Os mórmons e a salvação

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Para o teólogo mórmon, a Salvação é uma proposição puramente hipotética. Uma vez que Deus nada mais é do que um homem exaltado, que passou pelas experiências de uma existência terrena, tal como acontece com todos os homens, não existe a necessidade de brindar-lhe com os atributos de absoluta justiça e santidade.

Uma vez que Jesus Cristo é simplesmente mais um dos filhos de Deus, tal como nós somos, Ele perde seu caráter de Deus Filho. Nada permanece de singular ou ímpar em sua Pessoa e obra.

Uma vez que o homem não é pecador por natureza, e que seus pecados podem ser anulados pelo batismo com água com a idade de oito anos, não há grande motivo para o homem incomodar-se com o pecado, que não traz consigo qualquer penalidade especial. Infelizmente, porém, para os mórmons, a questão do pecado não pode ser liquidada com tamanha facilidade.

A atitude de Joseph Smith para com o pecado e a salvação é bem expressa por Werner, que diz: “Em sua juventude, Joseph Smith sentia-se dividido entre o medo de não ser salvo eternamente e o desejo de gozar a vida de dia a dia. Para sorte de seu ssossego de espírito, ele pôde conciliar os dois sentimentos, conseguindo sua própria nomeação por Deus para gozar a vida” (Morris Robert Werner, Brigham Young, A Biography, p.63).

Na filosofia mórmon, a Salvação nada mais é do que a preparação, por meio do progresso pessoal na vida presente, para uma vida física expandida na vida futura e que não leva consigo os distúrbios da presente.

Praticamente não há diferença entre as filosofias mórmon e muçulmana, exceto que o projeto dos mórmons é mais desenvolvido e de acordo com as experiências julgadas desejáveis pelos ocidentais, ao passo que o “paraíso” muçulmano se baseia nos valores orientais.

Em Los Angeles, em 1956, foi completado um fabuloso templo novo. É provável que seja o mais espetacular edifício religioso contemporâneo que existe. Esse templo foi franqueado para inspeção por gentios durante algumas semanas. Agora fica disponível para mórmons de boa posição para fins ritualistas, como a confirmação de casamentos para a eternidade e batismo pelos mortos.

Uma das feições desse templo é uma série de cinco salas cuja decoração e quadros murais apresentam as várias etapas da história terrena do homem desde a Criação até seu estado final em um paraíso terrestre restaurado.

Essa sala “celestial” final pretende dar uma ideia dos deleites a serem gozados por aqueles que alcançarem o reino celestial. A revista Time descreve-a nestes termos: “uma luxuosa sala de estar com poltronas e sofás bem acolchoados, quadros murais delicados e candelabros complexos” (Revista Time, 16/01/1956). Sugere tudo que agradaria a americanos amantes do conforto que gostariam de viver perpetuamente no corpo físico sem os males ou cuidados físicos.

O índio americano tinha quase a mesma filosofia, com a diferença de que a ideia do índio era de um céu que era um campo feliz, onde havia sempre caça disponível, e onde o lobo não atrapalhava nem soprava o vento norte.

O paraíso mórmon nada sugere da esfera espiritual, nem conhece a alegria da paz indizível dos pecados perdoados e da vida compatível com a presença de Deus, a ser gozada eternamente na comunhão do Pai, do Filho, do Espírito Santo e com a multidão dos remidos.

A fim de estabelecer o confronto da salvação na concepção mórmon e a salvação conforme é aceita por todos os cristãos ortodoxos, seja qual for sua denominação, delinearemos o conceito cristão da salvação para então citar escritores aceitos pelos mórmons. O leitor poderá tirar suas próprias conclusões. A salvação, segundo a Bíblia, abrange uma tripla libertação:

  1. Libertação das penalidades do pecado, de modo que o pecador se apresenta justificado diante de Deus e purificado da culpa do pecado. Fica-lhe assim garantida a vida eterna e isenção do juízo.
  2. Libertação do poder do pecado em sua vida diária e através de toda a sua experiência terrestre como crente. Isso lhe é assegurado pela presença do Espírito de Deus que nele
  3. Libertação, finalmente, da própria presença do pecado, quando os remidos forem introduzidos na presença de Deus.

