pelos sentidos físicos. Paulo ainda diz em sua segunda epístola aos coríntios: “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2Co 4.18).
Esta esfera metafísica não pode ser medida e analisada com os mesmos critérios que a ciência usa para a realidade material. A verdade, e isto todos têm de admitir, é que, por longos anos, a realidade espiritual foi “oficialmente” negada pela ciência porque esta não conseguia explicá-la dentro dos padrões de conhecimento que ela mesma havia estabelecido. Era mais fácil dizer que não existiam realidades como alma, anjos, demônios ou mesmo Deus do que admitir limitações para o pensamento científico em sua explicação ao mundo em relação a essas realidades.
Mas a parapsicologia nasceu porque inúmeros fenômenos nunca puderam ser explicados cientificamente. Na esfera religiosa, principalmente, muita coisa ocorreu sem que a psicologia, embora tentasse de todas as formas, apresentasse uma explicação satisfatória. Pessoas sérias viram que, além das fraudes, certos fenômenos eram reais e precisavam de uma explicação “científica”.
Nossa pergunta é: “A ciência pode explicar assuntos que vão além de sua esfera de ação, que são regidas por leis alheias ao mundo físico? A parapsicologia pode entrar em contato com certos fenômenos que sabemos ser de origem maligna e captar objetivamente o sentido deste fenômeno? Ela tem condições de fornecer respostas satisfatórias e infalíveis com respeito a assuntos tais como vida após a morte, aparições de espíritos, hipnotismo, telecinésia e outros assuntos afins?”.
A parapsicologia, para advogar sua validade científica, rejeita certamente as afirmações bíblicas ou busca explicá-las atribuindo um sentido alegórico ou meramente cultural às mesmas. Isso, com certeza, a torna ineficaz para explicar, de forma válida, certos fenômenos. As Escrituras Sagradas são a revelação inspirada pelo Espírito Santo à humanidade a fim de que esta venha a aprender certos fatos que seriam impossíveis de conhecer de outro modo. A rejeição das Escrituras como forma de conhecimento válido torna impossível aceitar as colocações de certos estudiosos de parapsicologia.
“A explicação dos fenômenos misteriosos sempre foi uma preocupação da humanidade. De um lado, encontramos as explicações supersticiosas que vão atribuir tais fenômenos ao sobrenatural (demônios, espíritos de mortos etc); do outro, encontram-se aqueles que estudam cientificamente tais fenômenos; este último é o campo de estudo da Parapsicologia”2 (grifo do autor).
Como vemos na declaração acima, qualquer explicação considerada de cunho não científico é rotulada como “superstição”. Nós nos perguntamos por que o fato de alguém aceitar a existência de “seres malignos desencarnados” como os verdadeiros agentes por trás de fenômenos incomuns deve ser classificado como “superstição”. Isto é preconceito. Há algum motivo pelo qual se possa afirmar categoricamente que estes seres não existem? Entretanto, a parapsicologia apenas diz que eles não podem existir.
Os poderes psíquicos e os métodos científicos
Baralho de Zener – É um conjunto de cartas utilizadas para testes parapsicológicos. Elas apresentam cinco símbolos diferentes: uma estrela, linhas onduladas, uma cruz, um círculo e um quadrado. Com elas são feitos testes de telepatia, clarividência e precognição.
No caso da telepatia, uma pessoa (emissor) pensa em um dos símbolos, enquanto a outra (receptor) tenta “adivinhar” qual é este símbolo que o outro está pensando. Na clarividência as cartas são expostas em determinado local, e outra pessoa distante tenta “ver com a mente” quais as cartas ali apresentadas. E, por fim, no caso da precognição, a pessoa tenta adivinhar qual a próxima carta que será retirada do montante.
De uma maneira bem simplificada, estes são os testes “científicos” realizados pelos parapsicólogos a fim de detectar e confirmar a existência de poderes paranormais no homem.
