Os mórmons e o Espírito Santo

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Nenhum aspecto da doutrina cristã requer estudo mais cuidadoso e maior discernimento do que o assunto da Pessoa e obra do Espírito Santo.

O pecado que não será perdoado, no exemplo em que o Senhor Jesus ensinou sobre o assunto, é especificamente a blasfêmia contra o Espírito Santo. No caso em apreço, os críticos do Salvador diziam que Ele expulsava demônios pelo poder de Belzebu. Isso, no dizer de Jesus, era blasfêmia contra o Espírito Santo (Mateus 12.21-32).

A fim de estabelecer um padrão de confronto pelo qual possamos avaliar o conceito dos mórmons, faremos a seguinte declaração que, segundo nos parece, contentará a todo cristão realmente ortodoxo.

  1. O Espírito Santo é identificado nas Escrituras como possuidor de personalidade distinta e não como mera “influência”.
  2. Faz-se referência ao Espírito Santo na terceira pessoa, no gênero masculino singular ‘Ele’ etc. (João 14.17; 15.26; 16.24).
  3. Ananias mentiu ao Espírito Santo (Atos 5.3-4). Ora, não se pode mentir a uma influência.
  4. O Espírito Santo deu ordem para a separação de Barnabé e Saulo (Atos 13.2). Uma influência não podia fazer isso.
  5. O Espírito Santo é identificado, em sua relação com a Trindade, como co-igual e coeterno com o Pai e o Filho (Gênesis 1.1-26; 11.7; Isaías 6.8; 48.13-16; Mateus 3.16; 28.19; João 15.26; IICoríntios 13.14; Efésios 2.18; Hebreus 9.14; IJoão 5.7).
  6. O Espírito Santo é identificado como possuidor dos atributos da Divindade, a saber:
  7. a) Eternidade — Hebreus 9.14;
  8. b) Onipotência — Salmo 104.30;
  9. c) Onipresença — Salmo 139.7;
  10. d) Onisciência — Isaías 40.13; ICoríntios 2.10-11.
  11. Quanto à obra ou ministério do Espírito Santo, a Bíblia indica o seguinte:
  12. a) O Espírito Santo é o autor da Palavra de Deus (IIPedro 1.21; IITimóteo 3.16);
  13. b) O Espírito Santo é o “arquiteto” do universo (Gênesis 1.2-3,26; Jó 26.13; SaImo 104.30);
  14. c) O Espírito Santo é o agente da Trindade nos tratos de Deus com o homem:
  1. d) O Espírito Santo é o autor do novo nascimento:
  1. e) O Espírito Santo ativa e comissiona os crentes individualmente ou, na qualidade de igreja, coletivamente:

Poderíamos continuar sem fim esboçando os diversos aspectos da Pessoa e obra do Espírito Santo, mas o que vai acima é suficiente para o confronto dos conceitos cristão e dos mórmons. Examinemos agora o ponto de vista dos mórmons.

O primeiro item da declaração doutrinária dos mórmons afirma simplesmente: “Cremos em Deus o Eterno Pai, em seu Filho Jesus Cristo e no Espírito Santo”. Isso pode significar tudo. Em Doutrina e Convênios, lemos o seguinte: “O Pai tem corpo de carne e ossos, tão palpável quanto do homem, e o Filho também: mas o Espírito Santo não tem corpo de carne e ossos, pois é personagem de espírito” (Doutrina e Convênios 130.22).

Alguns dos expositores entre os mórmons tinham convicções variáveis sobre a identidade do Espírito Santo como Pessoa, o que se vê nos seus escritos. Orson Pratt comenta:

“Sou inclinado a pensar, através de algumas coisas nas revelações, que exista um ser pessoal como seja um Espírito Santo pessoal, porém não está demonstrado como fato positivo, e o Senhor nunca me deu nenhuma revelação sobre o assunto; por conseguinte não posso chegar a uma conclusão definida” (Orson Pratt, Journal of Discourses, vol. II).

O conceito de Orson Pratt, em suas expressões posteriores, veio a conformar-se com o de seus contemporâneos. Uma de suas declarações ulteriores reza assim:

“Duas pessoas não podem receber a um só tempo as mesmas partículas exatas desse espírito: portanto, uma parte do Espírito Santo repousará sobre um homem e outra parte sobre outro” (Orson Pratt, Absurdities of Materialism (panfleto) p.24).

