Nas primeiras horas de 7 de dezembro de 1946, quando ainda estava escuro, um incêndio violento irrompeu no Hotel Winecoff, na Rua Peachtree, em Atlanta, capital da Geórgia. Antes que as últimas labaredas houvessem sido apagadas, havia morrido grande número de homens, mulheres e crianças. A maioria não morrera queimada, mas quando procurava desesperadamente fugir. Muitos saltaram de janelas bem acima do solo, tomados pelo pânico e morrendo na queda. Outros foram sufocados pela fumaça e calor enquanto procuravam achar uma saída. Para todos eles, entretanto, fora tarde demais. Haviam simplesmente acordado tarde demais para fugir ao horror daquele edifício em chamas de quinze andares, e morreram procurando um modo de sair dali.
Hoje em dia, com o mundo em chamas, em todos os continentes e países existem os que procuram uma saída. Na verdade, estamos na Era da Procura. Em todos os setores da vida o homem procura a verdade. Recentemente, os Estados Unidos mandaram ao espaço exterior um foguete chamado “O Descobridor” (The Discoverer) a fim de procurar a verdade científica. Assim como o homem está procurando a verdade científica, está procurando também soluções, panacéias, significados, remédios para suas necessidades espirituais mais profundas. Nessa procura o homem emprega a sabedoria que acumulou do passado.
O presidente dos Estados Unidos estabeleceu há pouco tempo um serviço singular para o governo, no qual instalou um “homem de pensamento”, cuja função única é oferecer idéias novas para serem examinadas. A indústria compreende que o amanhã começa hoje e as transformações se efetuam com tamanha rapidez que os homens têm de projetar o pensamento num futuro de um decênio ou mais, a fim de se manterem a par do progresso. Para conseguir isso, a indústria depende do “planificador comercial”, cujo trabalho é pesquisar e sondar, descobrir e planejar. A sua responsabilidade maior é responder à pergunta: “De que se trata?” Todo esse planejamento, pensamento e elaboração de idéias é bom, mas que dizer das grandes questões da vida e da morte? Não existem perguntas morais e espirituais profundas, que reclamam resposta? O homem sempre pensou assim e por isso temos filósofos, psicólogos e teólogos. Hoje em dia, entretanto, grande parte de nossa procura é materialista, naturalista e humanística.
Um professor da Universidade de Michigan me declarou:
– Assim que tivermos criado a vida num tubo de ensaio, não precisaremos mais de Deus.
Ao que respondi:
– Isso já aconteceu certa vez, quando o homem eliminou Deus e propôs a construção da Torre de Babel. Terminou em frustração, confusão e julgamento.
Numa reunião efetuada em Harvard, um estudante observou:
– Não parece estranho que se gastem milhões de dólares na tentativa de criar a vida, ou descobrir sua origem? Não é nosso problema número um cuidarmos da vida que já temos aqui?
Ou o homem não teve origem em lugar algum e está procurando para onde ir, ou então teve origem em alguma parte, e perdeu o caminho. Em qualquer dos casos, está buscando e procurando. A Bíblia nos conta que o homem começou à imagem de Deus e perdeu o caminho. Uma boa indicação do problema humano de hoje é o aviso visto na traseira de um automóvel, onde se lê: “Não me siga, porque estou perdido.”
Carl Jung, o eminente psicólogo, disse em certa ocasião: “O homem é um enigma para si próprio.”
Dentro de todos os homens existe um certo sentimento de frustração, e nos recessos de sua alma há um eco de vozes, que diz: “Eu não devia ser como sou. Fui feito para coisa maior. Deve haver um ser supremo. A vida não se destina a esse vazio.” Tais vozes, muitas vezes subconscientes e sem articulação, levam o homem a marchar à frente, lutando, em direção a alguma meta desconhecida e sem nome. Podemos tentar esquivar-nos a essa busca, fazer um desvio que nos leve à fantasia, voltar aos níveis inferiores da vida e procurar fugir a essa tarefa difícil. Na verdade, podemos até desistir temporariamente, levantar os braços em desânimo, e perguntar: “Que adianta?” Mas sempre há algum impulso íntimo que nos leva de volta, e invariavelmente retomamos a procura.
Em todas as culturas os homens se acham empenhados nessa procura eterna. Parte de meus estudos universitários se dedicou à Antropologia, onde se estudavam as sociedades primitivas. Nunca pudemos encontrar qualquer tribo, em parte alguma do mundo e por mais primitiva que fosse, que não estivesse empenhada nessa busca. É a procura da verdade e da realidade. Pode ser grosseira, primitiva ou mesmo vulgar, mas ainda assim é parte da busca!