Apesar dos inúmeros testes realizados em todo o mundo, os resultados nunca convenceram a comunidade científica. No verbete “parapsicologia”, assim registrou a Enciclopédia Britânica: “Parapsicologia em ciência contemporânea – Para muitos cientistas profissionais, parapsicologia é de pouco interesse; muito pouco é alcançando com as pesquisas. Muito do que aparecem em jornais com os quais eles não estão familiarizados. A maioria dos psicólogos americanos, não aceita o psi (força psíquica) como um fato. Dentro do movimento parapsicológico, há disputas para estabelecer critérios para a validade dos fenômenos paranormais. Para alguns, a convicção está baseada em casos espontâneos (ex.: Conhecimento paranormal aparece no curso da vida diária); eles não estão convencidos pelos testes de laboratório. Muitos cientistas continuam sem uma boa impressão e desprezam os métodos estatísticos utilizados pela parapsicologia. Outra dificuldade séria para muitos cientistas é a quase completa falta de qualquer padrão teórico plausível para delinear o processo […] A rejeição (por parte dos cientistas) é reforçada pela objeção de violar as regras básicas do método científico”.3
Como vemos, mesmo em sua forma mais objetiva, não houve aceitação irrestrita para os fenômenos estudados pela parapsicologia. Embora esta citação seja do final da década de 60, análises realizadas mais recentemente continuam no mesmo impasse, recusando-se a aceitar cientificamente a parapsicologia, como publicou a revista Superinteressante de março de 2003: “A má notícia é que, apesar do dinheiro e de mais de 130 anos empregados em pesquisas, ainda não é possível afirmar que existem fenômenos parapsicológicos (ou fenômenos psi, como costumam dizer os parapsicólogos). O pior é que também não dá para dizer que eles não existem. Parte da culpa por esta situação é dos próprios parapsicólogos. É incontestável que há pouca pesquisa científica sobre o assunto. Das que existem, boa parte é descartada no primeiro escrutínio por problemas metodológicos ou por negligência na conduta da experiência. Outra parte acaba desacreditada por análises estatísticas. Por fim, das pesquisas que sobram, uma fatia está impregnada de conceitos esotéricos, que não podem ser analisadas por método científico. E é comum ler artigos de parapsicólogos tentando se salvar do naufrágio”.4
Em outras palavras, a parapsicologia, como ciência, não é conclusiva de modo nenhum. Não tem autoridade para definir com exatidão nem mesmo o objeto de seu estudo, muito menos questões que envolvem religiões. Em suma, telepatia, clarividência, premonição e fenômenos semelhantes não estão esclarecidos pela ciência e qualquer pessoa que alegue o contrário não deve ser acatada.
Quando a parapsicologia se torna religião
Alguns supostos parapsicólogos acabam assumindo posições que, com certeza, são rejeitadas por esta mesma ciência. Na maioria dos casos, uma linha muito tênue passou a existir entre a parapsicologia e o esoterismo. Muitos dos chamados “canalizadores”, isto é, pessoas que dizem servir de instrumento para canalizar certas entidades, escudam-se dessa forma. John Ankerberg e John Weldon, dois pesquisadores dessa área do ocultismo, mostram até que ponto ocultismo e ciência chegam a se misturar: “Muitos canalizadores declaram que seus espíritos-guias fazem parte de seu inconsciente criativo. Eles dizem isso por não se sentirem à vontade com a idéia de que espíritos reais os estão possuindo. Preferem acreditar que os espíritos simplesmente fazem parte dos poderes recém-descobertos de suas mentes ou talentos humanos […] É interessante notar como a parapsicologia moderna (estudo ‘científico’ do ocultismo) propiciou apoio para a renomeação das atividades de espíritos […] Pessoas que jamais aceitariam ser possuídas por espíritos, acolhem muito bem o tom científico da idéia de que estariam na verdade contatando seu suposto ‘consciente superior’ ou sua ‘mente divina’. Uma vez que a ação desses espíritos tenham sido disfarçadas de poderes psíquicos, ou poderes da mente inconsciente, torna-se impossível reconhecer a sua atividade pelo que ela realmente é: contato real com espíritos”5 (grifo do autor).
Com este disfarce, atividades mediúnicas camuflam-se em poderes mentais, aprisionando os praticantes e espalhando influência demoníaca. Com este recurso a falsa parapsicologia tem conseguido popularizar práticas que eram comuns apenas entre bruxos e feiticeiros. Se os limites dos seres humanos estão sendo vencidos, isto acontece por meio de envolvimento e influência do mundo dos espíritos. A busca pelo “poder mental”, o “eu superior” ou o “potencial divino” tem posto o homem em contato com fontes maléficas.
Quando a parapsicologia erra o alvo
Existe ainda um outro desvio que precisa ser verificado com mais atenção. É quando a parapsicologia tenta explicar todos os fenômenos espirituais negando os fundamentos bíblicos. É a ciência tentando entrar no campo da religião e dar um veredicto infalível no mesmo nível que faz com outras áreas do conhecimento humano.