Os mórmons sempre se referem ao Espírito Santo, em inglês, com o pronome neutro (ou seja, como sendo uma coisa e não uma pessoa), e da maneira mais casual. Ouvi um sacerdote mórmon de Melquisedeque comentar que Satanás faz uso do Espírito Santo, usando o poder dessa “coisa” de modo perverso. Parley Pratt, irmão de Orson, expressa o assunto de modo que reflete o pensamento dos doutrinadores dos mórmons. É aceito por todo mórmon como ensino ortodoxo. Parley Pratt diz:

“Esta substância, como todas as demais, é um dos elementos da existência material ou física e, portanto, sujeita às leis indispensáveis que governam toda a matéria. Como todas as demais matérias, seu todo é composto de partículas individuais. À mesma semelhança, cada partícula ocupa espaço, possui a faculdade do movimento, precisa de tempo para locomover-se de um lugar a outro e de modo algum pode ocupar dois espaços ao mesmo tempo. Nesses particulares, em nada difere de toda a outra matéria. Penetra os poros das substâncias mais sólidas, penetra o organismo humano até o mais recôndito, discerne os pensamentos e intentos do coração. Tem a faculdade de locomover-se através do espaço com velocidade inconcebível, muito em excesso dos movimentos lentos da eletricidade ou da luz física. Compreende passado, pre­sente e futuro em toda sua plenitude. É dotado de conhecimento, sabedoria, verdade, amor, caridade, justiça e misericórdia em todas as suas ramificações” (Parley P. Pratt, Key to the Science of Theology, p.39-40).

Os mórmons negam que o Senhor Jesus tenha sido concebido no ventre da Virgem Maria pelo Espírito Santo. Joseph Smith lançou os fundamentos dessa doutrina quando estabeleceu Adão como divindade (Doutrina e Convênios, 27.11; 78.16; 107.54 e 116.1).

Brigham Young segue logicamente ao declarar:

“Quando a Virgem Maria concebeu o menino Jesus, o Pai o tinha gerado à sua própria semelhança. Não foi gerado pelo Espírito Santo. Quem então é seu pai? É o primeiro da família humana — lembrai-vos, pois, de agora em diante e para todo o sempre, que Jesus Cristo não foi gerado pelo Espírito Santo” (Brigham Young, Journal of Discourses, vol. I, p. 50-51).

Que contraste se observa entre as opiniões blasfemas dos mórmons e as declarações cristalinas das Escrituras! O Evangelho de Mateus declara: “Eis que lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor, dizendo: não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mateus 1.20).

O Evangelho de Lucas registra: “Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o ente santo que há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lucas 1.35).

A razão pela qual os mórmons deixam de compreender a verdadeira natureza do Espírito Santo como Pessoa, conquanto totalmente não-física, é o seu conceito da Divindade como sendo composta de Pessoas físicas separadas. Eles raciocinam assim: Se Deus Pai e Jesus Cristo seu Filho são “personagens de carne e ossos”, como pode uma Pessoa da Divindade ser puramente espírito e ainda ser uma Pessoa? Assim o Espírito, no modo de pensar deles, há de ser um elemento que é dispensado, em várias qualidades, a cada indivíduo.

Os mórmons não podem aceitar a doutrina cristã da habitação do Espírito de Deus nas pessoas depois de seu novo nascimento e, ao mesmo tempo, na Igreja de Deus. Não podem conceber o Espírito Santo como sendo residente universal nos crentes. Dizem: “Como pode um Espírito Santo pessoal habitar em diferentes pessoas ao mesmo tempo?” (Orson Pratt, Absurdities of Materialism). Esse mesmo tipo de raciocínio produz o seu conceito de Deus Pai como não sendo puramente “espírito.” Joseph Fielding Smith, comentando a declaração do Senhor Jesus à mulher de Sicar, de que “Deus é espírito” (João 4.24) diz: “Isso eu não creio”.

James L. Barker, em The Divine Church (A Igreja Divina), com esse mesmo conceito limitado, diz: “A afirmativa de que “ninguém jamais viu a Deus” (João 1.18) está em desacordo com outras Escrituras. Ele raciocina que “em semelhantes casos, ou o texto não veio corretamente até o presente, ou foi incorretamente traduzido” (James L. Barker, The Divine Church, p.9).

O insucesso do pensamento dos mórmons com referência à unidade da Trindade e, ao mesmo tempo, a personalidade do Espírito, deve-se ao fato de deixarem de compreender que nem todas as proposições divinas podem ser confinadas dentro dos limites da expressão humana.

Joseph Smith dá a entender, na Pérola de Grande Valor, que uma vez que Deus falava “face a face” com Moisés, então este estava contemplando um personagem físico que possuía olhos físicos! A expressão “face a face” é a figura linguística mais próxima que nossa linguagem fornece para expressar a intimidade de comunhão entre Moisés e Deus! Assim, Joseph Smith teve que rejeitar a declaração posterior em Êxodo 33.20 “Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá a minha face e viverá” como contradição da declaração anterior: “o Senhor falava face a face com Moisés”. A única dificuldade aí é a pobreza da linguagem humana, ou antes, a incapacidade de Smith para compreender o significado da linguagem bíblica e dos valores bíblicos.

Joseph Smith e a maioria dos mórmons fazem questão de confinar sua interpretação de determinadas passagens bíblicas dentro dos limites da semântica do inglês da versão de 1611.

Continua…

Por Gordon H. Fraser

Tradução de W. J.Goldsmith

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