“Que pensais de Cristo?” é ainda o teste supremo do Cristianismo ortodoxo. O Senhor aceitou a confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, e sobre a base dessa confissão levantou a estrutura da Igreja” (Mateus 16.13-18).
O Espírito Santo inspirou o discípulo amado a escrever as palavras que declaram, em termos inequívocos, os fatos da eterna divindade de nosso Senhor. O Evangelho de João apresenta-o como a Palavra de Deus, co-igual e coeterno com o Pai, e como Aquele por cujo intermédio todas as coisas foram criadas (João 1.1-3). O mesmo Evangelho apresenta o fato da Encarnação como sendo o passo mediante o qual a Divindade assumiu o véu da carne humana, a fim de que Ele revelasse a mesma Divindade em termos ao alcance da compreensão humana. Tendo feito isso, Ele ofereceu-se como o Substituto único pelo homem perdido, que seria aceitável para a redenção do homem diante de Deus (João 1.9-14). O próprio Jesus proclamava sua divindade.
Falando aos judeus no Templo, Ele afirmou ser o Eterno que existia antes de Abraão, dizendo: “Antes que Abraão existisse, Eu sou” (grego: ego eimi) (João 8.56-58). Empregando essa forma do verbo ser, Ele se identifica com Aquele que se revelou a Moisés como sendo o que existe por si. Foi quem instruiu a Moisés, quando lhe apareceu na sarça ardente, para que dissesse ao povo israelita: “EU SOU me enviou a vós outros” (Êxodo 3.14). Assim, Aquele que falou aos judeus na festa dos tabernáculos foi o mesmo que falou com Moisés e se identificou como o Eterno, ou seja, Jeová.
Quando discorreu no cenáculo, Jesus identificou-se como sendo Um com o Pai. Disse: “Quem me vê a mim, vê o Pai” (João 14.7-11) Em sua grande oração sacerdotal Jesus alegou preexistência e co-igualdade com o Pai ao dizer: “Glorifica-me, ó Pai, com a glória que Eu tive junto de ti antes que houvesse mundo” (João 17.5).
Ao declarar a razão de ter escrito seu Evangelho, João afirma: “Estes (sinais) foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20.31).
Com referência à varonilidade de Jesus, a Bíblia declara que Ele foi gerado pelo Espírito Santo e nascido de mãe virgem (Mateus 1.20-21; Lucas 1.35). A Bíblia ensina sua impecabilidade, afirmando que Ele “não cometeu pecado” (1Pedro 2.22) “não conheceu pecado” (2Coríntios 5.21) e “nele não existe pecado” (1João 3.5).
A Bíblia ensina que sua morte foi voluntária. Jesus declarou: “Eu dou a minha vida para a reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, Eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la” (João 10.17-18).
A Bíblia ensina que Jesus ressurgiu dentre os mortos sem ver a corrupção (Atos 2.27; 13.35-37). Ensina que Ele ressuscitou fisicamente. Ensina que sua ressurreição é a evidência da validade de sua obra de redenção, e que somente através de sua ressurreição é que se nos garante a salvação da pena do pecado (1Coríntios 15.1-14; Romanos 4.25).
Nós não hesitamos em afirmar que em cada uma dessas asserções Jesus Cristo é único. Afirmamos mais, que cada uma dessas verdades é vital e central nos ensinos do Cristianismo ortodoxo.
De um modo ou de outro, os mórmons negam todas essas proposições. Negam que “a Palavra” (o Verbo), que se fez carne, fosse único em sua eternidade e co-igualdade com Deus, fazendo dele apenas um dos espíritos de homens, deuses e demônios que existiram co-igual e coeternamente com Deus.
As seguintes declarações, colhidas entre muitas, serão suficientes para documentar a posição dos mórmons:
“O homem é um espírito revestido de um tabernáculo, cuja parte inteligente nunca foi criada ou constituída, mas existe eternamente — o homem também estava no princípio com Deus” (J. F. Smith, Progress of Man, p. 9-11).
“Ele (o homem) existia antes de vir para a terra: Ele estava com Deus “no princípio.” O destino do homem é divino. O homem é um ser eterno. Ele também é “de eternidade a eternidade” (John A. Widtsoe, Varieties of American Religion, p. 132).
“Jesus Cristo não é o pai dos espíritos que tomaram ou tomarão corpos para si, pois Ele mesmo é um deles. Ele é o filho e eles são os filhos e filhas de Elohim” (James E. Talmage, p.473).
“Temos uma sucessão de deuses desde Adão até Cristo (seu filho) e seus apóstolos pelo menos todos os homens, inclusive Jesus Cristo, sendo a imagem de seu pai (dele), e possuindo conhecimento semelhante do bem e do mal” (Richards, Millennial Star, 17.195-6).
“Se eu puder passar adiante do Irmão Joseph, terei boas possibilidades de passar adiante de Pedro, Jesus e os profetas” (Young, Journal of Discourses, p.271).
“Quanto ao Diabo e aos espíritos seus companheiros, são irmãos do homem e também de Jesus e filhos e filhas de DEUS, no mesmo sentido em que nós o somos” (John Henry Evans, An American Prophet, p.241).
“Nada há de impróprio em falar de Jesus Cristo como irmão mais velho do restante da espécie humana” (James E. Talmage, Artigos de Fé, p.473).