Um exemplo claro deste tipo de procedimento vem do chamado padre Quevedo (padre?), fundador do Centro Latino Americano de Parapsicologia (CLAP) www.clap.org.br, que vê na parapsicologia dados suficientes para explicar quaisquer fenômenos espirituais.
A seu ver, cabe à parapsicologia explicar os milagres, e não outra autoridade qualquer. Nem mesmo a Bíblia é reconhecida como uma autoridade para fornecer explicação aceitável a esse respeito. Quevedo declara: “Outro aspecto da importância da parapsicologia é o estudo do milagre. A ninguém escapa a importância científica, social e pastoral que a Parapsicologia pode alcançar do estudo do Milagre. Dado que os milagres têm um aspecto histórico e fenomenológico, em nosso mundo, também é objeto de estudo da parapsicologia, que precede ao estudo da teologia. E o cientista, por sua parte, não deve se afastar do estudo do milagre por receio das possíveis conseqüências religiosas ou pelo ambiente religioso que cerca o possível milagre. Os milagres são de tal categoria, importância e transcendência que seu estudo deveria ser tomado muito a sério por qualquer pessoa que tivesse interesse e capacidade científicas, por todo sábio consciente de suas responsabilidades individuais e sociais”.
Em outras palavras, Quevedo tenta estabelecer a ciência como padrão para o estudo do sobrenatural, antes mesmo que a teologia. Isto o tem levado a negar a existência dos demônios e de outros seres espirituais claramente revelados na Palavra de Deus. Sua presença na mídia geralmente tem sido para negar fatos espirituais, num ceticismo extremista que busca explicar manifestações divinas e demoníacas como atuações mentais. É um outro beco sem saída trilhado pelos “parapsicólogos”.
Em seu texto, Possessão demoníaca, o chamado “padre” Quevedo coloca a parapsicologia como a chave que desvenda este mistério, atropelando a revelação bíblica de uma forma céptica: “No Ritual Romano se lê: ‘Os sinais de possessão demoníaca são […] falar várias línguas desconhecidas […] revelar coisas distantes ou ocultas […] manifestar forças superiores à idade ou aos costumes. Nenhum destes sinais hoje é válido. A Parapsicologia explica como perfeitamente naturais a xenoglossia6, a adivinhação e o sansonismo”7 (grifo do autor).
Com certeza, nenhum cientista sério concordaria com ele. E, considerando o que ele pensa a respeito da Bíblia e possessão demoníaca – Foi a Bíblia a causa do erro da possessão demoníaca… – nenhum teólogo sério concordaria com ele também. Sua fama é produto mais de marketing pessoal do que legítima autoridade científica ou religiosa.
· Ver em nosso site www.icp.com.br o testemunho de um médico que questiona a validade científica de um curso de parapsicologia ministrado pelo Pe. Oscar Quevedo.
Nem tudo que reluz é ouro
Ao lidar com os poderes psíquicos, como telepatia, telecinese, clarividência e outros, o fato que se levanta é: este poder, exibido por algumas pessoas, têm origem em suas próprias mentes ou deriva de uma fonte externa? É a manifestação de algum poder oculto do ser humano ou o ser humano é apenas um “canal” para a manifestação de tais poderes?
Na parapsicologia séria, geralmente a exibição de tais poderes é atribuído à própria mente do indivíduo. Mas o mesmo não se dá quando manifestações semelhantes ocorrem com pessoas de alguma religião específica. No caso do espiritismo, a pessoa é apenas um “médium”, ou seja, um meio, um veículo pelo qual um espírito exibe poderes paranormais. O movimento Nova Era dá o nome de “canalização” a um fenômeno que, igualmente, faz da pessoa um mero “canal” de forças alheias a ela mesma. Tal força pode ser chamada de “mestre ascencionado” ou energia cósmica.
Assim, mesmo que alguém não professe alguma crença religiosa, a semelhança dos poderes manifestados não impede que o mesmo esteja sendo também um mero canal.
Logo, o maior problema com as manifestações psíquicas não é, para nós, cristãos, se elas são ou não fatos verdadeiros, mas o poder que está por trás delas. Os apóstolos, que realizaram grandes milagres como curas, conhecimentos de fatos ocultos (como no caso de Ananias e Safira, em Atos 5), nunca atribuíram este poder a si mesmos. Ao curar o paralítico à porta do Templo de Jerusalém, Pedro disse: “Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (At 3.12). Pedro sabia que o poder curador não pertencia a ele, antes, que tinha sido apenas um canal. Paulo também se expressou de maneira semelhante: “Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito […] pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus…” (Rm 15.18,19).