Estou convencido de que as desordens públicas, arruaças e, muitas vezes, os crimes dos jovens são sintomas dessa busca. O capelão de uma grande universidade no leste dos Estados Unidos foi quem me narrou, falando sobre um grupo de estudantes que viera ter com ele um dia, para lhe dizer: “Queremos fazer uma manifestação a favor de alguma coisa, mas nada encontramos que valha a pena!” Quando observei manifestações efetuadas por diversas causas, sempre pude ver “a procura” escrita nos rostos dos manifestantes.
Na portada do Hotel Ucrânia, em Moscou, estive sentado ao lado de um homem que parecia importante. Foi um dos homens mais cordiais que conheci na Rússia, e falava muito bem o inglês. Começamos a conversar, de início sobre as condições do tempo, depois sobre os Sputniks, e finalmente ele disse:
– Atravessei duas guerras, vi muitas transformações, mas resta uma coisa que ainda não mudou.
– E qual é ela? – indaguei, curioso.
– O coração do homem – respondeu ele, batendo no peito. – Seja qual for a forma de governo ou ideologia que abracemos, o coração sempre procura a paz.
Da selva até à universidade, falei com gente de todos os continentes, de comerciantes a soldados, e sempre, por toda a parte, encontrei os fenômenos milenares, o mistério do anthropos, o “que olha para cima”, buscando, sondando, indagando à busca do sentido mais profundo da vida, que muitas vezes se encontra oculto.
O dono de um luxuoso hotel balneário na praia de Miami confidenciou-me um dia:
– Billy, tendo tudo quanto um homem pode ter, materialmente. Pensei que havia conseguido realizar-me de todo, mas ultimamente me vejo farto de tudo isso. Sempre desejei ter essas coisas, mas agora que as possuo, parecem-me menos do que pensei que fossem. Acredito que a vida seja mais do que isso.”
Tinha razão, e foi Jesus quem disse: “A vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lucas 12:15).
Quando estive na Índia, um hindu me declarou: “Preciso de alguma coisa aqui!” Dizia isso e batia no peito, sobre o coração. É esse o grito de todos os homens, em todos os tempos: “Preciso de alguma coisa aqui!”
Ao final da Primeira Guerra Mundial, julgamos ter encontrado as respostas. A ciência afirmou sua posição, e a “guerra, para acabar com as guerras” terminara. Criara-se a Liga das Nações, e o progresso se tornou um deus daquela época. Por toda a parte reinava o otimismo, mas ainda não havíamos chegado a 1930 e já parecia que a história fora invertida. Aumentava o crime, decaía a moralidade, esmaecia a fé. Em seguida, veio a Depressão Econômica, surgiram o fascismo e o nazismo, explodiu a bomba atômica – e milhões de seres humanos acabaram morrendo na mais sangrenta guerra de toda a história humana. Quando tudo aquilo terminou, despertamos sentindo na boca e cabeça a ressaca chamada “o equilíbrio do terror”.
O HOMEM EXAMINA A SI PRÓPRIO
Enquanto o Ocidente se embalara e adormecera com a doutrina confortável das realizações humanas, uma grande revolução se processara na Rússia. O martelo bateu e a foice ceifou até que uma nova ordem social chamada “comunismo” aparecesse como uma das ideologias mais poderosas de todos os tempos. Contestava todos os conceitos já sustentados pelo homem e ameaçava a vida do mundo inteiro. Tornou-se o maior desafio já enfrentado pelo cristianismo, em dois mil anos de existência, e logo se reconhecia que o comunismo era multo mais do que mero determinismo econômico. Era uma religião fanática, que fazia perguntas e exigia respostas. Por todo o mundo, os estudantes e estudiosos começaram a fazer perguntas, como nunca tinham sido feitas antes.
Mais uma vez, o homem se viu forçado a examinar sua alma. As perguntas que julgávamos respondidas eram novamente formuladas. O que é o homem? De onde veio? Qual o seu destino neste planeta? Para onde vai? Existe Deus? Se existe, revelou-se ao homem? O homem pode conhecer Deus? Deus tem importância no plano da vida diária e comum? Deus tem, realmente, qualquer importância em nossas vidas? Faz alguma diferença?
O Dr. Jung afirmou que “a neurose central de nossa época é a vacuidade”, e pondo em ação suas palavras abraçou o cristianismo para preencher o vazio de sua própria vida. Aqui e acolá, outros intelectuais decepcionados com as metas rasteiras de uma sociedade materialista começaram a examinar a alma. Muitos se voltaram para um livro antigo, chamado Bíblia. Milhares se arrebanharam sob diversos messias e outros recorreram às drogas que permitiam uma fuga, tais como o DMT, o UM-491, o LSD-25 e o CI-395. Outros, ainda, ingressaram em cultos estranhos. Ainda assim, foram inúmeros os que começaram a descobrir respostas, mediante a renovação da fé que seus pais haviam cultivado.