Os mórmons ensinam que Jesus foi o filho naturalmente nascido de Adão e Maria:
“Quando a Virgem Maria concebeu o menino Jesus ele não foi gerado pelo Espírito Santo. E quem é seu pai? Ele é o primeiro da família humana” (Young, Journal of Discourses, p.50-51).
“Jesus, nosso irmão mais velho, foi gerado na carne pelo mesmo personagem que esteve no Jardim do Éden” (Young, Journal of Discourses, p.50-51).
Os mórmons crêem que Jesus não era singular em seu nascimento, sua meninice ou varonilidade.
Jesus Cristo, criancinha como todos nós, cresceu e tornou-se adulto, foi cheio de uma substância divina ou um fluido divino, chamado o Espírito Santo, pelo qual ele compreendia e falava a verdade. (25)
Os mórmons nada mais vêem na vida de Jesus do que em qualquer de nós. O ancião B. H. Roberts, em uma nota no Discurso King Follett de Joseph Smith, cita Sir Oliver Lodge como autoridade no assunto:
“Sua humanidade deve ser reconhecida como real e comum — tudo que lhe aconteceu pode acontecer a qualquer de nós. A divindade de Jesus e a divindade de todas as demais almas nobres e majestosas, até onde elas também têm sido influenciadas por uma centelha de Deus, podem ser reconhecidas como manifestações do Divino” (King Follett Discourse, p.11).
Os mórmons não vêem singularidade na ressurreição de Jesus Cristo, a não ser no fato de ter ela precedido outras ressurreições. Nada tem a ver com nossa salvação ou justificação. Pratt, em sua Chave da Ciência da Teologia, afirma:
“Todo homem que fôr finalmente aperfeiçoado por uma plenitude da glória celestial, se tornará como eles (o Pai e o filho) em todos os sentidos: fisicamente, no intelecto, nos atributos e poderes” (Pratt, Chave da Ciência da Teologia, p.32).
Os mórmons ensinam que o homem não é salvo pela obra redentora de Cristo nem pelo derramamento de seu sangue no Calvário. Crêem antes que:
“Os próprios gérmens desses atributos divinos (do Pai e filho), sendo produzidos no homem, geração da divindade, apenas precisam ser cultivados, melhorados, desenvolvidos e elevados através de uma série de mudanças, a fim de chegar à fonte, ao padrão, ao clímax da Divina Humanidade” (Pratt, Chave da Ciência da Teologia, p.32).
Os mórmons crêem que Jesus Cristo foi polígamo. Não há por onde escapar disso. Todo o sistema do progresso mórmon na vida vindoura se baseia na confirmação, por selo, de casamentos na vida presente. Os solteiros, e os casais cujos casamentos não recebem o selo dos dotes do templo, se transformam em anjos. Os que são selados para a eternidade se tornam deuses (Doutrina e Convênios, 132).
Segundo a doutrina dos mórmons (John Henry Evans, An American Prophet, p.241), Jesus Cristo, antes de sua encarnação, não era mais divino do que qualquer de nós. Assim, de acordo com a lógica dos mórmons, se Jesus não foi casado durante sua vida terrena, não podia elevar-se a mais do que um anjo na vida vindoura.
Os mórmons afirmam categoricamente que Jesus se casou em Caná da Galileia. Diz Orson Hyde:
“Se, nas bodas em Caná da Galileia, Jesus foi o noivo e tomou a si Maria, Marta e a outra Maria, isso não nos choca os nervos. Se não houve apego e familiaridade entre nosso Salvador e essas mulheres — altamente correto só na relação de marido e mulher, então nós não temos senso do que é correto” (31)
Mais tarde, falando sobre esse mesmo assunto, Hyde afirma:
“Se ele nunca se casou, sua intimidade com Maria e Marta e com a outra Maria também, a quem Jesus amava, há de ter sido altamente imprópria e incorreta, para não dizer mais” (Orson Hyde, Journal of Discourses, vol. IV, p.259).
Os mórmons ensinam que, antes de sua crucificação, Jesus tinha filhos. É claro que isso segue na linha de raciocínio dos mórmons, pois de outro modo Jesus não podia alcançar a exaltação completa na vida vindoura. Sobre esse ponto ensina Hyde:
“Ter-se-ia Jesus multiplicado e visto sua semente? Conheceu Ele a lei de seu Pai cumprindo-a ou não? Façam os outros o que bem entenderem, mas eu não acusarei nosso Salvador de negligência ou de transgressão, desse ou de qualquer outro dever” (Orson Hyde, Journal of Discourses, vol. IV, p.259).
Em outro sermão, Hyde prossegue:
“Nós dizemos que foi Jesus Cristo que era casado pelo que Ele podia ver a sua semente antes de ser crucificado. Eu direi aqui que o Salvador, antes de morrer, contemplou seus próprios filhos pela carne como nós contemplamos os nossos. Quando Maria veio ao sepulcro, ela viu dois anjos e lhes disse: “levaram meu Senhor ou marido” (Orson Hyde, Journal of Discourses, vol. IV, p.259).
Os mórmons usam o nome de Jesus Cristo no título da Igreja deles, porém qualquer cristão de discernimento perceberá logo que não se trata do Jesus Cristo a quem nós adoramos como Filho eterno de Deus, o qual morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras. O Cristo deles não é esse de quem Pedro declarou: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4.12).
Nem tampouco é deles o Salvador de quem Paulo afirmou: “o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação. Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 4.25 e 5.1).
Continua…
Por Gordon H. Fraser
Tradução de W. J.Goldsmith