Temos em Atos 16.16-19 uma amostra dos poderes envolvidos em casos como este, só que se tratando de poderes provenientes de espíritos malignos. Esta passagem se refere a uma jovem que tinha “um espírito de adivinhação” (v.16). Pessoas pagavam para ouvir “seus dons”, o que resultava em lucro financeiro para os senhores desta jovem, que era uma escrava (v.16). Embora não seja possível especificar o tipo de adivinhação manifestado por ela, é óbvio tratar-se de algo semelhante à telepatia ou à clarividência estudada pelos parapsicólogos. É justamente este tipo de pessoas que são estudadas e analisadas.
Todavia, esta mulher foi confrontada pela autoridade do nome de Jesus pelo apóstolo Paulo, o qual disse: “Em nome de Jesus Cristo, ordeno-te que saias dela” (v. 18), e na mesma hora o espírito saiu. Como resultado disso, ela perdeu “seus poderes” (v. 19) de adivinhação. Isto deixa inconteste que não era ela a fonte.
As Escrituras Sagradas são bem claras, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, em mostrar duas fontes de poder que podem vir a agir por meio do homem. Uma é o Espírito de Deus e a outra, os espíritos malignos, liderados por Satanás. Por isso, quando se trata de poderes sobrenaturais é importante conhecer o que diz a Bíblia.
A Palavra de Deus proibiu a feitiçaria, a necromancia e a adivinhação (Lv 19.26; Dt 18.12). Todas estas práticas produzem fenômenos muito parecidos com aqueles estudados pelos parapsicólogos. Neste caso, as Escrituras não alegam tratar-se de fraudes ou de superstição, mas de algo que possui uma natureza nociva.
No livro de Êxodo, temos o confronto de Moisés com os magos do Egito. Pelo menos três milagres efetuados por Moisés pelo poder de Deus foram imitados pelos magos: a vara que se transformou em cobra (Êx 7.10-12), a água do rio que virou sangue (Êx 7.20-22) e a praga das rãs (Êx 8.6,7).
As Escrituras mostram claramente que o libertador dos hebreus foi um instrumento nas mãos de Deus. O Senhor era a fonte de todas as realizações de Moisés. Se os magos egípcios que se opunham a Moisés e praticavam a adoração a falsos deuses realizaram milagres semelhantes, isto significa que o fizeram dependendo de outra fonte. Visto que se opunham aos propósitos divinos, tal fonte só podia ser maligna.
Em Deuteronômio 13.1-6, temos uma amostra de que a fonte de manifestações psíquicas pode ser de origem maligna. Uma pessoa pode fazer premonição, seja em forma de profecia ou de sonho, e isto não proceder do Senhor. A fonte, neste caso, era maligna, e aquele que fizera o “sinal” ou “prodígio” não fora inspirado por Deus.
O Novo Testamento é ainda mais explícito quanto à questão de milagres e maravilhas satânicos. Jesus disse que surgiriam muitos falsos profetas que fariam tantos sinais e maravilhas que se possível fosse enganariam até os escolhidos (Mc 13.22).
Tivemos, na História recente, pessoas que foram fenômenos na área de previsão de futuro e clarividência, como Edgar Cayce e Jane Dixon. Seus feitos nesta área espantaram cientistas e parapsicólogos do mundo todo. Nada impede de classificá-los no grupo predito por Cristo. Paulo, em sua segundo epístola aos tessalonicenses, fala da “eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios de mentira” (2Ts 2.9) e em Apocalipse 16.14 a Bíblia fala de “espíritos de demônios, que operam sinais”. Logo, os poderes psíquicos não precisam derivar necessariamente do homem, mas de uma fonte maligna externa a ele.
O uso destes poderes para o bem
Há a alegação de que muitos dos que manifestam poderes paranormais o utilizam para fins benéficos, sendo, portanto, precipitado julgar a fonte de suas capacidades como sendo maléfica. Alguns paranormais já foram até utilizados pela polícia a fim de encontrar pessoas desaparecidas e resolver certos crimes. Ou como no caso de Edgar Cayce e outros paranormais famosos que forneceram solução para doenças e problemas quando se encontravam em estado de transe.