Por toda a parte as pessoas estão procurando alguma coisa que dê resultado. Gostaríamos de nos salvar, pois isso faria bem à nossa vaidade e orgulho. O nosso amor-próprio é fortalecido quando acreditamos que podemos arranjar-nos independentemente de Deus. Como Lúcifer, dizemos: “Serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías, 14:14). O poder destruidor do orgulho está em não reconhecermos coisa alguma acima de nós próprios. Devido a um defeito inerente a nossa natureza, o homem inclina-se para o lado do erro. Em nosso desejo intencional de viver independentemente de Deus, cortamos o elo que nos prendia à fonte de toda a vida, separamo-nos da única esperança.
Jamais uma geração foi levada a sofrimento mais intenso, a maiores dificuldades, dores e desespero do que a nossa. O medo que paralisa, a dor que estonteia, a guerra que devasta, a morte trágica, o pessimismo intelectual, tudo isso nos assalta porque o homem, em seu orgulho, recusa voltar-se para Deus! Lembramo-nos das palavras de Jesus, que disse: “Não só do pão vive o homem” (Mateus 4:4). O homem é constituído de tal modo que não pode subsistir sem Deus. Não lhe bastará a prosperidade material: precisamos ter Deus. Penetrar no espaço exterior, pausar na Lua ou em Marte, por mais emocionante e grandioso que isso possa ser, não satisfará a fome íntima do homem. Ele precisa ter Deus! Mais tempo de lazer, viver em lares confortáveis, dirigir automóveis de grande força mecânica, dispor de televisão em cores, tudo isso não constitui a solução. O homem precisa ter Deus!
Ao final de sua vida, Buda declarou: “Ainda estou procurando a verdade.” Essa afirmação poderia ser feita por inúmeros milhares de cientistas, filósofos e chefes religiosos de toda a história. Jesus Cristo, no entanto, fez a afirmação espantosa: “Eu sou a verdade” (João 14:6). Ele é a corporificação de toda a verdade, e a única meta para a procura humana se encontra nEle.
FÉ VERSUS INTELECTUALISMO ORGULHOSO
Não bastará também mantermos uma atitude analítica para com Deus. Vivemos numa época em que o destaque maior se confere ao intelectualismo soberbo. A Bíblia ensina que, por intermédio do saber, o homem não poderá encontrar Deus. Foi Jó quem fez a pergunta: “Porventura… penetrarás até a perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11:7). Note-se que Jó não perguntou: “Não poderás, pela procura, encontrar Deus?” Jó dizia que um homem, com sua capacidade mental limitada, nem sequer pode medir e compreender a imensidade de Deus. É possível encontrar Deus, mas é impossível “descobrir” a infinidade da imensidade de Deus. Em outras palavras, o homem gostaria de pôr Deus dentro de um laboratório, contê-Lo nos limites do seu pequeno cérebro. Está claro que tal empresa é impossível. Nem sequer podemos provar-Lhe a existência, mas sabemos Ele existe.
Jamais se poderá reduzir o cristianismo à razão, apenas. Esta é uma das minhas divergências com alguns teólogos, que tentam reduzir todo o conteúdo da fé cristã a um exercício de ginástica intelectual. Se o homem quiser encontrar Deus, deverá apresentar-se com uma fé simples e infantil, e em completa dependência de Sua Palavra revelada. A palavra “fé” é empregada 92 vezes no Evangelho de João, indicando parte do grande destaque que a Bíblia lhe confere.
Tenho um amigo que jurou, durante seus estudos superiores, tornar-se milionário antes de chegar aos 25 anos de idade, e atingiu seu objetivo com pouco esforço. Tornou-se vitorioso homem de negócios, alcançara sua meta, casara-se com uma bela mulher e podia dizer: “Tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come e bebe, e regala-te” (Lucas 12:19). No entanto, ele e a mulher sentiam-se mal em meio à sua opulência. Levados pela curiosidade, vieram a uma de nossas reuniões e responderam ao apelo para que recebessem Jesus Cristo. Cristo exigia uma decisão, um salto, uma escolha! Eles deram esse salto, e hoje são duas das criaturas mais radiosamente felizes que conheço.