Existem algumas pequenas variações no modo de expressar esses três benefícios básicos da salvação, porém todos os cristãos concordam em que todos esses benefícios são resultados exclusivos da obra redentora de Cristo sobre o Calvário. Os cristãos são unânimes em afirmar que a obra do Calvário foi substitutiva. Crêem que Jesus Cristo, como Substituto do homem, satisfez todas as exigências de Deus contra os homens caídos, no que se refere ao pecado. A validez dessa obra redentora é comprovada pela ressurreição física de Jesus Cristo dentre os mortos, o que demonstrou sua vitória sobre a morte.

A salvação, segundo a Bíblia, está à disposição de todos, sejam quais forem as profundezas a que o pecador se tenha rebaixado na quantidade ou qualidade de seus pecados, uma vez que a obra redentora do Calvário é completa. A salvação é alcançada pela aceitação do livre dom de Deus conforme Efésios 2.8-9: “Pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.

A salvação não é alcançada pelo esforço próprio nem pelas boas obras. O que faz, porém, é dar ao crente a capacidade de produzir boas obras, não com a finalidade de perpetuar ou incrementar sua salvação, mas porque se encontra no crente o empenho para produzir fruto para Deus, por um sentimento de amor para com o Salvador.

Agora contrastemos com esse conceito cristão e bíblico da salvação o conceito mórmon. Notar-se-á que os escritores mórmons tomam por empréstimo textos da Bíblia para apoiar sua opinião, porém sem discriminação quanto ao assunto em discussão no contexto da Escritura citada. Eis uma declaração de John A. Widtsoe, tido pelos mórmons como sendo um de seus apologistas mais competentes :

“Que é salvação? É o estado que resulta quando a pessoa está em harmonia com a verdade. O homem pode estar sempre no caminho para a salvação, porém, na sua plenitude, a salvação é o eterno alvo. A lei da salvação, como de toda a vida, é a eterna progressão. Havemos de crescer, diária e eternamente, na justiça e nas boas obras. Aqueles que se acham em estado de salvação, estão em estado constante de progressão. Aqueles que forem estáticos, ou que regredirem, são “os perdidos”. Mesmo para estes, a terna misericórdia de Deus fornece um lugar apropriado em seu reino e a oportunidade para o contínuo arrependimento. Quem quer que se tenha colocado, pela obediência à lei divina, além do poder do mal, até esse ponto está salvo.

Como é que se pode alcançar a salvação? Pela aceitação dos princípios e das práticas da verdade vinda de Deus e constituindo o plano da salvação pelo uso resoluto da vontade para obedecer a qualquer custo as exigências do evangelho: e o apelo constante na oração a Deus pela assistência.

Será que Cristo opera pelo homem alguma coisa que o homem não pode fazer para si? Sim. Ele é nosso Redentor; ele nos conduz através da obscura vereda; seu sacrifício nos habilitará a reavermos os corpos que depositamos na sepultura; ele é nosso advogado com o Pai. Ele é o nosso Comandante” ((John A. Widstoe, Varieties of American Religion, Seção Mórmon, p.137-138).

Quanto à antipatia manifestada pelos mórmons para com o conceito cristão da salvação, citamos um editorial da página eclesiástica do Deseret News, que é o jornal diário oficial dos mórmons do Lago Salgado:

“ESPADA DE DOIS GUMES”

Satanás é arquienganador. Sua doutrina aparece sob muitas formas. Sempre ele tenta desviar as pessoas pondo diante delas noções falsas que, à primeira vista, parecem muito desejáveis.

Um de seus métodos mais atraentes para alcançar a humanidade é o de levá-la a crer que pode obter alguma coisa de graça. Quase todo o mundo tem egoísmo suficiente para procurar obter o mais possível pelo preço mais baixo. Satanás aproveita-se dessa qualidade, tanto em nossa vida econômica como na religião: conseguir alguma coisa de graça — ou em troca do menor preço possível.