Mas não há registros de acompanhamento posterior das pessoas “beneficiadas” por meio dessas operações psíquicas. Não há nada que ateste resultados permanentes ou se houve “efeitos colaterais”. O alívio imediato alcançado por esses métodos não representa uma prova de que no geral é uma experiência benéfica.
Temos, porém, um registro biográfico de Joseph Milard, referente à vida de Edgar Cayce. Ele foi sem dúvida um dos maiores paranormais registrados na história. Mas, segundo o seu biógrafo, sua vida foi marcada por tormentos posteriores inexplicáveis, caso se imagine que o poder que operava nele fosse algo bom. Segundo conta Milard, “Cayce era um homem forte e robusto, mas morreu na miséria com 27 kg, ao que tudo indica, ‘consumido’ fisiologicamente pelo número excessivo de preleções mediúnicas que realizou. Os males que as atividades de Cayce lhe causaram foram diversos, como ataques psíquicos a incêndios misteriosos, perda periódica, mudanças erráticas de personalidade, tormentos emocionais, constante ‘má sorte’ e reveses pessoais, assim como culpa induzida por preleções mediúnicas que arruinaram a vida de outras pessoas”.8
Existe, ainda, a questão da verdade. As ações de Deus produzem bons frutos, tanto no sentido de ajudar definitivamente as pessoas quanto nas questões destas se aproximarem mais de Deus. Deuteronômio 13.1-6, já citado, mostra que alguém poder realizar um sinal ou prodígio, até mesmo um sonho revelador, e com isso ganhar crédito para levar as pessoas para longe do Deus verdadeiro, envolvendo-as em práticas escusas. E 2Tessalonicenses 2.9, também já citado, diz que Deus permite a operação do erro para que as pessoas creiam na mentira, uma vez que não aceitaram o amor à verdade para se salvarem.
Hoje, aquilo que se chama de poder mental busca tão-somente a glorificação do homem, a exaltação do ego, a negação das verdades bíblicas. “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16). Não procedem de Deus e, por isso, não levam o homem para mais perto dele. Tornaram-se mais um incentivo à antropolatria9, além dos já existentes.
Poderes involuntários
Cabe-nos também tentar fornecer uma explicação sobre as pessoas que apresentam fortes poderes psíquicos, sem que tenham se envolvido com qualquer prática oculta ou mesmo sem qualquer envolvimento religioso. Para alguns, isto nada mais é do que uma prova de que algumas pessoas podem possuir poderes “mentais” inatos. O “dom”, neste caso, seria involuntário ao possuidor.
Temos, porém, um caso nas Escrituras em que uma criança, desde cedo, fora atormentada por espíritos malignos (Mc 9.21). Mesmo que não saibamos porque ela começou a manifestar aquele espírito, é óbvio que não foi uma escolha sua. Foi algo involuntário. Mas nem por isso deixou de ser algo demoníaco (Mc 9.25).
Embora saibamos que tal manifestação era algo obviamente mal, não podemos esquecer, no entanto, que tais pessoas eram vistas pelo paganismo antigo como especiais, sendo utilizadas, muitas vezes, como oráculos dos deuses. Até hoje certas culturas veneram crianças e adultos possessos por acreditarem tratar-se de pessoas especiais. É bem possível que a jovem de Filipos estivesse na mesma situação (At 16.16-19).
Parapsicologia não é ciência
Observe agora o que afirma certo estudioso crítico quanto à parapsicologia.
A parapsicologia é uma disciplina que se enquadra dentro das pseudociências. Tem a duvidosa honra de ser a única pseudociência experimental, embora -a rigor- é difícil chamar de experimento um teste de parapsicologia. Os fenômenos parapsicológicos ou fenômenos “psi” foram arbitrariamente divididos em:
· Telepatia, ou captação do conteúdo mental de outra pessoa.
· Clarividência, ou captação extra-sensorial de um objeto ou acontecimento objetivo.
· Precognição, ou captação extra-sensorial de acontecimentos futuros.
· Psicocinese, ou influência da mente sobre a matéria.
Os três primeiros pertencem à mal chamada percepção extra-sensorial, e o último engloba o grupo de fenômenos “físicos”. A parapsicologia concebe a mente como uma entidade separada do corpo e, em alguns casos os parapsicólogos afirmam que os fenômenos não pertencem ao âmbito do mental, pondo a “psi” em um nível que estaria “mais além do psíquico ou mental”.