A REVOLUÇÃO SEM SANGUE
Está-se processando em nossos dias uma revolução silenciosa e sem sangue. Ela não se apresenta com fanfarras, cobertura jornalística ou propaganda, mas está transformando o curso de milhares de vidas. Está restituindo o propósito e significado à vida de homens de todas as raças e nacionalidades, que encontram a paz com Deus.
O Dr. Fred Smith foi um dos maiores bioquímicos do mundo. Educado na Grã-Bretanha, e professor na Universidade de Minnesota até sua morte, que ocorreu há pouco tempo, o Dr. Smith veio a uma de nossas reuniões para “ver o espetáculo”. Por meio da ciência, estivera procurando as respostas para as perguntas mais profundas de seu coração e naquela norte, depois de uma mensagem simples, encontrou o que procurava.
É neste ponto que a narrativa sobre o incêndio no hotel de Atlanta deixa de servir como exemplo, pois existe um modo de escapar. A garantia e a segurança estão ao alcance de todos aqueles que procuram. O homem jamais precisa saltar afoitamente para a destruição certa para escapar aos problemas deste mundo, pois a despeito de os filósofos modernos dizerem que não há saída, Jesus Cristo continua acenando a todos os que procuram e continua a dizer “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6).
Meu amigo, o Dr. Kenneth L. Pike, professor de Lingüística na Universidade de Michigan, escreveu um livrinho penetrante, intitulado With Heart and Mind (De Coração e Vontade), e num de seus capítulos, chamado “Receita Para Intelectuais”, ele afirma: “Aquele que caiu, afastou-se e quer ser purificado, perdoado e reabilitado não precisa de grande compreensão de como lhe vem a ajuda pedida; precisa apenas da ajuda, e bem depressa.”
Quando nos estamos afogando, só gritamos uma palavra: “Socorro!” Nesse momento, não tentamos raciocinar para saber como chegamos àquela situação de perigo. Sabemos que precisamos de ajuda, gritamos por ela e nos agarramos a qualquer coisa que apareça. Isso é tudo que faz a pessoa que “caiu”, estando indefesa e sabendo disso. Não é preciso conhecer a filosofia do cristianismo para conseguir ajuda, pois as Escrituras dizem: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo” (Romanos 10:13).
O Dr. Pike, no entanto, mostra que o mesmo não acontece ao intelectual que já tem sua estrutura mental formada logicamente, como um sistema coerente com todas as peças ajustadas uma à outra num mosaico claro, de modo que a remoção de uma dessas peças destrói o desenho geral. O intelectual acha que deve ser capaz de compreender, antes de ir ter com Cristo. O intelectual não consegue estender o braço e segurar-se à mão que ajuda, porque precisa ter toda a situação explicada em termos de seu sistema de pensamento. Quer conhecer a fonte daquela ajuda, quem o está auxiliando, pois já se comprometeu com um conjunto de hipóteses rígidas que julga abarcar tudo. Do seu ponto de vista, seu sistema é completo.
Também Nicodemos foi intelectual, e também ele dispunha de um sistema filosófico e teológico bem rígido, já elaborado, e devemos notar que se tratava de um bom sistema! Chegava a incluir a crença em Deus. A estruturação mental de seu sistema religioso e filosófico não dava lugar a Jesus como Filho de Deus.
Mas o que disse Jesus a esse intelectual? Disse-lhe coisa assim: “Nicodemos, lamento não poder explicá-lo a ti. Viste algo que te perturba, viste algo que não se ajusta, a teu sistema. Viste-me sendo bom e ouviste-me dizer que sou Deus, que ajo com o poder de Deus. Isto não se ajusta a teu sistema, mas não posso explicá-lo a ti, porque tuas suposições não dão lugar a um ponto de partida. Nicodemos, para ti isso não é lógico. Em teu sistema, nada o permite. Lamento não poder explicá-lo. Tu terás simplesmente que nascer de novo” (João 3:1-5).
Em outras palavras, Nicodemos tinha de começar sem, ao menos, ser lógico em seu próprio ponto de vista. Tinha de começar sem ajustar o que Jesus dissera a seu sistema. Tinha de dar um salto, tocado pela fé, passando ao novo sistema.
Se você quer achar a resposta para sua procura, também terá de rejeitar grande parte de seu antigo sistema e entrar nesse novo sistema. Como diz o Dr. Pike, “ao intelectual não se precisa dizer que todo o seu sistema deve ser substituído… que ele terá de nascer de novo. O cristianismo não é um acréscimo, não é coisa que se adiciona ao existente. É uma visão total e nova, que não se satisfaz com menos do que a penetração nos recantos mais profundos da mente e da compreensão”.
Extraído do livro “MUNDO EM CHAMAS”, BILLY GRAHAM