Essa filosofia exata encontra-se em certos tipos de religião. De novo é obter alguma coisa de graça. Há alguns que ensinam que a pessoa pode alcançar plena salvação sussurrando umas poucas palavras mágicas. Confesse só uma crença no Salvador — é só isso. Se você confessar assim, ganha a salvação plena, e nada poderá impedir. Não precisa de obras: você é salvo só pela graça. Assim reza esse ensino.

Ganhe alguma coisa — ganhe a salvação — em troca apenas de uma frase. É só dizer: “Eu creio”. Não precisa de mais nada do que isso, afirmam. E citam João 3.16 em apoio de seus argumentos.

Essa fantasia infundada se tornou tão popular com alguns, que certos entusiastas vão ao ponto de pintar “João 3.16″ nas cercas, nas placas de sinalização, nos cruzamentos de nível, nas estradas — em qualquer lugar. Na opinião deles é magia, um meio mágico para ser salvo. Mas é magia negra. E eles se enganam a si mesmos, pois a salvação não vem dessa maneira.

Mas não é notável que Satanás apresente essa mesma filosofia, tanto no campo da economia, ou seja, da vida da luta diária, e também na religião? E não é notável que ambas as formas da mesma filosofia falsa sejam tão populares?

O Senhor tem bastante a dizer a respeito desse assunto, e a sua doutrina é exatamente o contrário da de Lúcifer. Longe de nos ensinar a obter as couisas de graça, o Senhor valoriza a produção. Sua doutrina é que o ocioso não comerá o pão nem vestirá os trajes do trabalhador.

Na religião é a mesma coisa. Somos ensinados que havemos de desenvolver nossa própria salvação. Devemos dar muito fruto. Os ramos da videira que não produzirem bastante fruto bom serão cortados e lançados ao fogo. Ele salientou a produção na sua parábola do servo inútil. A fé sem as obras é morta. No Dia do Juízo seremos julgados de acordo com as obras praticadas no corpo.

O Senhor determina que nos tornemos perfeitos, assim como Ele o é. Dando-nos o mandamento e ensinando-nos que havemos de desenvolver nossa salvação com oração, jejuns, com fé e testemunho crescentes. Ele nos ensina que havemos de exercer real esforço visando nosso próprio melhoramento.

De que modo desenvolvemos a nossa salvação? Participando das atividades da Igreja que desenvolvem em nossas almas aquelas características de Cristo que nos ajudam a tornar-nos como ele. Isso exige esforço consistente e bem planejado, com devoção até o fim. Assim o desenvolvimento da nossa salvação significa o desenvolvimento de personalidades à semelhança de Cristo, o que nos tornará aptos para entrar na presença do Senhor.

Os Santos dos Últimos Dias não devem deixar-se enganar pelas filosofias de Satanás, de se conseguirem de graça as coisas. Essa doutrina falsa é como uma espada de dois gumes que destrói quando é brandida para um ou para outro lado, quer na esfera econômica ou na religião” (Deseret News, Salt Lake City, Estado de Utah, 16/01/1952).

Evidentemente os benefícios da salvação, de acordo com a filosofia mórmon, estariam à disposição de apenas umas poucas pessoas muito dotadas. Aí não há nada para os desamparados, para os medíocres ou para a multidão de habitantes da terra que não teriam os meios ou a oportunidade para produzir o tipo de esforço receitado pelos ensinadores mórmons. Por contraste, a mensagem cristã dirige-se a “todo o que quiser”.

O pecador arrependido busca a Cristo com palavras como estas: “Nada trago nestas mãos: Só confio em tua cruz”. O mórmon, porém chega dizendo: “Algo trago nestas mãos: Só confio em minhas obras”. Qual delas Deus aceitará?

Continua…

Por Gordon H. Fraser

Tradução de W. J.Goldsmith

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