Os fenômenos psi seriam:
a) independentes do espaço e do tempo;
b) erráticos, ou seja, não se pode saber quando vão apresentar-se;
c) involuntários; e
d) inconscientes. Vejamos.
a) Ao serem independentes do espaço e do tempo, violam várias leis físicas, mas os parapsicólogos -em vez de duvidar da existência de um fenômeno tão peculiar- sustentam que é preciso reformar toda a física para que psi possa ser explicada (quando nem sequer está demonstrado que exista).
b) Com a desculpa da erraticidade, os parapsicólogos podem explicar seus fracassos dizendo que “como é errático, o fenômeno esta vez não se apresentou”. Quando obtém um resultado positivo dizem “esta vez se apresentou”. Isto é equivalente a afirmar que um remédio para a dor de cabeça deu resultado depois que a dor passou. Se a dor não passa, então se recorre à explicação seguinte: algo inibiu o efeito do remédio, a concentração dos componentes não era a correta, o paciente não estava predisposto, etc, etc.
c) Estes pretensos fenômenos não se podem manejar à vontade, de maneira que não se pode propor produzir um fenômeno quando se deseje, em qualquer momento ou lugar. Esta vulgar desculpa é também frequentemente usada pelos supostos “mentalistas”, “videntes”, etc., quando a colher não se dobra ou as cartas não se acertam.
d) Outra característica -dizem os parapsicólogos- é que os fenômenos psi são inconscientes. Não se sabe quando nem como se experimenta a telepatia ou a clarividência. Às vezes pode-se perceber algo extra-sensorialmente e “transformá-lo” em uma sensação de tristeza, alegria, dor, sem dar-se conta de que se trata de um fenômeno psi genuíno. Com o mesmo rigor podemos dizer que temos um dragão verde dentro de nossa cabeça, só que o dragão dá um jeito para desmaterializar-se cada vez que nos tiram uma radiografia, ou se “transforma” em uma sensação de calor, ansiedade, etc, etc.
Como vemos, a parapsicologia ignora a física, a biologia, a psicologia científica e todo e qualquer conhecimento que provenha da ciência. Não possue uma teoria que explique satisfatoriamente como um ente imaterial (psi) pode interagir com um sistema material (o cérebro). Tentou-se correlacionar os fenômenos psi com diversos aspectos: a personalidade, a atitude crédula ou incrédula, os estados alterados da consciência, a idade, o sexo, e se utilizou uma grande gama de instrumentos para levar a cabo investigações delineadas para pôr à prova a hipótese da existência de psi.
Fica ridículo começar a correlacionar a psi com qualquer característica ou habilidade se ainda não se provou sequer sua própria existência. Por isso dizemos que a parapsicologia não faz experimentos propriamente ditos. Primeiro deveria provar que a variável crucial psi existe. De igual maneira poder-se-ia propor a existência dos duendes plutonianos, os quais são invisíveis, erráticos e independentes do espaço e do tempo e começar a correlacionar sua presença com o estado de ânimo das pessoas, a personalidade, etc., sem corroborar primeiro que realmente existam.
Pelo que se vê, a parapsicologia está longe de transformar-se em uma ciência, apesar de que os parapsicólogos falam de “parapsicologia científica”, ou “nova ciência”. Mais de 100 anos de pesquisas não conseguiram provar um só fenômeno psi. Foram feitos testes com animais, com plantas, com material subatômico, com cartas, desenhos, estados alterados de consciência, drogas, etc. Foram publicados experimentos assombrosos, mas quando se tentou repeti-los, o resultado foi o fracasso, com as consequentes desculpas pseudoexplicativas. As mais prestigiosas revistas dedicadas à parapsicologia deveriam publicar os milhares e milhares de testes que produziram resultados negativos para a hipótese psi.
Tendo em conta as objeções precedentes, devemos agregar a fraude, seja ela por parte dos investigadores ou pelos sujeitos “dotados” ou “sensitivos” que fazem trapaça durante os experimentos. Vários ilusionistas peritos têm recomendado que um mágico experimentado se encontre presente quando se faz uma investigação com sujeitos como o famoso Uri Geller, tão propensos à fraude. E o panorama desalentador se completa mencionando os delineamentos experimentais defeituosos, as análises estatísticas errôneas e outras falhas do gênero.
Será preciso agregar algo mais para percebermos que a parapsicologia é uma pseudociência?